terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Santa Elisabete Chong Chong-hye, Virgem e mártir - 29 de dezembro

    
Mártires Coreanas
     Elizabeth Chong Chong-hye (ou Jeong Jeong-hye) nasceu em 1797, em Majae, Coréia do Sul; era filha de Agostinho Jeong Yak-jong e de sua segunda esposa, Cecilia Yu So-sa. Ela tinha um irmão de sangue, Paulo Jeong Ha-sang (ou Chong Hasang), e um meio-irmão, Carlos Jeong Cheol-sang. Todos os filhos foram educados na fé católica pelo pai.
     Quando Elizabeth tinha cinco anos, Agostinho foi preso e posteriormente decapitado. Cecilia e os filhos também foram colocados na prisão: privados, por ordem do governo, de todos os seus bens, foram liberados mais tarde e foram morar com um parente que permanecera na religião de seus antepassados. Carlos, no entanto, sofreu o mesmo destino de seu pai.
     Para sustentar a mãe e o irmão, a jovem ganhava a vida fiando e tecendo, e fez um voto a Deus oferecendo-lhe sua virgindade. Ela era tão reservada, que nunca olhava o rosto dos homens. Seus parentes, que inicialmente a desprezavam, começaram a amá-la por causa de seu caráter suave.
     Quando Elisabeth estava com trinta anos, sofreu fortes tentações por um período de cerca de cinco anos, mas conseguiu superá-los através da oração, jejum e até mesmo flagelação. Seu maior desejo, que os missionários viessem à Coréia, foi realizado quando, graças ao seu irmão, chegaram o bispo Laurent Imbert e dois padres, Jacques Chastan e Pierre Maubant, das Missões Exteriores de Paris.
     Foi grande sua alegria ao hospedá-los em sua casa e em cuidar deles. Não cuidava só dos missionários, mas também das pessoas pobres que vinham vê-los, aos quais ensinava o catecismo e dava esmolas. Mons. Imbert ficou tão impressionado com sua atitude que disse: "Elizabeth é mesmo uma catequista".
     Quando a perseguição contra os cristãos recomeçou, o bispo fugiu de Seul para refugiar-se na zona rural, enquanto Elizabeth, Paulo e sua mãe fizeram o melhor para confortar os irmãos na fé, e fornecer alimentos e roupas para aqueles entre eles que eram pobres ou estavam na prisão. Enquanto isso, eles preparavam-se para o martírio.
     Os três foram presos em 19 de julho de 1839. Elizabeth foi submetida a interrogatórios, mas, porque recusou renunciar à sua fé, foi espancada 230 vezes em sete ocasiões distintas, mas nunca se rendeu. Ela estava determinada a suportar tudo por amor a Deus e a Nossa Senhora.
     Enquanto estava na prisão, ela nunca deixou de rezar e encorajar seus companheiros. Os espancamentos repetidos, ela dizia, faziam com que ela entendesse muito bem os sofrimentos de Nosso Senhor. Ela ainda obtinha alimentos e roupas para os prisioneiros.
     Em 29 de dezembro de 1839 foi decapitada junto com outros seis companheiros (Bárbara Cho Chung-i, Madalena Han Yong-I, Pedro Ch'oe Ch'ang-hub, Benta Hyong Kyong-Nyon, Bárbara Ko Sun-i e Madalena Yi Yong -dok), perto da Pequena Porta Ocidental de Seul. Ela tinha 43 anos. Paulo Jeong Ha-sang e Cecilia Yu So-sa também sofreram o martírio.
     Elizabeth e seus companheiros, junto com seu irmão e sua mãe, foram incluídos no grupo de 102 mártires coreanos canonizados pelo Papa João Paulo II em 6 de maio de 1984, como parte da sua viagem apostólica à Coréia, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e Tailândia. Seu pai Agostinho Jeong Yak-jong e o filho do primeiro casamento, Carlos Jeong Cheol-sang, foram beatificado pelo Papa Francisco em 16 de agosto de 2014, durante a visita apostólica à Coreia do Sul.
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    No mesmo dia, comemoração de Santa Benta Hyon Kyong-nyon e seis companheiros mártires.
Martirologio Romano: Em Seul, na Coréia, Santa Benta Hyŏn Kyŏng-nyŏn, viúva e catequista, e seis companheiros, mártires, que, depois de terem sofrido muitos suplícios em nome de Cristo, morreram finalmente decapitados.
 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natal!

