quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Beata Maria Clara do Menino Jesus, Virgem e Fundadora – 1º de dezembro


«Maria Clara, um rosto da ternura e da misericórdia de Deus»

     No dia 15 de junho de 1843, na Amadora, perto de Lisboa, no seio de uma família de origem nobre, nasceu uma menina a que foi dado o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque. Órfã aos 14 anos, foi acolhida no Asilo Real da Ajuda, no qual recebeu, desde logo, uma formação humana e espiritual condizente com a sua posição social. Em 1862, deixou a referida instituição e foi acolhida como dama de companhia na família dos Marqueses de Valada, seus parentes.
     Em 1867, intuindo no seu íntimo o chamamento do Senhor para a vida religiosa, transferiu-se para o pensionato de São Patrício, em Lisboa, junto às Terceiras Capuchinhas de Nossa Senhora da Conceição e em 1869, vestiu o hábito de terceira e assumiu o nome de Maria Clara do Menino Jesus.
     Para poder superar alguns obstáculos postos pelas leis portu­guesas, que proibiam qualquer forma de vida religiosa, a Irmã Maria Clara do Menino Jesus foi enviada, pelo orientador espiritual da Fraternidade das Capuchinhas, Padre Raimundo dos Anjos Beirão, à Fran­ça, onde no Mosteiro das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras e Mestras de Calais, fez o noviciado e, em 14 de abril de 1871, emitiu os votos.
     Logo após o seu regresso a Portugal, a Irmã Maria Clara foi no­meada Superiora do Convento de São Patrício e, sob a segura orientação do Padre Raimundo Beirão, iniciou um processo de reforma da comunidade das Capuchinhas, transformando­-a no berço das Irmãs Hospitaleiras Portuguesas, com o nome de Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus. Em 1874, esta instituição foi reconhecida pelo governo português, como Associação de Beneficência e, em 27 de março de 1876, obteve a plena aprovação do Papa Pio IX.
     A Congregação nascente teve, desde o início, um grande florescimento de vocações e de obras, mas, ao mesmo tempo, foi alvo de muitas calúnias e oposições. Apesar das muitas dificuldades, Madre Clara continuou serenamente a sua obra de apostolado, repetindo muitas vezes que “Nada acon­tece no mundo sem a permissão de Deus”. Na verdade, ela permaneceu sempre totalmente fiel ao Senhor e à sua vontade, dedicando-se por inteiro ao crescimento espiritual das suas irmãs e à realização de muitas obras de apostolado para bem de todas as almas.
     Ao longo de 28 anos, presidindo aos destinos da Congregação, recebeu cerca de 1000 irmãs e com elas tornou-se, podemos dize-lo com toda a segurança, pioneira da ação social em Portugal, fundando mais de 142 obras, distribuídas por hospitais, enfermagem ao domicílio, creches, escolas, colégios, assistência a crianças e idosos, cozinhas econômicas, entre outras. Nestas instituições o pobre, o doente, o desvalido de toda a sorte, puderam conhecer o amor e os cuidados de mulheres dedicadas inteiramente ao serviço dos mais necessitados, experimentando assim a ternura e a misericórdia de Deus.
     A exortação frequente: “Trabalhemos com amor e por amor” era a síntese do seu viver. Só a caridade a norteava. Toda a sua vida foi um gastar-se no labor contínuo de “fazer o bem, onde houver o bem a fazer", lema de ação do Instituto por ela fundado. Esta mesma ação foi estendida, progressivamente, a Angola, Goa, Guiné e Cabo Verde.
     A Irmã Maria Clara do Menino Jesus faleceu no Convento das Trinas, em Lisboa, no dia 1º de dezembro de 1899, com 56 anos, vítima de doença cardíaca, asma e lesão pulmonar. Foi sepultada três dias depois, no cemitério dos Prazeres, acompanhada de enorme multidão de fiéis que reconheciam a sua santidade.
     Sepultada no Cemitério dos Prazeres, foi trasladada, em 1954, para o Convento de Santo Antônio, em Caminha, e repousa, a partir de 1988, na cripta da Capela da Casa-Mãe da Congregação, em Linda-a-Pastora, Queijas, Patriarcado de Lisboa, onde acorrem inúmeros devotos a implorar a sua intercessão junto de Deus.
     21 de maio de 2011 foi o dia escolhido pela Sé Apostólica para a beatificação de Maria Clara do Menino Jesus, em Lisboa, cidade onde morreu a nova beata. A Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, foi fundada pela Irmã Maria Clara do Menino Jesus e pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão.
     A Irmã Maria Clara do Menino Jesus fez da sua vida um verdadeiro “lava-pés”, no serviço aos irmãos mais necessitados, norteada pela sua forte adesão a Jesus, seu Mestre e Guia. Só uma alma de fé poderia levar a cabo tão grande empreitada de amor. Eis algumas das suas máximas que nos sintetizam a sua grande fé e que por certo são o segredo da sua obra:
“Trabalhemos com fervor e verdadeiro espírito de fé, essa fé que opera prodígios!”
“É necessários sermos generosas para com Deus que tão generoso tem sido para conosco”.
“Trabalhando, amando e esperando, teremos correspondido à vocação a que Deus nos chamou”.
“Todo o tempo que por Deus não é ocupado, é perdido para a eternidade”.
“Trabalhemos unicamente para testemunhar ao bom Deus o nosso reconhecimento pelo muito que nos deu!”
“Recebei tudo como vindo das mãos do Senhor que tudo permite para nosso bem”.
“A paz é o verdadeiro prémio dos que servem bem ao Senhor”.
“Amemos a Quem tanto nos tem amado e continuamente nos está fazendo bem”.
“O Sol da Justiça pode eclipsar-se por um momento, mas é para depois reaparecer com mais esplendor”.
“A pessoa humilde atrai sobre si as graças do céu”.
“Um olhar providencial de Deus vela por nós”.


