segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Santa Maura de Constantinopla, Mártir - 30 de novembro

    
    Maura e seu esposo, Timóteo, suportaram enormes sofrimentos e torturas por causa da fé em Cristo durante a perseguição do Imperador Diocleciano (285-305). Timóteo era de uma aldeia no Egito chamada Perapa, onde seu pai, Pikolpossos, era sacerdote; foi ordenado entre o clero como leitor da Igreja, onde também foi o custódio e o copiador dos livros dos Serviços Divinos.
     Timóteo foi denunciado como guardião dos livros cristãos quando o imperador deu ordens para que os livros fossem confiscados e queimados. Então levaram Timóteo diante do governador Arriano, que lhe ordenou entregar todos os Livros Sagrados. Timóteo foi submetido a terríveis torturas por não obedecer à ordem; aguentou a dor com grande valentia e sempre dando graças a Deus por permitir-lhe tal sofrimento em Seu nome.
     Arriano foi então informado que Timóteo tinha uma jovem esposa chamada Maura, com a qual havia contraído matrimônio uns vinte dias antes. Arriano procurou por Maura com a esperança de quebrar a vontade de Timóteo, mas o santo recomendou a sua esposa que não temesse as torturas e que emulasse seu caminho. Maura lhe respondeu: "Estou disposta a morrer contigo". Maura confessou sua fé em Cristo e Arriano ordenou que arrancassem seus cabelos e lhe cortassem os dedos de suas mãos.
     Maura sofreu o tormento com alegria e agradeceu ao governador pela tortura que ela recebia como perdão por seus pecados. Arriano então ordenou que lançassem Maura em um caldeirão com água fervendo, mas ela não sentiu nenhuma dor e permaneceu ilesa. Tendo Arriano suspeitado de que seus funcionários tivessem sentido compaixão por Maura e houvessem enchido o caldeirão com água fria, pediu que Maura salpicasse sua mão com a água do caldeirão; quando a mártir fez isto, Arriano gritou de dor com a mão escaldada.
     Arriano reconheceu momentaneamente o poder do milagre e confessou que o Deus em que Maura acreditava era o Deus verdadeiro, e ordenou a sua libertação. Porém o diabo tinha grande poder sobre o governador e Arriano insistiu novamente que Maura oferecesse sacrifícios aos deuses pagãos, sem conseguir convencê-la. Ele foi então possuído de uma grande ira satânica que o levou a inventar novas torturas.
     A população começou a murmurar e a pedir que não continuassem abusando da mulher inocente, ao que Maura lhes respondeu: “Que ninguém me defenda! Eu tenho um só defensor e é Deus, em quem confio".
     Finalmente, depois de ambos os mártires serem torturados por longo tempo, Arriano ordenou que fossem crucificados; e foram colocados na cruz por dez dias, um de frente ao outro. No décimo dia de martírio e sofrimentos pela crucifixão os santos ofereceram suas almas ao Senhor. Isto ocorreu no ano 286.
     Barônio introduziu Santa Maura, Virgem e mártir, no Martirológio Romano no dia 30 de novembro, sem uma explicação suficiente, porque não se conhece nenhuma virgem mártir com este nome nascida em Constantinopla.
     Nesta cidade, entretanto, pelo menos no século VI, havia uma igreja, no quarteirão chamado Iustiniane, em honra aos santos mártires Timóteo leitor e sua esposa Maura. Mas eles haviam sofrido o martírio pela fé na Tebaida, onde o governador Arriano queria se apoderar dos livros sagrados e fazê-los renegar Cristo. Como os dois mártires se recusassem a obedecer à sua ordem, o governador infringiu-lhes diversos tormentos e os condenou finalmente à crucificação. Os sinassários bizantinos os mencionam no dia 10 de novembro e 3 de maio. Entretanto, pode ser que a confusão do Martirológio Romano tenha origem em outra fonte.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Santa Teodora de Rossano, Abadessa - 28 de novembro

Martirológio Romano: Próximo de Rossano, na Calábria, Santa Teodora, abadessa, discípula de São Nilo o Jovem e mestra de vida monástica. 
     Teodora nasceu cerca de 910, filha de Eusébio e Rosália. Dedicou-se bem jovem às obras de caridade e para conservar sua virgindade resolveu abandonar os hábitos mundanos e entrou, aos 15 anos, no Mosteiro de Santo Opoli, colocando-se sob a direção de São Nilo o Jovem (*).
     Distinguiu-se por sua grande devoção, tornando-se guia natural de outras jovens que a tomavam como exemplo.
     Algum tempo depois, São Nilo desejou premiar tanto empenho: quando da construção do Oratório de Santa Anastásia, realizada graças à generosidade de um devoto de nome Eusébio, o Santo entregou-o a direção de Teodora, que reuniu ali todas as jovens que desejavam se consagrar a Deus e as monjas suas companheiras do Mosteiro de Santo Opoli.
     Teodora permaneceu ali por toda sua vida. Faleceu em 28 de novembro de 980 tendo, segundo a tradição, 70 anos.
     Quanto ao local de sua sepultura, há dúvidas: segundo alguns, ela foi sepultada na Catedral de Rossano, mas segundo testemunhos escritos por dois contemporâneos da Santa, Eugênio e Beltrano, o corpo da abadessa foi sepultado no Mosteiro de Santa Anastásia, onde normalmente eram custodiados os restos mortais das mulheres beatas.
 
