sábado, 27 de março de 2021

Beata Joana Maria de Maillé – 28 de março

     Relutante em se casar aos 16 anos, viúva com um pouco mais de 30, expulsa de casa pelos parentes do marido, nos restantes 50 anos de sua vida foi obrigada a viver sem abrigo. Tantos percalços estão concentrados na vida da Beata Joana Maria de Maillé que nasceu rica e mimada no Castelo de La Roche, perto de Saint-Quentin, Touraine, em 14 de abril de 1331. Seus pais eram o Barão de Maillé Hardoin e Joana, filha dos Duques de Montbazon.
     Sua família se destacava pela devoção. Ela cresceu sob a orientação espiritual de um franciscano, mostrando uma particular devoção a Maria. Dedicava-se a orações prolongadas e fez precocemente o voto de virgindade. Aos onze anos, no dia de Natal, pela primeira vez teve um êxtase: Maria Santíssima lhe apareceu segurando em seus braços o Menino Jesus. Uma doença que quase a levou à morte serviu para desprendê-la mais e mais da terra e torná-la mais próxima de Deus.
     Na idade de dezesseis anos, aparece no cenário de sua vida um parente da mãe que se tornou seu tutor, o que sugere que os pais morreram prematuramente. O tutor combina, de acordo com o costume da época, o casamento de Joana com o Barão Roberto II de Sillé, um bom jovem, não muito mais velho do que ela, seu companheiro de brincadeiras na infância. E isto apesar de estar ciente da inclinação de Joana para a vida religiosa e de seu voto de castidade. Portanto, é um casamento contra a vontade da jovem.
     Providencialmente, o tutor morreu repentinamente na manhã do dia do casamento, e a impressão no noivo foi tão grande, que propôs a Joana viverem em perfeita continência, isto é, como irmão e irmã. Seu consentimento é imediato, já que estava preparada para isto pelo seu voto de virgindade.
     Apesar das premissas, o casamento funcionou e bem: como base da união eles colocaram o Evangelho, e viveram-no plenamente, resultando em muitas boas obras, como: adotar algumas crianças abandonadas, alimentar e cuidar dos pobres, ajudar os empestados. Na verdade, tinham muito que fazer. Nunca se viu tanto movimento no castelo desde que se espalhou a notícia de o casal ser extremamente caridoso.
     E pensar que não faltavam problemas para eles, como quando Roberto teve que ir para a guerra (estamos na época da Guerra dos Cem Anos), foi ferido e preso pelos britânicos. Para libertá-lo Joana pagou um resgate elevado, o que afetou fortemente o patrimônio do casal. No entanto, eles não perderam a fé, e uma vez instalados, marido e mulher, lado a lado, primeiro tratam dos contagiados pela peste negra, depois, dos leprosos.
     Roberto morreu em 1362 e Joana, viúva aos 30 anos, vê toda a família de seu marido se voltar contra ela. A principal acusação: ter esbanjado a fortuna da família. Assim, ela foi expulsa do Castelo de Silly e ficou sem casa, sem um tostão, forçada a viver da caridade. Mas, mesmo na rua, os parentes ricos continuavam a persegui-la: enviavam seus serviçais para lançar-lhe insultos quando ela passava, porque não queriam rebaixar-se para fazê-lo pessoalmente.
     Ela renunciou a todos os seus bens e foi morar em um casebre construído junto ao convento dos Frades Menores Franciscanos de Tours, onde levava uma vida de penitência, contemplação e pobreza contínua, a mendigar o pão. Ela gozava de várias aparições da Virgem Maria, de São Francisco e de Santo Ivo, o qual recomendou que ela ingressasse na Ordem Terceira de São Francisco.
     Joana sofria e, com um amor sem limites, não tinha um mínimo de ressentimento. E para sabermos onde ela encontrava tal força e tanta bondade, olhemos para suas longas horas de oração, sua grande penitência, seus sacrifícios. Escolheu para vestir uma túnica grosseira e rude, muito semelhante à roupa de seus amados franciscanos, de cuja intensa espiritualidade vive.
     Continuou a fazer caridade com os doentes e os prisioneiros condenados à morte, se não mais com dinheiro, com a sua presença e seus humildes serviços, consolando-os quando não podia fazer nada melhor, e intercedendo por sua libertação quando atingiu popularidade e pode usá-la em proveito do próximo.
     Devido a sua reputação como uma mulher de Deus ter se espalhado pela França, muitos a procuravam pedindo conselhos, e entre aqueles que bateram à sua porta havia também alguns daqueles que a tinham insultado antigamente e que ela recebe com amor e paciência.
     O rei de França, Carlos VI, que estava em Tours, foi visitar a penitente famosa que lhe pediu para libertar alguns prisioneiros e dar a outros a ajuda de um capelão.
     Em 1395, Joana mudou-se para Paris onde se encontrou outra vez com o rei da França, Carlos VI e sua esposa, Isabel da Baviera. Ela aproveitou a oportunidade para criticar o luxo da corte e a vida licenciosa dos cortesãos. Em Paris, ela visitou a Saint-Chapelle para venerar as relíquias da Paixão de Cristo.
     Apesar da frágil saúde e das dificuldades de sua vida penitente, Joana atingiu a idade de 82 anos e morreu em 28 de março de 1414 cercada de uma sólida reputação de santidade e foi sepultada na igreja franciscana. Infelizmente o seu túmulo foi profanado pelos calvinistas nas guerras de religião.
     Sua fama de santidade era tão difundida, que os fiéis a veneravam espontaneamente. Como resultado, em apenas 12 meses foi instaurado o processo diocesano informativo para sua canonização. Mas, mesmo após a morte Joana tem que esperar: sua beatificação só ocorreu muito mais tarde, em 1871, pelo Papa Pio IX.
 
Aparição de Santo Ivo a Beata Joana Maria de Maillé.
     A Beata relatou uma visão de Santo Ivo em uma época difícil de sua vida. A jovem baronesa tinha ficado viúva e fora expulsa do seu castelo pelos parentes, que alegavam que ela tinha encorajado a excessiva caridade de seu esposo, em detrimento do novo herdeiro. Após ser maltratada, inclusive pelo serviçal a quem tinha dado refúgio, ela retornou a sua família em Tours.
     A aparição é contada por dois historiadores da Ordem Terceira. Santo Ivo “aconselhou-a a deixar o mundo e a tomar o hábito que ele estava usando”. Outro biógrafo diz: “Se vós deixardes o mundo, gozareis, mesmo aqui na Terra, as alegrias do Paraíso”.
     Os mesmos autores especulam se Joana não hesitou diante da perspectiva de renunciar a tudo. “Pobre pequena baronesa! Ela ficou amedrontada diante da prometida liberdade da pobreza e acreditou que poderia desfrutar da paz no último refúgio, seu lar. Mas a vontade de Deus era outra”.
     Joana deve mesmo ter hesitado, pois somente depois de uma visão de Nossa Senhora, que repetiu o mesmo conselho, é que ela tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco.
 
Fonte: Cecily Hallack e Peter F. Anson, em “Estes fizeram a paz: Estudos dos Santos e Beatos da Ordem Terceira de São Francisco”, cap. VI, p. 152-3
https://franciscanos.org.br/
Beata Giovanna Maria de Maillé (santiebeati.it)

sexta-feira, 26 de março de 2021

Santa Máxima e São Montano, Santos Esposos mártires, 26 de março


Martirológio Romano: Na região de Sirmia, na Panonia, no território do que é hoje a Servia, santos mártires Montano, presbítero, e Máxima, sua esposa, que por ambos confessarem ambos sua fé em Cristo Senhor, foram precipitados ao mar por uns infiéis († c.304)
 
     O Martirológio Romano celebra a cada 26 de março os Santos cônjuges Montano e Máxima, mártires de Sirmio na Panonia (região histórica de Iliria, Germânia e Dacia, que se converteu em uma província romana em 9 D.C., atualmente seu nome é Sremska Mitrovica na Servia).
     A informação que se pode obter de diversos martirológios (Sírio, de Floro, de Adão, Romano) é discrepante enquanto ao que se refere a maneira como morreram. O que se sabe é que Montano era um sacerdote que havia se casado com Máxima, e que, durante a perseguição executada em todo o império por ordem do imperador Diocleciano (243-313) foram lançados nas águas de um rio em Sirmia onde morreram afogados.
     A discrepância nos martirológios está em que uns dizem que somente Montano sofreu o martírio, outros que os mártires foram os dois; alguns martirológios dizem que as águas em que se afogaram eram as do mar. O ano do martírio foi aproximadamente em 304.
 
