sexta-feira, 26 de abril de 2024

Santa Franca de Piacenza, Abadessa - 26 de abril

      Franca Vitalta (1170–1218) nasceu em Piacenza (Emilia), Itália. Era filha dos condes de Vitalta. Ela nasceu em um castelo a 550 m do nível do mar. Tinha apenas sete anos quando entrou no convento beneditino de São Ciro de Piacenza para se educar.
     Aos 14 anos fez sua profissão religiosa, e, apesar de sua juventude, superava as outras religiosas em obediência, devoção e esquecimento de si mesma.
     Por ocasião da morte da abadessa, foi eleita para sucedê-la, porém a férrea disciplina imposta por ela produziu sua imediata substituição no cargo.
     Durante anos a santa teve que enfrentar calúnias, falsos testemunhos e graves provas interiores. Seu único consolo era uma jovem chamada Carencia; Franca persuadiu os pais da noviça a construir uma casa cisterciense em Montelana. Franca se tornou abadessa deste convento e manteve uma estrita norma e austeridade, porém depois de dois anos decidiu transladar suas monjas para o convento de Vallera e em seguida para Pittolo (Plectoli), em Piacenza, para não expô-las aos roubos e assaltos, bem como a falta de alimentos.
     A santa foi nomeada abadessa da nova fundação, onde reinava a austeridade e a pobreza da regra cisterciense. A abadessa não ficava satisfeita e passava noites inteiras na capela entregue à oração.
     Ao verem que a saúde da abadessa se debilitava de forma alarmante, as religiosas ordenaram que o sacristão guardasse a chave da capela; porém isto não bastou para impedir que a fervorosa superiora continuasse com suas vigílias.
     Finalmente, a santa faleceu em 25 de abril de 1218, resultado de uma febre, aos 43 anos de idade.
     Suas filhas religiosas, levando em conta a sua grande devoção por seu mosteiro, sepultaram-na na igreja do convento em Pittolo. Ali seus restos mortais foram objeto de grande veneração e mais ainda quando grandes milagres aconteceram por sua intercessão.
     Em 1273, seu culto foi confirmado pelo Papa Gregório X (1271-1276). Parece que esta confirmação foi feita verbalmente quando o Papa passou por Piacenza se dirigindo ao Concilio de Lyon.
 
Santuário de Santa Franca
     O santuário de Santa Franca de Vitalta está localizado a 1.100 metros acima do nível do mar, em Colombello, na serra de Santa Franca.
     O santuário anterior, dedicado à Virgem Maria, era a igreja interna construída no alto da montanha, onde Franca viveu por alguns anos.
     Em 1214, Franca decidiu seguir o exemplo de Carenzia Visconti, que fundou um mosteiro cisterciense feminino no topo da Montelana (antigo nome da montanha de Santa Franca). Ela recebeu o nome de abadessa do mosteiro.
     A cerca de 250 metros do prédio, ainda há uma fonte de água, onde Franca e suas freiras coletavam a água para suas necessidades diárias.
     
De acordo com a tradição, essa água tem propriedades milagrosas, tanto que é costume bebê-la, coletá-la e armazená-la como um tiro para a doença dos olhos. Toda a área circundante é um local fiel e de culto para as pessoas.
     O edifício atual é composto por uma arcada lateral, que é superada por uma cúpula octogonal. No interior há uma escultura de Santa Franca, cultuada como protetora de crianças e representada como abadessa cisterciense.
     Franca foi declarada Padroeira do Alto Vale do Arda. Desde muitos séculos ela é celebrada na montanha que é intitulada para ela (chamada 'Montelana' antes). As celebrações acontecem no primeiro e no último domingo de agosto, com uma grande festa reforçada por romarias e serviços religiosos.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Beata Erluca de Bernried, Reclusa - 19 de abril

     