(*) Nilo de Rossano, ou Nilo o Jovem, batizado com o nome de Nicolau (Rossano 910 – Tuscolo 26 de setembro de 1004) era monge basiliano, abade e fundador da Abadia de Santa Maria de Grottaferrata. O Abade Nilo, nascido na Calábria bizantina e portanto grego de origem e de rito, fundou vários mosteiros; decidiu fundar um mosteiro na colina de Tuscolo, onde teria aparecido Nossa Senhora. É venerado como santo pela Igreja Católica e é santo patrono de Rossano onde é festejado no dia 26 de setembro. No ano 2004, foi celebrado o milênio de São Nilo.
Madonna Acheropita, Rossano
 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Santa Catarina de Alexandria, Mártir - 25 de novembro


Santa Catarina de Alexandria e a serenidade
     Sobre a morte da Santa Catarina, o Abbé Daras, na "Vida dos Santos", tem essa narração:
     "Maximiliano, imperador, ordenou a morte de Santa Catarina. Foi ela conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte. A virgem caminhava com grande calma. Antes de morrer, fez a seguinte oração: ‘Senhor Jesus Cristo, meu Deus, eu vos agradeço terdes firmado meus pés sobre o rochedo da fé e terdes dirigido meus passos na via da salvação. Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz, para receber minha alma, que eu sacrifico à glória de Vosso Nome. Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e sangue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância e lavai minha alma no sangue que vou derramar por vós. Não deixeis meu corpo, martirizado por vosso amor, em poder dos que me odeiam. Baixai vosso olhar sobre esse povo e dai-lhe o conhecimento da verdade. Enfim, Senhor, exaltai em vossa infinita misericórdia aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que Vosso Nome seja para sempre bendito’.
     "Em seguida mandou que os soldados cumprissem as ordens, e sua cabeça foi decepada de um só golpe. Era o dia 25 de novembro. Numerosos milagres logo foram constatados. Os anjos, como ela o desejara, transportaram seu corpo para a santa montanha do Sinai, a fim de que repousasse onde Deus escrevera sobre pedra sua Lei, que ela guardava tão fielmente escrita em seu coração".
     Esse trecho é de uma tal elevação que quase se lamenta ter que comentá-lo. Eu ficaria mais satisfeito deixando assim o texto brilhando no céu, no horizonte, suspenso, sem apoio nenhum na realidade, emitindo luzes. Mas já que é preciso comentar, vamos aos pormenores.
     "Ela foi conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte".
    Se pensarmos que são sobretudo as senhoras de alta condição que encabeçam as extravagâncias hoje em dia, vemos como as situações têm mudado. E quanto ainda tem de possibilidades um país onde as senhoras de alta condição acompanham, ao lugar do suplício, solidarizando-se com ela, chorando junto com ela, uma mártir que foi fulminada pela cólera do imperador. Um imperador onipotente, que pode mandar matar todos aqueles que se desagradarem de alguma atitude dele. Entretanto, essas damas vão todas, com Santa Catarina, e vão chorando.
     O bonito, para verem a diversidade dos dons do Espírito Santo e dos efeitos da graça, é que elas vão chorando e está bem que elas vão chorando. Mas contrasta com isso, pela sublimidade, com esse dom das lágrimas que as mulheres tiveram nesse momento, o fato de que Santa Catarina não chorava. Ela permanecia quieta, e com uma grande calma. Ela caminhava de encontro à morte inundada de graças do Espírito Santo de outra natureza, por onde ela não chorava para si aquilo que a graça queria que as outras chorassem para ela. E como deveria ser impressionante esse cortejo de damas, andando, no meio dos soldados, e ela no meio, a única calma, a aconselhar a todas que tivessem tranquilidade, que tivessem consolação, até chegar o momento em que ela devia morrer.
     Aí, no fim da vida, ela faz uma oração. Essa oração é muito bonita e tem aquela forma especial de beleza que tem certas coisas muito bonitas quando não são inteiramente consequentes na sua lógica: é um conjunto de afirmações, como raios de luz que procedem de um mesmo foco, mas que brilham com uma beleza própria no horizonte. Vejam aqui a ideia dela: "Senhor Jesus Cristo, meu Deus"... ... é para afirmar que Ele era o Deus dela e que ela não reconhecia outro Deus senão Ele. A primeira coisa que ela diz no momento de morrer, a primeira palavra, o primeiro pensamento dela é para essa primeira graça:
     "Eu vos agradeço por terdes firmado meus pés sobre os rochedos da fé, e terdes dirigido meus passos na via da salvação".
     Quer dizer, eu vos agradeço por ter pertencido a Vós. Vós que sois a fonte de minha salvação, Vós que sois o ponto de partida de todo o bem que pode haver em mim, Vós que, se eu sou boa, é porque Vós sois bom e porque Vós me destes o ser boa: eu Vos agradeço a fé que me destes e a firmeza que me destes na fé; eu Vos agradeço o amor à virtude que me destes e a firmeza que Vós me destes no amor à virtude. Isso é o primeiro que Vos agradeço, reconhecendo que tudo que em mim há, à vossa iniciativa eu devo.
     "Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz para receber minha alma que eu sacrifico à glória de Vosso Nome".
     Pode haver uma coisa mais bela do que isso? O Divino Crucificado, com os braços todos sangrando, que os desprende da cruz para receber a alma dela que sai também inundada do sangue do martírio para ser recebida por Ele. Que maravilhosa intimidade! Que encontro do Mártir dos mártires com uma mártir heroica e grandiosa! Que ideia do sangue dela misturando-se ao Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo! Que noção do Corpo Místico de Cristo há nisso! Que sacratíssima e augustíssima intimidade com Nosso Senhor! Ela tinha de tal maneira a ideia de que a alma dela estava unida a Ele, que a morte selava essa união, que ela pedia que Ele a abraçasse, logo que ela entrasse na eternidade. Que certeza de ir para o Céu!     [...]
     Vamos pedir que em todas as ocasiões da vida tenhamos essa calma diante do risco e calma que seja levada até o sacrifício extremo, caso essa seja a vontade de Nossa Senhora.
 
Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, Santo do Dia, 24 de novembro de 1965.

