domingo, 26 de fevereiro de 2012

Beatas Felipa de Gueldre e Francisca Ana da Dolorosa


Como são admiráveis as obras de Deus! No dia 27 de fevereiro, entre outros tantos Santos, festejamos duas Beatas tão diferentes quanto ao berço, à época em que viveram, à cultura, às obras de suas vidas, mas tão semelhantes na busca da santidade. Fizemos questão de colocá-las juntas aqui, porque certamente estão
gozando juntas da visão beatífica.
Felipa de Gueldre
Duquesa da Lorena e de Bar, Rainha da Sicília e de Jerusalém, Clarissa Coletina

     Felipa nasceu em Grave, Brabante do Norte (atual Paises Baixos), no dia 9 de novembro de 1467. Era filha de Adolfo d’Egmont, Duque de Gueldre e de Catarina de Bourbon.
     Ela cresceu primeiro na corte dos duques de Borgonha, depois na corte da França. Por razões de estado, casou-se em 1485 com Renato II, Duque da Lorena e de Bar, principe generoso, piedoso e terciário da Ordem de S. Francisco, com quem teve 12 filhos, dos quais sete morreram jovens.
     Quando seu esposo faleceu, em 1508, ela desejava tomar a regência do Ducado da Lorena, mas como seu filho mais velho tinha 19 anos, ele foi considerado apto a reinar.
      No dia 15 de dezembro de 1519, ela entrou no convento das Clarissas de Pont-à-Mousson onde viveu 28 anos em oração e penitência. Ela favoreceu a reforma de Santa Coleta de Corbie em diversos mosteiros.
Pont-à-Mousson vista do Moselle
     Quando, no dia 26 de fevereiro de 1547, uma sexta-feira, as freiras disseram que ela ia morrer, respondeu: «Não morro hoje, bem o sei, porque toda a felicidade que tive neste mundo me veio ao sábado. Foi num sábado que me casei com o bom Renato que Deus o haja; foi num sábado que vim para a Lorena; foi num sábado que fiz minha profissão religiosa; e será ainda num sábado que hei de entrar no Paraíso». Morreu efetivamente num sábado, 27 de fevereiro de 1547.
     Felipa de Gueldre é considerada beata na família franciscana, embora ela jamais tenha sido beatificada oficialmente. Ela sofria em si os tormentos que afligiram Nosso Senhor na Paixão. Nos últimos sete anos de sua vida tais sofrimentos foram visivelmente constatados por aqueles que a conheciam. Esta Duquesa da Lorena e Rainha da Sicília e de Jerusalém morreu em odor de santidade como uma pobre Clarissa no pobre mosteiro de Santa Clara de Pont-à-Mousson.

     Nota: O mosteiro de clarissas de Pont-à-Mousson, fundado em 1447 por Santa Coleta, reformadora da Ordem, foi devastado pelos revolucionários em setembro de 1792, quando as monjas foram expulsas.


* * *

Beata Francisca Ana Cirer y Carbonell

     Nasceu em Sencelles, Maiorca (Ilhas Baleares), Espanha, no dia 1 de junho de 1781, filha de João Cirer e Joana Carbonell, agricultores tão pobres que nunca puderam deixá-la frequentar a escola; mas tão fervorosos, que no mesmo dia do seu nascimento a levaram à fonte batismal, quando recebeu o nome de Francisca Ana Maria Boaventura.
     Sem saber ler nem escrever, entretanto aprendeu a doutrina católica de viva voz e mereceu ser crismada ao sete anos por Mons. Pedro Rubio Benedetto, bispo da diocese, e em seguida, admitida à Primeira Comunhão.
     Crescendo, adquiriu a sabedoria das virtudes católicas com tal perfeição, que a levava a praticá-las todas em grau heróico e a tornava capaz de ensinar o catecismo às crianças, o que fazia após as Missas do domingo.
     Ajudava aos pais nos trabalhos domésticos e agrícolas, mas, com a permissão dos pais, voltava à igreja no fim do dia para tomar parte no Rosário ou na Via Sacra.
     Francisca sentia desejo de se tornar religiosa, mas os pais se opunham pois ela era o único amparo para a velhice deles. Assim, em 1798, aos 17 anos, ingressou na Ordem Terceira de S. Francisco e, em 1813, na Confraria do Santíssimo Sacramento.
     A Beata tinha grande devoção à Santíssima Trindade, à Paixão de Cristo e a Nossa Senhora das Dores, a quem honrava com o terço diário e o jejum sabatino. Rezava com frequência pelas almas do Purgatório.
O convento das Irmãs em Secelles
     Em 2 de maio de 1815, a Beata, que compreendia a importância da conformidade com a vontade de Deus e obedecia sem lamentações, recebeu a revelação de que sua casa seria transformada em um convento das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula.
     Aos 40 anos, Francisca ficou órfã de pai (sua mãe já havia falecido). Sendo praticamente impossível realizar seu desejo de se tornar religiosa pela idade, falta de instrução e sem dote, procurou viver como verdadeira religiosa no mundo, em companhia de uma prima, Clara Llabrés, e depois de alguns anos, de Madalena Cirer, sua sobrinha.
     Finalmente, aos 70 anos, no dia 23 de dezembro de 1850, com a aprovação de seu pároco, sua casa tornou-se convento das Irmãs da Caridade, que foi juridicamente aprovado no dia 7 de dezembro de 1851. Tinham por finalidade cuidar dos doentes e ensinar o catecismo em casa e nas paróquias. Naquele dia ela e as duas companheiras vestiram o hábito. Francisca foi eleita para ficar à frente do grupo: governou com sabedoria, prudência e humildade, cuidando da perfeita observância dos votos religiosos.
     A Beata faleceu repentinamente no dia 27 de fevereiro de 1855, aos 76 anos de idade, após ter recebido a Eucaristia. Seu funeral foi triunfal. Seus restos são venerados no Oratório da Casa de Caridade de Sencelles.
     Como se estendesse mais e mais a sua fama de santidade, deu-se início aos processos habituais para sua beatificação. Após a confirmação de um milagre obtido por sua intercessão, foi beatificada no dia 1 de outubro de 1989 por João Paulo II.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Beata Maria Adeodata Pisani, Beneditina - Festejada 25 de fevereiro