     E
rluca von Bernried, também conhecida como Herluka von Epfach, (1060 - 1127) foi uma leiga alemã e defensora da reforma gregoriana. Grande parte do que se sabe de Erluka pode ser atribuída às obras de Paulo von Bernried, um padre alemão e amigo de Erluca, em sua Vita Herlucae (Vida de Herluka, composta c. 1130/1) e em partes de sua Vita Gregorii (Vida de São Gregório VII, composta c. 1128). A Beata viveu entre os séculos XI e XII.
      De saúde debilitada, graças às inúmeras doenças que a afligiram desde muito jovem, Erluca abandonou a vida no mundo para se dedicar a obras de caridade em favor das crianças, auxiliada pela Condessa Adelaide, esposa do Conde Menegoldo de Veringen.
      Com o conforto do seu diretor espiritual, o abade Guilherme de Hirschau e do seu discípulo Dietger, que mais tarde se tornou bispo de Metz, ela decidiu abraçar a vida religiosa, retirando-se por volta de 1086 para a aldeia de Epfach, às margens do rio Lech.
     Dedicada ao ascetismo, decidiu viver na pobreza voluntária, optando pelo celibato. Ali viveu durante trinta e seis anos com uma companheira, uma certa Douda, trabalhando ativamente em favor do culto de São Victerpo e pela reforma gregoriana.
      Erluca teve contatos com vários bispos e prelados.
     Em 1122, quando Paulo, o sacerdote de Resensburg, seu futuro biógrafo, decidiu tornar-se monge em Bernied, Erluca foi viver reclusa naquele mosteiro pelo resto da vida.
      Está documentado que Erluca teve diversas visões que direcionaram sua vida como mulher santa. Em uma dessas visões, Victerpo, o ex-bispo de Augsburg, apareceu para ela, bem como um Cristo Ensanguentado. O prelado informou a Erluca que o sofrimento de Cristo que ele testemunhava era causado pela imoralidade sacerdotal.
      Depois desta visão, a beata recusava-se a assistir às missas ou a aceitar o pão consagrado por aqueles padres impuros, incluindo Richard, um padre local que trabalhava em Epfach.
      Segundo o seu biógrafo, esta rejeição pública aos padres não celibatários encorajou outros a fazer o mesmo e aumentou o apoio público à reforma gregoriana.
      Ainda existem alguns testemunhos de sua correspondência com o Beato Diemut, que também levou uma vida reclusa no vizinho mosteiro de São Pedro em Wessobrunn.
      A Beata Erluca de Bernried é celebrada e lembrada no dia 19 de abril.
 
Ref.:
I.S. Robinson, 'Conversio and conversatio in the Life of Herluca of Epfach', in Conor Kostick (ed.), Itália Medieval, Mulheres Medievais e Modernas. Ensaios em Honra de Christine Meek (Dublin, 2010), pp. 172-94
A Reforma Pontifícia do Século XI: Vidas do Papa Leão IX e do Papa São Gregório VII (Manchester: Manchester University Press, 2004), 262-364
Herluka von Bernried – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Beata Erluca di Bernried (santiebeati.it)

terça-feira, 16 de abril de 2024

Beata Clara Gambacorti, Viúva, Abadessa dominicana – 17 de abril


Martirológio Romano: Em Pisa, na Toscana, Beata Clara Gambacorta que, ao perder seu esposo muito jovem, aconselhada por Santa Catarina de Siena fundou o mosteiro de São Domingos sob uma regra austera e dirigiu com prudência e caridade as Irmãs, distinguindo-se por haver perdoado o assassino de seu pai e de seus irmãos.
 