Mosteiro de Santa Catarina de Alexandria, Egito
 
 
 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Santa Lucrécia de Mérida, Mártir - 23 de novembro

    
     Não se deve confundir esta Santa Lucrécia de Mérida com a mais conhecida Santa Lucrécia, o Leocricia, de Córdoba, de que fala Santo Eulógio a propósito da perseguição muçulmana; entre uma e outra mediam pelo menos quatro séculos.
     Da santa que veneramos hoje apenas existem noticias de que existiu em Mérida um templo dedicado a ela, porém foi antes da invasão muçulmana na Espanha, e dele não restou senão rastros.
     Notícias tomadas da História da Cidade de Mérida, de D. Bernabé Moreno de Vargas (1576-1648), pág. 113-114, Madrid, 1633, e do Suplemento à última edição do ano cristão do Padre Juan Croiset, tomo II, pág. 338 ss., por D. Juan Julián Caparrós, Madrid, 1743, conjecturam que esse templo pode ter estado onde, em seu tempo, estava a ermida de Nossa Senhora de Loreto, lamentavelmente desaparecida também, e cujo local de construção, próximo ao Matadouro Regional, também é objeto de conjecturas.
     A imagem reproduzida em vários santorais de internet possivelmente não seja de Santa Lucrécia de Mérida, mas a de Santa Lucrécia de Córdoba, muito mais difundida.
     Lucrécia aparece mencionada no Martirológio Jeronimiano e em outros martirológios antigos, como tendo vivido na época de Diocleciano, e embora não se possa considerar seguro este dado, parece que ela foi martirizada sob a presidência de Daciano.
     Conhecemos este perseguidor porque em sua viagem pela Península, nos primeiros anos do século IV, seu caminho foi semeado de mártires cristãos, porém não se sabe com certeza o ano em que esteve em Mérida. Os autores antigos dão datas entre 305 e 308, porém parece que a maior probabilidade seja o ano de 306 ou depois.
     Uma “passio” não autêntica é conservada, mas que expressa bem o tipo das vidas de mártires dos primeiros séculos. Nela há um diálogo que resume, se não as frases pronunciadas por um e outro naquele momento, a fortaleza das mártires cristãs, débeis em sua figura, mas cheias de uma fortaleza sobrenatural.
     De fato, vendo Daciano que todas as suas admoestações eram inúteis, disse: “... elege por último um destes dois extremos: ou padecer como néscia diferentes penas entre os sentenciados a morte, ou sacrificar aos deuses como sabia e nobre pessoa”. A isto respondeu Lucrécia: “Sacrifica tu aos demônios, que eu só ofereço sacrifício ao verdadeiro Deus e a Jesus Cristo, seu único Filho”.
 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Santa Matilde de Hackeborn, o “Rouxinol de Deus” - 19 de novembro