     Nasceu em Nápoles (Itália) no dia 29 de dezembro de 1806. Era filha do nobre Benedetto Pisani, Barão de Frigenuini, nascido em Malta. No batismo recebeu o nome de María Teresa. Por causa de conflitos familiares - seus pais se separaram - foi educada por sua avó paterna, a Baronesa Elisabetta Mamo, que morava em Pizzofalcone (Nápoles). Na idade de dez anos, quando a avó morreu, foi internada em um colégio, onde recebeu uma boa formação humana e católica. Alí recebeu a Primeira Comunhão e a Confirmação.
     Em 1820-1821 seu pai, envolvido em um movimento liberal, foi preso e condenado a morte. Tendo sua pena sido comutada pelo exílio, voltou para sempre a Malta. María Teresa também se mudou para a ilha, mas para viver com sua mãe, na cidade de Rabat.
     Apesar de sua mãe desejar inseri-la na vida social, querendo que se casasse, María Teresa prefería levar uma vida isolada do mundo, entregue totalmente a uma profunda piedade e intensa oração, quase como se fosse monja. Só saia de casa para ir, diariamente, assistir a Santa Missa.
     Sua vocação religiosa despertou com a pregação de um frade franciscano que falou do Juízio Final. Esse sermão impressionou-a profundamente e enquanto rezava diante de uma imagem da Virgem do Bom Conselho, percebeu com certeza que era chamada a vida religiosa.
Catedral de Mdina, Malta
     Em 16 de julho de 1828, depois de superar a oposição de seus pais, ingressou no Mosteiro Beneditino de São Pedro, em Mdina, tomando o nome de María Adeodata. Em 8 de março de 1830 fez a profissão religiosa solene.
     Depois da profissão religiosa continuou vivendo na humildade e no sacrifício, virtudes que manifestara durante o noviciado. Nunca buscou cargos, embora tenha exercido todos. Por três vezes foi sacristã e enfermeira, ofícios de que gostava porque o primeiro lhe permitia estar em contato contínuo com Nosso Senhor, e o segundo porque podia servir melhor às suas irmãs de hábito. Foi porteira, embora este trabalho lhe fosse custoso porque dificultavam o silêncio e o recolhimento. Aproveitava esta oportunidade para ajudar os pobresl, aos quais, com a permissão da Superiora, reunia e catequizava.
     Em 30 de junho de 1847 foi nomeda Mestra de Noviças, ofício que desempenhou até 30 de junho de 1851, quando foi eleita Abadessa.
     Como superiora destacou-se sobretudo por seu exemplo de fidelidade à Regra e por seu empenho em ajudar as Irmãs a progredir no caminho da perfeição. Corrigía com prudência e era mais severa consigo mesma do que com as Irmãs.
     Eleita "Discreta" em 30 de junho de 1853, não pode levar a cabo seu último ofício devido suas condições de saúde: a debilidade física era causada especialmente pelas penitências que praticava.
     Sua saúde foi se debilitando e ocasiou o seu falecimento no dia 25 de fevereiro de 1855. Às cinco da manhã desceu ao coro para receber a Comunhão. À Irmã enfermeira, que a dissuadira de ir ao coro, respondeu: "Descerei porque é minha última Comunhão e hoje mesmo morrerei". Após ter recebido a Comunhão teve um infarto e foi levada para a cama. Pediu e obteve a Unção dos Enfermos. Às oito horas da manhã expirou.
Vista de Mdina, Malta
     A espiritualidade de Madre Maria Adeodata se reflete no seu comportamento nas diversas etapas de sua vida e nos ensinamentos contidos nos seus escritos, que deixam transparecer uma vivência das virtudes teologais e cardeais que supera muito os níveis comuns da vida religiosa e claustral.
     O processo de beatificação foi iniciado em 1893. O milagre para sua beatificação ocorreu em 24 de novembro de 1897, quando a Abadessa Josefina Damiani, do Monasterio de São João Batista, em Subiaco, Itália, teve uma repentina cura de um tumor estomacal depois de rezar pedindo a intercessão de María Pisani. Mas a Causa de Beatificação ficou suspensa durante anos devido a falta de fundos e problemas políticos entre Malta e Itália.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Beata Isabel da França, Princesa - Festejada 22 de fevereiro