Etimologia: Montano = do latim Montanus, que significa “montanhês”; com este nome há 3 santos mártires comemorados em 24 de fevereiro, 26 de março e 17 de junho
 
Etimologia: Máxima = feminino de Máximo, do latim Maximus, que significa “grande”, “o maior”; com este nome há santas mártires comemoradas em 16 de maio, 26 de março, 8 de abril, 30 de julho, 2 de setembro, 1º de outubro e 16 de outubro
 
Fonte: Por: Antonio Borrelli | Fonte: santiebeati.it

Martírio de São Montano

terça-feira, 23 de março de 2021

Beata Maria Serafina do Sagrado Coração, Fundadora - 24 de março

         Clotilde Micheli nasceu em Imer (Trento), então Império Austríaco, no dia 11 de setembro de 1849, filha de Domenico Micheli e Maria Orsingher.. Seus pais eram profundamente católicos. Com 3 anos, como era uso então, recebeu o Sacramento da Crisma em Fiera di Primiero, do bispo-príncipe de Trento Mons. Tschiderer. Aos 10 anos recebeu a Primeira Comunhão.
     No dia 2 de agosto de 1867, com 18 anos, quando estava em oração na igreja de Imer, Nossa Senhora manifestou-lhe que era a vontade de Deus que fosse fundado um instituto religioso com a finalidade especifica de adorar a Santíssima Trindade, com especial devoção à Nossa Senhora dos Anjos, estes modelos de oração e de serviço.
     Seguindo os conselhos de uma senhora sábia e prudente, Constança Piazza, Clotilde dirigiu-se para Veneza para se aconselhar com Mons. Domenico Agostini, futuro patriarca daquela cidade, que a aconselhou a iniciar a obra desejada por Deus, começando por redigir a Regra do Instituto. Mas temendo não conseguir levar adiante o projeto, Clotilde retornou a Imer.
     Em 1867, se transferiu para Pádua, onde permaneceu por nove anos, sendo dirigida por Mons. Ângelo Piacentini, professor do Seminário local, buscando compreender melhor a mensagem recebida.
     Com a morte de Mons. Piacentini, em 1876, Clotilde mudou-se para Castellavazzo, onde o arcipreste Jerônimo Barpi, conhecedor das intenções da jovem, colocou à sua disposição um velho convento para a nova fundação.
     Em 1878, para fugir de um casamento combinado, Clotilde vai para a Alemanha para onde seus pais tinham ido para trabalhar. Ali permaneceu por sete anos, de 1878 a 1885, trabalhando como enfermeira no Hospital das Irmãs Elisabetanas e tornando-se notável por sua caridade e delicadeza com os enfermos.
     Depois da morte da mãe em 1882 e do pai em 1885, decidiu deixar a Alemanha e voltar para Imer, sua terra natal.
     Dois anos depois, aos 38 anos, Clotilde e sua prima Judite, iniciam a pé uma peregrinação a Roma, fazendo visitas a vários santuários marianos com devoção e espírito de penitência, sempre em busca da vontade de Deus acerca da fundação idealizada. 
     Em agosto chegaram a Roma e se hospedaram nas Irmãs de Caridade Filhas da Imaculada, fundação de Maria Fabiano. A fundadora, conhecendo Clotilde mais profundamente, convenceu-a a tomar o hábito de sua fundação nascente, prometendo deixá-la livre se o seu plano juvenil se concretizasse.
     Clotilde adotou o nome de Irmã Anunciada e permaneceu naquela fundação até o início de 1891, ocupando inclusive o cargo de superiora de 1888 a 1891 no convento de Sgurgola de Anagni.
     Em 1891, Clotilde vai para Caserta, atendendo ao convite do Pe. Francisco Fusco de Trani, franciscano conventual, que queria propor a ela a realização de uma fundação idealizada pelo bispo Mons. Scotti, mas ela constatou que o projeto do prelado não concordava com o que lhe parecia ser a vontade de Deus.
     Depois de permanecer em Caserta como hóspede de uma família que a sustentava, Clotilde mudou-se para Casolla, com duas jovens que a ela tinham se unido. Alguns meses depois, o bispo de Caserta, Mons. de Rossi, príncipe de Castelpetroso, autorizou a vestição religiosa do primeiro grupo de cinco irmãs.
     No dia 28 de junho de 1891, com a presença do Pe. Fusco, a nova instituição adotou o nome de Irmãs dos Anjos, adoradoras da Santíssima Trindade. Clotilde Micheli, a fundadora, tinha 42 anos; ela adotou então o nome de Irmã Maria Serafina do Sagrado Coração.
     Um primeiro núcleo de irmãs foi enviado para dirigir um orfanato em Santa Maria Capua Vetere (Caserta), o qual se tornou a primeira Casa do Instituto, seguido de outras obras voltadas ao serviço da infância e da juventude abandonada.
     A partir do fim de 1895, iniciou-se para Madre Serafina um período de sofrimentos físicos. Após uma cirurgia muito delicada, solicitada pelo próprio bispo de Caserta, sua debilidade era visível. Neste tempo, depois de vários problemas, foi aberta a Casa de Faicchio (Benevento), em junho de 1899. Esta casa se tornará o Instituto de formação da Congregação.
     Madre Serafina empenhava-se em realizar outras obras, mas a fragilidade da saúde a constrange a não mais sair de Faicchio.
     Como quase todas as fundadoras de Congregações religiosas, ela também teve muito que sofrer moralmente pela incompreensão até no interior de seu Instituto, e no dia 24 de março de 1911, consumida pelos sofrimentos físicos, faleceu na Casa de Faicchio, onde foi sepultada.
     As Irmãs dos Anjos introduziram a causa de sua beatificação na Santa Sé em 9 de julho de 1990. A mensagem da Virgem no longínquo ano de 1867 a acompanhou por toda a vida e se difundiu na sua Congregação como um dom do Espírito Santo: “Como os Anjos adorem a Trindade e sereis na terra como eles são nos céus”.
     Madre Serafina foi beatificada em 28 de maio de 2011.
 