Santo Natal: A hora da confiança na noite do mundo

Por Roberto de Mattei | Tradução: Hélio Dias Viana FratresInUnum.com: 
     O Santo Natal não é apenas uma tradição cultural do Ocidente ou a simples memória, cara aos cristãos, de um fato histórico ocorrido na Palestina há 2015 anos. Ele é o momento em que o Redentor da humanidade se fez presente entre nós numa manjedoura, devendo ser adorado como Rei e Senhor do universo. O Natal é, sob esse aspecto, um dos mistérios centrais da nossa fé, a porta que permite entrar em todos os mistérios de Cristo. O Papa São Leão Magno (440-461) escreve: “Aquele que era invisível na sua natureza tornou-se visível na nossa. O Incompreensível quis ser compreendido; Aquele que é anterior ao tempo, começou a existir no tempo; o Senhor do universo, velando a sua Majestade, recebeu a forma de escravo” (Sermo in Nativitate Domini, II, § 2).
     A manifestação do Verbo encarnado foi também a hora de maior triunfo na história dos Anjos. A partir do momento de sua criação, na aurora do universo, eles sabiam que Deus se tornaria homem e O adoraram, deslumbrante, no seio da Santíssima Trindade. Esta revelação haveria de separar irrevogavelmente os anjos fiéis e os rebeldes, o Céu e a Terra, os filhos da luz e os filhos das trevas. Em Belém, chega finalmente para os Anjos a hora de se prostrarem diante do Divino Infante, causa e meio, escreve o Padre Faber, da sua perseverança.
     As harmonias do Gloria in excelsis inundaram o Céu e a Terra, mas naquela noite elas foram ouvidas apenas pelas almas que viviam desapegadas do mundo e com amor de Deus. Entre estas estavam os Pastores de Belém. Eles não pertenciam ao círculo dos ricos e poderosos, mas na solidão e nas noites de vigília em torno de seus rebanhos, mantiveram a fé de Israel. Homens simples, abertos ao maravilhoso, não se surpreenderam com a aparição do Anjo que, fazendo refulgir sobre eles uma luz celestial, disse: “Não temais, porque eis que vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 11-12).
     Os Pastores seguiram docilmente as indicações do Anjo e foram guiados até a Gruta,  onde encontraram o Menino na manjedoura, com Maria e São José: “Invenerunt Mariam, et Joseph et Infantem positum in Praesepio” (Lc 2, 16). Tiveram a graça de ser os primeiros,  depois de Maria e José, a oferecer na Terra um ato de adoração eterna ao Menino de Belém.  Eles O adoraram, e compreenderam que na sua aparente fragilidade era o Messias prometido, o Rei do Universo.
     O Natal é a primeira afirmação da Realeza de Cristo, que tem por trono a manjedoura, a qual é o escrínio da Civilização Cristã nascente, cujos primeiros profetas são os Pastores. O programa dessa Civilização estava resumido nas palavras que uma miríade de Anjos proclamou naquela noite: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2, 14).
     Com imensa alegria, os Pastores passaram a anunciar a Boa Nova por todas as partes, nos campos e nos montes. “Omnes qui audierunt mirati sunt” (Lc 2, 18), todos ficaram maravilhados, mas nem todos se dirigiram à Gruta de Belém. Muitos estavam imersos em suas ocupações e renunciaram a um esforço que teria mudado as suas vidas, no tempo e na eternidade. Outros tantos passaram diante da  Gruta naqueles dias, para satisfazer a própria curiosidade, mas não compreenderam,  ou não quiseram compreender, a maravilha do acontecimento.
     No entanto, a Realeza do Menino Jesus foi reconhecida por alguns dentre os mais sábios daquele tempo. Os Magos, Reis do Oriente, eram homens cujos olhares viviam fixados nas coisas celestes, quando no Céu apareceu uma estrela. Esta foi para eles o que o Anjo havia sido para os Pastores –  a voz de Deus que lhes diz: “Ego sum stella splendida et matutina” (Apoc. 22, 16). Também os Reis Magos, como os Pastores, corresponderam perfeitamente ao impulso divino. Eles não foram os únicos a ver a estrela, nem provavelmente os únicos a compreender o seu significado, mas foram os únicos a se porem em marcha rumo ao Ocidente. Outros talvez compreenderam, mas não quiseram  abandonar seus países,  suas casas, seus negócios.
     Os Pastores eram próximos de Belém, e distantes os Magos. Mas a ambos aplica-se o princípio segundo o qual aquele que se aproxima de Deus com pureza de coração jamais é abandonado. Os Pastores e os Magos arrecadaram dons de diversos valores, mas tanto uns quanto outros ofereceram o maior dom que possuíam. Eles deram ao Menino Jesus seus olhos, seus ouvidos, sua boca, seu coração, toda a sua vida;  em uma palavra, consagraram à Sabedoria Encarnada o próprio corpo e a própria alma, e o fizeram através das mãos de Maria e de José, na presença de toda a Corte celeste.
     Nisso imitaram a perfeita submissão à Vontade de Deus do Menino Jesus, que sendo o Verbo de Deus se aniquilou na forma de escravo da Vontade divina, e depois se deixou conduzir por todas as estações até a morte na Cruz e a glória: não escolheu o seu estado, mas deixou-se guiar, a cada momento, pela inspiração da graça, como escreveu um místico do século XVII (Jean-Baptiste Saint-Jure, Vita di Gaston de Renty, tr. it., Glossa, Milano 2007, p. 254).
     A devoção ao Menino Jesus é uma devoção na qual se experimenta um abandono radical à Divina Providência, porque aquele Menino envolto nas palhas é um Deus-homem que aniquilou a sua vontade para fazer a vontade de seu Pai que está nos céus, e o fará submetendo-se a duas criaturas excelsas, mas submissas a Ele: a Bem-aventurada Virgem Maria e São José.
     O Santo Natal é o dia do extremo abandono à Divina Providência, mas também da imensa confiança nos planos misteriosos de Deus. É o dia, escreve São Leão Magno, no qual “o Filho de Deus veio para destruir a obra do diabo (1 João, 3, 8), o dia em que se uniu a nós e nós a Ele, a fim de que o abaixamento de Deus até a humanidade eleve os homens até Deus” (Sermo in Nativitate Domini, VII, § 2). No mesmo sermão, São Leão denuncia o escândalo daqueles que, subindo na sua época os degraus da Basílica de São Pedro, misturavam as orações da Igreja com invocações voltadas aos astros e à natureza: “Que os fiéis – escreve – rejeitem este hábito condenável e perverso, que a honra devida somente a Deus não seja mais misturada com os ritos daqueles que adoram as criaturas. A Sagrada Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e servirás somente a Ele’” (Gn 1: 3).
     Como não entender a atualidade dessas palavras quando na fachada da Basílica de São Pedro são projetados espetáculos neopagãos e se celebra o culto panteísta da Natureza? Nestas horas sombrias, os católicos fiéis continuam a ter a mesma confiança da qual estavam imbuídos os Pastores e os Magos que se aproximavam do Presépio para contemplar Jesus.
     Chega o Natal. As trevas em que o mundo está submerso serão dissipadas e os inimigos de Deus estão tremendo, porque sabem que a hora de sua derrota se aproxima. Por isso eles odeiam o Santo Natal, e por isso nós, com o olhar confiante, contemplamos o Menino Jesus que nasce e Lhe pedimos que ilumine as nossas mentes no meio da escuridão, aqueça os nossos corações no frio, fortaleça as nossas consciências perdidas nas brumas da noite do nosso tempo. Menino Jesus, venha o teu Reino! 