     A Princesa Isabel da França, irmã mais nova do Rei São Luis IX, nasceu em 1225, filha do Rei Luis VIII e da Rainha Santa Branca de Castela.
     A principal fonte sobre a vida desta beata é a "Vita" escrita por Inês de Harcourt, abadessa do mosteiro de Longchamp fundado pela princesa, que se relacionou com ela nos últimos anos de sua vida.
     Educada pela mãe numa religiosidade profunda e severa, desde a infância Isabel se distinguia pela piedade. Uma longa enfermidade fez amadurecer nela a decisão de se dedicar às suas práticas de piedade, às leituras piedosas e ao cuidado dos pobres. Se distinguiu particularmente pelo culto às relíquias dos santos e por manter os Cruzados. Desde a adolescência Isabel mostrava desprezo pelo luxo que a circundava.
     Após ter recusado não poucos pretendentes e com firmeza responder negativamente ao Papa Inocêncio IV, que lhe havia escrito pedindo que ela aceitasse a mão do Rei Conrado de Jerusalém pelo bem da Cristandade, pediu e obteve a permissão para emitir o voto de perpétua virgindade.
     Em 1226 seu irmão subira ao trono e foi ele quem lhe inspirou a caridade com os pobres e o fervor religioso: todos os dias Isabel convidava à sua mesa numerosos mendigos e visitava os doentes e os pobres.
     São Luis IX tomou parte em duas Cruzadas, que não tiveram um resultado feliz, e quando foi feito prisioneiro no Egito, durante a primeira Cruzada, foi um duro golpe para Isabel, pois ela subvencionava a manutenção de dez cavaleiros para a recuperação dos locais santos.
     Outra figura que influenciou sua vida foi Santa Clara de Assis; e em 1252, após a morte de sua mãe, Isabel decidiu fundar em Longchamp,
     O Rei Luis IX aprovou e financiou o projeto e alguns franciscanos, entre os quais São Boaventura, foram chamados para colaborar na formulação da regra e das constituições. O novo mosteiro foi dedicado à Humildade da Bem-aventurada Virgem Maria.
     A Princesa não adotou a regra de Santa Clara: ela escreveu uma regra que mitigava o voto de pobreza, especialmente para uma comunidade de religiosas de origem nobre. Esta regra foi aprovada em 1263 pelo Papa Urbano IV e foi adotada por outros mosteiros de Clarissas, principalmente na França.
     Isabel dotou o convento de boa parte de bens destinados à sua própria sobrevivência e continuou sua atividade de assistência aos pobres. Muito provavelmente ela jamais emitiu os votos perpétuos devido a sua saúde precária. A decisão de viver em um local separado do edifício, sem um contato estreito com as celas das Irmãs, parece ter sido o resultado de sua humildade unido ao desejo de se proteger de uma eventual eleição a abadessa.
     Por dez anos ela levou no mosteiro uma vida de jejuns, penitências, contemplação e oração. Viveu santamente em Longchamo até sua morte que ocorreu depois de dois anos de enfermidade.
     Antes de sua morte, ocorrida em 22 de fevereiro de 1270, o seu capelão, o confessor e a Irmã Inês, sua futura biógrafa, foram testemunhas de seu êxtase. Poucos meses depois, seu santo irmão morria em Tunis, ao retornar da segunda Cruzada.
     A Beata foi sepultada na igreja do convento; atualmente suas relíquias estão em Paris, junto ao túmulo de São Luis IX e em parte da Catedral de Meaux.
na floresta de Rouvray (atual Bois de Boulogne), perto de Paris (depois destruido durante a Revolução Francesa) um convento onde os ideais das Clarissas seriam vividos.
     Após a morte de São Luis IX, Carlos d’Anjou, irmão do Rei e de Isabel, pediu a uma das damas de companhia da Princesa que escrevesse sua vida tendo em vista sua canonização. Inês d’Harcourt publicou essa narração hagiográfica em 1280, mas Isabel somente seria beatificada em 3 de janeiro de 1521, com a bula Piis omnium do
     Durante algum tempo a Beata Isabel da França foi celebrada pela Ordem Franciscana no dia 8 de junho, junto com suas co-irmãs Inês da Boêmia e Camila Batista de Varano. Luis IX foi um dos primeiros terceiros franciscanos a ser reconhecido como santo.
Papa Leão X, sendo ela uma das primeiras santas clarissas.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Beata Maria Júlia Rodzinska, Mátir - Festejada 20 de fevereiro

     No dia 13 de junho de 1999, João Paulo II beatificou em Varsóvia, durante sua sétima viagem apostólica a Polônia, 108 mártires vítimas da perseguição contra a Igreja polonesa durante a ocupação alemã nazista de 1939 a 1945.
     O ódio racial forjado pelo nazismo provocou mais de cinco milhões que vítimas entre a população civil polonesa, muitos deles eram religiosos, sacerdotes, bispos e leigos católicos.
     Compilando informações e testemunhos foi possível abrir vários processos de beatificação. O primeiro foi aberto pelo bispo de Wloclawek, onde um grande número de vítimas padeceu o martírio. A este processo confluíram outros e o número de Servos de Deus, que inicialmente era de 92, paulatinamente chegou a 108.
     Dentre estes nomes se destaca no dia de hoje o da religiosa professa dominicana Júlia Rodzinska, que nasceu em 16 de março de 1899 em Nawojowa, Malopolskie, Polônia e que na pia batismal recebeu o nome de Stanislava.
     Dela se sabe que ingressou na Ordem Dominicana no ano de 1916 e realizou sua profissão solene em 5 de agosto de 1924. Como educadora foi conhecida como a “mãe dos órfãos”, além disto, era chamada “a apóstola do Rosário”.
     Foi aprisionada em 12 de julho de 1943, sofreu no campo de concentração de Sztutowo (a.k.a Stutthof), Pomorskie, Polônia, por dois anos, onde morreu em 20 de fevereiro de 1945, na idade de quarenta e cinco anos, depois de haver contraído tifo, enfermidade que assolava o campo de concentração, pois não tinha as mais elementares condições higiênicas. Ela contraiu a doença enquanto consolava e apoiava as prisioneiras judias já contagiadas e isoladas.
     A Beata Júlia Rodzinska é a única religiosa dominicana incluída neste numeroso grupo de mártires. Seu processo de beatificação foi iniciado em 10 de março de 1989 e em 24 de abril de 1994 a Congregação para as Causas dos Santos deu como número de protocolo o 1844.
     O Papa João Paulo II aprovou seu martírio e a declarou digna de veneração -"Venerável" – em 26 de março de 1999. Finalmente, a declarou beata em 13 de junho do mesmo ano, junto com os outros cento e sete mártires.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Santa Gertrudes Comensoli, Fundadora - Festejada 18 de fevereiro

     Quinta de dez filhos de uma família modesta, mas de profunda religiosidade, nasceu em Bienno, Brescia, Itália, a 18 de janeiro de 1847. No batismo recebeu o nome de Catarina.
     Desde pequena sentiu grande atração por Jesus Cristo presente na Eucaristia. Passava horas em silêncio diante do sacrário a pensar, como ela dizia.
     Começou a confessar-se aos cinco anos e aos sete, sem prevenir ninguém, aproximou-se da Sagrada Comunhão. Movida pelo Espírito Santo, fez voto de virgindade perpétua, dizendo a Nosso Senhor: “Juro um milhão de vezes que serei sempre vossa, Senhor. Se algum dia Vos hei-de ser infiel, levai-me imediatamente”.
     Aos 15 anos entrou no Instituto das Irmãs de Caridade de Lovere, fundado por Santa Bartolomea Capitanio, mas deixou-o espontaneamente ao cabo de seis meses, por falta de saúde.
     Em 1867, para aliviar as carências da família, foi para Chiari como empregada doméstica do arcipreste, Padre João Batista Rota, futuro Bispo de Lodi, indo depois para S. Gervasio d’Alda (Cremona) como dama de companhia da Condessa Fé-Vitali.
     Foi ali que, em 1879, se encontrou pela primeira vez com o Padre Francisco Spinelli. Os dois tinham os mesmos ideais: fundar uma congregação que tivesse por fim a adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento e a educação cristã de meninas pobres.
     Em 1880, tendo estado em Roma, entrevistou-se com o Papa Leão XIII a quem falou de seu projeto. Este pontífice apoiou sua obra, mas além da adoração ao Santíssimo Sacramento enfatizou a educação das jovens operárias.