     A Beata Clara era filha de Pedro Gambacorta, que chegou a ser praticamente o senhor da República de Pisa. Clara nasceu em 1362; seu irmão, o Beato Pedro de Pisa (17 de junho), era sete anos mais velho. Pensando no futuro de sua filha, que em família era chamada de Dora, apócope de Teodora, seu pai a prometeu em casamento a Simão de Massa, rico herdeiro, embora a menina tivesse apenas 7 anos. Apesar da tenra idade, Dora costumava tirar o anel de noivado durante a missa e murmurava: “Senhor, Tu sabes que o único amor que eu quero é o Teu”.
     Quando os pais a enviaram para a casa de seu esposo, aos doze anos de idade, ela já havia começado sua vida de mortificação. Sua sogra mostrou-se amável com ela, mas quando percebeu que era demasiado generosa com os pobres, proibiu sua entrada na despensa da casa. Desejosa de praticar de algum modo a caridade, Dora se uniu a um grupo de senhoras que assistiam aos enfermos e tomou a seu encargo uma pobre mulher cancerosa.
     A vida matrimonial de Dora durou muito pouco tempo: tanto ela como seu esposo foram vítimas de uma epidemia na qual seu marido perdeu a vida. Como Dora era muito jovem, seus parentes pensaram em casá-la de novo, mas ela se opôs com toda a energia de seus 15 anos.     
     Santa Catarina de Siena exerceu uma profunda influência sobre a Beata Clara. Em 1375, por pedido de Pedro Gambacorta, Catarina foi a Pisa para colaborar nos entendimentos da região. Quando Dora conheceu Catarina era uma jovenzinha casada.    
     Pisa foi importante para Catarina: ali recebera os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda se conserva cartas de Santa Catarina a Dora. Na primeira, a Beata Clara ainda era casada. A segunda carta foi escrita em 1377, quando Dora já era viúva, para aconselhá-la a ingressar na vida religiosa. Quando em 1380 Santa Catarina faleceu, Clara tinha 18 anos e era monja dominicana.
     A carta de Catarina animou Dora: ela cortou os cabelos e distribuiu aos pobres os seus ricos vestidos, o que causou indignação de sua sogra e de suas cunhadas. Depois, com a ajuda de uma de suas criadas planejou sua entrada secreta na Ordem das Clarissas Pobres. Quando tudo estava pronto, fugiu de casa para o convento, onde recebeu imediatamente o hábito e mudou seu nome para Clara.
     No dia seguinte seus irmãos se apresentaram no convento para buscá-la; as religiosas, muito assustadas, colocaram-na pelo muro nos braços de seus irmãos, que a levaram para casa. Ali Clara ficou como prisioneira durante seis meses, porém nem fome nem ameaças conseguiram fazê-la mudar de resolução. Então seu pai mudou de atitude convencido pelo bispo, Afonso de Valdaterra, íntimo amigo da família Gambacorta e que havia sido o último diretor espiritual de Santa Brígida da Suécia.
     Pedro não só permitiu que sua filha ingressasse no convento dominicano da Santa Cruz, como também construiu o novo convento de São Domingos. (Na 2ª. Guerra Mundial o convento foi seriamente danificado e as monjas se transladaram para o Palácio Serafini, onde construíram uma nova igreja e o adaptaram como convento. Ali estão as relíquias da Beata Clara.)
     No convento Clara conheceu Maria Mancini, que também era viúva e ia alcançar um dia a honra dos altares. Os escritos de Santa Catarina de Siena exerceram profunda influência nas duas religiosas que no novo convento, fundado por Pedro Gambacorta em 1382, conseguiram estabelecer a regra com todo o fervor da primitiva observância.
     A Beata Clara foi inicialmente subpriora e em seguida priora do convento, do qual partiram muitas das santas religiosas destinadas a difundir o movimento de reforma em outras cidades da Itália. Até hoje na Itália as religiosas de clausura de São Domingos são chamadas “as irmãs de Pisa”. No convento da beata reinava a oração, o trabalho manual e o estudo. O diretor espiritual de Clara costumava repetir às religiosas: “Não se esqueçam nunca de que em nossa ordem há poucos santos que não tenham sido também sábios”.
     Durante toda sua vida Clara teve que enfrentar dificuldades econômicas, pois o convento exigia constantemente alterações e novos edifícios. Apesar disto, em uma ocasião em que chegou às suas mãos uma grande soma que podia empregar no convento, preferiu dá-la para a fundação de um hospital. Mas, as virtudes em que ela mais se distinguiu foram, sem dúvida, o senso do dever e o espírito de perdão, que praticou em grau heroico.
     Tiago Appiano, a quem Gambacorta havia ajudado sempre e em quem colocara toda sua confiança, o assassinou a traição quando este se esforçava por manter a paz na cidade. Dois de seus filhos morreram também nas mãos dos partidários o traidor. Outro dos irmãos de Clara, que conseguiu escapar, chegou a pedir refúgio no convento da beata, seguido de perto pelos inimigos.
     Mas Clara, consciente de que seu primeiro dever consistia em proteger suas filhas contra a turba, negou-se a introduzi-lo na clausura. Seu irmão morreu assassinado diante da porta do convento, e a impressão fez Clara adoecer gravemente. Entretanto, a beata perdoou Appiano de todo coração, pedindo-lhe que enviasse um prato de sua mesa para selar o perdão compartilhando sua comida. Anos mais tarde, quando a viúva e as filhas de Appiano se encontravam na miséria, Clara as recebeu no convento.
     A beata sofreu muito até o fim da vida. Recostada em seu leito de morte, com os braços estendidos, murmurava: “Meu Jesus, eis-me aqui na cruz”. Pouco antes de morrer, um radiante sorriso iluminou seu rosto e a beata abençoou suas filhas presentes e ausentes. Era o dia 17 de abril de 1420; tinha, ao morrer, 57 anos. Seu culto foi confirmado em 1830 pelo Papa Pio VIII.
     Uma religiosa, contemporânea da beata, escreveu sua biografia em italiano; na Acta Sanctorum, abril, vol. II, se encontra traduzida para o latim. Algumas cartas de Santa Catarina de Siena também foram publicadas. Ver M. C. Ganay, Les Bienheureuses Dominicaines (1913), pp. 193- 238; e Procter, Lives of the Dominican Saints, pp. 96-100. A biografia mais completa é a de Taurisano, Catalogus hagiographicus O.P., p. 34.
 
