sexta-feira, 29 de março de 2019

Beata Natalia Tulasiewicz, Mártir do nazismo - 31 de março


     Dos 108 mártires beatificados por João Paulo II em 13 de junho de 1999, nove eram leigos, homens em sua maioria. Duas mulheres faziam parte deste grupo. Uma delas era Natália, que entregara sua vida pela fé aos 39 anos. Quis defender os princípios que sustentavam sua existência e estar ao lado dos fracos. Um testemunho de um valor imenso sempre, e especialmente nos dias em que vivemos.
     Natália era polonesa, nasceu no dia 9 de abril de 1906 em Rzeszów, Polônia. Foi a segunda de seis filhos. Sua família pôs em seu coração a semente da fé, depósito sagrado em cuja defesa se dedicaria inteiramente. Devido à profissão de seu pai, inspetor fiscal, a família viveu em diversos lugares. Na Cracóvia estudou no colégio dirigido pelas clarissas. Em 1921, quando se estabeleceu em Poznań, continuou os estudos com as ursulinas.
     Desde a primeira juventude dedicou-se ao apostolado entre leigos, especialmente as jovens. Consagrou-se de corpo e alma a este apostolado, fazendo parte da Sociedade de Maria.
     Entre 1931 e 1932 se licenciou em filologia polonesa. Seu crescimento contínuo nos princípios católicos ajudou-a a enfrentar a dor da perda de sua irmã mais velha devido à tuberculose, doença que ela mesma contraiu. Dirigiu-se a Rabki para receber tratamento, e ali deu aulas no colégio Sagrada Família de Nazaré.
     Durante anos tentou converter seu noivo, que resistia em compartilhar sua fé e professava abertamente o ideal comunista. Generosamente, cancelou seu compromisso com ele, encerrando um capítulo de sua vida, não sem dor, não sem sacrifício.
     Embora profundamente piedosa, Natália não pensava em tornar-se religiosa. Inteligente, viva, procurava rodear-se de pessoas idealistas. Amava a música: em 1931 havia defendido a tese “Mickiewicz e a música”; era fascinada pela literatura. Além disto, se deleitava com a natureza, com o teatro. Era poliglota, investigadora, narradora de contos, relatos, e elaborou reportagens que foram publicadas na imprensa de seu país.
     Viajou pela Itália e ao passar por Assis experimentou grande emoção ao encontrar-se na pátria do Poverello, que era um dos santos que admirava. Encantava-se com a vida de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz.
“Fome de santidade”
     De 1933 a 1937 seus trabalhos como docente na escola de São Casimiro de Poznán, e no liceu dirigido pelas Irmãs Ursulinas, lhe davam esperança no futuro de seus alunos. A formação que havia recebido em seu lar havia impregnado seu interior com a bem-aventurança “dos que têm forme e sede de justiça”. Assim ela se expressou: “Há uma dupla fome dentro de mim: a fome de santidade e a fome de beleza. Na realidade, são a mesma coisa”.
     Todos estes fatos aconteciam nos preâmbulos de um momento histórico e político que mudaria a face de seu país.
     Em setembro de 1939, sua pátria, a católica Polônia, foi invadida a oeste pelas tropas da Alemanha nazista e a leste pela Rússia comunista. Ambos invasores, dirigidos por Hitler e Stalin, eram abertamente contrários ao catolicismo: as igrejas foram fechadas e transformadas em depósitos, oficinas e postos militares. Em poucos anos, nazistas e comunistas exterminaram mais de seis milhões de poloneses, católicos em sua maioria.
     Da noite para o dia Natália viu-se despojada da mais elementar segurança e liberdade. Profissionalmente passou a ser obrigada a dar aulas de forma clandestina, foi proibida de lecionar e enviada para outra cidade, onde supunham erradamente que seu ardor apostólico ficaria difícil de ser exercido.
     Viveu em Ostrowiec Kielecki e finalmente se transferiu para Cracóvia, para onde também foi sua família.
     Mais do que a consternação de não poder exercer sua profissão, era-lhe imensamente mais doloroso ver que as circunstâncias dramáticas a impediam de exercer seu apostolado.
     Em 1943, sumamente preocupada com os efeitos que os acontecimentos produziriam na vida espiritual de tantas jovens, especialmente as que haviam sido enviadas para a Alemanha para realizar trabalhos forçados, vendo que pela pouca idade e experiência ficariam expostas a toda forma de infortúnios, sem nenhuma forma de socorro espiritual, conseguiu um meio de alistar-se entre as que deviam ser deportadas e se tornou operária em uma das fábricas.
     Essa decisão heroica era fruto de uma fidelidade de anos na sua vida de oração, de aprofundamento nas verdades católicas. A decisão surgiu depois de visitar um de seus irmãos no gueto e ver as condições infra-humanas que rodeavam a todos. 
Câmara de gás semelhante
a que a Beata foi morta
     O zelo de Natália não se restringia a conselhos e bons exemplos. Na fábrica-campo de concentração, em extenuantes e longas horas de trabalho pesado, dedicava-se a animar e incutir esperança em suas jovens companheiras de cativeiro. Muitas, após a guerra, testemunharam que foram as palavras de Natália, fecundadas pela graça, que as tinham mantido vivas e salvaguardado as virtudes e a fé.
     Em abril de 1944 a Gestapo, a polícia secreta política do regime nazista, descobriu sua ação e a prendeu. Foi atrozmente torturada e humilhada publicamente e enviada ao campo de concentração de Rawensbrück, perto de Brandemburgo. Na Sexta-feira Santa de 1945, suas forças são poucas devido aos maus tratos sofridos, entretanto, esta admirável mulher sai de sua barraca e proclama um emocionante discurso sobre a Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor que enche de esperança os prisioneiros. Nosso Senhor tem um belo gesto de ternura para com sua filha Natália, pois dois dias depois, 31 de março, Domingo de Páscoa, ela é transladada para a câmara de gás, onde entrega sua alma.
     Dois dias depois o campo de extermínio foi liberado pelas forças aliadas e após pouco mais de um mês a Alemanha nazista rendeu-se.