A Beata Maria Serafina e a visão de Lutero no inferno
     Em 10 de novembro de 1883, a Beata passou por Eisleben, na Saxônia, cidade natal de Lutero. Naquele dia se festejava o quarto centenário do nascimento do grande herege que dividiu em duas a Europa e a Igreja. As ruas estavam lotadas, as varandas enfeitadas com bandeiras. Entre as numerosas autoridades presentes aguardava-se, a qualquer momento, a chegada do imperador Guilherme I, que presidiria a celebração solene.
     A futura beata, embora notasse o grande tumulto, não estava interessada em saber a razão para aquele entusiasmo inusitado: seu único desejo era procurar uma igreja para fazer uma visita a Jesus Sacramentado.
     Depois de caminhar por algum tempo, finalmente encontrou uma, mas as portas estavam fechadas. Então ela se ajoelhou na escadaria de acesso para fazer as suas orações. Sendo noite, não havia percebido que não era uma igreja católica, mas protestante. Enquanto rezava, o Anjo da Guarda lhe apareceu e disse: “Levanta-te, pois esta é uma igreja protestante”. E acrescentou: “Mas eu quero fazer-te ver o local onde Martinho Lutero foi condenado e a pena que sofreu em castigo do seu orgulho”.
     Assim dizendo, mostrou a ela um terrível abismo de fogo, no qual um incalculável número de almas era cruelmente atormentado. No fundo deste precipício havia um homem, Martinho Lutero, que se distinguia dos demais: estava cercado por demônios que o obrigavam a se ajoelhar e todos, munidos de martelos, se esforçavam em vão para fincar em sua cabeça um grande prego.
     A Irmã pensou: “se o povo em festa visse esta cena dramática, certamente não tributaria honra, recordações, comemorações e festejos para um tal personagem”. Quando se apresentou a ocasião, recordou às suas irmãs que vivessem na humildade e no recolhimento. Estava convencida de que Martinho Lutero fora punido no inferno sobretudo por conta do primeiro pecado capital: o orgulho.
     O orgulho o fez cair em pecado, conduziu-o à rebelião aberta contra a Igreja Católica Romana. A sua conduta, a sua postura para com a Igreja e a sua pregação foram determinantes para enganar e levar muitas almas superficiais e incautas à ruína eterna.  [...]
Cf. Stanzione, Pe. Marcello: Futura beata viu Lutero no inferno. [tradução do site http://fratresinunum.com]
 
ORAÇÃO AOS SANTOS ANJOS
Beata Serafina do Sagrado Coração Micheli
 
     Ó Santos Anjos, eu queria rezar como Vós; ajudai-me hoje e sempre, na vida que quero levar associada à Vossa. Sim, quero ser vossa imitadora, vossa companheira. Vós contemplais no Céu face a face o Senhor. Pudesse eu aqui na Terra ver Deus em cada coisa, amá-lo como Vós e exclamar sempre: Santo, Santo, Santo! Eu devo ser um anjo para aqueles que me rodeiam. Eu, como Vós, devo conduzir almas ao céu, rezar por elas, edificá-las com bons exemplos, assisti-las com sábios conselhos, suprir aquilo que lhes falta, ó meu bom anjo. Assim seja.
 
Fonte: Maria Serafina Micheli – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
 
Postado neste blog em 22 de março de 2014
 

sábado, 20 de março de 2021

Santa Benedita Cambiagio Frassinello - 21 de março

 

“Conformar-se a Cristo no abandono a amorosa Divina Providência"
 
     Em Benedita Cambiagio Frassinello (1791-1858) a Igreja nos mostra um exemplo de santa esposa, religiosa e fundadora. Ela deixou-se conduzir pelo Espírito Santo através das experiências do matrimônio, de educadora e de consagração religiosa, até fundar, junto com o marido, uma congregação que é o único caso na História da Igreja.
     Benedita Cambiagio nasceu no dia 2 de outubro de 1791, em Langasco, Gênova, última de sete filhos de José Cambiagio e Francisca Ghiglione. Ela foi batizada dois dias depois de seu nascimento. Seus pais eram camponeses e depois das revoluções napoleônicas a família vê os problemas econômicos se agravarem. Junto com outras famílias de Langasco, eles emigraram para Pavia quando Benedita tinha 13 anos.
     Ela recebeu uma educação católica rigorosa e se dedicou aos estudos, sobretudo como autodidata, privilegiando a leitura de biografias de Santos e o aprofundamento da doutrina católica. Em 1812, Maria, sua irmã mais velha, se casa. Aos 20 anos Benedita tinha uma forte inclinação para a oração e a vida contemplativa, pensando em talvez fazer-se religiosa, mas, na dúvida, prevaleceu o parecer da família mais propensa ao seu casamento. Dia 7 de fevereiro de 1816, aos vinte e cinco anos, casou-se na Basílica de São Miguel com João Batista Frassinello, camponês e carpinteiro, fervoroso católico de Ronco Scrivia.
     Dois anos depois, sem filhos, de comum acordo, Benedita e João Batista passaram a viver como irmão e irmã na mesma casa. De fato, o grande desejo de castidade de Benedita contagiou o cônjuge. Ela conta o episódio em suas Memórias:
"Vivi por dois anos sujeita a ele, como o Senhor ordenara. Mas o meu desejo era de viver como irmão e irmã. Um dia, eu pedi a meu marido para secundar-me neste desejo que desde menina eu tinha; ele imediatamente atendeu-me, para infinita consolação de minha alma, pois outra coisa eu não desejava".
     Na época, sua irmã Maria, gravemente doente de câncer intestinal, se hospedava em sua casa, e o casal passou a cuidar dela com amor e dedicação até sua morte, em 1825. O cuidado da doente fez nascer neles a vocação de ajudar os necessitados sem reservas. Em consequência, João Batista entrou como irmão leigo na comunidade religiosa dos padres Somascos e Benedita na comunidade das Irmãs Ursulinas de Capriolo.
     Em 1826, Benedita retornou a Pavia devido a graves problemas de saúde. Teve então uma visão onde lhe apareceu São Jerônimo Emiliani, ficando curada por completo. Benedita, inspirando-se naquele grande Santo, que tivera atenção especial pelo aspecto educativo das pessoas, começou a trabalhar na educação das jovens e das meninas abandonadas pelas famílias. Para esta obra ela pede e obtém a aprovação do bispo D. Luís Tosi, o qual chama de volta a Pavia seu marido, João Batista, para auxiliá-la nos trabalhos. Este atendeu logo, voltou para a esposa-irmã, renovando ambos o voto de castidade perfeita pelas mãos do bispo.
     Em 29 de setembro de 1826, Benedita aluga uma casa em Vicolo Porzi. Para conseguir os meios necessários para manter sua obra, vai de casa em casa pedindo ajuda. Sua intenção era lutar, por meio da educação, contra a solidão, a ignorância, a pobreza, que são a base dos maus costumes, agindo no universo totalmente feminino. Com a ajuda e o apoio de várias professoras, ensinava as jovens a ler, a escrever, a trabalhar, formando uma instituição escolar de excelente nível, cujo estatuto foi aprovado pelas autoridades eclesiásticas.
     Na época, a instituição escolar era muito precária e Benedita fez um alerta às autoridades de Pavia, a primeira mulher da cidade e do Estado a advertir sobre essa necessidade. Pavia era então governada pelo Império Austro-húngaro, e o governo austríaco reconheceu seu trabalho e deu a ela o título de “Promotora da Educação Pública”.
     A dedicação constante de Benedita nasceu e cresceu do seu fervor a Cristo na Eucaristia e da contemplação de Jesus na Cruz. Tinha em Deus seu sustento e sua defesa. Não lhe faltaram na vida experiências espirituais que se repetiam especialmente durante as Missas. Porém, isso não interferia nos seus compromissos cotidianos.
     Seu primeiro biógrafo, Joaquim Semino, que a conheceu pessoalmente, nos dá este retrato dela: "E eu não devo silenciar como ela tinha um rosto entre o majestoso e o amável, de maneira que parecia ter sido feita para orientar as jovens. Ela tinha uma forma de dizer gentil e doce, um jeito de fazer franco e jeitoso, ao mesmo tempo enérgico e forte, que despertava o amor e a reverência de todos".
     Mas, nem tudo corria sem complicações. Como sua obra educadora recebesse doações, no dia 4 de fevereiro de 1837 o jornal ''La Gazzetta di Pavia'' promoveu uma subscrição com a finalidade de ajudá-la. Esta iniciativa fez emergir muitos de seus opositores que lhe fizeram pesadas acusações. Ela demonstrou sua transparência cedendo a direção da Instituição a uma colaboradora, Catarina Bonino, e entregando toda a sua obra ao bispo. Com cinco irmãs deixou Pavia indo para Ligúria.
     Sua biografia não diz claramente por que a um certo momento ela ficou sozinha e mal vista. Podemos conjeturar que a presença de eclesiásticos de ideias jansenistas entre os conselheiros do Bispo Luís Tosti, ou a existência de funcionários maçons na administração pública da cidade, ou ambas as coisas, foram a causa dessa situação. Entretanto, o que parecia um fim, foi um outro começo.
     Na cidade de Ronco Scrivia, Benedita abriu uma escola para jovens com as cinco companheiras e a ajuda do esposo. Adquiriu algumas casas e finalmente fundou, no dia 28 de outubro de 1838, a Congregação das Irmãs Beneditinas da Providência, escrevendo ela mesma a Regra e a Constituição, e logo a colocou sob a autoridade do Bispo de Gênova.
     A Instituição se desenvolveu rapidamente, tanto que em 1847 uma nova casa foi inaugurada em Voghera.
     Em 1851, Benedita retorna a Pavia atendendo a um pedido do Conde João Dessi, preocupado com o aumento das condições de miséria depois da guerra de 1848. Incógnito, o conde comprara o antigo mosteiro de São Gregório. Ali Benedita abriu uma nova casa para meninas, enquanto continuava a dirigir a de Ronco Scrivia. Aqueles foram anos de muito empenho por parte dela e do esposo, enquanto seus críticos continuavam a denegri-la sem sucesso. Em 1857, abre uma outra escola em São Quirico, Valpolcevera.
     No dia 21 de março de 1858, com 67 anos de idade, Benedita morre santamente em Ronco Scrivia, no dia e hora por ela previstos. Logo acorre um grande número de pessoas para uma última manifestação de estima e para chorar aquela que consideravam uma Santa. Foi sepultada no cemitério de Ronco Scrivia. Em 1944, durante a 2ª guerra mundial, um bombardeio destruiu o pequeno cemitério e as suas relíquias foram dispersas.
     Beatificada por João Paulo II em 10 de maio de 1987, o mesmo pontífice a canonizou em 19 de maio de 2002. Sua festa foi fixada em 21 de março, dia de seu falecimento.
     Benedita pode ser proposta como modelo e intercessora para as pessoas consagradas, os esposos, os jovens, os educadores e as famílias.
 