A Santa na juventude
      Depois da morte dos pais e de conseguir separar-se da família Fé-Vitali, que a estimava como filha, foi para Bérgamo onde, sob a orientação espiritual do Padre Spinelli, com sua irmã Bartolomea e uma outra companheira, deu início ao novo Instituto, a 15 de agosto de 1882.
     Decorrido dois anos, a 15 de dezembro de 1884, com a bênção e consentimento do Bispo, D. Camilo Guindani, cinco Adoradoras ou Sacramentinas vestiram o hábito, e Catarina Comensoli, que tomara o nome de Irmã Gertrudes do Santíssimo Sacramento, foi eleita Superiora da comunidade, de que faziam parte outras nove religiosas que haviam professado anteriormente.
     O Instituto difundiu-se rapidamente por várias cidades e povoações. Tudo parecia correr pelo melhor quando uma grande tempestade desabou sobre a Congregação. Por razões nada fáceis de apurar, as casas e bens do Instituto foram confiscados, sem culpa dos fundadores. Por outro lado, entre eles tinha havido já um certo desentendimento: a Irmã Gertrudes desejava que o Instituto desse primazia à adoração ao Santíssimo, ao passo que o Padre Spinelli era de opinião que as obras de caridade deviam ocupar o primeiro posto. Quando o caso da falência se veio juntar a esta divergência, o desfecho natural era cada um seguir o próprio caminho.
     A Irmã Gertrudes, por conselho do Bispo Guindani, afastou-se temporariamente de Bérgamo, levando consigo um grupo de religiosas, que tomaram o nome de Sacramentinas. Foram para Lodi, onde o Bispo João Batista Rota as acolheu favoravelmente e em 8 de setembro de 1891 lhes concedeu a aprovação diocesana.
     No ano seguinte, a 28 de março, puderam regressar à casa de Bérgamo já resgatada da hipoteca. Foi ali que a Madre Gertrudes passou os últimos anos de vida. Aproveitou-os para dar consistência e desenvolvimento ao Instituto e sobretudo para lhe incutir o carisma próprio da adoração e reparação ao Santíssimo Sacramento.

Adoradora diante do Santíssimo
      A Santa Sé concedeu-lhes o Breve laudatório a 11 de abril de 1900 e a aprovação definitiva a 14 de dezembro de 1906, quando a fundadora já havia partido para a eternidade. Com efeito, Madre Gertrudes havia falecido aos 56 anos, no dia 18 de fevereiro de 1903.
     O solene funeral bem mostrou de quanta veneração ela gozava entre todos. Em 9 de agosto de 1926, o venerado cadáver foi transportado do cemitério para a Casa Mãe, onde permanece numa capela apropriada, contígua à Igreja da Adoração.
     A sua fama de santidade confirmou-se no processo canônico, que levou à declaração das virtudes heróicas a 26 de abril de 1961.
     Deus corroborou com um milagre, aprovado no dia 13 de maio de 1989, quanto foi preciosa aos Seus olhos a vida e morte de Madre Gertrudes Comensoli, que finalmente recebeu as honras da beatificação no dia 1º de outubro do mesmo ano.
     Em 26 de abril de 2009, Bento XVI a inscreveu no livro dos Santos.
    
  Fontes: Santos de Cada Dia, Pe José Leite S.J., 3ª ed. Ed. A. O. – Braga; http://www.vatican.va/.

    
       Ao mesmo tempo tristes e indignados, nós católicos, vemo-nos obrigados todos os anos a desagravar Nosso Deus pelos repetidos ultrajes perpetrados contra Ele no Carnaval, pelo fato deste estar se metamorfoseando de uma antiga folia inocente, alegre e sob vários aspectos até fina, numa espécie de apoteose tribalista, imoral, pagã e, pior de tudo, blasfema.

     Não nos esqueçamos de que, nós católicos, temos a obrigação de cumprir os Mandamentos da Lei de Deus e da Santa Igreja, por isso, participar de qualquer evento com as características que o Carnaval tem hoje é ir contra os princípios cristãos. Vale lembrar que até assistir pela TV cenas que ofendem a Deus equivale a uma participação indireta.
     Nesses dias, nossa cidade, fundada por Nobrega e Anchieta, trai enormemente seu passado católico, e, pior, neutraliza para incontáveis almas os efeitos sagrados da redenção.
     Sem dúvida não é este futuro que seus fundadores desejavam para São Paulo. E não é isto que também nós desejamos para nossa querida cidade. Estou certo, que muitos católicos autênticos concordam comigo.
     Portanto, ofereçamos reparação a Nosso Senhor ofendido por tantos desmando e rezemos muitas vezes a magnífica oração abaixo:
A Jesus Crucificado

     Eis-me, ó bom e dulcíssimo Jesus, prostrado de joelhos em Vossa presença, e Vos peço e rogo com o mais ardente fervor da minha alma que imprimais no meu coração vivos sentimentos de fé, esperança e caridade, e um verdadeiro arrependimento de meus pecados, com propósito firme de me emendar, enquanto considero com grande afeto e dor de alma as Vossas cinco chagas, tendo diante dos olhos o que já o Santo Profeta David dizia de Vós, ó bom Jesus: "transpassaram as minhas mãos e os meus pés, e contaram todos os meus ossos".