     
     Santa Gertrudes a Grande, no IV livro da obra Liber specialis gratiae (O livro da graça especial), no qual se narram as graças especiais que Deus outorgou a Santa Matilde, afirma: "O que escrevemos é bem pouco em comparação com o que omitimos. Unicamente para a glória de Deus e utilidade do próximo publicamos estas coisas, porque nos pareceria injusto manter o silêncio sobre tantas graças que Matilde recebeu de Deus, não tanto para ela mesma, segundo nosso parecer, mas para nós e para os que virão depois de nós" (Mechthild von Hackeborn, Liber specialis gratiae, VI, 1).
     Com Gertrudes nós nos introduzimos na família do Barão de Hackeborn, uma das mais nobres, ricas e poderosas da Turíngia, aparentada com o imperador Frederico II, e entramos no Mosteiro de Helfta no período mais glorioso da sua história.
     O barão já havia dado uma filha ao mosteiro, Gertrudes de Hackeborn (1231/1232 - 1291/1292), dotada de uma destacada personalidade. Abadessa durante 40 anos, foi capaz de deixar uma marca peculiar na espiritualidade do mosteiro, levando-o a um florescimento extraordinário como centro de mística e de cultura, escola de formação científica e teológica. Gertrudes ofereceu às monjas uma elevada instrução intelectual, que lhes permitia cultivar uma espiritualidade fundada na Sagrada Escritura, na Liturgia, na tradição patrística, na Regra e espiritualidade cistercienses, com particular predileção por São Bernardo de Claraval e Guilherme de Saint-Thierry. Foi uma verdadeira mestra, exemplar em tudo, na radicalidade evangélica e no zelo apostólico.
     Santa Matilde, desde a sua juventude, acolheu e vivenciou o clima espiritual e cultural criado pela irmã, oferecendo depois sua marca pessoal.
     Matilde de Hackeborn, uma das grandes figuras do mosteiro de Helfta e do monaquismo alemão no século XIII, nasceu em 1241 ou 1242, no Castelo de Helft, Saxônia, na nobre e poderosa família Hackeborn, que era possuidora de terras na Turingia. A terceira filha do barão nasceu tão frágil que se chegou a acreditar estar morta, mas o padre que foi batizá-la profetizou que ela chegaria a ser santa e que Deus obraria grandes coisas por meio dela.
       Aos 7 anos, com sua mãe, visitou sua irmã Gertrudes no mosteiro de Rodersdorf. Ficou tão fascinada por esse ambiente, que desejou ardentemente fazer parte dele. Entrou como educanda e, em 1258, converteu-se em monja do convento que entrementes havia se transferido para Helfta, na propriedade dos Hackeborn.
     Distinguiu-se pela humildade, fervor, amabilidade, limpeza e inocência de vida, familiaridade e intensidade na relação com Deus, com Nossa Senhora e com os santos. Dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, como “a ciência, a inteligência, o conhecimento das letras humanas, a voz de uma suavidade maravilhosa: tudo a tornava adequada para ser um verdadeiro tesouro para o mosteiro, sob todos os aspectos”. (Ibid., Proemio).
     Assim, o "rouxinol de Deus" - como era chamada -, ainda muito jovem, converteu-se em diretora da escola do mosteiro, diretora do coro e mestra de noviças, serviço que levou a cabo com talento e infatigável zelo, não somente em benefício das monjas, mas de todo aquele que desejasse acudir à sua sabedoria e bondade.
     Iluminada pelo dom divino da contemplação mística, Matilde compôs numerosas orações. É mestra de fiel doutrina e de grande humildade, conselheira, consoladora, guia no discernimento: "Ela - lê-se - distribuía a doutrina com uma abundância que nunca tinha sido vista no mosteiro, e temos grande temor de que nunca se volte a ver algo semelhante. As monjas se reuniam ao seu redor para escutar a palavra de Deus, como a um pregador. Era o refúgio e a consoladora de todos e tinha, como dom singular de Deus, a graça de revelar livremente os segredos do coração de cada um. Muitas pessoas, não só no mosteiro, mas também estranhos, religiosos e leigos, vindos de longe, testemunhavam que esta santa virgem lhes havia libertado de suas penas e que nunca haviam provado tanto consolo como ao seu lado. Além disso, ela compôs e ensinou tantas orações que, se fossem reunidas, superariam o volume de um saltério" (Ibid., VI,1).
     Em 1261, chegou ao convento uma menina de 5 anos, de nome Gertrudes: foi confiada aos cuidados de Matilde, então com 20 anos, que a educou e guiou na vida espiritual até fazer dela não somente sua discípula excelente, mas sua confidente. Em 1271 ou 1272, entrou no mosteiro também Matilde de Magdeburgo. O lugar acolheu, assim, 4 grandes mulheres - duas Gertrudes e duas Matildes -, glória do monaquismo germânico.
     Em sua longa vida transcorrida no mosteiro, Matilde passou por contínuos e intensos sofrimentos, aos quais acrescentou as duríssimas penitências escolhidas para a conversão dos pecadores. Dessa forma, participou da Paixão do Senhor até o final da sua vida (cf. ibid., VI, 2). A oração e a contemplação foram a fonte da sua existência: as revelações, seus ensinamentos, seu serviço ao próximo, seu caminho na fé e no amor têm aqui sua raiz e seu contexto.
     No primeiro livro da obra Liber specialis gratiae, as redatoras recolhem as confidências de Matilde indicadas nas festas do Senhor, dos santos e, de modo especial, de Nossa Senhora. É impressionante a capacidade que esta santa tinha de viver a Liturgia em seus vários componentes, inclusive os mais simples, levando-a à vida monástica cotidiana. Algumas imagens, expressões, aplicações talvez estejam longe da nossa sensibilidade, mas se considerarmos a vida monástica e sua tarefa de mestra e diretora de coro, perceberemos sua singular capacidade de educadora e formadora, que ajuda suas irmãs a viverem intensamente, partindo da Liturgia, cada momento da vida monástica.
     Na oração litúrgica, Matilde deu particular importância às horas canônicas, à celebração da Santa Missa, sobretudo à Santa Comunhão. Nesse momento, ela frequentemente se elevava em êxtase, em uma intimidade profunda com Nosso Senhor em seu Coração ardentíssimo e dulcíssimo, em um diálogo estupendo no qual pedia iluminação interior, enquanto intercedia de modo especial por sua comunidade e por suas irmãs. No centro estão os mistérios de Cristo, aos quais Nossa Senhora remete constantemente, para caminhar pela senda da santidade: "Se desejas a verdadeira santidade, fica perto do meu Filho; Ele é a própria santidade que santifica tudo" (Ibid., I,40). Nesta sua intimidade com Deus está presente o mundo inteiro, a Igreja, os benfeitores, os pecadores. Para ela, céu e terra se unem.
     Suas visões, seus ensinamentos, as circunstâncias da sua existência são descritas com expressões que evocam a linguagem litúrgica e bíblica. Capta-se, assim, seu profundo conhecimento da Sagrada Escritura, seja tomando símbolos, termos, paisagens, imagens ou personagens. Sua predileção era pelo Evangelho:
     "As palavras do Evangelho eram para ela um alimento maravilhoso e suscitavam em seu coração sentimentos de tal doçura, que frequentemente, pelo entusiasmo, não conseguia terminar sua leitura... A forma como lia estas palavras era tão fervente, que suscitava a devoção em todos. Assim também, quando cantava no coro, estava toda absorta em Deus, transportada por tal ardor, que às vezes manifestava seus sentimentos com os gestos... Outras vezes, elevada em êxtase, não ouvia quem a chamava ou a movia e com dificuldade recuperava o sentido das coisas exteriores" (Ibid., VI, 1).
     Em uma das suas visões, o próprio Jesus lhe recomenda o Evangelho; abrindo-lhe a ferida do seu dulcíssimo Coração, disse-lhe: "Considera quão imenso é meu amor; se queres conhecê-lo bem, em nenhum lugar o encontrarás expresso mais claramente que no Evangelho. Ninguém jamais sentiu a expressão de sentimentos mais fortes e mais ternos que estes: como meu Pai me amou, assim eu vos amei (Jo 15, 9)" (Ibid., I,22).
     A discípula Gertrudes descreve com expressões intensas os últimos momentos da vida de Santa Matilde de Hackeborn, duríssimos, mas iluminados pela presença da Beatíssima Trindade, de Nosso Senhor, de Nossa Senhora, de todos os santos, e também de sua irmã de sangue, Gertrudes. Quando chegou a hora em que o Senhor quis levá-la com Ele, ela lhe pediu para poder viver mais um pouco no sofrimento pela salvação das almas, com o que Jesus aquiesceu, contente com este último sinal de amor.
     Matilde tinha 58 anos. Percorreu o último trecho do caminho caracterizado por 8 anos de graves doenças. Sua obra e sua fama de santidade se difundiram amplamente. Chegada a sua hora, "o Deus de Majestade (...), única suavidade da alma que o ama (...), cantou-lhe: Venite vos, benedicti Patris mei... (Vinde, benditos do meu Pai, vinde receber o Reino) e a associou à sua glória" (Ibid., VI,8).
     Santa Matilde de Hackeborn nos confia ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora. Convida a louvar o Filho com o Coração da Mãe e venerar Maria com o Coração do Filho: "Eu vos saúdo, ó Virgem veneradíssima, neste dulcíssimo orvalho, que do Coração da Santíssima Trindade se difundiu em vós; eu vos saúdo na glória e no gozo com que agora vos alegrais eternamente, Vós que, com preferência a todas as criaturas da terra e do céu, fostes escolhida antes ainda da criação do mundo! Amém" (Ibid., I, 45).
     Matilde percorreu um caminho de íntima união com Nosso Senhor, entrando em diálogo com o seu dulcíssimo e ardente Coração, fonte de luzes interiores e ocasião de intercessão pelas suas irmãs. Pouco após a sua morte, a sua obra e a sua fama de santidade já tinham se difundido grandemente.
     Matilde faleceu em 19 de novembro de 1299 com 59 anos de idade. A fama e a importância que a ela atribui sua discípula, Santa Gertrudes de Helfta, a Grande, acabou por fazer sombra a Santa Matilde, que a partir do século XVI passou para um segundo plano.
 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Santa Inês de Assis - 16 de novembro