Fontes:
www.santiebeati.it/

Postado pela 1ª vez em 30 de mar de 2011

quarta-feira, 27 de março de 2019

Santa Augusta de Serravalle, virgem e mártir – 27 de março

    
     A Vita, ou as "atas" de Santa Augusta, isto é, as informações sobre sua vida e martírio, foram escritas no final do século XVI por Minuccio de Minucci di Serravalle, protonotário apostólico e secretário do Papa Clemente VIII (1592-1605).
     Estas "Atas" foram enviadas aos editores dos volumes "De probatis sanctorum historiis", um estudo hagiográfico feito no século XVI pelo acadêmico alemão Lourenço Surio (1522-1578) e foram incluídos no vol. VII da edição impressa em Colônia, Alemanha. O nome de Augusta está listado no catálogo de santos de Ferrarius, mas não aparece no Martirológio Romano.
     As informações certamente são legendárias, como de fato ocorria com muitos mártires dos primórdios do cristianismo, pois quando muito depois de sua morte as suas relíquias eram encontradas, muitas vezes sua vida era imaginada.
      De acordo com essas "Atas", Augusta era filha de Matruco, um líder pagão alamano que havia conquistado e subjugado os friuli, já cristianizados e que residiam em Serravalle (a atual aldeia antiga da cidade de Vittorio Veneto) e era um ávido inimigo da religião cristã.
     Augusta abraçou secretamente a nova fé. Seu pai enviou espiões para vigiá-la e um dia, quando ele a descobriu rezando, mandou prendê-la e arrancou-lhe todos os dentes. Não querendo de maneira alguma apostatar de sua fé, furioso com a teimosia da filha, Matruco a torturou e terminou decapitando-a em Serravalle, um distrito de Vittorio Veneto, por volta do ano 100. Há, contudo, fontes que colocam a morte de Augusta no século V.
     Seu corpo foi encontrado alguns anos depois enterrado em uma colina com vista para Serravalle, que tomou seu nome; no local, uma igreja dedicada a ela foi construída no século V e era muito frequentada pelos habitantes. O culto a Santa Augusta foi oficializado em 1754.
      A Santa também é conhecida como Augusta di Ceneda (segundo núcleo de Vittorio Veneto, uma cidade aos pés dos pré-Alpes de Belluno, na província de Treviso).
Relicário de Sta. Augusta
     Santa Augusta é representada com os símbolos de seu martírio: uma roda dentada para tortura, os dentes que lhe foram arrancados, a palma da mão. Na colina de Santa Augusta ainda existem os restos do castelo do seu cruel pai, Matruco, e da grande igreja dedicada a ela.
     Todo ano, em agosto, há uma tradição de fazer uma festa em homenagem à santa na cidade de Braço do Norte (em Santa Catarina), onde há uma pequena igreja com sua imagem.
     Em 22 de agosto na comunidade de Santa Augusta, município de Criciúma no Estado de Santa Catarina anualmente também celebra-se esta Santa com missa na capela que leva seu nome, pertencente a Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe do bairro Boa Vista.
     O nome Augusto/a significa "consagrado/a"; foi dado a várias cidades para homenagear o imperador romano Augusto, tais como: Augusta Praetoria (Aosta), Augusta Taurinorum (Turim); Augusta Treverorum (Trier), etc. Além disso, temos Augusta na província de Siracusa, a capital do Maine nos EUA, Augusta na Geórgia, Augsburg, uma importante cidade alemã.