Beata Antônia Maria Verna, Fundadora - 25 de dezembro

    
     Antônia Maria Verna nasceu no dia 12 de junho de 1773 em Pasquaro, pequena localidade da fértil e delicada planície do Piemonte italiano, terra regada pelo rio Orco, a poucos quilômetros de Rivarolo (Turim). Seus pais eram Guilherme Verna e Domingas Maria Vacheri, pobres camponeses; ela era sua segunda filha e a batizaram no mesmo dia de seu nascimento.
     Um único cômodo servia de lar para todos os membros da família, fortemente unida e ancorada na fé e seus princípios. Mamãe Domingas foi sua primeira catequista. Pequenina frequentava a igreja paroquial, seguindo com atenção as homilias e participava das aulas de catecismo; assim que voltava para casa, ensinava o aprendido às crianças que se reuniam em torno dela. Aprendeu a amar o Menino Jesus, a Virgem Imaculada (a quem se consagraria e que teria grande influência na fundação de seu instituto) e a São José, a quem elegeu como seu especial patrono. Três devoções que a acompanharão durante toda sua vida.
     Aos 15 anos estava desejosa de compreender o que Deus queria para ela. Os pais querem encontrar-lhe um bom marido, mas Antônia Maria tem uma ideia completamente diferente. Esta divergência de opções causou muito sofrimento a ela. Naqueles tempos de "combate espiritual" encontrou a força e a coragem na oração, e depois de longo estudo com seu confessor, tomou a decisão de se consagrar a Deus com o voto de virgindade perpétua. Não sabemos exatamente onde e quando ela fez o voto, talvez na igreja de sua terra natal, ou em uma capela dedicada a Nossa Senhora da Providência.
     Devido a insistência reiterada para o casamento (de fato não faltavam os pretendentes), Antônia Maria se vê obrigada a deixar Pasquaro por um certo período de tempo.
     Entrementes, as comoções causadas pela ideologia da Revolução Francesa de 1789 debilitavam também na Itália o sentimento religioso, reduzindo o senso ético da sociedade. A lava revolucionária ia invadindo e cobrindo de naturalismo e de racionalismo todos os campos, para proclamar com violência os “direitos humanos”, direitos que nada têm que ver com a dimensão sobrenatural, dimensão que era expulsa com agressão e ódio.
     O protestantismo, o iluminismo, a filosofia laicista, a maçonaria penetraram no tecido da civilização europeia. Antônia Maria, inteligente e com visão do futuro, dá conta de que chegara o momento de enfrentar o mal, apesar de ter somente 17-18 anos de idade.
     Seu primeiro biógrafo, Francisco Vallosio, escreveu: “Ela intuiu a causa do mal de seu tempo: ‘a falta de instrução e de uma educação cristã básica’. E assim surgiu nela o pensamento generoso de opor-se àquele rio, para deter o vício desenfreado, dissipar as trevas da ignorância, formar os jovens na virtude e levá-los a Deus”.
     Depois do voto de virgindade, emitido aos 15 anos, decidiu retornar humildemente aos bancos escolares, percorrendo a pé 8 quilômetros diariamente para por em prática o que tinha em mente e que sentia que fora ditado por Nosso Senhor. A oração e a penitência são as armas de sua impetuosa chamada: assim começou o apostolado em Pasquaro, com simplicidade, porém com grande eficácia, cuidando maternalmente das crianças e dos jovens.
     Vallosio escreve: “Com amor de mãe reprova, reza e evitava que aqueles rechaçassem as práticas cristãs: toda zelo e paciência para instruir os ignorantes, reconfortar os débeis, consolar os aflitos, e com doçura inefável compartilha o pão do intelecto com as crianças, instruindo-as nos princípios básicos da religião”.
     Ela sente que os confins de Pasquaro são demasiado estreitos para sua missão e se muda, entre 1796 e 1800, para Rivarolo Canavese. Eram tempos duros e difíceis: primeiro os ventos da Revolução Francesa chegaram ao Piemonte, depois chegaram as campanhas militares de Napoleão; as pessoas estão cada vez mais pobres, a delinquência se expande.
     A nova casa de Antônia Maria era constituída de um único quarto que serve de “templo, sala de aula e claustro”. Neste local inicia aulas que incluem o ensino do catecismo e a alfabetização. Sua caridade também se estende a assistência aos doentes em suas casas. Mas, está sozinha, as tarefas são muitas e não dá conta de todas, por isto, entre 1800 e 1802, reúne várias companheiras (não se tem os dados precisos), e a primeira comunidade foi constituída. Assim surgiu as Irmãs da Caridade da Imaculada Conceição.
     Para conseguir a ereção canônica da Congregação, Madre Verna teve que enfrentar muitos obstáculos. Em 7 de março de 1828 obteve a Patente Real de aprovação do Instituto; nesse mesmo ano, em 10 de junho, e com o apoio do Bispo de Ivrea, as fundadoras da Congregação puderam tomar o hábito e realizar sua profissão religiosa. Em 27 de novembro de 1835 recebeu a aprovação eclesiástica definitiva.
     Madre Verna faleceu no dia de Natal de 1838, deixando a suas filhas uma atividade fecunda, capaz de oferecer gratuitamente (“grátis”, como a fundadora costumava dizer), sem reservas, e por amor de Deus, “o aceso completo ao trabalho da salvação, à exemplo de Maria Imaculada”, como é indicado na Regra da Congregação.
     Data de sua beatificação: 2 de outubro de 2011, durante o pontificado de S.S. Bento XVI.
Fonte: www.santiebeati.it

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Santa Adélia de Pfalzel, Abadessa beneditina - 24 de dezembro

    
     A tradição oral germânica nos conta que Adélia (ou Adela) era a irmã mais nova de Hermínia, ambas princesas, filhas do rei da Austrásia, Dagoberto II, o Bom.
     Adélia foi identificada, também, como a abadessa Adola, a quem Alfreda, abadessa do Mosteiro de Streaneshalch, teria enviado uma carta. Também como Adula, "religiosa matrona nobilis", que se hospedou no Mosteiro de Nivelles em 17 de março de 691, com um filho pequeno.
     Depois da morte de seu marido, Alderico, influente nobre da região, Adélia decidiu recolher-se na vida religiosa. Fundou então o Mosteiro de Pfalzel, na região de Trèves, atual Alemanha, onde ingressou e foi a primeira abadessa. Escolheu a Regra beneditina, como fizeram os mosteiros de Ohren e de Nivelles, o primeiro fundado por sua irmã, a futura Santa Hermínia.
     O neto da abadessa, Gregório, um rapaz esperto e vivaz, era hóspede frequente do mosteiro. O jovem ficou encarregado de ler em voz alta os textos sagrados enquanto as religiosas estivessem no refeitório. Em 722, passou pelo mosteiro um monge inglês de nome Bonifácio, em seu retorno da primeira missão na Frísia. Acolhido como hóspede, mesmo não sendo conhecido, foi levado para o refeitório no momento em que Gregório lia uma bela página do Evangelho em latim.
     Bonifácio se aproximou dele assim que terminou a leitura e cumprimentou-o, mas pediu que ele explicasse o que acabara de ler. Gregório tentou repetir a leitura, mas Bonifácio pediu que o jovem explicasse no seu próprio idioma. Embora lesse muito bem o latim, o rapaz não compreendia o que o texto dizia. "Deixe-me explicar para todos os presentes", disse o monge. Com tal clareza ele explicou o texto latino, com tamanha profundidade comentou-o e de maneira tão convincente, que deixou todos os ouvintes encantados.
     Gregório foi o mais tocado, a ponto de não querer separar-se do monge que ninguém sabia de onde era. Adélia permitiu que o neto partisse com Bonifácio, confiando na sua intuição e na Providência Divina. Muitos anos depois, Gregório tornou-se o Bispo de Utrecht e foi um dos melhores discípulos de São Bonifácio, o "apóstolo da Germânia".
     Adélia morreu pouco tempo depois no mês de dezembro de 734, e foi sepultada no Mosteiro de Pfalzel.
      Em 1802, o sepulcro foi aberto: a arca com as relíquias foi levada para a igreja paroquial de São Martinho e foi aberta novamente em 1868. Foi encontrado ali somente uma cópia do testamento de Santa Adélia e uma ata de 1802. A placa de chumbo da transladação de 1207 e a cobertura original do túmulo retornaram no mesmo ano ao altar mor, enquanto a cabeça e os ossos da santa foram descobertos sob o mesmo altar em 1933.
     O culto de Santa Adélia de Pfalzel foi autorizado pela Igreja. São duas as celebrações em dezembro: no dia 18, com uma festa local; no dia 24, junto com Santa Hermínia.
 