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Beata Felipa Mareri, Clarissa - Festejada 16 de fevereiro

     A primeira Clarissa a ser honrada com culto público não foi Santa Clara, mas a Beata Felipa Mareri, morta em 1236, quando Santa Clara ainda vivia em São Damião de Assis.
     Felipa nasceu no final do século XII, cerca do ano 1195, da nobre família dos Mareri, no castelo de sua propriedade situado em San Pietro de Molito, hoje Borgo San Pietro, província de Rieti.
     O fundador da baronia da família Mareri foi Felipe, que teve pelo menos quatro filhos: Tomás, Gentil, Felipa e outra filha cujo nome se desconhece. O maior incremento da fama e fortuna da família se deveu a Tomás, que foi um alto funcionário do imperador Frederico II.
     Felipa começou já na infância a dar mostras de virtude pouco comum e de aptidão excepcional para os estudos. Era-lhe familiar a língua latina o que ajudou-a nas leituras das Escrituras.
     Orientada para a vida de perfeição por São Francisco de Assis nos anos 1221-1225, quando o Santo, peregrinando pelo vale de Rieti, se hospedava na casa de seus pais, Felipa tomou ainda jovem a decisão de consagrar-se a Deus, e se manteve com tal firmeza em seu propósito, que não conseguiram dobrar sua vontade nem as pressões dos parentes, nem as ameaças de seu irmão Tomás, nem as ofertas e pedidos de seus pretendentes.
     Diante da atitude de seus familiares, Felipa, como anos antes Santa Clara de Assis, cortou por si própria o cabelo, vestiu hábito pobre e, junto com sua irmã e algumas companheiras, se refugiou em uma gruta nas montanhas próximas de seu castelo, desde então chamada «Gruta de Santa Felipa».
     Ela a adaptou com austeridades para seus fins e ali permaneceu até que seus irmãos Tomás e Gentil subiram ao monte para solicitar-lhe o perdão e ofereceram às servas de Deus uma igreja dedicada a São Pedro e, com uma ata notarial datada de 18 de setembro de 1228, lhe deram o castelo de sua propriedade em San Pietro de Molito e a antiga igreja beneditina anexa.
     Para ali se trasladaram Felipa e suas seguidoras, e em seguida começaram a organizar sua vida claustral seguindo a forma de vida e as normas que São Francisco havia dado a Santa Clara e a suas irmãs do mosteiro de São Damião em Assis.
     São Francisco indicou um de seus primeiros companheiros, o Beato Rogério de Todi, para dirigir espiritualmente a Beata e as Clarissas do mosteiro por ela fundado. Para tanto, Rogério se trasladou para o vale de Rieti, e ali permaneceu cumprindo sua missão até a morte da Beata em 1236.
     O Beato Rogério de Todi (Úmbria), por seu equilíbrio, associado ao mais fervoroso zelo missionário, fora enviado por São Francisco à Espanha para implantar ali a Ordem Franciscana. Erigiu conventos, acolheu religiosos que soube formar no espírito seráfico e os organizou como Província religiosa. Terminada sua missão, regressou à Itália.

Atual Santuário da Beata Felipa
      Com os sábios conselhos do Beato Rogério, homem de grande fervor e não menor prudência, a comunidade de Felipa Mareri, se firmou exemplarmente na Regra da Ordem Segunda. Felipa se ligou com afetuosa devoção ao franciscano de Todi, sob cuja direção a comunidade por ela querida progredia na perfeição.
     O mosteiro logo se converteu em uma escola de santidade. A ocupação principal da comunidade monástica era o culto e o louvor de Deus, a vida litúrgica, a leitura e o estudo da Sagrada Escritura, a oração e a contemplação. Porém, ao mesmo tempo, o trabalho era tido em grande consideração, como também o atendimento dos pobres e o apostolado.
     No mosteiro eram preparados remédios que eram distribuídos gratuitamente aos doentes pobres. O fervor da caridade nas palavras e nas obras, bem como o estilo de vida daquelas Clarissas, com Felipa à frente e todas seguindo o Santo de Assis, fizeram reviver a vida evangélica no vale de Rieti, como antes havia acontecido no vale de Espoleto.
     Quando a Felipa sentiu-se próxima da morte, pediu a presença do Beato Rogério. Ela morreu no seu mosteiro no dia 16 de fevereiro de 1236. Nas orações fúnebres o Beato Rogério a invocou como se faz aos santos.
     O Beato Rogério de Todi sobreviveu pouco a sua filha espiritual: faleceu em 1237 e Bento XIV aprovou o seu culto em 24 de abril de 1751.
     Logo o túmulo de Felipa se converteu em meta de peregrinações e as graças e os favores extraordinários alcançados de Deus pela intercessão da Beata se multiplicaram.
     Em 1706 foi feito um reconhecimento de seus restos mortais e se constatou que seu coração permanecia incorrupto e é ainda hoje conservado em um relicário de prata.

Borgo San Pietro e o lago
      O Papa Inocêncio IV deu o título de “santa” a Felipa em uma bula de 1247, mas foi o Pio VII quem, em 30 de abril de 1806, confirmou seu culto imemorial e aprovou a missa e o ofício em sua honra.
     Em 1940, o antigo Borgo San Pietro e o mosteiro de Clarissas fundado pela Beata Felipa ficaram submersos sob as águas de um novo lago artificial, às margens do qual foi reconstruído tanto o mosteiro como o povoado. A capela do século XIII, onde eram venerados os restos mortais da Beata, foi restaurada na nova igreja com as mesmas pedras medievais, e foi decorada com os afrescos que a adornavam no antigo mosteiro. O coração da Beata é venerado ali em um relicário.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Santa Georgina ou Georgette, Virgem - Festejada 15 de fevereiro

      São Gregório de Tours (m. 594 ca.) conhecia muito bem a história da região de Clermont-Ferrand, no Auvergne, França, pois nasceu e passou muitos anos naquela cidade. Tinha portanto um bom conhecimento das tradições relativas a existência e as virtudes de Santa Georgina (De Gloria confessorum, XXXIV), de quem foi quase contemporâneo. E o que sabemos desta Santa é o que foi transmitido por ele.
     No início do século VI, Georgina vivia em Clermont-Ferrand "religiosa atque devota Deo". Retirou-se para uma aldeia dos arredores para ficar em maior recolhimento e poder oferecer a Deus "as suas oferendas de louvor". Jejuava todos os dias e rezava quase sem cessar.
     Por ocasião de sua morte (ca. 500), quando seu corpo era transportado em direção a igreja para ali serem feitas as orações fúnebres, um bando de pombas acompanhou-lhe os santos despojos desde a casa mortuária, e durante o ofício escondeu-se no telhado. Logo que o cortejo se encaminhou para o cemitério, as aves tornaram a aparecer e pairavam por cima dos despojos da Santa até estes descerem à terra. Depois, subiram para o céu.
     O candor das pombas simbolizava e honrava a virgindade da defunta. Segundo a tradição, eram anjos que, para honrar a pureza da defunta, tinham tomado a forma de pombas brancas.
     Estudiosos acreditam que os restos de Santa Georgina foram colocados na igreja de São Cassiano, em Clermont-Ferrand. O Martirológio Romano a menciona no dia 15 de fevereiro, dia em que é comemorada também naquela cidade.
 