Fonte: (excertos) Pe. Marco Martinho - Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus Milagroso - Pico, 9 de abril de 2011

Santa Firmina de Amelia, Mártir


Martirológio Romano: Em Amelia, cidade da Úmbria, Santa Firmina, mártir (303).

Etimologia: Firmina = do latim Firminus, diminutivo derivado de Firmus: “firme, sólido, seguro, constante”, de origem cristã: “firme na Fé”.

     Firmina foi uma mártir no século III. Quando há falta de muitos dados históricos existem muitas legendas sobre a vida de alguns santos.
     Segundo narrações tradicionais, Firmina era romana e viveu no século III. Nasceu no seio de uma família chamada Pisoni. Seu pai era o prefeito Calpurnio em Roma e sua mãe uma cristã cheia de amor de Deus e ao próximo.
     A jovem teria 16 anos quando a perseguição se desencadeou em Roma. Vendo o perigo que se avizinhava, saiu da cidade, mas antes vendeu todos os seus bens com alegria e desprendimento e entregou o valor aos pobres.
     Para chegar a nova região da Úmbria italiana, teve que embarcar em uma nave no Tibre de Civitavecchia.
     Como viu muitas necessidades entre os cristãos que eram dura e cruelmente perseguidos, ficou com eles para ajudá-los em tudo aquilo que fosse necessário.
     Quanto chegou a Amelia dedicou-se a uma vida de oração e penitência. Sua tranquilidade durou pouco tempo. Descoberta pelas autoridades, levaram-na aos tribunais e julgada foi condenada à morte.
     Segundo outra passio, um “consularis” de nome Olimpiada havia tentado seduzi-la, mas foi ela que o conduziu a fé cristã. Tal conversão custou a ele o martírio. Firmina sepultou o amigo num local próximo de Amelia em 1º de dezembro. Ainda segundo esta passio, ela também veio a sofrer o martírio e foi sepultada no mesmo local onde fora enterrado Olimpiada. A semente de seu testemunho teve ainda um outro fruto. Vinte dias após a morte de Firmina, o seu carrasco, Ursicinus, se converteu, foi a Ravena, onde foi batizado pelo Padre Valentino e foi martirizado no dia 13 de dezembro.
     Um documento recente, supõe que Firmina tenha sido sepultada em Civitavecchia em 20 de dezembro.
     Muitos milagres lhe foram atribuídos, um deles durante a travessia marítima a Centumcellae (Civitavecchia na atualidade) quando uma violenta tormenta repentina se acalmou por sua intervenção milagrosa.
     Acredita-se que Firmina viveu um tempo em uma gruta próxima do porto sobre a qual foi construído posteriormente o forte Anjo Miguel.
Culto

     O enterro de Firmina em Jacksonville, EUA, é celebrado em 24 de novembro; em Civitavecchia seu enterro se celebra em 20 de dezembro. Seu emblema é uma folha de palmeira. A procissão em sua honra em Civitavecchia acontece naquela data: sua imagem é levada até o porto e colocada a bordo de um barco que a leva ao local do antigo farol, enquanto que os outros navios e barcos de pesca fazem soar suas buzinas como celebração.
     Sua memória é celebrada a 24 de novembro no Martirológio Romano.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Santa Matilde de Hackeborn - 29 de novembro

   