Etimologia: Adela (ou Adélia) abreviação de Adelaide, do alemão Adelheid: “semblante, porte (heid) distinto, fidalgo (adel). Ou de “linhagem nobre”.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Santas Vitória e Anatólia, Virgens e mártires - 23 de dezembro

    
     A legenda conta que na época do imperador romano Décio, Anatólia e Vitória eram irmãs cujo casamento fora arranjado com dois nobres romanos pagãos. Anatólia procurava todos os pretextos para adiar o casamento; Vitória via aproximar-se a data do casamento com prazer. Ao tentar convencer a irmã a decidir-se, Vitória provou pela Sagrada Escritura que o casamento era agradável a Deus. Anatólia apresentou-lhe argumentos tão convincentes a favor da virgindade, que no mesmo dia Vitória desfez o noivado e vendeu as joias e o enxoval em proveito dos pobres.
     Seus pretendentes denunciaram as jovens como sendo cristãs, recebendo a permissão para aprisioná-las em suas propriedades até que elas se convencessem a renunciar à sua Fé e a desposá-los.
    Depois de usarem de todos os recursos para abalar a constância das jovens, o noivo de Anatólia, Tito Aurélio, foi o primeiro a perder a paciência, sendo ela a primeira a ser martirizada. Anatólia foi assassinada em "Thora" (identificada como a moderna Sant’Anatolia di Borgorose).
     A legenda conta que ela foi trancada num quarto com cobras venenosas e, como elas se recusassem a picá-la, um soldado chamado Audax foi enviado para matá-la. As cobras o atacaram, mas Anatólia o salvou das picadas. Impressionado pelo exemplo, ele se converteu e foi martirizado pela espada junto com ela.
     Eugênio esperou por meses que o tempo mudasse o coração da noiva, mas, longe de apostatar, Vitória convertia todos os que se aproximavam dela. Desesperado, Eugênio pediu ao prefeito do Capitólio que lhe enviasse o carrasco Liliarco.
     A legenda conta que Vitória foi esfaqueada por Liliarco no coração em 250 em Trebula Mutuesca (Monteleone Sabino). Os hagiógrafos afirmam que o assassino imediatamente foi acometido de lepra e morreu seis dias depois.
     Vitória e Anatólia são mencionadas no Martirológio Romano (sem Audax) na data de 10 de julho. Anatólia foi mencionada pela primeira vez na "De Laude Sanctorum", composta em 396 por Vitrício, Bispo de Rouen (330-409). Ela e Vitória aparecem juntas no Martyrologium Hieronymianum na data de 10 de julho. Vitória é mencionada também, sozinha, em 19 de dezembro. As duas aparecem em mosaicos na Basílica de Santo Apolinário Novo, em Ravena, entre as santas Paulina e Cristina. Uma "Passio SS. Anatoliae et Audacis et S. Victoriae", do século VI, que acrescentou o nome de Audax, foi mencionada por Adelmo (m. 709) e Beda (m. 735), que listaram as três em seus martirológios. César Barônio lista Anatólia e Audax em 9 de julho e Vitória, em 23 de dezembro.
 
Popularização do culto
     Depois da translação de suas relíquias, o culto dos três se espalhou pela Itália. O corpo de Santa Vitória foi transferido, em 827, pelo abade Pedro de Farfa de Piceno para o Monte Matenano por causa das invasões árabes. A cidade de Santa Vittoria in Matenano é uma homenagem a ela. Ratfredo, o próximo abade de Farfa, levou o corpo da santa para a abadia em 20 de junho de 931.
     Os corpos de Anatólia e Audax foram trasladados pelo abade Leão para Subiaco por volta de 950. Em data desconhecida, uma escápula (osso da parte posterior do ombro) de Anatólia foi transladada para a moderna Sant’Anatolia di Borgorose, e um braço, para a moderna cidade de Esanatoglia.
     Os corpos de Anatólia e Audax ainda descansam em Subiaco, na Basílica de Santa Escolástica, sob o altar do Santíssimo. Atualmente o corpo de Santa Vitória está abrigado num altar em Santa Maria della Vittoria, em Roma.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Santa Vivina (Wivine), Abadessa beneditina - 17 de dezembro