Catedral de Clermont-Ferrand
Etimologia: Jorge ou George, do grego Geórgios, o mesmo que Georgós, "agricultor". Feminino: Jórgia (Português), Georgina (Italiano), Georgette (Francês).
* * *
     São Filipe Néri já dizia: "Na luta pela pureza, vence quem foge". "O sagaz vê o perigo e se esconde, o incauto segue em frente e paga por isso" (Prov XXVII, 12).
     Foge, pois, meu irmão, "foge do pecado como de uma serpente, porque, se te aproximares, morder-te-á; seus dentes são dentes de leões que aos homens tiram a vida" (Eclo XXI, 2).
     "Fuja, e quão longe puder, fuja (…). Fuja como de ar pestilento, corte-lhe o passo como a incêndio; creia que a fragilidade humana - e a astúcia diabólica - é maior do que ponderação alguma pode declarar" (Pe. Manuel Bernardes).
     Fuja, porque "quem ama o perigo, nele perecerá" (Eclo III, 27).
     Como cera ao fogo!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Beata Umbelina, Abadessa cisterciense - Festejada 12 de fevereiro

     Única irmã de São Bernardo de Claraval (que tinha outros cinco irmãos), Umbelina nasceu por volta de 1092 no Castelo de Fontaine-les-Dijon.
     Ela ficou conhecida pelos colóquios que mantinha com seu célebre irmão, narrados em todas as "Vidas" de São Bernardo. Nelas pode-se conhecer toda dor de São Bernardo por ocasião da morte de seu irmão, o Beato Gerardo, e da própria Umbelina.
     Um ano mais jovem que o irmão, parece que Umbelina se assemelhava muito com ele quanto à beleza física, mas também provavelmente quanto ao caráter.
     Quando seu pai e seus seis irmãos se consagraram a Deus na Abadia de Citeaux (*), na Borgonha, para levarem uma vida piedosa e exemplar, ela se casou com Guido de Marcy, irmão da Duquesa de Lorena, e, possuindo uma grande fortuna, levava uma vida frívola e mundana.
     Algum tempo depois, Umbelina resolveu fazer uma visita a Bernardo perto de Claraval, ostentando seus atavios e escoltada por grande séquito. Bernardo recusou recebê-la se ela não prometesse seguir os seus conselhos, isto é, mudar de vida, abandonando todo luxo.
     Debulhada em lágrimas, ela porém teve forças para responder: “Eu posso ser uma pecadora, mas foi por pessoas como eu que Cristo morreu, e é porque sou uma pecadora que eu preciso da ajuda dos homens piedosos”.
     Depois de alguns anos, provavelmente inspirando-se na repreensão do irmão, Umbelina obtém a permissão do esposo para ingressar no mosteiro de Jully-les-Nonnais, próximo de Troyes, como simples monja. Decidiu penitenciar-se pelos anos de vaidade e de luxo com inúmeras mortificações. Mais tarde se tornou abadessa.
     Este mosteiro logo se tornou pequeno para acolher as novas vocações. Assim, ela precisou fundar um novo mosteiro em Crisenon (paróquia de Prégilbert).
     Umbelina faleceu por volta de 1140, na presença de três de seus irmãos: Bernardo, que a estreitava nos braços, André e Nivardo. Foi enterrada em Jully.
     O seu culto foi confirmado em 1703 e a sua comemoração foi fixada no dia 12 de fevereiro no novo Martirológio Romano.
     A Beata Umbelina é patrona daqueles que perderam seus pais.

Etimologia: Umbelina tem origem no latim, Umbellina, diminutivo de umbella: sombreiro, guarda-sol; por sua vez diminutivo de umbra: sombra. No francês, Ombelline; no italiano, Ombelina.
Abadia de Cister, foto atual

(*) Esta abadía, de uma importância capital dentro do monaquismo católico, foi fundada em 1098 por um grupo de 21 monjes que, sob a direção de São Roberto de Molesmes, se retiraram neste lugar com a finalidade de seguir de uma maneira mais estrita a regra beneditina. Em 1112 Bernardo de Claraval, personagem de excepcional importância, ingressou na abadia. Daquí foram fundados centros dependentes, os quatro primeiros em um lugar mais destacado: La Ferté (1113), Pontigny (1114), Claraval (fundada por Bernardo em 1115) e Morimont (1115). Converteu-se no centro espiritual da Ordem de Cister.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Nossa Senhora de Lourdes - 11 de fevereiro

     Quando a ciência médica pensava ter atingido o seu zênite de progresso, Nossa Senhora intercedia por aqueles que haviam sido desenganados pelos médicos; quando o racionalismo ria do sobrenatural e considerava infantis aqueles que aceitavam a palavra infalível concedida aos Sumos Pontífices; quando o Beato Pio IX definia solenemente o dogma da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro de 1854; Nossa Senhora apareceu no Sul da França a uma menina do campo, e lhe disse: Sou a Imaculada Conceição!
     A festa de hoje comemora as Aparições que aconteceram de 11 de fevereiro a 10 de julho de 1858, em que a Virgem Imaculada dignou-se transmitir a Santa Bernadette uma missão durante estas 18 Aparições.
     Qual é a mensagem que se depreende das 18 Aparições de Lourdes?
     Para obter respostas a esta e outras perguntas, assista na íntegra a Conferência "As Aparições e os Milagres de Nossa Senhora de Lourdes", que aconteceu dia 8 de fevereiro no Clube Homs, São Paulo.