Guia de Peregrinação ao Santuário de Serravalle, Itália

segunda-feira, 25 de março de 2019

Beata Michela Ranzi de Vercelli, Agostiniana – 26 de fevereiro


    

     A Beata Michela Ranzi de Vercelli é uma agostiniana que viveu no século XV. Sabemos que pertencia à família Ranzi, uma família que tinha dado à luz os Beatos Cândido e Demóstenes João, Franciscanos, e as Beatas Isabel e Ângela Bartolomea, também agostinianas.
    Sobre a Beata Michela só sabemos que em 1485 foi eleita priora do mosteiro de Santa Maria das Graças ou da Visitação de Vercelli. O mosteiro, que já existia na segunda metade do século XV, abrigara uma comunidade de Clarissas antes de se tornar um cenáculo agostiniano, que manteve sua fisionomia até 1641.
     Em alguns textos, esta beata era lembrada da seguinte maneira: "famosa pela pureza de costume e pela discrição de espírito, amada em sua pátria, admirada por suas coirmãs, elogiada pelos escritores. Seus restos permanecem terra preciosa".
     Aconselhado pela Beata, o Beato Cândido Ranzi (*) se retirava no Sagrado Monte de Varallo para dedicar-se periodicamente à oração e à solidão.
     No texto de Aldo Ponso: "Dois mil anos de santidade no Piemonte e no Vale d’Aosta", é relatado que ela morreu em 1493.
     A Beata Michela Ranzi de Vercelli é comemorada no dia 26 de fevereiro.

O Santuário do Sagrado Monte de Varallo

(*) Beato Candido Ranzi (1456-1515)

     Candido nasceu em Vercelli, era primo do Beato Demostenes Ranzi. Era doutor em direito. Em 1474, o Papa Sisto IV nomeou-o administrador da catedral, mas em 1476 ele renunciou à cátedra e ingressou no convento franciscano. Pregou na Córsega, na Lombardia, em Vercelli. Depois foi a San Giorgio Canavese para auxiliar na construção do convento local. Aconselhado pela Beata Michela, retirava-se frequentemente no Sagrado Monte de Varallo para dedicar-se à oração e à solidão. Faleceu em Valperga no ano 1515. 

quinta-feira, 21 de março de 2019

O Glorioso Patriarca São José


São Bernardino de Siena: "São José, guarda fiel e providente dos maiores tesouros do Pai eterno: o Filho de Deus e a Virgem Maria".

     É esta a regra geral de todas as graças especiais concedidas a qualquer criatura racional: Quando a Providência Divina escolhe alguém para uma graça particular ou estado superior, também dá à pessoa assim escolhida todos os carismas necessários para o exercício de sua missão.
     Isto verificou-se de forma eminente em São José, pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo e verdadeiro esposo da rainha do mundo e senhora dos anjos. Com efeito, ele foi escolhido pelo Pai eterno para ser o guarda fiel e providente dos seus maiores tesouros: o Filho de Deus e a Virgem Maria. E cumpriu com a máxima fidelidade sua missão. Eis por que o Senhor lhe disse: Servo bom e fiel! Vem participar da alegria do teu Senhor! (Mt 25,21).
     Consideremos São José diante de toda a Igreja de Cristo: acaso não é ele o homem especialmente escolhido, por quem e sob cuja proteção se realizou a entrada de Cristo no mundo de modo digno e honesto?
     Se, portanto, toda a santa Igreja tem uma dívida para com a Virgem Mãe, por ter recebido a Cristo por meio dEla, assim também, depois dEla, deve a São José uma singular graça e reverência.
     Ele encerra o Antigo Testamento; nele a dignidade dos patriarcas e dos profetas obtém o fruto prometido. Mas ele foi o único que realmente possuiu aquilo que a bondade divina lhes tinha prometido.
     E não duvidemos que a familiaridade, o respeito e a sublimíssima dignidade que Cristo lhe tributou, enquanto procedeu na terra como um filho para com seu pai, certamente também nada disso lhe negou no céu, mas antes, completou e aperfeiçoou.
     Por isso, não é sem razão que o Senhor lhe declara: Vem participar da alegria do teu Senhor! Embora a alegria da felicidade eterna penetre no coração do homem, o Senhor preferiu dizer: Vem participar da alegria. Quis assim insinuar misteriosamente que a alegria não está só dentro dele, mas o envolve de todos os lados e o absorve e submerge como um abismo sem fim.
     Lembrai-vos de nós, ó beatíssimo São José, e intercedei com vossas orações junto a vosso Filho adotivo; tornai-nos também propícia vossa Esposa, a Santíssima Virgem, Mãe dAquele que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos sem fim. Amém.
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Dos Sermões de São Bernardino de Sena, sacerdote franciscano (1380-1444). (Sermo 2, de S.Ioseph:Opera7,16.27-30) (Séc.XV).
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Maria e José: corte e serviço régios
Por: Pe. David Francisquini (*)