Martirológio Romano: Vizinho de Bruxelas, no Brabante, na moderna Bélgica, Santa Vivina, primeira abadessa do mosteiro de Grand-Bigard.
     Há mais história para contar sobre ela após sua morte, do que dados sobre sua vida; o pouco que se sabe contém muitas incertezas.
     Desde sempre Vivina é considerada a fundadora e a primeira superiora da abadia beneditina de Grand-Bigard, na província do Brabante, na Bélgica. Nasceu em 1103, naquela província, fundou um eremo em 1126, adotando posteriormente, em 1129, para ela e para as discípulas que a ela se reuniram, a Regra de São Bento.
     De qualquer forma, o seu nome somente aparece em um documento de Godofredo I de Brabante, datado de 1133, no qual não lhe é dado nenhum título. Além disso, existe um documento de doação para a abadia, da parte de Burcardo, Bispo de Cambrai, que deixa entender a existência de sua presença naquele local entre 1114 e 1130, portanto anterior a 1126, como relatado pela tradição.
     Enfim, não existe documentação que a qualifique como superiora ou priora. A data de sua morte, citada também no moderno Martirológio Romano, é 17 de dezembro de 1170.
     A sua Vita beatae Wivinae é uma biografia datada dos primeiros anos do século XIII, escrita de um modo edificante, mas não atenta a datas históricas, detendo-se mais em milagres ocorridos junto a seu túmulo, do que nas circunstâncias da sua vida. Esta biografia sofreu várias ampliações nos séculos XVI e XVII.
     Uma transladação de suas relíquias aconteceu em 25 de setembro de 1177, aos cuidados de Alardo, Bispo de Cambrai. Em 1625, o Papa Urbano VIII aprovou uma Confraria dedicada a Santa Vivina.
     Em 1764, uma epidemia destruía o gado da região e um fiel do local, de volta de uma peregrinação a Grand-Bigard, fez a promessa de mandar celebrar uma Missa em Orbais (Brabante) para rogar a intervenção da Santa. A epidemia cessou, e em agradecimento ele mandou esculpir uma imagem de Santa Vivina, que foi colocada na igreja de Orbais, em 1766, onde se encontra ainda hoje.
     A abadia beneditina de Grand-Bigard foi supressa em 1796, e as relíquias da fundadora foram transladadas para a igreja de Nossa Senhora das Vitórias, do Sablon, em Bruxelas. No mesmo tempo, o culto da Santa, muito difundido na região, deu ensejo a uma periódica e famosa peregrinação a Orbais.
     No dia 29 de junho de 1812, houve uma solene transladação de uma parte de suas relíquias do Sablon para a igreja de Orbais, onde, em 1820, fora erigida uma nova Confraria dedicada a Santa.
     Santa Wivine ou Vivina é invocada contra a peste, a pleurite, a febre e o mal da garganta, tanto para os homens como para os animais. Ela é festejada em datas diversas nos vários locais em que é venerada: 25 de setembro, 19 de dezembro e 17 de dezembro, data esta, como foi dito, citada no texto oficial da Igreja.
 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

NOVENA PREPARATÓRIA PARA O SANTO NATAL

NOVENA PREPARATÓRIA PARA O SANTO NATAL
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Orações para rezar todos os dias da novena:
Ato de Contrição.
Oração Inicial:
     Ó Padre Eterno, nós Vos oferecemos, pelas mãos de Maria Santíssima, Medianeira única entre Vosso Filho Unigênito e os homens, esta novena preparatória para o Santo Natal.
     Sabemos que, dada a miséria que nos vem da culpa original e de nossos pecados atuais, nada temos em nós que não desperte Vossa cólera. Mas, confiados nos méritos e nas preces da Virgem Santíssima, que aplaca a justa ira Vossa e do Vosso Filho e abre para nós as torrentes da misericórdia infinita que brotam da Santíssima Trindade, podemos ser benignamente atendidos.
     Assim, com Maria, em Maria e por Maria, Vos oferecemos humildemente as preces desta novena.
V. Ó Deus  +  vinde em meu socorro.
R. Senhor, apressai-Vos em me socorrer.
V. Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.
I - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, o mistério do nascimento de Nosso Divino Redentor.  Glória ao Pai, etc.
II - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, os sofrimentos da Santíssima Virgem e de São José na longa e penosa jornada de Nazaré a Belém, e a angústia de seus corações por não acharem onde se hospedar quando se aproximava o nascimento do Redentor do mundo. Glória ao Pai, etc.
III - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, o presépio em que Jesus Cristo nasceu, as palhas que Lhe serviram de berço, o frio que sofreu, as mantilhas em que foi envolvido, as lágrimas que derramou e seus ternos gemidos. Glória ao Pai, etc.

 
IV - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, a dor que padeceu o Divino Infante Jesus em seu delicado corpo quando se submeteu ao duro golpe da circuncisão, e o precioso sangue que Ele pela primeira vez derramou para salvação do gênero humano. Glória ao Pai, etc.
V - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, a humildade, a mortificação, a paciência, a caridade e todas as virtudes de Jesus Menino, e Vos agradecemos, amamos e bendizemos constantemente por este inefável mistério da Encarnação do Verbo Divino. Glória ao Pai, etc.
V. E o Verbo Divino se fez carne.
R. E habitou entre nós.
Oremos:
     Ó Deus, cujo Unigênito apareceu na substância de nossa carne, concedei-nos, Vo-lo suplicamos, que reconhecendo ser Ele semelhante a nós exteriormente, mereçamos ser reformados por Ele interiormente. Por Cristo Nosso Senhor, que conVosco vive e reina em unidade com o Espírito Santo, Deus pelos séculos dos séculos. Amém.

 
 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Nossa Senhora de Guadalupe - 12 de dezembro

A Virgem de Guadalupe: desafio à ciência moderna
Para o ateu moderno, acostumado a dar valor só ao que julga provado pela ciência, o milagre de Guadalupe, no México, é no mínimo constrangedor. Pois a ciência prova que houve milagre!
                     Valdis Grinsteins
[...]
    