Fontes: www.vatican.va; www.santiebeati.it

Postado neste blog em 21 de março de 2011

segunda-feira, 15 de março de 2021

Santa Luísa de Marillac, Viúva e Co-Fundadora da Cia. das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo - 15 de março

          No dia de Pentecostes de 1623, na Missa solene, a Senhora Le Gras, em solteira Luísa de Marillac, ouviu uma voz interior a certificá-la de que depressa encontraria um bom diretor. De fato, no ano seguinte encontrou São Vicente de Paulo que triunfou onde todos os outros, incluindo São Francisco de Sales, tinham errado. Com efeito, São Vicente conseguiu libertá-la dos escrúpulos, obsessões, dúvidas sobre a fé e outras ideias fixas, que a tornavam infeliz.
     Luísa de Marillac nascera no dia 12 de agosto de 1591, filha natural, de mãe desconhecida. Foi adotada por Luís de Marillac, Cavaleiro e Senhor de Ferriéres-en-Brie e comandante de uma companhia do rei. Ela sofreu as consequências disso: falta de um lar carinhoso, desprezo dos parentes e, naturalmente muitos conflitos afetivos.
     Era de constituição frágil, de baixa estatura, magra, bonita, nariz afilado, olhos expressivos, boca pequena. Dotada de grande capacidade intelectual e de vontade enérgica. Era muito sensível e inclinada ao escrúpulo, à timidez, à insegurança, minuciosa e perfeccionista, muito aberta às coisas de Deus e do próximo. Sua infância e adolescência foram machucadas por acontecimentos dolorosos que marcaram profundamente, o seu ser.
     Em tenra idade, seu pai, Luís de Marillac, colocou-a no Convento de Poissy, onde recebeu uma esmerada educação, ali permanecendo enquanto ele viveu. Quando Luís de Marillac morreu, seu tutor passou a ser seu tio, Miguel de Marillac, chanceler da França. Este colocou Luísa em um lar para meninas em Paris. Nessa época ela começou a frequentar as freiras capuchinhas, Filhas da Cruz. No pensionato Luísa adquiriu conhecimentos para a vida prática como cozinhar, costurar, bordar, senso de responsabilidade e organização, enquanto sua permanência no Convento de Poissy proporcionou-lhe uma grande bagagem de piedade, de ciência e de instrução, uma educação de elite.
     Quis ser religiosa capuchinha entre as Filhas da Cruz, mas não foi aceita porque sua saúde não suportaria os rigores da penitência que caracterizava a Ordem. Em particular, fez o voto de consagrar-se a Deus, em penitência e oração.
     Seu tio, Miguel de Marillac, decidiu casá-la com um secretário dos comandantes da Rainha Mãe, Maria de Médici. Assim, em fevereiro de 1613, Luísa se casou com Antônio Le Gras e passou a ser chamada de "mademoiselle", título reservado às esposas de nobres da França. Antônio Le Gras, era tido como fadado para uma brilhante carreira, mas, de fato, arrastava uma doença de que morreria, doze anos depois do casamento. No dia 19 de outubro daquele ano nasceu-lhe um filho, Miguel. Luísa cuidou do esposo com a maior atenção, ao mesmo tempo em que educava o filho único dos dois.
     Em 1621-1622, Antônio Le Gras contraíra uma moléstia que afetou até o seu comportamento. Luísa foi boníssima para com ele. Entretanto, grandes escrúpulos e dúvidas invadem a sua alma e ela chega a pensar ser vítima de castigos de Deus. Sente-se rejeitada por todos, mesmo do próprio Deus. Densas trevas a envolvem e só no dia 4 de junho de 1623, na Igreja de são Nicolau dos Campos, receberia a célebre “luz de Pentecostes”. Libertou-se então de suas penas e incertezas e começou a descobrir ainda que não muito claramente os planos divinos a seu respeito.
     Em 1625 o marido veio a falecer, na paz, depois de muita revolta e intranquilidade.
     Quando Luísa encontrou o Padre Vicente, ela tinha 34 anos, e era uma viúva angustiada, inquieta na busca da vontade de Deus, com uma vida de oração toda estruturada em exercícios, devoções, jejuns e disciplinas. O Padre Vicente descobre as marcas que a dureza da vida havia deixado naquela mulher supersensível e sofrida. Acolheu seu sofrimento e com paciência começou a trabalhar sobre a inquietude de Luísa. Descobriu logo a rica personalidade de Luísa e a solidez de sua fé. Ele orienta sua inteligência e seu coração para os pobres. Recorre com frequência à sua colaboração para preparar roupas para os pobres, para visitá-los, solicita pequenos serviços nas confrarias e ela vai recuperando pouco a pouco a confiança em si mesma.
     Após a morte do esposo e tendo seu filho entrado no seminário, Luísa pode acolher em sua casa as primeiras jovens que vinham se colocar ao serviço dos pobres. Apreciando sua disponibilidade, seu juízo reto e seguro, seu sentido de organização e intuição feminina, o Padre Vicente faz dela sua principal colaboradora e confia-lhe a animação das Confrarias da Caridade.
     Chegando às aldeias, Luísa se informa das pessoas que pertencem à Confraria, reúne as senhoras da Caridade e dirige-lhes a palavra. Observa como funciona a Confraria, o estado financeiro das coisas, o papel de cada um dos membros, informa-se sobre a vida espiritual, visita pessoalmente os pobres, interessa-se pela instrução das (dos) jovens. Terminada a visita, ela reúne as responsáveis, dá orientação segura e envia ao Padre Vicente um relatório minucioso, com sua própria apreciação.
     No trabalho das Confrarias, o Padre Vicente intervinha quando necessário, mas deixava toda a liberdade de ação a sua colaboradora e recorria muitas vezes ao seu espírito de organização.
     Com o tempo, as necessidades aumentaram, as consequências da guerra se fazem sentir; Vicente e Luísa se interrogam sobre o futuro do serviço aos pobres. Apresenta-se uma camponesa: Margarida Naseau e, com ela, outras camponesas que seguem o seu exemplo de dedicar a vida a serviço dos pobres
     As jovens que se reúnem ao redor de Luísa de Marillac em 29 de novembro de 1633, são camponesas rudes, que não têm instrução nem mesmo elementar, a maioria não sabe ler. Luísa dá formação espiritual às jovens, ensina-as a ler, a escrever, a costurar, como cuidar dos doentes, a fazer chás caseiros, como ensinar o catecismo. Juntas refletem e enfrentam as dificuldades que aparecem nos serviços, os mais variados. Era o primeiro núcleo da nova Congregação.
     Durante 35 anos, São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac trabalharam juntos e juntos fundaram a Congregação das Irmãs da Caridade que deviam ter, dizia Vicente, “por mosteiro só as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por claustro as ruas da cidade ou as salas dos hospitais, por clausura a obediência, por grade o temor de Deus, por véu a santa modéstia”.
     “Só Deus conhece que força de ânimo ela possui”, disse São Vicente a respeito da atividade incansável de Luísa, apesar das precárias condições de saúde e de muitas atribulações. Luísa, que lhes escrevera as regras, dirigiu as Irmãs até ao fim.
     No ano de 1660 Luiza de Marillac sentiu que seu fim estava se aproximando e queria ser assistida por São Vicente. Porém ele, com 85 anos, também estava muito doente e apenas conseguiu enviar a ela uma bênção, dizendo: "Madame, ides antes de mim, espero em breve, rever-nos no céu". 
     