Fonte: dominicasorihuela.org  
Beata Chiara Gambacorti (santiebeati.it)
 

domingo, 14 de abril de 2024

Santa Liduina de Schiedam, Virgem, Vítima Expiatória - 14 de abril


Padroeira dos doentes incuráveis, dos patinadores e esquiadores
 
     A Igreja celebra hoje uma santa dos Países Baixos. Como vítima expiatória, ela viveria por mais de 38 anos atingida por quase todas as moléstias imagináveis em meio à extrema miséria. Tinha constantes visões de Nosso Senhor, do Paraíso, do Purgatório e do Inferno. Na época em que ela viveu toda a Cristandade gemia sob o peso e a confusão do Grande Cisma.
     Liduina (ou Ludovina, Ludwina, Lidwina) nasceu no dia 18 de março de 1380, em uma família materialmente pobre, mas riquíssima na religiosidade e honestíssima.
     Liduina era muito vivaz; desde criança lhe notavam o cunho de profunda religiosidade e uma admirável devoção a Maria Santíssima. Sendo belíssima, antes dos 15 anos de idade recebeu muitas propostas de casamento, mas por amor a Jesus, recusou a todas para ser fiel a Deus. Ela descobriu o dom da virgindade, decidindo-se pelo celibato muito cedo.
     Liduína herdou este modo de vida santo de seus pais. Desde criança, ela ajuntava roupas e alimentos para dá-los aos doentes abandonados e aos pobres. Seus pais apoiavam e incentivavam o amor demonstrado por ela. Sua vida corria de forma normal até ela completar quinze anos.
     No dia 2 de fevereiro de 1395, festa de Nossa Senhora das Candeias, acedendo ao convite das companheiras, com elas dirigiu-se ao local de patinação, divertimento muito apreciado na região. Ali sofreu um acidente no gelo: quando desciam uma colina cheia de neve, um de seus amigos se chocou acidentalmente contra ela. O acidente a feriu violentamente. Fraturou sua coluna e lhe causou graves lesões internas. Levaram-na para casa e lá, ela recebeu todo o tratamento médico possível. Numa luta difícil pela vida, ela foi vencendo complicações e outras doenças resultantes do acidente.
     O tratamento médico, muito doloroso, não conseguiu aliviar seu sofrimento e, com apenas 15 anos, ficou praticamente paralisada. Depois de todo esforço dos médicos, eles concluíram que a cura de sua coluna não seria possível e que ela passaria todo o resto de sua vida numa cama, impossibilitada por uma tetraplegia.
     Tomando consciência de seu futuro triste e totalmente dependente dos outros, Liduína começou a entrar em desespero. Estava quase mergulhando num caminho sem volta quando o pároco da igreja, Pe. João Pot, foi visitá-la. A partir das suas visitas Santa Liduína foi encontrando uma razão de ser e de viver em seu leito de sofrimentos.
     Com a ajuda do Pe. Pot, Santa Liduina foi encontrando um novo sentido de vida dentro desta nova situação em que se encontrava. Em diálogos serenos e cheios de paz, o Pe. Pot levava a adolescente Liduina a recordar e compreender que o sofrimento pode ser salvador quando pedimos a Deus que ele seja unido aos sofrimentos de Cristo. Santa Liduina, com apenas quinze anos, compreendeu que "Deus só poda a árvore que mais gosta, para que produza mais frutos”. 
     O Pe. Pot pendurou um crucifixo diante do leito de Liduina e pediu que ela meditasse no sofrimento de Jesus. “Se Jesus sofreu tão terríveis sofrimentos, dizia ele, foi também para nos ensinar que o sofrimento nos leva à glória da vida eterna”. Ela se uniu à cruz gloriosa de Nosso Senhor e deixou-se instruir pela ciência da Cruz.
     Para ter certeza de que estava no caminho espiritual correto, junto com Pe. Pot e outras testemunhas, ela pediu a Deus que desse um sinal de confirmação. E o Senhor deu: no mesmo instante apareceu uma hóstia brilhante sobre sua testa. Todos os presentes viram e testemunharam.
     Em seu leito de sofrimentos, Santa Liduína recebeu dons em favor dos outros. Deus lhe deu o dom da profecia e o dom da cura. Ela rezava pelos enfermos e muito ficavam curados por sua oração. Deus também a usava para proferir palavras proféticas para pessoas, para a comunidade e para a Igreja. Assim, ela se tornou uma luz na vida de muitos fiéis. Entretanto, era incompreendida por muitos, foi acusada de mentirosa e de ser castigada por Deus. E não faltava quem atribuísse seu estado à influência diabólica. Liduina deu a mesma resposta que Jesus deu no alto da cruz: a do amor e do perdão.
     Talvez o pior de todos os seus sofrimentos foi a perseguição que sofreu de alguns membros do clero que lhe negavam os sacramentos. Um padre caluniou-a. Profeticamente, a Santa advertiu-o de sua morte iminente e disse que se ele não se arrependesse de seu hábito de roubar e não fizesse a restituição adequada, ele seria condenado. Ele "morreu com espuma em seus lábios num acesso de raiva contra a Santa".
     Pela paciência angélica e heroica alcançou a conversão de não poucos pecadores que, impressionados pelos sofrimentos dela e por sua admirável conformidade, abandonaram o vício e voltaram à graça de Deus.
     