     No dia 9 de dezembro de 1531, na cidade do México, Nossa Senhora apareceu ao nobre índio Quauhtlatoatzin — que havia sido batizado com o nome de Juan Diego — e pediu-lhe que dissesse ao bispo da cidade para construir uma igreja em sua honra. Juan Diego transmitiu o pedido, e o bispo exigiu alguma prova de que efetivamente a Virgem aparecera. Recebendo de Juan Diego o pedido, Nossa Senhora fez crescer flores numa colina semi-desértica em pleno inverno, as quais Juan Diego devia levar ao bispo. Este o fez no dia 12 de dezembro, acondicionando-as no seu manto. Ao abri-lo diante do bispo e de várias outras pessoas, verificaram admirados que a imagem de Nossa Senhora estava estampada no manto. Muito resumidamente, esta é a história, que foi registrada em documento escrito. Se ficasse só nisso, facilmente poderiam os céticos dizer que é só história, nada há de científico.
     Os problemas para eles começam com o fato de ter-se conservado o manto de Juan Diego, no qual está impressa até hoje a imagem. Esse tipo de manto, conhecido no México como tilma, é feito de tecido grosseiro, e deveria ter-se desfeito há muito tempo. No século XVIII, pessoas piedosas decidiram fazer uma cópia da imagem, a mais fidedigna possível. Teceram uma tilma idêntica, com as mesmas fibras de maguey da original. Apesar de todo o cuidado, a tilma se desfez em quinze anos. O manto de Guadalupe tem hoje 475 anos, portanto nada deveria restar dele.
     Uma vez que o manto (ou tilma) existe, é possível estudá-lo a fim de definir, por exemplo, o método usado para se imprimir nele a imagem. Comecemos pela pintura. Em 1936, o bispo da cidade do México pediu ao Dr. Richard Kuhn que analisasse três fibras do manto, para descobrir qual o material utilizado na pintura. Para surpresa de todos, o cientista constatou que as tintas não têm origem vegetal, nem mineral, nem animal, nem de algum dos 111 elementos conhecidos. “Erro do cientista” — poderia objetar algum cético. Difícil, respondemos nós, pois o Dr. Kuhn foi prêmio Nobel de Química em 1938.(2) Além do mais, ele não era católico, mas de origem judia, o que exclui parti-pris religioso.
     No dia 7 de maio de 1979 o prof. Phillip Serna Callahan, biofísico da Universidade da Flórida, junto com especialistas da NASA, analisou a imagem. Desejavam verificar se a imagem é uma fotografia. Resultou que não é fotografia, pois não há impressão no tecido. Eles fizeram mais de 40 fotografias infravermelhas para verificar como é a pintura. E constataram que a imagem não está colada ao manto, mas se encontra 3 décimos de milímetro distante da tilma. Para os céticos, outra complicação: verificaram que, ao aproximar os olhos a menos de 10 cm da tilma, não se vê a imagem ou as cores dela, mas só as fibras do manto.
     Convém ter em conta que ao longo dos tempos foram pintadas no manto outras figuras. Estas vão se transformando em manchas ou desaparecem. No caso delas, o material e as técnicas utilizadas são fáceis de determinar, o que não acontece com a imagem de Nossa Senhora.
     Talvez o que mais intriga os cientistas sobre o manto de Nossa Senhora de Guadalupe são os olhos dela. Com efeito, desde que em 1929 o fotógrafo Alfonso Marcué Gonzalez descobriu uma figura minúscula no olho direito, não cessam de aparecer as surpresas. Devemos primeiro ter em vista que os olhos da imagem são muito pequenos, e as pupilas deles, naturalmente ainda menores. Nessa superfície de apenas 8 milímetros de diâmetro aparecem nada menos de 13 figuras! O cientista José Aste Tonsmann, engenheiro de sistemas da Universidade de Cornell e especialista da IBM no processamento digital de imagens, dá três motivos pelos quais essas imagens não podem ser obra humana:
     • Primeiro, porque elas não são visíveis para o olho humano, salvo a figura maior, de um espanhol. Ninguém poderia pintar silhuetas tão pequenas;
     • Em segundo lugar, não se consegue averiguar quais materiais foram utilizados para formar as figuras. Toda a imagem da Virgem não está pintada, e ninguém sabe como foi estampada no manto de Juan Diego;
     • Em terceiro lugar, as treze figuras se repetem nos dois olhos. E o tamanho de cada uma delas depende da distância do personagem em relação ao olho esquerdo ou direito da Virgem.
     Esse engenheiro ficou seriamente comovido ao descobrir que, assim como os olhos da Virgem refletem as pessoas diante dela, os olhos de uma das figuras refletidas, a do bispo Zumárraga, refletem por sua vez a figura do índio Juan Diego abrindo sua tilma e mostrando a imagem da Virgem. Qual o tamanho desta imagem? Um quarto de mícron, ou seja, um milímetro dividido em quatro milhões de vezes. Quem poderia pintar uma figura de tamanho tão microscópico? Mais ainda, no século XVI...
Tentativa de apagar o milagre
     Assim como meu conhecido não desejava falar do Santo Sudário, outros não querem ouvir falar dessa imagem, que representa para eles problemas insolúveis. O anarquista espanhol Luciano Perez era um desses, e no dia 14 de novembro de 1921 colocou ao lado da imagem um arranjo de flores, dentro do qual havia dissimulado uma potente bomba. Ao explodir, tudo o que estava perto ficou seriamente danificado. Uma cruz metálica, que ficou dobrada, hoje se conserva no templo como testemunha do poder da bomba. Mas... a imagem da Virgem não sofreu dano algum.
     E ainda ela está hoje ali, no templo construído em sua honra, assim como uma vez esteve Nosso Senhor diante do Apóstolo São Tomé e lhe ordenou colocar sua mão no costado aberto pela lança. São Tomé colocou a mão e, verificada a realidade, honestamente acreditou na Ressurreição. Terão essa mesma honestidade intelectual os incrédulos de hoje? Não sei, porque assim como não há pior cego do que o que não quer ver, não há pior ateu do que o que não deseja acreditar. Mas, como católicos, devemos rezar também por esse tipo de pessoas, pedindo a Nossa Senhora de Guadalupe que lhes dê a graça de serem honestas consigo mesmas.
Notas :
1. Para a elaboração deste artigo, utilizamos o material publicado no site http://www.reinadelcielo.org/estructura.asp?intSec=1&intId=42, ao qual remetemos os leitores interessados em mais dados.
 

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Maria Imaculada, obra-prima de Deus