     São Pedro Julião Eymard comenta que Deus Pai, ao enviar seu Filho à Terra, quis fazê-lo com honra, pois Ele é digno de toda honra e de todo louvor. Por isso Lhe preparou uma corte e um serviço régios. Deus desejava que seu Filho encontrasse recepção digna e gloriosa, se não aos olhos do mundo, pelo menos aos seus próprios olhos.
     A corte do Filho de Deus compõe-se de Maria e de José. Com efeito, São Bernardino de Siena afirma que Maria foi a mais nobre das criaturas que jamais houve e haverá. São Mateus mostra que Ela é descendente de catorze Patriarcas, catorze Reis e catorze Príncipes. Também em São José desfechou toda a dignidade patriarcal, régia e principesca.
     Jesus, Maria e José constituem o mais luminoso exemplo de vida e de instituição familiar, civil e religiosa. Ao lermos nos Santos Evangelhos e nos escritos dos santos o que a piedade popular convencionou chamar com toda propriedade de Sagrada Família, podemos tirar lições profundas que à maneira de farol nos servem de guia em meio à tempestade.
     Sim, em meio à procela que se abate hoje sobre os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, pois até Ele foi odiado no seu Presépio e ameaçado de morte, a ponto de a Sagrada Família se vir obrigada a buscar refúgio no Egito. “Que José tomasse o Menino e partisse para o Egito”, porque Herodes O procurava para matá-Lo.
     Quando o anjo apareceu, José dormia, distante dos cuidados da Terra e das preocupações mundanas. Somente ele, como chefe da casa, era digno de gozar das visões do alto. O embaixador celeste então lhe diz: “Levanta-te, toma o menino e a Sua Mãe”. Com estas palavras, o anjo reconhece outro título de Maria: Mãe de Jesus, que é Deus.
     Como chefe da família de Nazaré, José se apresenta incumbido de preservar os fundamentos de sua família, e com isto torna-se exemplo para todos os casais.
     Ao levar Jesus e Maria para o Egito, José cumpria o que estava escrito na Escritura: do Egito chamei meu Filho. O próprio Jesus teve de fugir de seu povo para se abrigar junto a outro povo que outrora fora perseguidor dos hebreus. Assim agindo, José levava um remédio para curar os males que afligiram o Egito, como as dez pragas.
     Nosso Senhor levou a luz para esses povos que estavam submersos nas trevas. José, ao partir com Jesus e Maria, saiu durante a noite, no meio das trevas. Ao voltar para a Judéia, ele o fez durante o dia porque aquelas preocupações haviam passado.
     Como pai adotivo e esposo de Maria, competia a São José por direito conduzir o Menino Deus a diversas regiões, prefigurando os Apóstolos que deveriam levá-Lo ao o mundo inteiro por meio da pregação. São Lucas descreve a ida do Menino, aos 12 anos de idade, com os pais a Jerusalém, ocasião em que se manifestou n’Ele a sabedoria.
     Tendo a sabedoria se manifestado no Menino, e com ela a expressão da universalidade das coisas e dos tempos, a luz de Cristo chegou a todos os lugares em todos os tempos. Acabada a festa, o Menino deixou-se ficar em Jerusalém.
     Ele quis assim se ocultar, não para contrariar seus pais e deixá-los preocupados, mas para fazer a vontade do Padre Eterno. Sendo Jesus o Filho de Deus, objeto de tanto cuidado por parte de seus pais, como pôde ter sido esquecido? Cabe, porém, ressaltar o costume existente então entre os judeus, de que os homens e as mulheres podiam ir em comitivas distintas, enquanto os meninos podiam ir com o pai ou com a mãe.
     Após três dias que pareceram uma eternidade, José e Maria encontraram por fim seu Divino Filho. Ele estava no Templo, sentado entre os Doutores da Lei, que ora O escutavam, ora Lhe perguntavam, pasmos com a Sua sabedoria.
     Maria manifesta a dor que sentia em seu coração: “Teu pai e eu te procurávamos aflitos”. E Ele disse: “Não sabias que devo me preocupar com as coisas que são de Meu Pai?” Para dar a entender que há em Jesus duas naturezas distintas: a divina e a humana.
     Buscam e encontram o Menino no Templo, para amá-Lo e seguir os Seus ensinamentos. Saindo do Templo, encontramo-Lo no lar de Nazaré, levando a vida como um filho exemplar, ensinando-nos a humildade e a obediência, pois elas são o fundamento da vida cristã.
     Assim se resume o restante da vida de Jesus na casa de Nazaré: na obediência aos pais, ensinava a todos os homens que aquele que se aperfeiçoa na vida da graça e da virtude deve abraçar a humildade e a obediência como meio infalível de se chegar ao bem. Ele se submeteu humilde e respeitosamente ao trabalho corporal.
     Embora honestos e justos, seus pais eram pobres e tinham de buscar sustento para a vida com o próprio suor. E Jesus tomava parte nos trabalhos de seus pais obedecendo-lhes em tudo. A propósito, disse Santo Agostinho: “O jugo de Nosso Senhor tem asas que nos elevam acima da terra”.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria — Cardoso Moreira (RJ) — é colaborador da Agência Boa Imprensa (ABIM). 
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Nazaré – São José