Santa Luiza recebeu a comunhão e deu uma bênção para as Irmãs dizendo: “Queridas irmãs, continuo pedindo a bênção de Deus para vós e a graça de perseverardes na vocação. Cuidai bastante do serviço dos pobres e vivei em grande união e cordialidade, amando umas às outras, a fim de imitardes a união de vida de Nosso Senhor. E rogai com fervor à Santíssima Virgem, para que ela seja nossa única Mãe”. Ela recebeu a unção dos enfermos na hora de sua morte, pediu para fechar as cortinas e, pouco tempo depois, suavemente, faleceu. A seu pedido, teve um funeral muito simples, tendo sido sepultada na igreja de Saint-Laurent.
     Santa Luísa de Marillac foi beatificada pelo Papa Bento XV em 9 de maio de 1920; foi canonizada por Pio XI no dia 11 de março de 1934 e declarada patrona das Obras Sociais em 1960 por João XXIII. Seu corpo foi transferido para a capela da Casa Mãe das Filhas da Caridade, em Paris, França. Sua festa é no dia 15 de março. No Brasil existe uma cidade em Minas Gerais, chamada Marillac, em homenagem à Santa que é a sua padroeira.
 
Fontes: Santos de Cada Dia, do Pe. José Leite, S.J., 3ª ed. Editorial A.O. Braga
http://www.santosebeatoscatolicos.com/
www.santiebeati.it
 

sábado, 13 de março de 2021

Beata Francisca Tréhet, Mártir na Revolução Francesa


Martirológio Romano: Em Ernée, no território de Mayenne, a Beata Francisca Tréhet, virgem da Congregação da Caridade e mártir, que se entregou com toda a diligência à instrução das crianças e aos cuidados dos doentes, e durante a Revolução Francesa foi guilhotinada, completando assim seu glorioso martírio por Cristo.
 
     Francisca nasceu em Saint-Mars-sur-la-Futale (França) em 8 de abril de 1756 no seio de uma família de agricultores.
     Professou seus votos religiosos na Congregação das irmãs da Caridade de Nossa Senhora d’Evron, uma congregação dedicada à educação das jovens e às obras de caridade. Por causa da cor cinza de seu hábito eram chamadas de “as pequenas irmãs cinzas”.
     Por volta do ano de 1783, Francisca foi enviada a Saint-Pierre-des-Landes para aí abrir uma escola paroquial. Logo pôde contar também com a ajuda de uma coirmã, a religiosa Joana Véron. Além de se dedicarem ao ensino, davam uma válida assistência aos doentes.
     Quando a Revolução Francesa eclodiu, uma lei de 17 de abril de 1791 exigia que todos os professores jurassem a Constituição Civil do Clero. Ela se recusou e perdeu sua posição como professora, mas continuou a servir como catequista e a visitar os doentes. Na escola, ela continuou a ter a valiosa cooperação da Beata Joana Véron, que seria martirizada poucos dias depois dela. Ambas foram presas no final de fevereiro de 1794.
     A Revolução Francesa em alguns momentos espalhou o terror e a violência. Apesar dos exemplos virtuosos das irmãs, seus nomes apareceram numa lista de condenados à morte por decapitação na guilhotina. As irmãs logo foram detidas pelo novo regime e enviadas a Ernée. Francisca foi enviada para a prisão e Joana para o hospital por se encontrar muito doente.
     Em 13 de março, Francisca compareceu diante da “Comissão Clemente”, revolucionária. A seção pública teve lugar em Ernée no «templo da Razão», um 23 Ventoso do ano II da República (13 de março de 1794). As acusações foram três: ter acolhido sacerdotes refratários, ter se negado a jurar fidelidade à pátria e ter alimentado e protegido aos "chouans", quer dizer, aos soldados vandeanos.
     Em sua defesa, Francisca disse que tanto revolucionários quanto monarquistas eram seus irmãos em Cristo e a todos aqueles que lhe pediam ela concedia ajuda sem acepção.
     Apesar de sua alegação, o tribunal não se convenceu e pediu que ela gritasse: “Longa vida à república!”, mas a religiosa se negou a fazê-lo. Foi então condenada à guilhotina. Tinha apenas trinta e sete anos e naquele mesmo dia subiu o patíbulo cantando a Salve Rainha. Uma semana depois, sua coirmã Joana Véron teve a mesma sorte.
     Os restos mortais das duas mártires repousam na igreja de São Pedro des-Landes. Sua beatificação ocorreu no dia 19 de junho de 1955.
 
NOTA: Ventoso, em francês Ventôse, é o nome do sexto mês do calendário republicano francês.
 
Fonte: Beata Francesca Trehet (santiebeati.it)

Beata Justina Bezzoli Francucci, Virgem beneditina - 12 de março

Martirológio Romano: Em Arezzo, na Toscana (Itália), Beata Justina Bezzoli Francucci, virgem da Ordem de São Bento e reclusa († 1319)