Depois de doze anos no leito, Santa Liduína passou a experimentar êxtases espirituais. Nesses momentos, ela recebia palavras do Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Palavras de alertas, de conforto e de admoestações para os fiéis. Seu Anjo da Guarda com frequência a visitava e a confortava, mostrando-lhe as delícias do céu e os horrores do inferno. Jesus Cristo e Maria Santíssima também se dignaram aparecer para ela. Se pudesse ter terminado com seu sofrimento através de uma única oração, ela não o teria feito.
     Em 1421 os magistrados de Schiedam declararam que Liduina "estava há 7 anos sem comer nem beber". Recebia como alimento Jesus Eucarístico.
     Sua casa era visitada por pessoas vindas das cidades vizinhas, atraídas pelas notícias dos milagres. Depois vieram de Rotterdam, das Flandres, da Alemanha e por fim, da Inglaterra. Todos vinham vê-la, porque ela era o milagre! Liduina a todos acolhia: escutava, falava, sofria, aconselhava e eles deixavam sua casa como que saindo de uma festa. E ela sem cessar oferecia a Deus suas dores para alcançar a conversão dos pecadores e o alívio das almas do purgatório.
     Os últimos sete meses de sua vida foram de grande sofrimento. Seu corpo ficou reduzido a apenas um punhado de ossos e uma voz baixa e suave que rezava sem cessar. No dia 14 de abril de 1433, Santa Liduína entregou sua alma a Deus na serenidade e na paz. Antes de falecer, pediu que sua casa fosse transformada num hospital para os doentes incuráveis e os pobres. Seu pedido foi realizado. O corpo da Santa, tão maltratado e desfigurado pelas moléstias, depois da morte retomou a formosura juvenil.
     Durante sua vida ela já vinha sendo venerada como santa. Um ano após a sua morte a prefeitura de Schiedam construiu uma capela com um altar sobre seu túmulo no cemitério de São João. Muitos milagres foram atribuídos a seus restos mortais.
     Em 1616, por ordem do Arquiduque Alberto (na época a região pertencia aos Wittelsbach da Baviera) as suas relíquias foram transferidas para Bruxelas e guardadas no convento das carmelitas daquela cidade. Uma parte das relíquias foi devolvida para Schiedam em 1891, e são veneradas até o dia de hoje na Igreja de Nossa Senhora da Visitação.
     Em 1890 o Papa Leão XIII aprovou o culto em sua honra, sendo fixado o dia da celebração em 14 de abril. Santa Liduina é a patrona dos patinadores, dos doentes, de muitas igrejas e hospitais.
Livro sobre a Santa
escrito em 1498
     Diante da vida de Santa Liduina e de outras almas inocentes e sacrificadas, poderíamos nos perguntar: - Por que tantos sofrimentos? A resposta dá-nos São Paulo Apóstolo: - "Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo místico, que é a Igreja" (Col. 1, 24). A resposta é decisiva e a nós compete compreendê-la e praticá-la.
     Vendo a sociedade moderna imersa na corrupção e na decadência moral, nós desejaríamos descobrir se ainda existem vítimas expiatórias que com sua contínua mortificação retêm a mão de Deus que castiga e alcançam graças e bênçãos imerecidas para um mundo pecaminoso. Certamente nunca houve uma época que mais precisasse delas!
 