Pe. David Francisquini (*) 
     Ao considerar o universo em sua unidade e variedade, em sua perfeição e esplendor, em sua hierarquia harmônica e matizada, não se pode deixar de admirar nas criaturas a grandeza sem medida de uma ordem perfeita e equilibrada. Na sua simplicidade e alvura, o lírio, por exemplo, foi enaltecido pelo divino Salvador, quando disse que nem Salomão em toda a sua pompa e majestade se vestiu como um deles.
     O sol no seu esplendor faz as criaturas ser aquilo que elas são: um encanto inigualável para o próprio Criador, para os anjos e para os homens.  A gota de orvalho, que não existiria ou não seria vista sem a luz, constitui um pequeno mundo de maravilhas, sobretudo quando repousam sobre graciosas e coloridas pétalas de rosa, que nenhuma troca amistosa de cortesias emula em beleza, leveza e graça.
     O cristal puro e alvo, atravessado pelos raios do sol é capaz de transformar um ambiente num mundo de fadas. Assim Deus, na sua infinita sabedoria, criou o mundo para cercar o homem de perfeições e de maravilhas que fossem luzes reflexas d’Ele e assim tributar-Lhe as devidas homenagens. Em outro patamar da hierarquia encontram-se as pedras preciosas e semipreciosas, como o jaspe, a esmeralda, a ametista, o brilhante, entre outras.
     Entre os metais, o ouro e a prata são símbolos que refletem realidades superiores, mais altas, mais nobres e distintas. Em seguida, podemos contemplar as flores, as plantas, os arbustos e as árvores. Em outro escalão as aves, os pássaros e tudo que enaltece a Deus e proclama a Sua magnificência dentro desta ordem admirável. Há, entretanto, algo mais além, pois tal ordem foi posta por Deus para refletir a Sua obra-prima, Maria Santíssima.
     Para utilizar linguagem figurada e simbólica, a Mãe de Deus é um oceano de perfeições e de graças por ser Ela quem é. O grande devoto de Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, ao descrevê-La assim se expressou: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriquecem”.
     Convém ressaltar que Cristo, por ser Deus, não podia ter pecado original. Maria Santíssima foi isenta do pecado por um especial privilégio outorgado pelo próprio Deus, por ter sido eleita para d’Ele se tornar Mãe. Ao agir assim, a Santíssima Trindade fez o caminho inverso da primeira mulher que introduziu o pecado no mundo por sua desobediência, dispondo que Maria fosse o contrário dessa mulher ao inocentá-La e isentá-La da nódoa do pecado original. O que Eva perdeu por orgulho e desobediência, Maria conquistou pela sua humildade e obediência, merecendo que o próprio Deus operasse n’Ela maravilhas.
     O Anjo Gabriel denominou-a de “cheia de graças” e Santa Isabel, “bendita entre todas as mulheres”. A inteligência de Maria não se ofuscou, sua vontade não se enfraqueceu, e Ela nunca teve inclinação para o mal. Maria conquistou todas as graças e se tornou agradável a Deus. E pelo privilégio singular de ter sido concebida sem pecado, nasceu imaculada – portanto, com o direito, por nascimento e por conquista, à prerrogativa perfeita de ser Mãe de Deus, para que seu Filho redimisse o gênero humano das consequências do pecado original.
     Após afirmar que todos pecaram em Adão, São Paulo sustenta com fundamento que, na vontade de Adão, como chefe e cabeça do gênero humano, se congregavam todas as vontades. Maria Santíssima, fazendo parte do gênero humano, pertenceu a uma raça pecadora, embora sem ter jamais pecado, pois Deus, por privilégio singular, A preservou no primeiro instante de vida de contrair a nódoa original, já que era predestinada a ser a Mãe do Salvador da humanidade. Repugna ao próprio Deus conviver e ser gerado por uma mãe pecadora, pois Jesus Cristo deveria ser a coroa e a perfeição de todas as criaturas.
     Por isso a iconografia representa Maria Santíssima esmagando a cabeça da serpente infernal e tendo os braços abertos para indicar que Ela trouxe o Autor da graça, o Redentor divino que nos concedeu a Redenção e nos abriu as portas do Céu. No dia 8 de dezembro, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma de sua Imaculada Conceição. Encerro este artigo, prestando meu tributo filial à Mãe de Deus, rogando-lhe estender Sua valiosa proteção a todos seus fiéis devotos.
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(*) Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria — Cardoso Moreira (RJ)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Festa da Imaculada Conceição - 8 de dezembro