     Hoje gostaria de vos falar de Santa Matilde de Hackeborn, uma das grandes figuras do mosteiro de Helfta, que viveu no século XIII. A sua irmã de hábito, Santa Gertrudes a Grande, no livro VI da obra Liber specialis gratiae (O livro da graça especial), em que são narradas as graças especiais que Deus concedeu a Santa Matilde, afirma assim: «O que escrevemos é muito pouco em comparação com o que omitimos. Publicamos estas coisas só para a glória de Deus e a utilidade do próximo, porque nos pareceria injusto manter o silêncio sobre as numerosas graças que Matilde recebeu de Deus, não tanto para si mesma, na nossa opinião, mas para nós e para aqueles que vierem depois de nós» (Mechthild von Hackeborn, Liber specialis gratiae , VI, 1).
     Esta obra foi redigida por Santa Gertrudes e por outra irmã de hábito de Helfta, e contém uma história singular. Matilde, com cinquenta anos de idade, atravessava uma grave crise espiritual, unida a sofrimentos físicos. Nesta condição, confiou as duas irmãs de hábito amigas, as graças especiais com que Deus a tinha guiado desde a infância, mas não sabia que elas anotavam tudo. Quando o veio a saber, ficou profundamente angustiada e perturbada. Porém, o Senhor tranquilizou-a, fazendo-lhe compreender que quanto estava a ser escrito era para a glória de Deus e a vantagem do próximo (cf. ibid., II, 25; V, 20). Assim, esta obra é a fonte principal da qual haurir as informações sobre a vida e a espiritualidade da nossa Santa.
     Com ela, somos introduzidos na família do Barão de Hackeborn, uma das mais nobres, ricas e poderosas da Turíngia, aparentada com o imperador Frederico II, e entramos no mosteiro de Helfta no período mais glorioso da sua história. O Barão já tinha dado ao mosteiro uma filha, Gertrudes de Hackeborn (1231/1232 — 1291/1292), dotada de uma personalidade acentuada, abadessa por quarenta anos, capaz de dar um cunho peculiar à espiritualidade do mosteiro, levando-o a um florescimento extraordinário como centro de mística e de cultura, escola de formação científica e teológica. Gertrudes ofereceu às monjas uma elevada educação intelectual, que lhes permitia cultivar uma espiritualidade fundada na Sagrada Escritura, na Liturgia, na Tradição patrística, na Regra e na espiritualidade cisterciense, com preferência especial por São Bernardo de Claraval e Guilherme de Saint-Thierry. Foi uma verdadeira mestra, exemplar em tudo, na radicalidade evangélica e no zelo apostólico. Desde a infância, Matilde acolheu e saboreou o clima espiritual e cultural criado pela irmã, oferecendo depois a sua contribuição pessoal.
     Matilde nasce em 1241, ou 1242, no castelo de Helfta; é a terceira filha do Barão. Com sete anos de idade visita com a mãe a irmã Gertrudes no mosteiro de Rodersdorf. Fica tão fascinada por aquele ambiente, que deseja ardentemente fazer parte dele. Entra como educanda e, em 1258, torna-se monja no convento que, entretanto, se tinha transferido para Helfta, na quinta dos Hackeborn. Distingue-se por humildade, fervor, amabilidade, pureza e inocência de vida, familiaridade e intensidade com que vive a relação com Deus, a Virgem e os Santos. É dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, como «a ciência, a inteligência, o conhecimento das letras humanas, a voz de uma suavidade maravilhosa: tudo a tornava apta para ser no mosteiro um autêntico tesouro, sob todos os aspectos» (Ibid., Introdução). Assim, «o rouxinol de Deus» — como é chamada — ainda muito jovem, torna-se diretora da escola do mosteiro, diretora do coro, mestra das noviças, serviços que desempenha com talento e zelo incansável, não só em vantagem das monjas, mas de quem quer que desejasse haurir da sua sabedoria e bondade.
     Iluminada pelo dom divino da contemplação mística, Matilde compõe numerosas orações. É mestra de doutrina fiel e de grande humildade, conselheira, consoladora e guia no discernimento: «Ela — lê-se — transmitia a doutrina com tal abundância, que jamais se tinha visto no mosteiro e, infelizmente, tememos que nunca mais se verá algo de semelhante. As religiosas reuniam-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus, como se fosse um pregador. Era o refúgio e a consoladora de todos e, como dom singular de Deus, tinha a graça de revelar livremente os segredos do coração de cada um. Muitas pessoas, não só no Mosteiro, mas também estranhos, religiosos e seculares, vindos de longe, testemunhavam que esta santa virgem os tinha libertado dos seus sofrimentos e que nunca haviam experimentado tanta consolação como nela. Além disso, compôs e ensinou tantas orações que, se fossem reunidas, excederiam o volume de um saltério» (Ibid., VI, 1).
     Em 1261 chegou ao convento uma criança de cinco anos, chamada Gertrudes: é confiada aos cuidados de Matilde, que tem apenas vinte anos, que a educa e guia na vida espiritual, a ponto de fazer dela não só a discípula excelente, mas também a sua confidente. Em 1271, ou 1272, entra no mosteiro também Matilde de Magdeburgo. Assim, o lugar acolhe quatro grandes mulheres — duas Gertrudes e duas Matildes — glória do monaquismo germânico. Na longa vida transcorrida no mosteiro, Matilde é afligida por sofrimentos contínuos e intensos, aos quais se acrescentam as duríssimas penitências escolhidas para a conversão dos pecadores. Deste modo, participa na Paixão do Senhor até ao fim da sua vida (cf. ibid., VI, 2).