Oração a Santa Liduína
     “Deus Pai de Bondade, perdoe-nos pela nossa fraqueza e desespero nos momentos da dor. Concedei-nos, pelas preces de Santa Liduina, que soube manter a serenidade durante sua enfermidade, a paciência para enfrentar com coragem e paz as dores e as tristezas. Por Cristo Nosso Senhor. Amém”
     Santa Liduína, rogai por nós!

quarta-feira, 27 de março de 2024

Beata Joana Maria de Maillé, Viúva, Terceira Franciscana – 28 de março

    
     Relutante em se casar aos 16 anos, viúva com um pouco mais de 30, expulsa de casa pelos parentes do marido, nos restantes 50 anos de sua vida foi obrigada a viver sem abrigo. Tantos percalços estão concentrados na vida da Beata Joana Maria de Maillé que nasceu rica e mimada no Castelo de La Roche, perto de Saint-Quentin, Touraine, em 14 de abril de 1331. Seus pais eram o Barão de Maillé Hardoin e Joana, filha dos Duques de Montbazon.
     Sua família se destacava pela devoção. Ela cresceu sob a orientação espiritual de um franciscano, mostrando uma particular devoção a Maria. Dedicava-se a orações prolongadas e fez precocemente o voto de virgindade. Aos onze anos, no dia de Natal, pela primeira vez teve um êxtase: Maria Santíssima lhe apareceu segurando em seus braços o Menino Jesus. Uma doença que quase a levou à morte serviu para desprendê-la mais e mais da terra e torná-la mais próxima de Deus.
     Na idade de dezesseis anos, aparece no cenário de sua vida um parente da mãe que se tornou seu tutor, o que sugere que os pais morreram prematuramente. O tutor combina, de acordo com o costume da época, o casamento de Joana com o Barão Roberto II de Sillé, um bom jovem, não muito mais velho do que ela, seu companheiro de brincadeiras na infância. E isto apesar de estar ciente da inclinação de Joana para a vida religiosa e de seu voto de castidade. Portanto, é um casamento contra a vontade da jovem.
     Providencialmente, o tutor morreu repentinamente na manhã do dia do casamento, e a impressão no noivo foi tão grande, que propôs a Joana viverem em perfeita continência, isto é, como irmão e irmã. Seu consentimento é imediato, já que estava preparada para isto pelo seu voto de virgindade.
     Apesar das premissas, o casamento funcionou e bem: como base da união eles colocaram o Evangelho, e viveram-no plenamente, resultando em muitas boas obras, como: adotar algumas crianças abandonadas, alimentar e cuidar dos pobres, ajudar os empestados. Na verdade, tinham muito que fazer. Nunca se viu tanto movimento no castelo desde que se espalhou a notícia de o casal ser extremamente caridoso.
     E pensar que não faltavam problemas para eles, como quando Roberto teve que ir para a guerra (estamos na época da Guerra dos Cem Anos), foi ferido e preso pelos britânicos. Para libertá-lo Joana pagou um resgate elevado, o que afetou fortemente o patrimônio do casal. No entanto, eles não perderam a fé, e uma vez instalados, marido e mulher, lado a lado, primeiro tratam dos contagiados pela peste negra, depois, dos leprosos.
     Roberto morreu em 1362 e Joana, viúva aos 30 anos, vê toda a família de seu marido se voltar contra ela. A principal acusação: ter esbanjado a fortuna da família. Assim, ela foi expulsa do Castelo de Silly e ficou sem casa, sem um tostão, forçada a viver da caridade. Mas, mesmo na rua, os parentes ricos continuavam a persegui-la: enviavam seus serviçais para lançar-lhe insultos quando ela passava, porque não queriam rebaixar-se para fazê-lo pessoalmente.