     A tradição cristã indica que em Nazaré, além da basílica da Anunciação, está a igreja de São José. Este santuário também é chamado “da Nutrição” porque Jesus alí foi criado até a idade adulta, aprendendo a profissão de seu pai adotivo.
     Sabemos pelo relato do peregrino Arculfo (670 d.C), que em Nazaré “foram construídas duas grandes igrejas, uma no meio da cidade, fundada sobre dois arcos, onde estava a casa na qual nosso Salvador foi criado e outra no lugar onde estava construída a casa na qual o Anjo Gabriel saudou a Virgem Maria”.
     No século XVII, o Pe. Francesco Quaresmi faz referência a um lugar “chamado pelos locais: casa e oficina de José... onde havia uma bela igreja dedicada a São José”. O apócrifo História de José o marceneiro, narra a morte e sepultura do pai adotivo de Jesus, descrevendo como o mesmo Jesus o assistiu e confortou no momento de sua passagem desta vida.
     Sabemos também que alguns dos parentes de Jesus ficaram em Nazaré, segundo o relato do historiador judeu-cristão Hegésipo (séc. II d.C), citado na História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia: “Da família do Senhor, restavam ainda os netos de Judas, dito irmão segundo a carne, os quais foram relatados como pertencentes a estirpe de Davi”. Se deve supor que estes “parentes do Senhor” tenham tido uma parte na conservação das memórias cristãs de Nazaré.

Fontes:
https://www.custodia.org/pt-pt/sanctuaries/nazare-sao-jose

quarta-feira, 20 de março de 2019

Santas Alexandra, Cláudia e comp. mártires de Amiso – 20 de março

    
     Segundo um texto do Sinassario Constantinopolitano, no tempo do imperador Maximiano (309 – 313), sete mulheres se apresentaram ao governador de Amiso (moderna Turquia) professando sua fé cristã e reprovando a sua crueldade e injustiça na condenação dos cristãos. Alexandra, Cláudia, Eufrásia, Matrona, Juliana, Eufêmia e Teodósia, estes eram os seus nomes. Elas foram presas imediatamente. Como tivessem resistido às pressões para negar sua fé, foram flageladas e lançadas em uma fornalha ardente.
     Quatro dos nomes acima: Alexandra, Cláudia, Eufrásia e Matrona aparecem em outro grupo, este mais confiável, de São Teodoto de Ancira, como pertencente a um grupo de sete virgens.
     Estudo hagiográficos nos levam a deduzir que o grupo de Alexandra e companheiras de Amiso é uma duplicação do grupo formado por Tecusa e companheiras de Ancira, e erroneamente atribuído a Amiso.
     Entretanto, Santa Claudia é celebrada há muitos séculos no dia 20 de março. Segundo relatos, um cristão também martirizado como estas virgens, Teodoto, era curador de Ancira e foi o responsável pelo sepultamento de Cláudia e Alexandra. Ele evitou que seus restos fossem queimados, como era ordem dos imperadores romanos, que mandavam queimar os corpos para que não fossem sepultados e lembrados.
     Os restos mortais de Santa Cláudia foram recuperados e levados para Malus e suas relíquias foram transladadas para uma capela com o seu nome. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação e vários milagres foram creditados à sua intercessão. Ela é muito venerada na Grécia e na Rússia.
     No Martirológio Romano estas Santas mártires são comemoradas no dia 20 de março.