 
Pio IX e a Imaculada Conceição
     Hoje é 8 de dezembro de 1965. Eu leio um documento do tempo do Papa Pio IX [agora bem-aventurado], de 8 de dezembro de 1854. É a Bula Ineffabilis Deus.
   A nossa boca está cheia de alegria e nossos lábios de exultação; e damos e daremos sempre as mais humildes e mais vivas ações de graça a Nosso Senhor Jesus Cristo por nos haver conseguido a graça singular de podermos – embora imerecedor – oferecer e decretar esta honra, esta glória e este louvor à Sua Santíssima Mãe. E depois reafirmamos a nossa mais confiante esperança na Beatíssima Virgem que, toda bela e Imaculada, esmagou a cabeça venenosa da crudelíssima serpente e trouxe a salvação ao mundo. Naquela que é a Glória dos profetas e dos apóstolos, Honra dos mártires, Alegria e Coroa de todos os santos, seguríssimo Refúgio, fidelíssimo Auxílio de todos os que estão em perigo; poderosíssima Mediadora e Reconciliadora de todo o mundo junto a Seu Filho Unigênito, fulgidíssima beleza e ornamento da Igreja e sua solidíssima defesa. Reafirmamos a nossa esperança naquela que sempre destruiu todas as heresias, salvou os povos fiéis de gravíssimos males de todos os gêneros e a nós mesmo tem livrado de tantos perigos que nos ameaçam.
   Confiamos que Ela queira, com a Sua eficacíssima proteção, fazer com que nossa Santa Madre Igreja Católica, superando todas as dificuldades e desbaratando todos os erros, prospere e floresça cada dia mais, no meio de todos os povos e em todos os lugares(...).
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Glória e privilégios de Nossa Senhora
     [O Beato] Pio IX reúne uma série de idéias dentro dessas frases grandes. Porque são círculos cada uma dessas frases, uma espécie de diadema em que há toda uma série de jóias para ornar a coroa de Nossa Senhora. Ele dá algumas idéias sucessivas a propósito da Imaculada Conceição, fazendo-nos ver que enquanto concebida sem pecado original - e concebida sem o pecado original na previsão de ser Mãe de Deus -, Ela tem um cúmulo de glória de todas as ordens. E é isto que ele faz ver neste trecho. Os senhores acompanham o método do pensamento dele, lendo mais vagarosamente o texto.
     Primeiro há uma ação de graças pelo fato de ele ter sido o escolhido, como Papa, para definir o dogma da Imaculada Conceição. Então diz: "nossa boca está alegre". Ele diz "está cheia, está repleta de alegria". Porque todo o texto é superlativo. E, realmente, não há boca humana que possa conter suficiente alegria pelo fato de ter sido a Imaculada Conceição definida, tanto mais na boca daquele homem que foi chamado a ser o Príncipe dos Pastores e sucessor de São Pedro!
     E os lábios de  Pio IX estão cheios do quê? De alegria! De uma super alegria: exultação. A boca está cheia de alegria e os lábios estão cheios de exultação. Quer dizer, uma alegria que sai da boca para fora, que inunda os lábios e que na flor dos lábios se transforma em exultação. Alegria por quê? Porque a Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi definida, e porque ele foi o instrumento da definição.
     Ele continua: "e damos e daremos sempre as mais humildes e as mais vivas ações de graças - a linguagem é sempre fácil: "damos e daremos as mais vivas ações de graças, as mais humildes", é tudo superlativo – a Nosso Senhor Jesus Cristo, por nos haver concedido a graça singular - não é uma graça qualquer, é uma graça singular, que não tem seu igual – de podermos, embora imerecedor, oferecer e decretar esta honra, esta glória e este louvor à Sua Santíssima Mãe".
O poder do Papado que pode definir um dogma
     Vejam o que é a grandeza de um Papa, o que é a  grandeza do pontificado romano, o que é o poder das Chaves. Nossa Senhora está acima de todos os Anjos, de todos os Santos. Ela está como que sentada em um trono ao lado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois bem, um Papa, um simples homem vivo nesta terra pôde dizer isto: que ele ofereceu e decretou esta honra, esta glória e este louvor à Santíssima Mãe de Deus. Quer dizer, o poder das chaves lhe deu o meio de colocar um diadema na fronte daquela que está tão acima dele! Isto é o imenso poder do papado, as imensas atribuições do papado e a imensa grandeza do papado!
     Esse é o primeiro pensamento. Agora vem outro pensamento.
Nossa Senhora por ser Imaculada e, enquanto Imaculada bela, esmagou a cabeça do demônio
     "E depois reafirmamos a nossa mais confiante esperança na nossa Beatíssima Virgem, que toda bela e imaculada esmagou a cabeça venenosa da crudelíssima serpente, e trouxe a salvação do mundo". É a primeira parte da frase. A frase continua depois, mas o pensamento está muito claro!
     Nossa Senhora - por ser Imaculada e enquanto Imaculada -, bela, esmagou a cabeça do demônio. Vemos que as ideias são inseparáveis. O Papa pensa na beleza de Nossa Senhora, no poder dEla. Ele pensa imediatamente, por contraste, na hediondez do demônio, pensa no demônio enquanto esmagado por Ela. Quer dizer, Sua beleza não seria inteira, uma vez que há o demônio, a não ser que essa beleza fosse uma beleza triunfal, esmagadora sobre o demônio. O demônio é o escabelo necessário dos pés dela; uma vez que Ela é tão pura, uma vez que Ela é tão linda, não bastaria que todas as criaturas deste mundo e do Céu e do Purgatório A homenageassem. Mas era preciso que o inimigo estivesse quebrado aos pés dela. Então, a ideia completa da glória dela envolve logo a ideia do demônio babando, estraçalhado, humilhado, com o rosto no chão, porque Ela quis e porque foi Ela o instrumento de Deus para liquidá-lo. Isto faz parte da beleza dela.
     Isto é muito, porque é mais uma manifestação da ideia de que o homem só apreende todo o fulgor da verdade, todo o fulgor da beleza e todo o fulgor do bem, quando é colocado em contraste com o erro, com o mal e com a feiura. Isso numa imagem da Imaculada Conceição fica muito claro!
Sua intercessão pelo pecador arrependido
     Depois diz: "nisto nós confiamos nela". Então porque Ela é bela, imaculada, mas porque também esmaga o demônio. Se nós nos lembrássemos disso nas horas de tentação! Estamos tentados, o demônio está procurando nos levar para o mal, temos medo de fracassar, de pecar e, infelizmente - que Deus nos livre - digamos que algum tenha pecado. Nossa Senhora esmagou a cabeça do demônio e pode, portanto, arrancar qualquer pecador das garras do demônio, pode afastar qualquer alma tentada da influência, do império do demônio. Como isto é uma razão de confiança e como isto deve dar alento à nossa vida espiritual!
Primeiro: Nossa Senhora enquanto Imaculada, enquanto bela e imaculada, esmagou a cabeça do demônio.
Segundo: Ela enquanto Imaculada é a glória dos profetas e dos apóstolos, honra dos mártires, alegria e glória de todos santos. Quer dizer, Ela não só esmagou o demônio, mas é a alegria e a beleza do Céu.
Terceiro: Ela é o seguríssimo refúgio e fidelíssimo auxílio de todos os que estão em perigo. Os senhores estão vendo o que Ela é: não é o refúgio seguro, não é o auxílio fiel. É um refúgio seguríssimo, um auxílio fidelíssimo dos que estão em perigo. Que relação tem isso com a Imaculada Conceição? Nossa Senhora, que não teve esse perigo e que foi confirmada em graça desde o primeiro instante de seu ser, quanta pena terá dos filhos que Ela vê por esse mundo, sujeitos a todos esses riscos! Não há uma mãe católica verdadeira pelo mundo, que não tenha hoje em dia o coração nas mãos continuamente pelo medo do que pode suceder a seu filho. Ora, Nossa Senhora quanto melhor mede isso! Quanto melhor vê isso! Quanto mais - entre aspas - podemos dizer que Ela se "aflige" com a nossa situação, tanto mais certeza podemos ter de ser socorridos. Isto é o que está entendido aqui.
     Ela é "poderosíssima mediadora e reconciliadora de todo o mundo junto a seu Filho Unigênito". Aqui vem um pensamento que não é mais dos indivíduos, mas da sociedade humana como tal, da humanidade inteira, dos Estados, das nações, da ordem pública que Ela reconcilia.
Sua proteção à Igreja e intercessão poderosa contra as heresias
     "Fulgidíssima beleza e ornamento da Igreja e sua solidíssima defesa". Então, Ela é o terror dos demônios, a honra e a glória do Céu, a proteção dos homens e o ornamento da Igreja. Por que? Porque a Igreja é um paraíso, é uma prefigura do paraíso celeste e se Ela é a honra do paraíso celeste, tem que ser a honra da Igreja Católica também.
     E continua: "reafirmamos a nossa esperança naquela que sempre destruiu todas as heresias. Todas, inclusive as que mais possam nos angustiar. Salvou os povos fiéis de gravíssimos males de todo gênero – inclusive dos males que mais possam nos alarmar, e a nós mesmos tem livrado de tantos perigos que nos ameaçam. Confiamos que Ela queira, com sua eficacíssima proteção, fazer com que nossa Santa Madre Igreja Católica, superando todas as dificuldades, inclusive as menos esperadas e mais tremendas". Depois: "esmagando todos os erros" - mesmo aqueles que incidentemente a gente pode conter num amplexo, como o que os jornais apresentavam hoje - , "prospere e floresça cada vez mais no meio de todos os povos e em todos os lugares".
Nossa Senhora, a conversão do mundo e o Reino de Maria
     Esta afirmação do prosperar da Igreja no meio de todos os povos e em todos os lugares parece quase o antegozo do Reino de Maria.
     O que nós devemos pedir a Nossa Senhora hoje? Tenho a impressão de que devemos dizer a Ela: venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no Céu. Nós devemos pedir a Ela que Seu Reino venha logo e que cesse este estado de coisas em que a vontade dEla não é feita na terra, em que os homens não cumprem mais Sua vontade, em que mesmo onde mais se poderia esperar que a vontade dEla fosse cumprida, esse cumprimento não existe. O reino dEla na terra é isso.
Plinio Corrêa de Oliveira - Santo do Dia – 8 de dezembro de 1965