      Permaneceu em Tours e foi morar no hospital da região, onde se dedicou à oração e aos cuidados com os doentes. Vestia uma túnica grosseira e áspera, como o hábito dos seus amados franciscanos, cuja espiritualidade vivia intensamente, até o dia em que pôde se tornar terciária. Diante do arcebispo de Tours fez seus votos perpétuos de castidade, determinada a levar uma vida inteiramente dedicada ao serviço de irmãos pobres, doentes e necessitados, como haviam feito os primeiros franciscanos da Ordem Terceira.
     No entanto, em virtude de alguns reveses, acabou retirando-se para o eremitério de Planche de Vaux, onde começou a levar uma vida eremítica, na solidão.
Em 1386, forçada a voltar a Tours, devido à precária condição de sua saúde, foi morar no convento dos Cordígeros, nome popular dos franciscanos, e colocou-se sob a direção espiritual do Padre Martinho de Bois Gaultier. Era surpreendente o respeito despertado por Joana Maria, pois todos aqueles que anteriormente haviam se divertido, humilhando-a, agora, no entanto, acorriam a ela para pedir conselhos.
     Ela gozava de várias aparições da Virgem Maria, de São Francisco e de Santo Ivo, o qual recomendou que ela ingressasse na Ordem Terceira de São Francisco.
     Joana sofria e, com um amor sem limites, não tinha um mínimo de ressentimento. E para sabermos onde ela encontrava tal força e tanta bondade, olhemos para suas longas horas de oração, sua grande penitência, seus sacrifícios. Escolheu para vestir uma túnica grosseira e rude, muito semelhante à roupa de seus amados franciscanos, de cuja intensa espiritualidade vive.
     Continuou a fazer caridade com os doentes e os prisioneiros condenados à morte, se não mais com dinheiro, com a sua presença e seus humildes serviços, consolando-os quando não podia fazer nada melhor, e intercedendo por sua libertação quando atingiu popularidade e pode usá-la em proveito do próximo.
     Devido a sua reputação como uma mulher de Deus ter se espalhado pela França, muitos a procuravam pedindo conselhos, e entre aqueles que bateram à sua porta havia também alguns daqueles que a tinham insultado antigamente e que ela recebe com amor e paciência.
     O rei de França, Carlos VI, que estava em Tours, foi visitar a penitente famosa que lhe pediu para libertar alguns prisioneiros e dar a outros a ajuda de um capelão.
     Em 1395, Joana mudou-se para Paris onde se encontrou outra vez com o rei da França, Carlos VI e sua esposa, Isabel da Baviera. Ela aproveitou a oportunidade para criticar o luxo da corte e a vida licenciosa dos cortesãos. Em Paris, ela visitou a Saint-Chapelle para venerar as relíquias da Paixão de Cristo.
     A Beata rezava e trabalhava pela extinção do Cisma do Ocidente
     Apesar da frágil saúde e das dificuldades de sua vida penitente, Joana atingiu a idade de 82 anos e morreu em 28 de março de 1414 cercada de uma sólida reputação de santidade e foi sepultada na igreja franciscana. Infelizmente o seu túmulo foi profanado pelos calvinistas nas guerras de religião.
     Sua fama de santidade era tão difundida, que os fiéis a veneravam espontaneamente. Como resultado, em apenas 12 meses foi instaurado o processo diocesano informativo para sua canonização. Mas, mesmo após a morte Joana tem que esperar: sua beatificação só ocorreu muito mais tarde, em 1871, pelo Papa Pio IX.
 