     A oração e a contemplação são o húmus vital da sua existência: as revelações, os seus ensinamentos, o seu serviço ao próximo, o seu caminho na fé e no amor encontram aqui a sua raiz e o seu contexto. No primeiro livro da obra Liber specialis gratiae , as redatoras reúnem as confidências de Matilde, cadenciadas nas festas do Senhor, dos Santos e, de modo especial, da Bem-Aventurada Virgem. É impressionante a capacidade que esta Santa tem de viver a Liturgia nos seus vários componentes, mesmo as mais simples, levando-a na vida monástica quotidiana. Algumas imagens, expressões e aplicações às vezes estão longe da nossa sensibilidade, mas, se se consideram a vida monástica e a sua tarefa de mestra e diretora de coro, compreende-se a sua capacidade singular de educadora e formadora, que ajuda as irmãs de hábito a viver intensamente, a partir da Liturgia, cada momento da vida monástica.
     Na oração litúrgica, Matilde dá realce particular às horas canônicas, à celebração da Santa Missa e sobretudo à Sagrada Comunhão. Aqui é com frequência arrebatada em êxtase, numa profunda intimidade com o Senhor, no seu Coração ardentíssimo e dulcíssimo, num diálogo maravilhoso em que pede luzes interiores, enquanto intercede de modo especial pela sua comunidade e pelas suas irmãs de hábito. No centro estão os mistérios de Cristo, aos quais a Virgem Maria se refere constantemente para caminhar pela vida da santidade: «Se tu desejas a verdadeira santidade, está perto do meu Filho; Ele é a própria santidade, que santifica todas as coisas» (Ibid., I, 40). Nesta sua intimidade com Deus estão presentes o mundo inteiro, a Igreja, os benfeitores e os pecadores. Para ela, Céu e terra unem-se.
     As suas visões, os seus ensinamentos e as vicissitudes da sua existência são descritos com expressões que evocam a linguagem litúrgica e bíblica. É assim que se entende o seu profundo conhecimento da Sagrada Escritura, que era o seu pão de cada dia. Recorre a ela continuamente, quer valorizando os textos bíblicos lidos na liturgia, quer haurindo símbolos, termos, paisagens, imagens e personagens. A sua predileção é pelo Evangelho:
     «As palavras do Evangelho eram para ela um alimento maravilhoso e suscitavam no seu coração sentimentos de tanta docilidade, que muitas vezes, pelo entusiasmo, não conseguia terminar a sua leitura... O modo como lia aquelas palavras era tão fervoroso, que em todos suscitava a devoção. Assim também, quando cantava no coro, vivia totalmente absorvida em Deus, transportada por tanto ardor que às vezes manifestava os seus sentimentos com gestos... Outras vezes, como que arrebatada em êxtase, não ouvia quantos a chamavam ou a moviam, e mal conseguia retomar o sentido das coisas exteriores» (Ibid., VI, 1). Numa das visões, é o próprio Jesus quem lhe recomenda o Evangelho: abrindo-lhe a chaga do seu dulcíssimo Coração, diz-lhe: «Considera como é imenso o meu amor: se quiseres conhecê-lo bem, em nenhum lugar o encontrarás expresso mais claramente do que no Evangelho. Ninguém jamais ouviu alguém manifestar sentimentos mais fortes e mais ternos do que estes: Assim como o meu Pai me amou, também Eu vos amei (Joan. XV, 9)» (Ibid., I, 22).
     A oração pessoal e litúrgica, especialmente a Liturgia das Horas e a Santa Missa, estão na raiz da experiência espiritual de Santa Matilde de Hackeborn. Deixando-se guiar pela Sagrada Escritura e alimentar pelo Pão eucarístico, ela percorreu um caminho de união íntima com o Senhor, sempre em plena fidelidade à Igreja. Isto é para nós também um forte convite a intensificar a nossa amizade com o Senhor, sobretudo através da oração quotidiana e a participação atenta, fiel e concreta na Santa Missa. A Liturgia é uma grande escola de espiritualidade.
     A discípula Gertrudes descreve com expressões intensas os últimos momentos da vida de Santa Matilde de Hackeborn, duríssimos, mas iluminados pela presença da Beatíssima Trindade, do Senhor, da Virgem Maria e de todos os Santos, mas inclusive da irmã de sangue, Gertrudes. Quando chegou a hora em que o Senhor quis chamá-la para junto de Si, ela pediu-lhe para poder viver ainda no sofrimento, para a salvação das almas, e Jesus compadeceu-se deste ulterior sinal de amor.
     Matilde tinha 58 anos. Percorreu a última etapa caracterizada por oito anos de graves doenças. A sua obra e a sua fama de santidade difundiram-se amplamente. Quando chegou a sua hora, «o Deus de Majestade... única suavidade da alma que O ama... cantou-lhe: Venite vos, benedicti Patris mei... Vinde, ó vós que sois os benditos do meu Pai, vinde receber o reino... e associou-o à sua glória» (Ibid., VI, 8).
     Santa Matilde de Hackeborn confia-nos ao Sagrado Coração de Jesus e à Virgem Maria. Convida a louvar o Filho com o Coração da Mãe e a louvar Maria com o Coração do Filho: «Saúdo-te, ó Virgem veneradíssima, naquele orvalho dulcíssimo que do Coração da Santíssima Trindade se difundiu em ti; saúdo-te na glória e no júbilo com que agora te alegras eternamente, Tu que por preferência a todas as criaturas da terra e do Céu, foste eleita ainda antes da criação do mundo! Amém» (Ibid., I, 45).