Video completo
Parte I
http://pt-br.justin.tv/institutoplinio/b/307958129
Parte II


Vista aérea de Lourdes, França

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento - Festa 10 de fevereiro

     O Papa São Gregório Magno diz que nossa santa "desde sua infância dedicou-se ao Senhor Deus Todo Poderoso". Este grande Papa escreveu a vida de São Bento e nos refere o maravilhoso diálogo mantido entre São Bento e sua irmã, Santa Escolástica, que damos mais adiante.
     Pelo final do século V, nascia esta irmã gêmea de São Bento, o Patriarca da vida monástica ocidental, na cidade de Núrsia, aos pés do Apenino Central, no ducado de Espoleto, Itália. Seus pais, Eutrópio e Abundância, pertenciam às famílias mais distintas daquela cidade.
     Pouco se sabe de sua infância. Unidos antes de nascer e irmãos gêmeos também na alma, Bento e Escolástica aprenderam de seus pais a virtude e a fé católica.
     Quando ainda adolescente Bento foi enviado a Roma para aperfeiçoar seus estudos. A separação deve ter custado muitíssimo à jovem Escolástica. Desde a morte dos pais vivia ela mais recolhida ainda no retiro de sua casa, e meditava sobre o testamento que sua boa mãe lhe deixara quando morreu, sendo ela ainda uma menina:
     "Saiba, minha filha, que os adornos, os ricos vestidos e os colares de pérolas não valem nada diante de Deus. O maior elogio que se pode fazer de uma donzela é sua modéstia e piedade".
     Escolástica nunca esqueceu tais conselhos e praticou-os desde sua tenra idade. Renunciou a tudo que o mundo lhe oferecia, à sua beleza e ao seu distinto nascimento, e consagrou toda sua vida, e para sempre, a Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Depois de absorver a vida e a doutrina dos famosos eremitas do Oriente - Santo Atanásio, São Jerônimo e outros - Bento tratou de imitá-los em Roma. Ele teria uns vinte anos quando, depois de viver alguns anos no deserto de Subiaco, se estabeleceu junto ao Monte Cassino. Como acontece com todos os fundadores, os primeiros passos de sua obra não foram fáceis: as dificuldades muitas vezes procediam de seus próprios discípulos.
     Refletindo que os ensinamentos propostos por seu irmão eram igualmente estendidos a todos os cristãos, Escolástica distribuiu todos os seus bens pelos pobres e, acompanhada de uma única criada de confiança, partiu em busca do irmão.
     Ao ser informado da chegada da irmã, São Bento foi recebê-la acompanhado de alguns monges. Escolástica expôs-lhe o plano de passar o resto de sua vida numa solidão não distante da sua, e suplicou-lhe fosse seu pai espiritual e desse a ela as regras que deveria observar para sua santificação.
     E foi assim que São Bento, ajudado por sua irmã, fundou o primeiro convento de religiosas beneditinas, pois a fama da santidade desta nova fundadora atraiu grande número de donzelas. Sob sua direção e a de São Bento inúmeras mulheres passaram a guardar a mesma regra. Tal foi a origem da célebre Ordem feminina, que rapidamente se estendeu por todo o Ocidente.
     Escolástica não tinha feito voto de clausura, mas respeitou-a sempre. Apesar de estarem próximos, Bento e Escolástica se viam somente uma vez por ano, ocasião em que ela dava conta da comunidade e de sua alma ao Fundador. Encontravam-se eles em uma casinha que havia a meio caminho entre os dois mosteiros, vindo São Bento sempre acompanhado de dois monges.
     São Gregório conta esta admirável entrevista:
     Era por volta do ano 543, primeira quinta-feira da Quaresma. Escolástica previu que seria aquela a última entrevista que teria com seu irmão, com quem compartilhou sua vida desde a infância. Passaram o dia todo falando de coisas espirituais.
     Ao entardecer, seu irmão se levanta e lhe diz: - "Adeus, irmã. Até o ano que vem". - "Meu irmão", lhe suplica Escolástica, "não vá embora. Passemos toda a noite falando das coisas de Deus". - "O que dizeis, Escolástica? Ignorais que não posso passar a noite fora da clausura do mosteiro?"
     Escolástica não respondeu. Abaixou a cabeça, colocou-a entre suas mãos e rezou fervorosamente ao Senhor. O céu, que estava claro, turvou-se de repente, desencadeou-se uma copiosa chuva acompanhada de relâmpagos e trovões, como nunca se havia visto naquelas paragens.
     - "O que fizestes, minha irmã?" - "Pedi-vos e não me quisestes ouvir; pedi a Deus e Ele me ouviu. Meu irmão, Deus preferiu o amor à Regra. Agora, saí, se podeis, deixai-me e voltai ao vosso mosteiro". E assim, impossibilitados de voltar, passaram a noite toda em práticas espirituais.
     Ao referir-se a este fato, São Gregório deseja nos dar uma idéia da virtude e dos merecimentos de Santa Escolástica.
     Três dias depois, ao aproximar-se da janela de sua cela, São Bento viu a alma de sua irmã, partindo do mosteiro das monjas, voar ao Céu em forma de uma pomba branquíssima. Enviou um dos seus monges para recolher os despojos da irmã e trazê-los ao seu mosteiro, para que fossem enterrados num túmulo que havia preparado para si mesmo debaixo do altar de São João Batista, no lugar preciso do altar de Apolo que ele tinha derrubado.
     Era o ano de 543, contava Escolástica provavelmente sessenta anos de idade. Uns 40 dias depois, São Bento anunciou sua morte próxima a alguns discípulos. Efetivamente, segundo a opinião comum, ele faleceu no dia 21 de março de 543.
     Os discípulos depositaram o corpo do venerável Pai ao lado do da santa irmã. Os irmãos tão unidos espiritualmente ficaram juntos no túmulo, e suas almas cantam eternamente os louvores de Deus no Céu.
 