    
     Virgem da Ordem Segunda (1198-1253). Bento XIV, no dia 15 de abril de 1762, concedeu Ofício e Missa em sua honra.
A vida de Santa Inês de Assis, irmã de Santa Clara, nos é quase desconhecida. Algumas notícias históricas, fruto de sérias pesquisas, nos ajudam a conhecê-la melhor.
Ela nasceu em Assis em 1196-1197. Segunda filha de Favarone de Ofreduccio e da Bem-aventurada Hortolana, ambos da nobreza da Úmbria, teve mais uma irmã, chamada Beatriz, também Clarissa beatificada, que morreu a 25 de janeiro de 1260 e que teria nascido por volta de 1199. Seu nome de batismo era Catarina (Catherina), como resultado da influência de uma viagem de Hortolana à Terra Santa, passando pelo famoso mosteiro de Santa Catarina de Alexandria, no Monte Sinai, cujos ossos guardados na igreja atraíam peregrinos que desembarcavam no porto egípcio de Damieta e prosseguiam viagem, passando pelo Sinai e posteriormente por Gaza, rumo à terra de Jesus Cristo.
A infância e adolescência de Catarina foram vividas no palácio da família na praça da catedral de São Rufino, em Assis, com breves estadias de veraneio no castelo de Coresano, no caminho de Gúbio, que pertencia aos nobres Ofreduccio. Residiu com a família em Perusa como refugiados num certo período de anos durante a guerra que se desenrolava em Assis entre o povo em revolta contra o domínio do imperador e contra os feudatários.
Juntamente com Clara e Beatriz, foi educada santamente pela mãe Hortolana, partilhando dos sentimentos de Clara e desejando como ela consagrar-se somente a Deus. Clara mesma rezou por sua irmã, suplicando para ela o dom da mesma vocação.
     Em princípios de abril de 1212, Catarina foi juntar-se à irmã, que quinze dias antes tinha fugido da casa paterna para abraçar o ideal franciscano e se recolher no mosteiro de Santo Ângelo, nas faldas do Subásio, perto de Assis.
     Este local na verdade não tinha a segurança do direito de asilo. Se tivesse – como o mosteiro de São Paulo das Abadessas, na confluência dos rios Tescio e Chiascio, mais distante de Assis, abadia de monjas beneditinas em que Clara estivera anteriormente, e de onde seus parentes desistiram de tirá-la depois que tocou as toalhas do altar apelando para o direito de asilo, que poderia resultar em excomunhão para quem o violasse – Inês estaria protegida.
     Os parentes, exasperados com semelhante gesto, que consideravam um segundo atentado contra o bom nome da família, serviram-se de todos os recursos para tentarem impedi-la de realizar o seu intento. Os parentes com violência tentam levar Catarina, enquanto Clara pondo-se a rezar com lágrimas implora que seja dada à irmã firmeza de propósito. Repentinamente os cavaleiros, com todos os seus esforços, não conseguem mais levantá-la do solo. O tio Monaldo mesmo, que oprimido pela raiva atingiu-a com um golpe, tomado de uma dor atroz na mão erguida para golpeá-la foi constrangido a desistir de tal luta e a afastar-se com seus soldados, com amargura pelo insucesso.
     Foi São Francisco quem sugeriu para a nova consagrada o nome de Inês, porque pela fortaleza de que dera provas esta jovem de 15 anos recordava a valentia da mártir romana Santa Inês.
     Em 1212 São Francisco levou as duas irmãs para São Damião. Em 1220 Inês foi enviada para Florença, como abadessa do mosteiro de Monticelli, fundado no ano anterior. Mas muitos outros mosteiros de Clarissas se orgulham de ter hospedado a santa. Mais tarde regressou a São Damião, onde Inês foi agraciada com uma aparição do Menino Jesus, por isso às vezes ela é representada com o Menino nos braços.
     Em Assis Inês assistiu à morte de Clara no dia 12 de agosto de 1253. No coro do pobrezinho convento de São Damião ainda se podem ler os nomes das primeiras companheiras que seguiram as pegadas de Santa Clara e São Francisco pelo caminho da renúncia total e da pobreza absoluta. Os três primeiros nomes pertencem a mulheres da família de Santa Clara: Hortolana, sua mãe, Inês e Beatriz, suas irmãs.
     Inês foi a primeira a seguir o exemplo de Clara, pouco depois veio Beatriz, e por fim Hortolana. Inês, além de ter sido a primeira, também foi a que mais fielmente seguiu a irmã, vivendo à sua sombra luminosa, sempre delicada e obediente, duma firmeza de caráter excepcional, quase viril, em especial na observância da pobreza. Como superiora foi terna e caridosa, mas inflexível e tenaz. Depois do regresso a São Damião, morreu serenamente três meses depois de Santa Clara, a 16 de novembro de 1253, com 55 anos de idade.
     Foi enterrada na Igreja de Santa Clara em Assis, Itália, e muitos milagres são creditados à sua intercessão. Logo seu túmulo se tornou local de peregrinação e vários milagres foram reportados em sua tumba. Na arte litúrgica da Igreja ela é representada como uma Clarissa Pobre, ou com Santa Clara, ou sendo puxada pelos cabelos para fora do convento.
     A Igreja universal a celebra no dia 16 de novembro, enquanto a Ordem Franciscana, as Clarissas e a cidade de Assis a recordam no dia 19 de novembro.
 