Fonte: https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100929.html
Santa Matilde instrui Santa Gertrudes


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Nossa Senhora da Medalha Milagrosa – 27 de novembro

    


    Esta invocação está relacionada as aparições da Virgem a Santa Catarina Labouré, então noviça das Irmãs da Caridade, em Paris, França, no século XIX.
     A primeira aparição aconteceu na noite da festa de São Vicente de Paulo, 19 de julho, quando a Madre Superiora de Catarina pregou às noviças sobre as virtudes de seu santo fundador, dando a cada uma um fragmento de sua sobrepeliz. Catarina então orou devotamente ao santo patrono para que ela pudesse ver com seus próprios olhos a Mãe de Deus, e convenceu-se de que seria atendida naquela mesma noite.
     Indo ao leito, adormeceu, e antes que tivesse passado muito tempo foi despertada por uma luz brilhante e uma voz infantil que dizia: "Irmã Labouré, vem à capela. Santa Maria te aguarda". Mas ela replicou: "Seremos descobertas!" A voz angélica respondeu: "Não te preocupes, já é tarde, todos dormem... Vem, estou à tua espera". Catarina então levantou-se depressa e dirigiu-se à capela, que estava aberta e toda iluminada. Ajoelhou-se junto ao altar e logo viu a Virgem sentada na cadeira da superiora, rodeada por um esplendor de luz. A voz continuou: "A santíssima Maria deseja falar-te". Catarina adiantou-se e ajoelhou-se aos pés da Virgem, colocando suas mãos sobre seu regaço, e Maria lhe disse:
     "Deus deseja te encarregar de uma missão. Tu encontrarás oposição, mas não temas, terás a graça de poder fazer todo o necessário. Conta tudo a teu confessor. Os tempos estão difíceis para a França e para o mundo. Vai ao pé do altar, graças serão derramadas sobre todos, grandes e pequenos, e especialmente sobre os que as buscarem. Terás a proteção de Deus e de São Vicente, e meus olhos estarão sempre sobre ti. Haverá muitas perseguições, a cruz será tratada com desprezo, será derrubada e o sangue correrá".
     Depois de falar por mais algum tempo, a Virgem desapareceu. Guiada pelo anjo, Catarina deixou a capela e voltou para sua cela.
     Catarina continuou sua rotina junto das Irmãs da Caridade até o Advento. Em 27 de novembro de 1830, no final da tarde, Catarina dirigiu-se à capela com as outras irmãs para as orações vespertinas. Erguendo seus olhos para o altar, ela viu novamente a Virgem.
     Eis como Santa Catarina Labouré conta o sublime contato com a Virgem Mãe:
     No dia 27 de novembro, que era o sábado anterior ao primeiro domingo do Advento, no fim da tarde, estava eu fazendo a meditação em profundo silêncio quando me pareceu ouvir do lado direito da capela um rumor, como o roçar de uma roupa de seda. Ao dirigir o olhar para aquele lado, vi a Santíssima Virgem na altura do quadro de São José.
     A sua estatura era mediana, e tal era a sua beleza, que me é impossível descrevê-la. Estava em pé, a sua roupa era de seda e de cor branca-aurora, feita, como se diz, “à la vierge”, isto é, bem fechada e com as mangas simples. Da cabeça descia um véu branco até os pés.
     O rosto estava suficientemente descoberto, os pés se apoiavam sobre um globo, ou melhor, sobre metade de um globo, ou pelo menos eu vi somente a metade. Suas mãos, erguidas à altura da cintura, seguravam de modo natural um outro globo menor, que representava o universo. Ela tinha os olhos voltados para o céu, como se quisesse oferecer a Deus o universo inteiro e o seu rosto irradiava uma luz cada vez mais intensa. De repente, seus dedos se cobriram de anéis, ornados de pedras preciosas, uma mais bela do que a outra, algumas maiores, outras menores, e que emitiam raios luminosos.
     Fez me compreender o quanto é doce invocar a Santíssima Virgem, o quanto Ela é generosa com as pessoas que a invocam, quantas graças Ela concede às pessoas que a procuram e que alegria Ela sente em concedê-las.
     Naquele momento eu era e não era… Estava exultante. E então começou a se formar ao redor da Santíssima Virgem um quadro um tanto oval, sobre o qual, no alto, numa espécie de semicírculo, da mão direita para a esquerda de Maria se liam estas palavras, escritas com letras de ouro: “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
     Então ouvi uma voz que me disse: “Mande cunhar uma medalha conforme este modelo; todas as pessoas que a carregarem, receberão grandes graças; leve-a principalmente no pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a carregarem com confiança”.
     No mesmo instante pareceu-me que o quadro virou e eu vi o reverso da medalha. Havia o monogramo de Maria, isto é, a letra “M” com uma cruz em cima e, como base dessa cruz, uma linha grossa, ou seja, a letra “I”, monograma de Jesus. Sob os dois monogramas haviam os Sagrados Corações de Jesus e de Maria, o primeiro rodeado por uma coroa de espinhos e o segundo transpassado por uma espada”.
     Entre as pedras preciosas havia algumas que não emitiam raios. Enquanto se espantava, Catarina ouviu a voz de Maria que dizia: “As pedras preciosas das quais não saem raios são símbolo das graças que não me foram pedidas por esquecimento”.
     Catarina perguntou como deveria proceder para que a sua ordem fosse cumprida. A Virgem disse que ela procurasse a ajuda de seu confessor, o Padre Jean Marie Aladel.
     De início o Padre Aladel não acreditou no que Catarina lhe contou, mas depois de dois anos de cuidadosa observação do proceder de Catarina, ele finalmente dirigiu-se ao arcebispo, que ordenou a cunhagem de duas mil medalhas, ocorrida em 20 de junho de 1832. Dois anos após as aparições, o pedido de Maria foi atendido e a Medalha foi cunhada. Uma das primeiras pessoas a recebê-la foi a Irmã Catarina, a qual, logo que a teve entre as mãos, a beijou várias vezes com afeto e disse:Agora é preciso difundi-la”.
     Desde então a devoção a esta medalha, sob a invocação de Santa Maria da Medalha Milagrosa, não cessou de crescer. A Medalha, num certo sentido, se propagou por si. As graças e os milagres obtidos – seja em benefício das almas, seja em benefício dos corpos – foram tantos e tão evidentes que em pouco tempo a Medalha foi chamada de “milagrosa”.
     Santa Catarina nunca divulgou as aparições, salvo pouco antes da morte, autorizada pela própria Mãe de Deus.
A invocação à Virgem das Graças
     A medalha contém as palavras com que a Santa Mãe de Deus quis ser invocada: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.
     Essa inscrição já sintetiza boa parte da mensagem que a Virgem Mãe revelou: a Imaculada Conceição, pela primeira vez objeto de revelação particular, em 1858 ratificada em Lourdes, e transformada em dogma pelo Papa Pio IX com a bula Ineffabilis Deus, e a mediação da Mãe de Deus junto ao seu Divino Filho. Usar essa invocação, portanto, significa acreditar que a Virgem das virgens é a Medianeira Imaculada.
Simbolismo da Medalha Milagrosa

·        A serpente: Maria aparece esmagando a cabeça da serpente. A mulher que esmaga a cabeça da serpente, que é o demônio, já estava predita na Bíblia, no livro do Gênesis: "Porei inimizades entre ti e a mulher... Ela te esmagará a cabeça e tu procurarás, em vão, morder-lhe o calcanhar". Deus declara iniciada a luta entre o bem e o mal. Essa luta é vencida por Jesus Cristo, o "novo Adão", juntamente com Maria, a corredentora, a "nova Eva". É em Maria que se cumpre essa sentença de Deus: a mulher finalmente esmaga a cabeça da serpente, para que não mais a morte pudesse escravizar os homens.
·        Os raios: Simbolizam as graças que Nossa Senhora derrama sobre os seus devotos. A Santa Igreja, por isso, a chama Tesoureira de Deus.
·        As 12 estrelas: Correspondem aos doze apóstolos e representam a Igreja. Simbolizam as 12 tribos de Israel. Maria Santíssima também é saudada como "Estrela do Mar" na oração Ave, Stella Maris.
·        O coração cercado de espinhos: É o Sagrado Coração de Jesus. Foi Maria quem o formou em seu ventre. Nosso Senhor prometeu a Santa Margarida Maria Alacoque a graça da vida eterna aos devotos do seu Sagrado Coração, que simboliza o seu infinito e ilimitado Amor.
·        O coração transpassado por uma espada: É o Imaculado Coração de Maria, inseparável ao de Jesus: mesmo nas horas difíceis de Sua Paixão e Morte na Cruz, Ela estava lá, compartilhando da Sua dor, sendo a nossa corredentora.
·        M: Significa Maria. Esse M sustenta o travessão e a Cruz, que representam o Calvário. Essa simbologia indica a íntima ligação de Maria e Jesus na história da salvação.