     Em Florença, no mosteiro beneditino de Santa Maria das Flores, em Lapo, se conserva e venera o corpo incorrupto da Beata Justina Bezzoli Francucci, aqui trazido do mosteiro do Espírito Santo de Arezzo em 1968. Desde 1938 a igreja do mosteiro é também uma paroquia. O coro das monjas é uma extensão da igreja e o centro é o Tabernáculo.
     Em 1350 as primeiras monjas ali se instalaram e em 13 de outubro daquele ano o bispo Santo Andrea Corsini consagrou o mosteiro com a Regra de Santo Agostinho e o título de Santa Maria das Flores, tornando-se a mais antiga igreja de Florença. Em 1808, as monjas tiveram que abandonar o mosteiro devido as leis de supressão das ordens religiosas. Os beneditinos depois se encarregaram dele em 1817. A urna com o corpo da Beata se encontra em uma parede que une as duas comunidades. Seu rosto pode ser visto através do vidro e parece nos convidar a dedicar um tempo adequado a oração.
     Descendente da nobre família Bezzoli Francucci, Justina nasceu em Arezzo entre 1257 e 1260. De caráter humilde e amável, cresceu adquirindo uma certa maturidade. Na casa do pai rico, na facilidade e comodidade, assimilava com a oração diária os sentimentos religiosos mais genuínos. Com frequência se privava de alimento e gostava de se retirar para rezar; sentiu-se atraída a consagrar-se a Deus, o que resultou na imediata negativa dos pais e sem apelação. Era filha única, herdeira amada de uma fortuna considerável, tinha como futuro invejável o casamento com um homem digno de sua linhagem.
     Os caminhos de Deus, entretanto, não são os caminhos dos homens: primeiro convenceu seu pai a custo de lágrimas, depois foi a vez de seu tio paterno, que também não queria se privar de sua única sobrinha. Uma grave doença de seu pai o fez refletir sobre a transitoriedade de todas as coisas e Justina obteve a sua aprovação.
     Justina tinha tão somente 12 anos de idade e esta decisão nos parece incompreensível, mas naquela época as decisões importantes eram tomadas algumas vezes nessa idade. Justina foi recebida no Mosteiro de São Marcos (que já não existe) levando somente uma imagem do Crucificado.  Deixou tudo para se dedicar à meditação da Palavra de Deus; o hábito grosseiro tomou lugar das roupas opulentas. Nas tarefas mais simples mostrava encanto em responder com obediência às necessidades da comunidade.
     Justina permaneceu no mosteiro por quatro anos, quando foi obrigada a sair com as irmãs por causa das guerras que sacudiram a cidade. Com seu crucifixo se transferiu para o Mosteiro de Todos os Santos, porém neste local não ficou por muito tempo. Chegara aos seus ouvidos que numa cela, no Castillo di Civitella (Civitella dela Ciana), vivia reclusa voluntariamente uma virgem chamada Lúcia. Compartilhar as práticas mais austeras das virtudes cristãs se converteu em seu desejo supremo.
     Com a permissão do bispo Umbertini, mudou-se para a ermida de Santa Lúcia que muito feliz a recebeu. Na pobreza extrema foram visitadas pelo pai de Justina, o qual, podemos imaginar com que angústia, tratou em vão levá-la para casa.
     A coexistência destas anacoretas durou somente uns anos, até que Lúcia adoeceu gravemente e sua jovem companheira ajudou-a até o momento de sua morte. Uma vez sozinha, Justina continuou vivendo dedicada à oração e à penitência, visivelmente aliviada pelo Esposo Celestial, que por meio de um anjo a defendeu em várias ocasiões de ataques de lobos.
     Estas e muitas privações minaram sua saúde e aos trinta e cinco anos começou a ter sérios problemas de visão. Viu-se obrigada a retornar ao mosteiro, para a alegria das irmãs, que agora viam que sua alma não era deste mundo. O mosteiro, porém, foi objeto de incursões de soldados e o bispo teve que transladá-las a um lugar mais seguro. Era o ano de 1315 e Justina voltou a mudar de casa.
     A Beata tinha uma singular devoção pela Paixão de Cristo e mesmo doente utilizava os cilícios, chegando inclusive à flagelação. Passou os últimos vinte anos de sua vida completamente cega, caindo muitas vezes em êxtase, inclusive na presença das irmãs. Morreu rezando, rodeada de suas companheiras, no dia 12 de março de 1319. Eram evidentes em seu corpo as feridas causadas por uma corrente de ferro que usou durante anos.
     As graças obtidas por sua intercessão são numerosas. Um lírio branco nasceu espontaneamente em seu túmulo. O corpo, dez anos depois de sua morte, era surpreendentemente flexível e o bispo de Arezzo ratificou a veneração de que se tornou objeto.
     Dois séculos depois de ter sido colocado em uma caixa de ferro, o corpo tornou a aparecer excepcionalmente incorrupto. Em seu caixão foi encontrada uma bandeira de guerra deixada por um capitão como um ex-voto em torno de 1384. Alguns fragmentos da bandeira foram distribuídos aos fiéis como relíquias.
     A Beata Justina é invocada especialmente pelas pessoas cegas; diante de sua urna também foram exorcizados alguns demônios. Seu culto foi confirmado pela Santa Sé em 14 de janeiro de 1891. No dia 12 de cada mês uma associação faz celebrar Missa em recordação de sua comemoração litúrgica.
 
Corpo incorrupto da Beata

Para maior informação contatar:
Mosteiro de Santa Maria del Fiore en Lapo
Via Faenza, 24750133 Florença 055/587444
Fonte: Santi e Beati
 
Postado neste blog em10 de março de 2017

terça-feira, 9 de março de 2021

Santa Francisca Romana – 9 de março

Santidade em todos os estados de vida 
     Esta santa foi exemplo de donzela católica, esposa, mãe, viúva, religiosa, e um prodígio de graça e santidade. Ainda em vida teve desvendados mistérios de além-túmulo, sendo favorecida por visões do Inferno, Purgatório e Céu, bem como pela presença visível de seu Anjo da Guarda. Recebeu também a proteção de um Arcanjo, e depois de uma Potestade.
Plinio Maria Solimeo
 