Fonte: www.santiebeati.it/

segunda-feira, 18 de março de 2019

Santa Gertrudes de Nivelles, Abadessa - 17 de março


     Santa Gertrudes nasceu em 626. Era filha caçula de Pepino de Landen, nobre de grande poder no Brabante, prefeito do palácio nos reinados de Clotário II, Dagoberto e Sigeberto, e avoengo de Carlos Magno. A Beata Ida (ou Ita) d'Aquitânia era sua mãe. Sua irmã, Santa Begga, casou-se com o filho mais velho de Arnolfo de Metz, e tornou-se abadessa de Andenne após a morte do esposo.
     Desde cedo Gertrudes devotou-se à oração, afastava-se das festas e dedicava-se ao estudo, sendo muito culta. Quando tinha cerca de 10 anos de idade seu pai convidou o Rei Dagoberto e alguns nobres para um banquete. Naquela ocasião, ela foi pedida em casamento para o filho do Duque da Austrásia. Com decisão ela respondeu que não o desposaria, nem tão pouco qualquer outro homem, pois somente Jesus Cristo seria o seu Esposo.
     Com a morte de Pepino em 639, e seguindo o conselho de Santo Amando, Bispo de Maastrich, Ida transformou seu palácio de Nivelles em um mosteiro, onde ela e sua filha Gertrudes se consagraram a Deus. Gertrudes recebeu o véu de virgem consagrada das mãos do próprio Bispo de Maastrich. O mosteiro seguia a regra de São Columbano, o grande precursor dos monges evangelizadores irlandeses, e tornou-se famoso por sua hospitalidade aos peregrinos.
     Ida e Gertrudes tornaram-se grandes amigas de dois santos irlandeses, os irmãos São Follian e São Ultan, quando eles se hospedaram no mosteiro como peregrinos. Eles estavam indo de Roma a Peronne, onde o irmão deles, São Furseus, estava enterrado. Talvez esses monges as tenham influenciado a acolher uma comunidade masculina ao lado do mosteiro feminino, tornando-o assim um mosteiro duplo submetido à autoridade única da abadessa.
     Alguns autores mencionam que Ida foi abadessa até sua morte (652), sendo eleita Gertrudes, então com vinte anos, para substituí-la. Outros acreditam que Gertrudes foi a primeira abadessa, tendo sido assistida pela mãe, que preferira ser uma simples monja.
     O certo é que Gertrudes delegara a alguns monges virtuosos a administração do mosteiro, pois ela queria se dedicar à oração, às penitências e ao estudo das Sagradas Escrituras, que ela sabia quase de cor. Ela também reservara para si a tarefa de instruir monges e monjas, torná-los mais motivados na Fé e mais preparados para a difusão dos ensinamentos da Santa Igreja.
     Com a aprovação de Grimoaldo, irmão de Gertrudes, terras em Fosses, local não distante de Nivelles, foram doadas aos dois irlandeses para que fundassem um outro mosteiro. A direção do novo mosteiro foi dada a São Ultan. O Brabante foi evangelizado por aquela comunidade.
     Os dois mosteiros - Nivelles e Fosses - tinham uma ligação estreita. São Follian ia regularmente a Nivelles para ali celebrar o Ofício e instruir as duas comunidades. Em 31 de outubro de 655, retornando de uma dessas visitas, ele foi assassinado com seus companheiros. Gertrudes guardou relíquias dele antes que levassem seu corpo para Fosses, gesto que demonstrava seu interesse em promover o culto a São Follian em Nivelles.
     Gertrudes iniciara com vigor um grande processo de reformulação do mosteiro, chamando da Irlanda monges teólogos, os mais versados nas Sagradas Escrituras, e enviando pessoas a Roma para prover a comunidade de livros litúrgicos e culturais, ampliando muito a biblioteca da comunidade. Empregou toda a fortuna deixada pela mãe na construção de igrejas, mosteiros e hospitais. A missão de Gertrudes se tornara uma luta para a difusão da doutrina católica através da instrução. Isto significou um enorme esforço de sua parte, pois era uma época de ignorância e superstições, em que muitos ainda eram pagãos. Um eclipse da lua, por exemplo, era considerado um fenômeno sobrenatural e aterrorizava os camponeses, mesmo os já instruídos na fé cristã.