·        O travessão e a Cruz: Simbolizam o Calvário. Para a doutrina católica, a Santa Missa é a perpetuação do sacrifício do Calvário, portanto, ressaltam a importância do Sacrifício Eucarístico na vida do cristão.

Santa Catarina Labouré

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Novena da Medalha Milagrosa


No próximo dia 27 de novembro comemoraremos a Festa da Medalha Milagrosa, assim, colocamos hoje a Novena que precede esta festa. Ainda há tempo para fazermos o Tríduo...

1 - Sinal da Cruz
2 - Ato de Contrição 
3 - Leitura do Dia
4 – Oração Final

Ato de Contrição
     Meu bom Jesus que por mim morrestes na cruz, tende piedade de mim, perdoai os meus pecados e dai-me a graça de nunca mais pecar.
3 vezes: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Leituras

1º Dia - 1ª Aparição
     Contemplemos a Virgem Imaculada, em sua primeira aparição a Santa Catarina Labouré. A piedosa noviça, guiada por seu Anjo da Guarda, é apresentada à Imaculada Senhora. Consideremos sua inefável alegria. Seremos também felizes, como Santa Catarina, se trabalharmos com ardor na nossa santificação. Gozaremos as delícias do Paraíso se nos privarmos dos gozos terrenos.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

2º Dia - Lágrimas de Maria
     Contemplemos Maria chorando sobre as calamidades que viriam sobre o mundo, pensando que o Coração de Seu Filho seria ultrajado, a Cruz escarnecida e seus filhos prediletos perseguidos. Confiemos na Virgem compassiva e também participaremos do fruto de suas lágrimas.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

3º Dia - Proteção de Maria
     Contemplemos nossa Imaculada Mãe dizendo em suas aparições a Santa Catarina: "Eu mesma estarei convosco, não vos perco de vista e vos concederei abundantes graças". Sede para mim, Virgem Imaculada, o escudo e a defesa em todas as necessidades.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

4º Dia - Segunda Aparição
     Estando Santa Catarina Labouré em oração, a 27 de novembro de 1830, apareceu-lhe a Virgem Maria, formosíssima, esmagando a cabeça da serpente infernal. Nessa aparição se vê seu desejo imenso de nos proteger sempre contra o inimigo de nossa salvação. Invoquemos a Imaculada Mãe com confiança e amor!

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

5º Dia - As Mãos de Maria
    Contemplemos hoje Maria desprendendo de suas mãos raios luminosos. "Estes raios - disse Ela - são a figura das graças que derramo sobre todos aqueles que mas pedem e aos que trazem com fé minha medalha". Não desperdicemos tantas graças! Peçamos com fervor, humildade e perseverança, e Maria Imaculada nô-las alcançará.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

6º Dia - Terceira Aparição
     Contemplemos Maria aparecendo à Santa Catarina, radiante de luz, cheia de bondade, rodeada de estrelas e mandando cunhar uma medalha, prometendo a todos que a trouxerem com devoção e amor muitas graças. Guardemos fervorosamente a Santa Medalha e, como escudo, ela nos protegerá nos perigos.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

7º Dia da Novena e 1º do Tríduo
     Ó Virgem Milagrosa, Rainha Excelsa, Imaculada Senhora, sede minha advogada, meu refúgio e asilo nesta terra, minha fortaleza e defesa na vida e na morte, meu consolo e minha glória no Céu.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

8º Dia da Novena e 2º do Tríduo
     Ó Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa, fazei que esses raios luminosos que irradiam de vossas mãos virginais iluminem minha inteligência para melhor conhecer o bem e abrasem meu coração com vivos sentimentos de fé, esperança e caridade.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

9º Dia da Novena e 3º do Tríduo
     Ó Mãe Imaculada, fazei que a Cruz de vossa Medalha brilhe sempre diante de meus olhos, suavize as penas da vida presente e me conduza à vida eterna.

Três Ave-Marias, acrescentando em cada uma a jaculatória acima. Oração Final.

Oração Final

     Santíssima Virgem, eu creio e confesso vossa Santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso amado Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte, e a graça ... que peço com toda confiança. Amém.