     Francisca, nascida em 1384 de uma alta família do patriciado romano, recebeu a formação católica da mãe, mas foi dirigida nas vias da santidade pelo Divino Espírito Santo. De pureza virginal, não pensava senão em consagrar-se inteiramente a Deus. Aos 12 anos fez voto de ser religiosa. Mas não era esse o desígnio de Deus, pelo menos naquele momento. E assim, aconselhada pelo diretor espiritual, teve que aceitar o matrimônio proposto por seu pai com o jovem Lourenço Ponziani, também de alta estirpe e boa disposição para a virtude.
     Apesar de sua pouca idade, a jovem esposa empenhou-se em estudar o gênio do marido, para com ele viver em perfeita harmonia conjugal. E o fez tão bem que, durante os 40 anos que durou seu casamento, jamais houve o menor desentendimento entre esposo e esposa.
     Casando-se, Francisca foi morar no palácio do marido. Lá encontrou um tesouro na pessoa de sua cunhada Vanossa, predisposta a secundá-la em tudo, na linha da virtude e do bem. As duas passaram a visitar os pobres, assistir os doentes e praticar toda espécie de obras de misericórdia. Para tal, os respectivos maridos, reconhecendo os méritos e alta virtude das esposas, davam-lhes inteira liberdade de ação.
     Assim, um dia Roma estupefata viu Francisca, a grande dama da aristocracia, arrastando pelas ruas principais da cidade um asno carregado de lenha, e ainda com um feixe sobre a cabeça, que ia distribuindo aos pobres. Também foi vista às portas das igrejas junto aos pobres, mendigando com eles para socorrer os que estavam impossibilitados de fazê-lo. Num ano de muita carestia, Francisca e Vanossa foram de porta em porta pedir esmolas para os pobres. Muitos se escandalizavam em ver duas matronas da aristocracia praticando tão modesta tarefa. Outros, pelo contrário, edificavam-se com tanta humildade e juntavam-se a elas.
     Ela converteu várias mulheres perdidas; porém, a algumas que não quiseram fazer penitência e emendar-se, empenhou-se para que fossem expulsas de Roma ou de asilos a que se tinham retirado, para que não pervertessem outras.
Formando os filhos para o Céu
     Sabendo que os filhos são dados para preencher os tronos tornados vazios no Céu pela queda dos demônios, Francisca os pediu a Deus. E teve três. Ao primeiro deu como patrono São João Batista, ao segundo São João Evangelista, e à terceira, uma menina, Santa Inês.
     Cuidando ela mesma de sua educação, preparou-os antes para a vida que não tem fim. Assim João Evangelista, que viveu apenas nove anos, progrediu tanto na virtude, que chegou a ter o dom da profecia. No momento da morte, viu São João e Santo Onofre que vinham buscá-lo.
     Tempos depois de morrer, apareceu à mãe todo resplandecente de glória, acompanhado por um jovem ainda mais brilhante, dizendo-lhe que, da parte de Deus, viria logo buscar sua irmãzinha Inês, então com cinco anos. E que Deus dava à mãe, para ajudá-la nas vicissitudes da vida, além de seu Anjo da Guarda, um Arcanjo para a proteger e iluminar no caminho da virtude.
     Francisca passou a ter a presença radiante desse Arcanjo noite e dia, de modo tal que não precisava da luz material para seus afazeres, pois a do espírito celeste lhe bastava.
Estado de continência na vida conjugal
     Como Santa Francisca viveu na tumultuada época em que Roma estava dividida em dois partidos – o dos Orsini, que lutavam em favor do Papa, e em cujo serviço Lourenço tinha alto cargo, e o dos Colonas, que apoiavam Ladislau de Nápoles – teve muito que sofrer. Seu marido foi gravemente ferido em uma das refregas e levado como prisioneiro, e seu filho como refém; teve também a casa saqueada, sendo despojada de seus bens. Como novo Jó, apenas repetia: "Deus me deu, Deus me tirou, bendito seja Ele". Mais tarde, como o patriarca, teve seus familiares e bens restituídos.
     Quando Lourenço foi gravemente ferido, Francisca tratou-o com todo amor e carinho. E aproveitou, quando este se restabeleceu, para persuadi-lo a viverem dali para frente em perfeita continência. Ele acedeu contanto que ela não o abandonasse e continuasse dirigindo sua casa. Feliz, Francisca vendeu suas joias e ricos vestidos, deu o dinheiro aos pobres e passou a andar com uma grosseira túnica sobre áspero cilício. Começou a tomar uma só refeição por dia, e ainda assim consistindo apenas em legumes insípidos. Aumentou as disciplinas e passou a dedicar mais tempo à oração.
Elaboração da Regra de sua Ordem: orientação de Apóstolos e grandes santos
     Francisca via o perigo que corriam muitas damas de Roma entregues às frivolidades e futilidades de uma sociedade decadente, na qual já se podiam perceber os inícios funestos do Renascimento. Por isso orava e chorava diante de Deus, pedindo remédio para isso. Ouviu então uma voz que lhe dizia: "Vai, trabalha, reúne-as, infunde teu espírito e o espírito de Bento, o patriarca, espírito de paz, de oração e de trabalho" (1). A serva de Deus começou então a reunir viúvas e donzelas dispostas a viver no estado de perfeição.
     No princípio formou só uma associação de mulheres piedosas dedicadas ao culto da Mãe de Deus e ao trabalho da própria santificação. Mas depois, por inspiração de Deus, surgiram as "Oblatas de São Bento". São Pedro, São Paulo, São Bento e Santa Maria Madalena apareceram-lhe diversas vezes, instruindo-a sobre os pontos da regra. "Ela a levou depois a uma tal perfeição, que se pode dizer que nela deixou a ideia mais perfeita da vida religiosa" (2).
     Quando faleceu seu marido, Francisca encaminhou o futuro do filho que lhe restava, deixando-lhe toda sua herança, e pediu admissão na congregação que fundara. Por obediência a seu confessor, aceitou o cargo de superiora. E Deus bendisse seu sacrifício dando-lhe por companheiro mais um Anjo do coro das Potestades, cuja glória era muito mais esplendorosa ainda que a do Arcanjo. Era também muito maior seu poder contra os demônios, pois com um só olhar os afugentava (3).
Vítimas de violentos ataques
     Se é verdade que a santa tinha contínuo comércio com os anjos, não é menos verdade que também o espírito infernal não lhe dava trégua, agredindo-a muitas vezes, até fisicamente. Assim, uma vez estava ela de joelhos junto a uma religiosa doente, quando o demônio a agarrou com fúria e a arrastou pelo quarto até a porta. Outra noite, estando ela em oração, tomou-a pelos cabelos e levou-a a um terraço, deixando-a pendurada sobre a via pública. Encomendou-se Francisca a Deus, e logo viu-se em sua cela.
     Numa outra ocasião, Santa Francisca acendia uma vela benta. O espírito infernal pegou a vela, atirou-a ao solo e cuspiu em cima. A santa lhe perguntou por que profanava uma coisa santa. Ele respondeu: "Porque as bênçãos da Igreja me desagradam sobremaneira".
Impressionantes visões do Inferno, Purgatório e Céu
     Santa Francisca foi favorecida com muitas visões sobre a vida do além, tendo sido levada em espírito por seu Anjo ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso celeste. Depois de testemunhar os horrores do Inferno, foi levada ao Purgatório. Sobre este lugar de expiação, diz ela: "Nele não reina nem o horror, nem a desordem, nem o desespero, nem as trevas eternas [do inferno]; lá a esperança divina difunde sua luz". E lhe foi dito que esse lugar de purificação era também chamado de `pousada de esperança'. Ela viu ali almas que sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus sofrimentos. (4)
Foi levada ao Paraíso celeste, onde compreendeu algo da essência de Deus.
     A Paixão de Cristo era sua meditação ordinária, sendo que algumas vezes sentia fisicamente as dores padecidas por Cristo. Era grande devota da Sagrada Eucaristia, sobre a qual fazia longas meditações diante do Sacrário. Na véspera de Natal de 1433, Francisca teve a dita de receber em seus braços o Divino Menino Jesus.
Falecimento e elogio ímpar de Doutor da Igreja
     Em 9 de março de 1440, conforme havia predito, a Santa entregou a alma a Deus. Contava 56 anos de idade, dos quais havia passado doze na casa paterna, quarenta no estado de matrimônio e quatro como religiosa.
     Roma chorou e exaltou aquela ilustre filha. Milagres começaram a operar-se em seu túmulo. "Quando, em 1606, estava em andamento o processo de canonização de Francisca, São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja, juntou ao seu voto favorável uma declaração que consistiu num elevado elogio da extraordinária Santa. Afirmou que tendo ela vivido primeiro em virgindade, depois, uma série de anos, em casto matrimônio, tendo suportado os incômodos da viuvez, e tendo seguido finalmente a vida de perfeição no claustro, merecia tanto mais as honras dos altares quanto mais podia ser apresentada como modelo de virtude a todas as idades e todos os estados". (5)
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Notas
1 - Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo I, p.454.
2 - Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d'après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo III, p. 314.3 - Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1947, tomo II, p. 98.
4 - Pe. F. X. Shouppe, S.J., Purgatory _ Explained by the Lives and Legends of the Saints, TAN Books and Publishers, Inc., Rockford, Illinois, USA, 1973, p. 11.
5 - Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial Apostolado da Oração, Braga.
Fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=536&mes=marco2001
 