     Devota de Jesus Crucificado e de Maria Santíssima, ela fazia sacrifícios pelas almas do purgatório, que lhe apareciam durante as orações sob a forma de ratos negros que se tornavam dourados, simbolizando sua salvação pela Misericórdia de Deus. Ela comentava essas visões com as monjas, estimulando as preces por essas almas abandonadas.
     Por causa dessas visões, na arte sacra ela é sempre representada com ratos ao seu redor, como uma abadessa com camundongos a seus pés, como uma abadessa com camundongos correndo em seu manto, ou ainda, segurando o báculo e com um gato junto dela. Os devotos ainda hoje a invocam contra as invasões de ratos e o medo que eles provocam.
     Entretanto, o que mais a destacava era a sua profunda capacidade de compreender os anseios das almas. Gertrudes se revelou uma eficaz pacificadora: usando sua respeitabilidade, por nascimento e por sua crescente fama de santidade, atuava para acabar com as intermináveis guerras locais entre as famílias senhoriais. Suas palavras, dotadas de sabedoria e de autoridade, as persuadiam à conciliação. As guerras pacificadas representavam alívio para o povo exposto aos saques, incêndios, sequestro de reféns, tudo seguido de anos de miséria.
     Devido aos contínuos jejuns e penitências, aos 32 anos Gertrudes sentia-se tão fraca, que resolveu abdicar de seu cargo. Após consultar monges e monjas, ela indicou sua sobrinha, Santa Vilfetrudes, como sua sucessora, em dezembro de 658.
     Um dia antes de sua morte, ela enviou um dos monges à procura de São Ultan para perguntar se Deus lhe havia comunicado a hora de sua morte. O Santo respondeu que ela morreria no dia seguinte, durante a Santa Missa. A profecia se concretizou.
     Santa Gertrudes morreu em Nivelles, no dia 17 de março de 659, aos trinta e três anos. O seu corpo foi sepultado em uma capela. Ela, que já em vida era admirada por sua santidade, foi imediatamente venerada como Santa.
     Inês, a terceira Abadessa de Nivelles, mandou construir uma igreja em sua honra. Ela se tornaria depois basílica, sempre restaurada e reconstruída através dos séculos.
     Alguns anos após a morte de Santa Gertrudes, um monge seu contemporâneo escreveu sua "Vida", cuja autenticidade é reconhecida por todos os historiadores. Há dois textos redigidos - um em 691 e outro após 783 - relatando os milagres que eram obtidos pelo contato de suas relíquias: curas, ressurreição de uma criança afogada, extinção de um incêndio... Santa Gertrudes é mencionada no Martirológio de São Beda.
     Já no século XIII havia uma procissão em que suas relíquias eram transportadas em uma caixa de prata feita em 1296, uma verdadeira joia da ourivesaria francesa. Esse precioso relicário do século XIII foi destruído em 1940, num bombardeio que atingiu a basílica que o guardava e muitas casas de Nivelles.
     As preciosas relíquias, que puderam ser recuperadas, desde 1982 repousam num relicário feito pelo artista Félix Roulin.
     Santa Gertrudes de Nivelles é protetora dos jardineiros e das almas que partiram recentemente. O seu culto é mais popular nos Países Baixos (Holanda, Bélgica e Suíça), na Inglaterra e na Escócia, principalmente no dia 17 de março, quando faz parte da tradição plantar rosas nesse dia em sua homenagem. 