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

Carta de Santa Inês à Santa Clara de Assis
     A sua venerável mãe e senhora em Cristo, distinta e querida senhora dona Clara, e a toda a sua comunidade. Inês, humilde e mínima serva de Cristo, prostrada a seus pés com toda submissão e devoção, deseja-lhes o que de mais doce e precioso se possa desejar no sumo Rei altíssimo.
     Como a condição de todos foi feita de tal forma que nunca dá para ficar na mesma situação, quando alguém acha que está na prosperidade, então é que mergulha na adversidade. Por isso deve saber, mãe, que estou na maior tribulação e numa imensa tristeza corporal e espiritual. Estou sofrendo um peso e uma dor fora do comum e quase não consigo falar, por estar separada de você e das outras minhas irmãs, com quem pensei que, neste mundo, ia viver e morrer.
     Essa tribulação já começou, mas não sei quando vai acabar. Nunca diminui, só cresce. Surgiu há pouco, mas não vai de jeito nenhum para o ocaso. Está sempre junto de mim, não quer se afastar. Eu achava que a vida e a morte deviam unir na terra as que convivem juntas no céu, que a mesma sepultura ia conter as que são da mesma natureza.
     Mas, pelo que estou vendo, enganei-me, estou angustiada, estou abandonada, estou atribulada por todos os lados.
     Ó minhas ótimas irmãs, tenham pena de mim, por favor, chorem comigo, para não virem a sofrer algo parecido, e vejam que não há dor como a minha. Esta dor me machuca sempre, esta tristeza me tortura, este ardor não para de queimar, por isso estou cheia de angústias por todo lado e não sei o que fazer. Ajudem-me, por favor, com suas piedosas orações, para que essa tribulação me seja tolerável e leve. Ó dulcíssima mãe e senhora, que posso dizer se já não espero rever corporalmente a vocês, minhas irmãs?
     Ah, se pudesse expressar meus pensamentos como desejo! Ah, se pudesse mostrar para vocês nesta folha a longa dor que espero e está sempre diante de mim! Minha cabeça queima por dentro, crucia-se pelo fogo inextinguível das tribulações. O coração geme lá dentro e os olhos não param de derramar rios de lágrimas. Estou toda cheia de tristeza, já quase toda consumida no espírito. Não acho consolação, por mais que busque. Concebo uma dor atrás da outra quando remoo no coração que já não tenho nenhuma esperança de ver você nem minhas irmãs.
     Desta parte não há quem me console de todos os meus queridos, mas por outro lado estou muito consolada e vocês podem se congratular comigo. Pois encontrei a maior concórdia, nenhuma divisão, melhor do que poderia esperar. E todas me receberam com a maior cordialidade e alegria, e me prometeram obediência devotamente, com reverência.
     Todas elas se recomendam a Deus, a vocês e à sua comunidade, e eu também lhes recomendo a mim mesma e a elas em tudo e por tudo, para que tenham solícito cuidado de mim e delas como irmãs e filhas suas. Saibam que eu e elas queremos observar todo o tempo de nossa vida inviolavelmente os seus conselhos e preceitos. Além do mais, podem saber que o senhor Papa acedeu em tudo e por tudo ao que eu disse e pedi, de acordo com a sua intenção e a minha, na questão da propriedade.
     Peço que roguem ao Frei Elias que se sinta obrigado a me visitar com frequência para me consolar no Senhor.
Fonte: inesdeassis.blogspot.com.br

sábado, 14 de novembro de 2015

Santa Veneranda, Mártir - 14 de novembro

    
     Seu nome é de origem latina e significa 'digna de veneração’. Pouco se sabe sobre Veneranda, que por sinal é a única santa com este nome, enquanto há três santos com esta designação.
     O Catálogo dos Santos redigido nos anos 1369-1372 pelo veneziano Pietro de Natalibus cita Santa Venerada Virgem no capítulo 61: nascida na Gália (França) no segundo século, Veneranda foi martirizada em Roma durante a perseguição na época do imperador Antonino (138-161). A celebração indicada no dia 14 de novembro foi transferida para a mesma data no Martirológio Romano. Encontramos ainda a santa em certas matérias relativas à Basílica de Santa Maria a Pugliano em Herculano, Itália.
     Em meados do século XVII, na época do Papa Alexandre VII, como era habitual nos séculos passados, foram doados ao Procurador Geral dos Carmelitas Descalços, em Roma, o corpo de São Máximo Mártir, encontrado na catacumba de Santa Ciriaca, e uma relíquia insigne de Santa Venerando Mártir.
     Estas relíquias foram oferecidas por sua vez ao Padre Simão do Espírito Santo, ele também um carmelita do convento de Torre del Greco, perto de Herculano. Sendo ele muito dedicado à Capela do Espírito Santo colocada na antiga basílica, as relíquias lhe foram dadas como prova dessa devoção. Os fiéis de Herculano, que era então chamada de Resina, acolheram com fé e alegria esse dom com festas públicas, e ergueram dois altares na Capela do Espírito Santo: um dedicado a São Máximo e outro a Santa Veneranda, estabelecendo na cidade uma forte devoção pelos dois mártires.
     A santa é representada acima do altar em uma grande pintura de meados do século XVII: em pé, com a pomba do Espírito Santo sobre a cabeça, segura com a mão direita o crucifixo, com a mão esquerda segura um cajado de peregrino e a palma do martírio.
     A relíquia está incrustada no centro de um meio busto de cobre revestido de prata trazida pelos franceses durante a batalha de 14 de junho de 1799, no tempo da república napolitana; na basílica permaneceu apenas o meio busto de cobre.
     Na cidade de Herculano há uma rua em homenagem a Santa, bem como duas pequenas igrejas foram dedicadas a ela. No quadro mencionado há uma inscrição em grego "Aghia Paraskebe" e depois em italiano "Santa Veneranda v. m.". Isto confirma que mesmo no Oriente há um culto a esta santa, que textos hagiográficos importantes dizem que é Santa Parasceve, mártir sob Antonino Pio no ano 160, celebrada em 26 de julho, e que no sul da Itália é homenageada com o nome de Santa Venera ou Veneranda.
     Se é que se trata da mesma pessoa venerada com dois nomes diferentes não há como se certificar, embora alguns pontos se encaixem, mas a Vita de Santa Parasceve é ​​todo um elaborado imaginativo não confiável.
 