terça-feira, 22 de novembro de 2016

Beata Joana de Montefalco, monja agostiniana - 22 novembro

    
Nossa Senhora com monges e monjas de Santo Agostinho

    “Ainda criança se mostra determinada: nada ama mais do que entrar no oásis de paz e justiça que sua irmã Joana, com um pequeno grupo de amigas, tinha querido realizar às portas de Montefalco", escreve o Bispo de Spoleto-Norcia, Mons. Riccardo Fontana, em sua carta aos jovens na Páscoa de 2002.
    Joana Damião, irmã de Santa Clara da Cruz, a grande mística, foi a inspiração da vocação religiosa da Santa de Montefalco.
    Joana, filha de Damião e Joaquina, impulsionada pelo desejo de consagrar-se ao Senhor, assume o comando de um grupo de amigas que começam, em 1271, a construção de um pensionato nos arredores da cidade de Montefalco. Em 1290 Joana, de acordo Berenger e outras testemunhas oculares "domina sanctitatis mirabilis", pediu ao bispo de Spoleto para transformar o pensionato em mosteiro.
    Em 10 de junho de 1290, o bispo Gerardo reconhece a nova família religiosa dando-lhe a Regra de Santo Agostinho e autoriza a aceitação de noviças. O mosteiro logo foi chamado da "Cruz", conforme uma proposta da mesma Joana, que foi eleita abadessa.
    A direção da comunidade monástica passou para sua irmã Clara, que se tornou a nova abadessa, quando a morte de Joana ocorreu em 22 de novembro de 1291.
    As notícias escassas sobre Joana, ajudam-nos a olhar esta mulher evangélica, que foi capaz, como São João Batista, de tornar-se um instrumento nas mãos de Deus, e essa mão aponta Jesus, o Cordeiro de Deus! Então, muitas outras jovens, incluindo sua irmã Clara, souberam acolher o chamado do Senhor.

domingo, 20 de novembro de 2016

Apresentação de Nossa Senhora - 21 de novembro

     

     Tudo o que sabemos da apresentação de Nossa Senhora no Templo não encontra fundamentos explícitos nos Evangelhos Canônicos, mas temos algumas pistas no chamado Proto-evangelho de Tiago, Livro de Tiago, ou ainda, História do nascimento de Maria. Entretanto, não quer dizer que careça de probabilidade histórica. Segundo a piedosa Tradição, tendo apenas três anos de idade Maria Santíssima foi levada ao Templo pelos pais em cumprimento de uma promessa, para ali com outras meninas receber educação adequada à sua idade e posição.
     Tanto no Oriente, quanto no Ocidente observamos esta celebração mariana nascendo no meio do povo e com muita sabedoria sendo acolhida pela Liturgia Católica, por isso esta festa aparece no Missal Romano a partir de 1505, que busca exaltar a Jesus através dAquela que soube muito bem o que fazer com a vida, como diz Santo Agostinho, em um dos seus Sermões:
     “Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dEla nos nascesse a salvação, criada por Cristo antes que Cristo nEla fosse criado? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para Ela ser discípula de Cristo do que Mãe de Cristo; maior felicidade em ser discípula do que Mãe de Cristo. E assim Maria era feliz porque já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente”.
     A Igreja do Oriente celebrava este fato com as honras de uma festa litúrgica. A Igreja do Ocidente comemora a Apresentação de Nossa Senhora desde o século VIII.  Estabelecida primeiramente pelo Papa Gregório XI, em 1372, só para a corte papal, Sixto V declarou-a de obrigação para toda a Igreja em 1580 e, Clemente VIII elevou-a a duplex maior. 
     Os manuscritos não canônicos contam que Joaquim e Ana por muito tempo não tinham filhos, até que nasceu Maria, cuja infância foi total e livremente dedicada a Deus, impelida pelo Espírito Santo desde sua Concepção Imaculada.
     Tanto os seus pais, como Ela própria, tiveram que fazer um sacrifício muito grande: os pais por se separarem daquela que viera trazer tanta luz às suas vidas; a menina, embora já de uma altíssima compreensão do ato que fazia, teria que se separar em tão tenra idade de seus amados pais. Mas, o que o salmista cantou, cheio de entusiasmo, traduziu-se na alma da bem-aventurada menina: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor”. E entrarei junto ao altar de Deus, do Deus que alegra a minha mocidade.
    Assim, Maria Santíssima se unia às poucas almas privilegiadas que rogavam pela vinda do Messias prometido, embora não sabendo o papel que teria na Encarnação. Ela mais do que ninguém, no silêncio do Templo, rezava e se sacrificava para que fosse dado ao mundo o Salvador. E pedia humildemente para ser a serva da Mãe de Cristo!...
     Unamo-nos à Maria Ssma., pedindo que Ela apresse a vinda do Reino dEla, o qual Ela mesma prometeu em Fátima ao dizer que após muitos castigos, a Humanidade se converteria e “por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Beata Carolina Kózka, Virgem e mártir - 18 de novembro