Vista do centro da cidade de Nivelles, Bélgica
Igreja da Colegiada de Santa Gertrudes de Nivelles

Postado pela 1ª vez em 17 de março de 2013

terça-feira, 12 de março de 2019

Beata Angela (Aniela) Salawa, Empregada Doméstica – 12 de março

    
     Ao longo dos séculos, muitas Beatas e Santas da Igreja Católica exerceram a profissão de empregada doméstica durante um tempo mais ou menos longo. Elas levaram às famílias em que trabalhavam, e aos fiéis em geral, o exemplo das virtudes católicas. Muitas delas deixaram sua ocupação para entrar em alguma Congregação religiosa, algumas se tornaram fundadoras de Institutos, ou ainda membro de alguma Ordem Terceira.
     Entretanto, algumas permaneceram em sua profissão até o fim da vida, santificando-se nas provações inerentes ao cargo, aceitando com alegria a posição que ocupavam dentro das casas em que trabalhavam, atraindo a admiração de seus patrões, e, em muitos casos, levando-os à conversão, fazendo também um apostolado intenso junto aos mais necessitados.
     Tais foram: Santa Zita (1218-1278), empregada doméstica de Lucca (Itália), patrona da cidade e nomeada patrona das domésticas por Pio XII em 26 de setembro de 1953, festejada no dia 27 de abril, e a Beata Ângela (Aniela) Salawa, cuja vida veremos em seguida.
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     A décima primeira dos doze filhos de Bartolomeu Salawa e de Eva Bochenek nasceu em Siepraw, próximo de Cracóvia, Polônia, no dia 9 de setembro de 1881. Recebeu no Batismo o nome de Ângela (Aniela). O pai era artesão e a mãe inteiramente dedicada aos numerosos filhos, aos quais ensinava a piedade, a modéstia e a operosidade. Foi sob a direção da mãe que Ângela se preparou para a Primeira Comunhão, que segundo o costume da época, aconteceu aos seus 12 anos.
     Aos 15 anos trabalhava para uma família de Siepraw cuidando das crianças, ordenhando as vacas e realizando outros pequenos trabalhos. Em 1897 voltou para casa e resistia aos insistentes conselhos do pai para que ela constituísse sua própria família. Há muito Ângela se sentia inclinada ao celibato.
     Transferiu-se para Cracóvia onde trabalharia como empregada doméstica. Nos primeiros dias ficou hospedada na casa da irmã mais velha, Teresa – também ela empregada doméstica – que sabia que Ângela não se sentia chamada ao matrimônio.
     Fiel às inspirações do Espírito Santo e aos conselhos dos diretores espirituais, a jovem progredia rapidamente na santidade. Cumpria com perfeição todos os seus deveres de estado e empregava o tempo livre em leituras espirituais para unir-se cada vez mais a Nossa Senhora e a compreender os mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Em Cracóvia trabalhou inicialmente para a família Kloc, deixando-a pouco tempo depois por causa do assédio do patrão. Trabalhou depois para algumas famílias da região e retornou para Cracóvia para assistir a morte de Teresa, em 25 de janeiro de 1899, perda que lhe causou muito sofrimento, pois tinha grande afeto pela irmã. Encontrou forças para enfrentar a perda prolongando o tempo de orações na igreja.
     Sob a direção do padre jesuíta Estanislau Mieloch se consagrou a Deus com o voto de castidade perpétua, voto que já fizera na adolescência. Em 1900, inscreveu-se na Associação de Santa Zita de Cracóvia, entidade que promovia a assistência às domésticas. Dedicava-se a um apostolado obscuro, mas fecundo, junto às domésticas de Cracóvia. Ela as reunia, aconselhava, dirigia. Apesar da saúde precária, estava sempre alegre e sociável, se vestia bem, não para o mundo, mas para Deus.
     Amo meu trabalho – dizia – porque nele encontro uma excelente ocasião de sofrer muito, de trabalhar muito e de rezar muito; e fora disto nada mais desejo no mundo”.
     Em 1911, sofreu dolorosa moléstia, seguida da perda da mãe e da jovem senhora a quem servia com afeto e dedicação. Além destas provações, vê-se abandonada por algumas companheiras. Naquele período de grandes sofrimentos, confiando somente em Deus, unindo-se a Ele mais ainda na oração e na meditação, foi agraciada com fenômenos místicos.
     Em 1912 descobriu que seu espírito de humildade e pobreza tinha uma grande afinidade com São Francisco de Assis, o que a fez professar, no dia 15 de maio de 1912, na Ordem Terceira Secular de São Francisco, recebendo o hábito na igreja conventual dos Franciscanos; no dia 6 de agosto de 1913 fez sua profissão.
     Durante a 1ª Guerra Mundial, não sem incômodos voluntariamente assumidos, prestava dedicado e zeloso auxílio aos feridos, doentes e prisioneiros de guerra no Hospital de Cracóvia, onde respeitosamente era chamada “a santa senhorita”.
     Em 1916, por haver censurado a amante de seu patrão, o advogado Fischer, foi despedida daquela casa aonde trabalhava desde 1905. Seguiram-se alguns anos sem trabalho e com a doença progredindo, mas com o consolo dos fenômenos místicos.
A Beata em 1921
     Em 1917, com as forças debilitadas, deixou também os trabalhos voluntários e recolheu-se a uma cela paupérrima, onde durante cinco anos viveu em íntima contemplação dos mistérios divinos, sustentada por Maria Santíssima e pela Comunhão Eucarística. Esta era levada diariamente pelo seu confessor. Algumas companheiras, inconsoláveis, se alternavam em seu tugúrio para assisti-la.
     Ela oferecia todos os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores, pela salvação das almas, pela expansão missionária da Igreja. Em fevereiro de 1922, num último ato de devoção, ofereceu-se a Deus como vítima pela propagação do Seu Reino na Polônia e no mundo. Anotou em seu Diário: “Pensando em minha vida, creio estar na vocação, no local e no estado para os quais Deus me havia chamado desde a infância”.
     Por fim Ângela consentiu em deixar aquela cela e foi levada para a enfermaria de Santa Zita, onde, após ter recebido os Sacramentos, faleceu serenamente no dia 12 de março de 1922, em extrema pobreza e com a fama de santidade.
     No dia 13 de maio de 1949, ao ser aberto o processo diocesano para a sua beatificação, seus despojos foram transladados do cemitério para a Basílica de São Francisco de Cracóvia.
     João Paulo II proclamou-a Beata no dia 13 de agosto de 1991, em Cracóvia, e sua festa é celebrada no dia 12 de março.
     Duas figuras femininas polonesas nos causam admiração: a Beata Edwiges, rainha, que viveu na Idade Média, e a nova beata. A rainha e a empregada! Acaso não se expressa toda a história da santidade cristã e da espiritualidade edificada segundo o modelo evangélico nesta simples frase: "Servir a Deus é reinar"? (cf. Lumen Gentium 36). A mesma verdade encontra expressão na vida de uma grande rainha e de uma humilde empregada.
Interior da Basílica de S Francisco, Cracovia
 
Túmulo da Beata na Basílica de S Francisco na Cracóvia


Fontes:
L'Osservatore Romano, edición semanal en lengua española, del 12 de julio y 23 de agosto de 1991 

Postado pela 1ª vez neste blog em 10 de março de 2011