Fonte: www.santiebeati.it

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Beata Alice Kotowska, Virgem e mártir - 11 de novembro

    
      Seu nome secular era Maria Jadwiga Kotowska. Nasceu em Varsóvia no dia 20 de novembro de 1899 no seio de uma família cristã de sete filhos. Decidiu-se primeiro pelos estudos de medicina, porém a vocação religiosa a fez ingressar na Congregação das Irmãs da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, na qual fez o noviciado e professou no ano 1924, tomando o nome de Irmã Alice.
     Por indicação dos superiores estudou primeiro a carreira de ciências e logo foi enviada como professora ao Instituto de Wejherovo (1934), do qual chegou a ser diretora quando era superiora da comunidade.
     Durante a ocupação alemã, no começo da II Guerra Mundial, foi aprisionada em 24 de outubro de 1939. Junto com outros presos foi levada ao bosque de Laski Pianiska e ali fuzilada no dia 11 de novembro de 1939. Foi beatificada com outros mártires poloneses em 13 de junho de 1999 pelo papa João Paulo II. 
Etimologia: Alice = no francês e no inglês, feminino da abreviação Alex. Em documentos franceses dos séculos XVI e XVII: Alix. Há quem afirme ser anagrama de Célia: do latim, Caelia, “celeste, celestial”. Outros, afirmam ser variação do fenício-cartaginês Elissa; ou da abreviação do alemão Elise (Elisabete).

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Beata Joana de Signa, Virgem Reclusa - 9 de novembro

Martirológio Romano: Em Signa, perto de Florença, Beata Joana, virgem, que viveu como solitária por amor a Cristo. 
 
     A cidadezinha de Signa, a poucos quilômetros de Florença, fica numa colina ao longo do curso do Rio Arno. É um dos centros mais interessantes e mais ativos da província florentina. De origem antiquíssima, com nome romano (do latim signum), Signa se desenvolveu na Idade Média como centro agrícola e comercial, e também como porto fluvial do Arno. Em época recente, Signa é celebre por seu artesanato, pelos trabalhos em terracota e sobretudo em palha. A famosa “palha de Florença” é, ou ao menos era, trabalhada em Signa por numerosas e habilíssimas “trançadeiras”.
     A parte mais antiga da cidade, de aspecto medieval, é chamada normalmente de “A Beata”, lembrando assim, e todos os dias, em Signa, a Beata Joana hoje festejada, virgem reclusa da Ordem Terceira (1244-1307). Pio VI concedeu em sua honra ofício e missa no dia 17 de setembro de 1798.
     Nascida em 1244, era filha de pais humildes e na juventude foi simples pastora de vida e alma imaculada. Às vezes reunia-se com outros pastores e falava-lhes de coisas do céu e da prática da virtude. Só mais ou menos aos 30 anos lhe foi possível realizar o ideal sonhado de vida religiosa, fazendo-se reclusa voluntária. Nesse intuito, depois de haver recebido dos frades menores o hábito da Ordem Terceira Franciscana, fez-se emparedar numa pequena cela junto ao Rio Arno, e ali viveu em penitência durante uns quarenta anos.
     Embora separada do mundo, a partir desse estreito refúgio derramou dons de misericórdia sobre todos quantos a ela recorriam: ela curou doentes, consolou aflitos, converteu pecadores, esclareceu indecisos, ajudou necessitados. A sua fama perdura até nossos dias por causa também dos milagres póstumos e das graças recebidas por sua intercessão.
     Há lendas pitorescas sobre a sua juventude de pastora. Conta-se, por exemplo, que quando ocorriam tempestades e aguaceiros, ela reunia o rebanho junto a uma frondosa árvore, que assim ficava a salvo da chuva, do granizo e dos raios. Por isso, ao pressentirem a aproximação de tempestade, outros pastores corriam para junto dela com os respectivos rebanhos. E ela aproveitava a oportunidade para lhes lembrar, com palavras simples e eficazes, a necessidade de salvarem a alma e merecerem o paraíso. Outras vezes, quando o caudal do Arno crescia de modo a impedir a passagem de uma margem para a outra, houve quem a visse estender sobre as águas revoltas a sua grosseira capa e atravessar o rio sobre ela como se fosse um barco seguro.
     Como reclusa, Joana viveu uma vida mais angélica do que humana. Da caridade dos fiéis recebia o indispensável para o sustento. Foi exímia na mais rigorosa austeridade, na oração fervorosa, na contemplação assídua, em êxtases e colóquios com o seu Amado. O Senhor glorificou a santidade da sua serva com numerosos prodígios realizados sobretudo em favor de doentes, para quais obtinha de Deus a cura do corpo e da alma.
     Da cela onde viveu emparedada voou para o céu aos 63 anos, no dia 9 de novembro de 1307, e diz-se que no momento do seu desenlace repicaram festivamente os sinos das igrejas, que celebravam sua entrada na glória celeste.
 
Fontes: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Beata Lúcia de Settefonti, Virgem camaldulense - 7 de novembro

    
     Em torno de 1100, Bolonha, após cerca de três séculos de dependência de Ravena, se constituiu em comuna livre, mas a vida era continuamente perturbada pelas lutas entre guelfos e gibelinos.
     Neste clima político veio ao mundo uma menina a quem a mãe dedicou uma sincera educação religiosa. Estes cuidados zelosos da mãe resultaram que nos anos seguintes a criança, que se tornou uma jovem esplêndida, desejasse se dedicar à oração e à contemplação.
     A jovem fez os votos na igreja bolonhesa de Santo Estevão, escolhendo o nome de Lúcia, dando adeus definitivo à vida secular. Ela ficou conhecida pelo nome de Lúcia de Settefonti (ou de Stifonti) porque o convento que escolhera para concretizar sua vocação religiosa foi o mosteiro camaldulense de Santa Cristina, ou mosteiro camaldulense de Stifonti, local não distante de Bolonha, na comuna de Ozzano Emilia, fundado em 1097.
     À morte de Matilde, fundadora do mosteiro, Lúcia se tornou abadessa. O hábito monacal entretanto não toldou sua beleza, cuja fama se espalhou por toda a região.
     Após sua morte, sua figura de monja e abadessa se tornou tema de narrativas populares que, dando testemunho do valor de sua intercessão e caridade fraterna, incrementaram o seu culto, particularmente na igreja de Santa Cristina de Bolonha onde fora sepultada.
     Em 7 de novembro de 1573, o Cardeal Paleotti transladou suas relíquias para a igreja de Santo André de Ozzano, onde surgira um outro mosteiro da mesma Ordem. Em 1779, Pio VI confirmou o culto a Beata Lúcia e fixou o dia 7 de novembro como data de celebração de sua memória.
 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Débora, a Profetisa