Postado neste blog em 8 de março de 2015

domingo, 7 de março de 2021

Santas Perpétua e Felicidade, mártires - 7 de fevereiro

Sta. Perpétua, mosaico
do sec. V
          Neste dia, diz o Martirológio Romano: “Em Cartago, o natalício [para o céu] das santas mártires Perpétua e Felicidade. Como narra Santo Agostinho, Felicidade estava para dar à luz [no momento do martírio] e, segundo as leis, deveria esperar até que isso ocorresse. Gemeu de dor na ocasião do parto, mas exultou de alegria quando foi lançada às feras. Junto com elas padeceram Sátiro, Saturnino, Revocato e Secundo. Este último sucumbiu no cárcere. Todos os mais foram torturados por vários animais ferozes, e depois acabaram a golpes de espada, sob o imperador Severo”.
     Estas duas santas morreram martirizadas em Cartago (África) no dia 7 de março de 203. Perpétua era uma jovem mãe de 22 anos, que tinha um filhinho de poucos meses. Pertencia a uma nobre família muito estimada por toda a cidade. Enquanto estava na prisão, a pedido de seus companheiros mártires, foi escrevendo o diário de tudo o que ia acontecendo com eles, e que tornou-se num dos relatos mais pungentes da gloriosa luta dos mártires cristãos da Igreja primitiva.
     Felicidade era uma escrava de Perpétua. Era também muito jovem e na prisão deu à luz uma menina que depois os cristãos se encarregaram de criar muito bem. Uns escravos que foram aprisionados com elas as acompanharam em seu martírio, bem como o diácono Sáturo, que as havia instruído na religião e as havia preparado para o Batismo. Não tinham prendido Sáturo, mas ele se apresentou voluntariamente.
Sta. Felicidade, mosaico do sec V
    Os antigos documentos que narram o martírio destas duas Santas eram imensamente estimados na antiguidade e Santo Agostinho disse que eram lidos nas igrejas com grande proveito para os ouvintes. Esses documentos narram o seguinte:
     No ano 202, o imperador Severo mandou matar aqueles que continuassem a ser cristãos e não quisessem adorar os falsos deuses.
     Perpétua estava celebrando uma reunião religiosa em sua casa de Cartago, quando chegou a polícia do imperador e a levou prisioneira, junto com sua escrava, Felicidade, e os escravos Revocato, Saturnino e Segundo.
     Diz Perpétua em seu diário: "Nos lançaram no cárcere e eu fiquei consternada, porque nunca havia estado em um lugar tão escuro. O calor era insuportável e estávamos em muitas pessoas em um subterrâneo muito estreito. Me parecia morrer de calor e de asfixia, e sofria por não poder ter junto de mim meu filhinho que era tão pequeno e que necessitava muito de mim. O que mais eu pedia a Deus era que nos concedesse uma coragem muito grande para sermos capazes de sofrer e lutar por nossa Santa Religião".
     Felizmente dois diáconos católicos chegaram no dia seguinte e deram dinheiro aos carcereiros para que passassem os prisioneiros para outra habitação menos sufocante e escura que a anterior, e foram levados a uma sala aonde pelo menos entrava a luz do sol e não ficavam tão apertados e incômodos. E permitiram que o filhinho de Perpétua fosse levado até ela, pois ele estava sofrendo muito a sua falta. Ela diz em seu diário: "Desde que tive meu pequenino junto de mim aquilo não me parecia um cárcere, mas um palácio, e eu me sentia cheia de alegria. E o menino também recuperou a sua alegria e o seu vigor". As tias e a avó se encarregaram depois da criança e de sua educação.
     O chefe do governo de Cartago chamou a juízo Perpétua e seus companheiros. A noite anterior Perpétua teve uma visão na qual lhe foi dito que teriam que subir por uma escada cheia de sofrimentos, mas que no final de dolorosa escalada estaria o Paraíso Eterno os esperando. Ela narrou a visão que tivera a seus companheiros, e todos se entusiasmaram e fizeram o propósito de permanecerem firmes na Fé até o fim.
     Os primeiros a comparecer foram os escravos e o diácono. Diante das autoridades todos proclamaram que eram cristãos e que preferiam morrer a adorar aos falsos deuses.
     Em seguida, chamaram Perpétua. O juiz suplicava que deixasse a religião de Cristo e que aceitasse a religião pagã, pois assim salvaria a sua vida. E lhe recordava que ela era uma mulher jovem e de família rica. Porém Perpétua proclamou que estava resolvida a ser fiel à religião de Cristo Jesus até a morte.
     Então chegou seu pai (o único da família que não era cristão) e de joelhos lhe rogava e suplicava que não persistisse em se chamar cristã, que aceitasse a religião do imperador, que o fizesse por amor a seu pai e a seu filhinho. Ela se comoveu intensamente, porém terminou dizendo-lhe: "Pai, como se chama essa vasilha que há aí em frente?" "Uma bandeja", respondeu-lhe o pai. "Pois bem, essa vasilha deve ser chamada de bandeja, e não de xícara, ou de colher, porque é uma bandeja. E eu, que sou cristã, não posso ser chamada nem de pagã, nem de nenhuma outra religião, porque sou cristã e quero ser para sempre". E acrescenta o diário escrito por Perpétua: "Meu pai era o único de minha família que não se alegrava porque nós íamos ser mártires por Cristo".
     O juiz decretou que os três homens seriam levados ao circo e ali, diante da multidão, seriam destroçados pelas feras no dia da festa do imperador; e que as mulheres seriam amarradas diante de uma vaca furiosa para que as destroçasse.
     Havia, entretanto um inconveniente: Felicidade ia ser mãe e a lei proibia matar aquela que ia dar à luz. Dois dias antes do martírio, Felicidade deu à luz a uma menina num parto muito doloroso. Um soldado escarnecia dela por causa de suas dores: “Você está se lamentando agora; e o que será quando as feras a estiverem mordendo?” Ela respondeu cheia de fé: “Hoje sou eu que sofro, mas nesse dia sofrerá por mim Aquele por quem eu sofro”. Sua filha foi confiada a cristãs fervorosas, e assim a mãe pode sofrer o martírio. Ela desejava, sim, ser martirizada por amor a Cristo.
     Então os cristãos rezaram com fé e era permitido aos condenados à morte fazer uma ceia de despedida. Perpétua e seus companheiros converteram sua ceia final em uma Ceia Eucarística. Dois santos diáconos levaram-lhes a Comunhão e depois de rezarem e de animar-se uns aos outros, se abraçaram e se despediram com o ósculo da paz. Todos estavam animados, alegremente dispostos a entregar a vida para proclamar a sua fé em Jesus Cristo.
     Os escravos foram lançados às feras que os destroçaram, e eles derramaram assim o sangue por nossa religião. Antes de levá-los à praça os soldados queriam que os homens entrassem vestidos de sacerdotes dos falsos deuses e as mulheres vestidas de sacerdotisas das deusas dos pagãos. Porém Perpétua se opôs corajosamente e ninguém quis colocar roupas de religiões falsas.
     O diácono Sáturo havia conseguido converter um dos carcereiros, chamado Pudente, e lhe disse: "Para que vejas que Cristo sim é Deus, te anuncio que me lançarão a um urso feroz, e essa fera não me fará nenhum mal".
     E assim aconteceu: amarraram-no e aproximaram-no da jaula de um urso muito agressivo. O feroz animal não lhe quis fazer nenhum mal, mas, pelo contrário, deu uma tremenda mordida no domador que tratava de fazê-lo se lançar contra o santo diácono. Soltaram então um leopardo, que destroçou Sáturo. Quando o diácono estava moribundo, untou com seu sangue um anel e o colocou no dedo de Pudente. Ele aceitou definitivamente a fé cristã.
     Perpétua e Felicidade foram envolvidas em uma malha e colocadas no centro da praça; os algozes soltaram uma vaca bravíssima que as chifrava sem misericórdia. Perpétua unicamente se preocupava em manter as roupas arrumadas para não dar escândalo por parecer pouco coberta. Ajeitava também os cabelos para não parecer despenteada como uma pagã chorona.
     A multidão, emocionada diante da valentia destas jovens mulheres, pediu que as tirassem pela porta por onde levavam os gladiadores vitoriosos. Perpétua, como que saindo de um êxtase, perguntou: "E onde está a tal vaca que ia nos chifrar?" Porém, logo o povo cruel pediu que as trouxessem de novo para a praça e lhes cortassem a cabeça ali, diante de todos.
     As duas jovens valentes se abraçaram emocionadas e voltaram para a praça. Um golpe cortou a cabeça de Felicidade, porém o verdugo que devia matar Perpétua estava muito nervoso e errou o golpe. Ela deu um grito de dor, estendeu a cabeça sobre o cepo e indicou com a mão o local preciso onde o verdugo devia dar-lhe o golpe. Esta mulher valorosa demonstrou com este gesto que morria mártir por sua própria vontade e com toda generosidade.
     Os nomes de Felicidade e Perpétua entraram para o calendário dos mártires venerados já no quarto século em Roma. Uma magnífica basílica foi depois edificada sobre seus túmulos.
 
Fontes:
https://www.acidigital.com/
https://cruzterrasanta.com.br/
https://pt.aleteia.org/