     Carolina Kózka: uma jovenzinha que nos ensina a altíssima dignidade que o ser humano tem, o ser mulher e o ser virgem.
     Olhando o mapa da Polônia vamos ter dificuldade para encontrar a cidade de Tárnow. Poucos ouviram falar dela antes do dia 10 de junho de 1987, quando o papa João Paulo II, diante de mais de um milhão de pessoas, elevou aos altares uma jovenzinha de 16 anos.
     A maioria dos assistentes eram agricultores dos povoados vizinhos. Tárnow fica próximo das fronteiras das repúblicas tcheca e eslovena, nas faldas dos Montes Cárpatos. É terra de extensas culturas e zonas montanhosas. O encanto da paisagem e dos vales que correm junto aos afluentes do Rio Vístula são o orgulho de Tárnow, quase tão grande como o que agora tem de Carolina.
     O que há de exemplar na vida de uma jovem de povoado? Sua vida é tão simples que quase não se tem o que escrever. Mas, Carolina tem o mérito de ter morrido heroicamente.
     Carolina nasceu no dia 2 de agosto de 1898, próximo de Tárnow, nas planícies do povoado de Wal-Ruda. Era a quarta de onze filhos de Jan e Maria Borzecka Kózka. A vida familiar era como a de qualquer lar católico do campo na Polônia de então: o trabalho duro de todos os dias, as orações em comum nas refeições, o Rosário diário, a Missa aos domingos. E sempre momentos intensos de convivência nos estreitos espaços da casa que abriga toda a família.
     Carolina frequentou as aulas da escola local de 1904 a 1912.
     A fotografia – quase a única que se conserva de Carolina – apresenta uma menina muito séria. Mas todos que conviveram com ela se recordam de seu caráter aberto, com seus olhos muito negros e vivos, e seu sorriso franco e alegre.
     Apesar das distâncias, além do domingo ela ia assistir à Missa acompanhada pela mãe alguns dias da semana. Era vista também visitando os doentes do povoado; ajuda no ensino do catecismo aos seus irmãos menores. “Durante o dia ela sempre sussurrava as palavras ‘Ave Maria’, pois, como ela mesma dizia, estas palavras faziam-na ‘sentir uma grande alegria no coração’”. Ela rezava o Rosário constantemente e mesmo no seu trajeto para ir à igreja assistir à Missa.
     Com frequência Carolina reunia os vizinhos e os parentes, principalmente as crianças, e eles liam as Sagradas Escrituras sob uma pereira perto de sua casa. Suas orações muitas vezes a ocupavam e ela dormia menos do que o necessário.
     Franciszek Borzecki, tio de Carolina, era uma inspiração para sua fé. Ela o auxiliava na biblioteca e na organização de outras coisas na paróquia; também ensinava catecismo para as crianças da vizinhança. Desde a adolescência ela era dirigida pelo Padre Ladislao Mendrala, que acompanhava sua ativa vida no núcleo paroquial da aldeia.
     No início da 1ª. Guerra Mundial (1914), tropas russas invadem o solo polonês. Em Tárnow a situação dos habitantes se torna muito insegura devido às várias mudanças das tropas. São requisitados todos os animais e os cereais que se encontra nas pequenas propriedades. A família Kózka vive em constante tensão, pois ouvem passar continuamente, perto de sua casa, contingentes de soldados que patrulham a zona. Não é recomendável sair de casa, menos ainda as crianças.
     A partir de 13 de novembro, festa de São Estanislau Kóstka, Carolina começa uma novena recebendo diariamente a Comunhão.
     No dia 18, à noite, toda a família está reunida junto ao fogão. Faz muito frio. Fora o vento sopra, ouve-se o sibilar entre os pinheiros. Ao longe se vê as luzes das fogueiras dos acampamentos militares. Às 9 horas chega à porta da casa um exaltado soldado russo, meio bêbado. Parece pedir ajuda, mas rechaça o pão que lhe oferecem. Apontando com sua arma, ameaçou levar Carolina e seu pai ao posto do comando. No caminho, na orla da floresta, o soldado obriga o pai a regressar ao povoado. O pai, aterrorizado, ajoelhou-se e disse ao soldado que o levasse, mas deixasse a filha voltar para casa. O agressor o ameaçou de morte se não obedecesse. Então o soldado arrastou a jovem para a floresta onde desejava violentá-la.
     Casualmente dois jovens que haviam se escondido na floresta com dois cavalos que salvaram de serem requisitados, observaram como o soldado russo empurrava Carolina para frente, enquanto ela tratava por todos os meios escapar e corria e era alcançada de novo pelo soldado. Carolina se opunha como podia, mas era inútil. E os jovens, por mais que quisessem segui-los, os perdem de vista. Os jovens correm para o povoado para dar notícia do ocorrido. Infelizmente a busca da jovem não tem nenhum êxito. Em sua casa os pais e os irmãos choram desconsolados.
     Por fim, no dia 4 de dezembro, um homem que anda pelo bosque recolhendo lenha encontra o cadáver mutilado de Carolina. Ao examinar seu corpo, chegou-se à conclusão que naquela noite tinha havido uma luta violenta entre ela e o soldado: feridas de baioneta na cabeça, pernas, costas e peito. Entre as feridas, se destacavam sobretudo as das mãos, com as quais tentara se defender das agressões. Fora recebendo aqueles ultrajes enquanto corria. Carolina correra em direção ao pântano, o que a salvou de mais ataques, pois era difícil o soldado alcançá-la ali. O soldado desistiu de seu propósito, mas era tarde demais para Carolina: as feridas que ele fizera causaram muita perda de sangue.
     Ela morreu no pântano, mas com sua pureza intacta. Ela tinha somente 16 anos. Carolina foi assassinada porque defendeu sua virgindade com golpes, unhas e dentes. Centenas de pessoas acompanharam o enterro com a convicção de que Carolina havia morrido como mártir da pureza. Desde então começaram a chamá-la a “Estrela do Povoado”.
     Em fevereiro de 1965, o Bispo Jerzy Ablewicz submeteu a causa de sua beatificação. Em 10 de junho de 1987 ela foi beatificada. Desde a beatificação suas relíquias foram colocadas no altar principal e são veneradas pelos paroquianos e peregrinos que todos os anos visitam seu túmulo e o local onde foi martirizada.
     Conhecida como a Maria Goretti da Polônia, a Beata Carolina é vista por muitos, paroquianos e peregrinos, como um grande exemplo para os jovens do 3º milênio, devido sua humildade, coragem, e confiança em Deus. Ela é um símbolo para aqueles que buscam a salvação e desejam se santificar.          É provável que o exemplo de Carolina Kózka choque frontalmente com a mentalidade atual. É inevitável, porém necessário para descobrir ou para redescobrir a justa hierarquia de valores. Esta jovem, filha da Igreja de Tárnow, fala com sua vida e com sua morte sobretudo aos jovens, mas também aos homens e às mulheres. Numa época em que vilipendiam a virgindade, a pureza, precisamos recordar exemplos como o desta jovem beata que defendeu sua honra até a morte.
     A Beata Carolina Kózka é patrona dos jovens, da pureza e dos agricultores.