 
Para salvar seu povo, ela foi feita juíza de Israel
 
     Débora (do hebraico Deburah), cujo nome significa "abelha", foi profetiza e a quarta juíza de Israel. Sua história está descrita no Livro dos Juízes, capítulos 4 e 5. Ela, juntamente com Baraque, liderou os israelitas contra o domínio de Canaã, por volta do século XII a.C. Antes dela foram juízes em Israel Otniel, Eúde e Sangar. Ela é a única mulher citada na Bíblia a ter o status de juíza. Sua origem parece ser simples, pois no texto bíblico ela é apresentada como esposa de Lapidote e que prestava atendimento como profetisa debaixo das palmeiras.
     Após a morte de Eúde o povo de Israel tornou a pecar contra Deus e por isso Ele os entregou nas mãos de Jabim, rei de Canaã. Por vinte anos Israel esteve sob o jugo de Canaã, sendo violentamente oprimido por Sísera, capitão do exército de Jabim e que contava com uma frota de carros de ferro que o tornava invencível para Israel.
     Débora vivia na região montanhosa de Efraim, entre Ramã e Betel. Ela sentava-se debaixo de uma palmeira e o povo de Israel vinha até ela para que ela os ajudasse a resolver as questões que traziam. Além de juíza ela também era profetisa, sendo assim, tinha autoridade divina para discernir e dar soluções aos que a procuravam.
     Certo dia Débora mandou chamar Baraque, e lhe disse que Deus havia ordenado que ele escolhesse dez mil homens das tribos de Naftali e Zebulom para enfrentar Sísera e que a vitória já estava garantida por Ele.
     Débora era uma mulher de profunda fé e grande discernimento espiritual. Havia avaliado a sombria situação de seu país com perspicácia (Jz 5.6-7), compreendeu o motivo da decadência (idolatria, v.8) e assumiu a responsabilidade pela nação (vv. 7,12). Débora é a única mulher na Bíblia que não apenas governou Israel como também deu ordens militares a um homem, e isso com a bênção de Deus. Era tão grande sua autoridade, que quando convocou Baraque, ele veio imediatamente sem questionar.
     Apesar de confiar na palavra que recebeu, Baraque pediu que Débora acompanhasse a ele e seu exercito no dia da batalha. Isso porque ela era juíza e profeta e sua presença com certeza seria capaz de inspirar confiança nos homens escolhidos para a guerra. Por esse pedido Baraque perdeu a honra de matar Sísera. Débora lhe disse que essa honra seria dada a uma mulher.
     Quando ela mandou reunir as tropas, esperava que elas se apresentassem. Aos que ignoravam o chamado, ela amaldiçoava: “Amaldiçoai a Meroz, ...amaldiçoai duramente os seus moradores, porque não vieram em socorro do Senhor” (Jz 5.23). Débora provavelmente não conseguia entender por que esses combatentes de Israel tinham tão pouca fé em Deus.
     Ao ouvir dizer que os israelitas estavam alinhados para a guerra, Sísera convocou todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todo o povo que estava com ele. Quando o momento da batalha chegou houve grande confusão entre o exército de Canaã e eles foram derrotados. Sísera fugiu a pé da batalha para a tenda de Jael, mulher de Héber, o queneu, pois existia um acordo de paz entre eles. Cansado, ele pediu água e adormeceu. Então Jael, pegando uma estaca a cravou na fronte de Sísera com um martelo e o matou, cumprindo o que Débora dissera a Baraque. O povo de Israel, fortalecido, continuou a lutar contra Canaã até que Jabim estivesse totalmente destruído.
      Baraque, sem dúvida, foi um ótimo militar, e seu nome está registrado em Hebreus 11 como homem de fé. Porém, ele mesmo teria capturado Sísera se tivesse confiado um pouco mais em Deus. Débora, por outro lado, era uma simples esposa e mãe, mas sua fé a tornou um vaso muito mais útil para o Senhor do que alguém poderia imaginar.
O Cântico de Débora
     Ao final da batalha Débora cantou um hino de gratidão ao Deus de Israel. Nele podemos perceber o quão sensível Débora era com as questões políticas e espirituais de Israel. Ela tinha consciência de que o pecado de seu povo havia feito com que Deus permitisse que eles passassem por todo aquele sofrimento. Em seu cântico ela abençoa aqueles que se dispuseram a lutar contra Sísera e seu exército e amaldiçoa as Tribos de Israel que temeram diante do inimigo. Comenta ainda sobre os sentimentos da mãe de Sísera, que espera impaciente pelo retorno do filho que nunca mais voltará. Ela termina seu hino com as seguintes palavras: "Assim, ó Senhor, pereçam todos os teus inimigos! Porém os que O amam sejam como o sol quando sai na sua força" (5 Juízes 5.31).
     Este poema muito antigo é um dos documentos mais preciosos da história do período dos Juízes. A fé no Deus do Sinai das tribos ainda ligadas incipientemente encontra expressão viva na música. Este cântico descreve de uma forma impressionante o sofrimento do povo "até Débora surgir, uma mãe surgiu em Israel", e a luta heroica pela liberdade que ela despertou em seus compatriotas. Após a libertação "a terra descansou durante quarenta anos". Não nos é dito o que fez Débora nos assuntos de seu país durante este período de paz, mas é provável que sua influência aumentou por ter seu nome ligado para sempre a tão glorioso evento.