O trabalho oferecido a Deus é uma grande oração. (São Bento)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Beata Maria da Providência (Eugênia Smet) - Festejada 7 de fevereiro

Introdução:
     Segundo a doutrina da Igreja Católica, o Purgatório não é um nível intermédio entre o Inferno e o Paraíso, mas um estado de purificação onde as almas dos que morreram em estado de graça (isto é, não estão manchados pelo pecado mortal e, portanto, já estão destinadas ao Paraíso), ainda precisam se purificar para ver a face de Deus no Céu. Isto se justifica pela existência nas almas de manchas originadas pelos pecados veniais (ou leves) e pelas penas temporais devidas ao pecado, pois que 'nada de impuro pode entrar no céu' (Ap.21,27).
     A existência do Purgatório se baseia no testemunho da Sagrada Escritura e da Tradição. Vários Concílios o definiram como dogma; Santos Padres e Doutores da Igreja o atestam a uma voz. Há uma prisão da qual não se sairá senão quando tiver pago o último centavo. (Mat. 18, 23-35).
     O menor sofrimento no Purgatório, como dizem os santos, ultrapassa todos os possíveis sofrimentos na terra. Está em nosso poder reduzi-los e ajudar as almas a alcançar a felicidade pela qual anseiam. Por isso o amor ao próximo deve ser o estímulo para lhes levar ajuda.
     Santa Faustina, no seu diário, registrou muitas passagens referentes ao Purgatório. Eis uma delas:
     “Vi o Anjo da Guarda que me mandou acompanhá-lo. Imediatamente encontrei-me num lugar enevoado, cheio de fogo, e, dentro deste, uma multidão de almas sofredoras. Essas almas rezavam com muito fervor, mas sem resultado para si mesmas; apenas nós podemos ajudá-las. As chamas que as queimavam não me tocavam. O meu Anjo da Guarda não se afastava de mim nem por um momento. E perguntei a essas almas qual era o seu maior sofrimento. Responderam-me, unânimes, que o maior sofrimento delas era a saudade de Deus. Vi Nossa Senhora que visitava as almas no Purgatório. As almas chamam a Maria “Estrela do Mar.” Ela lhes traz alívio. Queria conversar mais com elas, mas o meu Anjo da Guarda fez-me sinal para sair. Saímos pela porta dessa prisão de sofrimento. Ouvi então uma voz interior que me dizia: A Minha misericórdia não deseja isto, mas a justiça o exige. A partir desse momento, me encontro mais unida às almas sofredoras” (D.20).
     Em vista de tudo o que foi acima exposto, se compreenderá a importância da fundação levada a cabo pela Beata Maria da Providência.

     Eugênia Maria Josefina Smet nasceu no dia 25 de março de 1825, na cidade de Lille, França. Era a terceira de seis filhos de uma família abastada de origem flamenga. Estudou por dez anos junto às Irmãs do Sagrado Coração de Lille. Concluídos os estudos, desejava ingressar naquele instituto como religiosa, mas retornou à sua casa.
     Embora tivesse inclinação para a vida religiosa, permaneceu em família e dedicou-se ao apostolado leigo. Comunicou ao seu confessor que havia feito o voto privado de castidade e depois começou a trabalhar nas obras de caridade.
      Tornou-se membro da obra pela propagação da fé, fundada em Lion no ano de 1822 por Paulina Jaricot, ela também uma leiga, obra esta que vinha obtendo uma ampla difusão e influência; os sócios ajudavam as missões com a oração diária e com uma esmola semanal. Pequenos gestos somados produzem grandes resultados.
     Nessas obras ninguém da paróquia tinha tanta dedicação quanto Eugênia. Distribuía diariamente alimentos aos carentes e aos enfermos. Sua participação ativa e objetiva aumentava cada vez mais os donativos para as obras missionárias, deixando os padres admirados com o seu senso de organização e carisma. "É necessário ajudar bem a Providência", dizia ela, justificando os crescentes donativos e pacotes de alimentos que conseguia.
     Em novembro de 1853, aos 28 anos, decidiu promover uma associação de fieis empenhados em rezar pelas almas do Purgatório. Logo conseguiu adesões, mas as dificuldades que encontrou levaram-na a fundar, com o mesmo objetivo, uma congregação de religiosas.
     Durante três anos pediu conselhos a muitos, inclusive ao próprio papa Beato Pio IX e ao Santo Cura d’Ars, que deram a ela todo apoio, e, finalmente, nos primeiros dias de 1856, ela está em Paris. Era a Paris triunfal de Napoleão III, da vitória da Crimeia, dos grandes congressos e projetos.
      Com a orientação espiritual de um padre jesuíta e com mais cinco religiosas, iniciou a Congregação das Auxiliadoras das Almas do Purgatório, com a finalidade de rezar pelos defuntos.
     Mas, Maria da Providência (nome que adotou na Congregação) conheceu o duríssimo “purgatório” que muitos passavam ainda em vida e por isso estabeleceu que as Irmãs Auxiliadoras deveriam interceder em duas frentes: pelas almas, com suas orações; pelos vivos carentes, alimentação, alfabetização e tratamento quando enfermos.
     Assim, sempre confiante na Providência, seguiu avante serena e decidida, promovendo uma sólida ligação entre o terreno e o celeste: toda alegria doada neste mundo é convertida para os outros em esperança de maior beatitude no mundo invisível.
     A regra e a espiritualidade de Santo Inácio foram adotadas em 1859, consolidando o Instituto, cuja expansão é lenta porque a fundadora não tem pressa: com sua praticidade flamenga ela quer primeiro “robustecer as raízes”. Uma casa foi aberta em Nantes em 1865 e dois anos depois nascia a casa missionária de Xangai, China.
     No final do século XX as Auxiliadoras eram cerca de 1500 em sessenta casas espalhadas pelo mundo.
     Nos últimos anos a fundadora dirigiu o Instituto em meio a sofrimentos físicos e a tragédia da guerra perdida contra a Prússia. Ela se extinguiu sob os tiros dos canhões inimigos. O sacerdote que a assistia, Pe. Pierre Olivaint, morreria nos massacres da Comuna de Paris alguns meses depois. A Fundadora faleceu no dia 7 de fevereiro de 1871 consumida por um câncer. Seu rosto crispado pelas dores voltou à serenidade após sua morte.
     Pio XII a proclamou beata em 1957, com sua celebração litúrgica no dia 7 de fevereiro.