Aparição de Santo Ivo a Beata Joana Maria de Maillé
     A Beata relatou uma visão de Santo Ivo (*) em uma época difícil de sua vida. A jovem baronesa tinha ficado viúva e fora expulsa do seu castelo pelos parentes, que alegavam que ela tinha encorajado a excessiva caridade de seu esposo, em detrimento do novo herdeiro. Após ser maltratada, inclusive pelo serviçal a quem tinha dado refúgio, ela retornou a sua família em Tours.
     A aparição é contada por dois historiadores da Ordem Terceira. Santo Ivo “aconselhou-a a deixar o mundo e a tomar o hábito que ele estava usando”. Outro biógrafo diz: “Se vós deixardes o mundo, gozareis, mesmo aqui na Terra, as alegrias do Paraíso”.
     Os mesmos autores especulam se Joana não hesitou diante da perspectiva de renunciar a tudo. “Pobre pequena baronesa! Ela ficou amedrontada diante da prometida liberdade da pobreza e acreditou que poderia desfrutar da paz no último refúgio, seu lar. Mas a vontade de Deus era outra”.
     Joana deve mesmo ter hesitado, pois somente depois de uma visão de Nossa Senhora, que repetiu o mesmo conselho, é que ela tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco.
 
(*) Santo Ivo
     Nasceu em 17 de outubro de 1253, perto de Treguier, na baixa Bretanha, França. Seu nome, Yves Hélory, (Helori ou Heloury) era filho do lorde Hélory de Kermartin e de Azo Du Kenquis.  Era de família da pequena nobreza, com educação apurada e cristã.
     Em 1267 com 14 anos de idade, na Universidade de Paris, estudou teologia, tendo a oportunidade de ser aluno do grande e famoso Santo Tomás de Aquino. Participou com São Boaventura de várias conferências aprendendo o espírito franciscano, depois foi para Orléans em 1277, onde se especializou em Direito Civil e Direito Canônico, voltando posteriormente para a Bretanha.
     Foi conselheiro jurídico e juiz eclesiástico, trabalhando como juiz episcopal em 1280, na arquidiocese de Rennes, cidade capital de Ducado da Bretanha por quatro anos, depois volta para Tréguier. Julgava todo tipo de litígio, contratos, heranças, casos matrimoniais, menos os processos criminais.
     Ordenado Sacerdote a convite de seu Bispo, continuou a trabalhar como advogado e juiz, multiplicando suas atividades, pois naquele tempo ainda era permitido várias atividades para o sacerdote, e muitas pessoas recorriam a ele. Obteve o título de "Advogado dos Pobres" por sua intransigente defesa dos menos favorecidos, construindo até um hospital onde ajudava a cuidar dos doentes pessoalmente, pois era um Frade Franciscano.
     Passava a noite em vigília alimentando-se apenas de pão e água. Essas noites ele passava em estudo e orações, mas também saía à procura dos mais necessitados para pregar, orientar, ajudar com seu dinheiro os mais pobres. Com isso, Ivo conseguia o respeito e a admiração de todos.
     Santo Ivo de Kermartin (como também era conhecido), morreu aos 50 anos de causas naturais em 19 de maio de 1303. Está sepultado na Catedral de Tréguier, onde é objeto de devoção dos fiéis até os dias de hoje.
     No ano de 1347, o Papa Clemente VI, com a solene Bula de 19 de maio, assinada em Avignon, proclama Ivo inscrito no catálogo dos Santos e confessores, sendo venerado como Santo da Igreja Católica. Sua festa é no dia 19 de maio.

Fonte: Cecily Hallack e Peter F. Anson, em “Estes fizeram a paz: Estudos dos Santos e Beatos da Ordem Terceira de São Francisco”, cap. VI, p. 152-3
https://franciscanos.org.br/
Beata Giovanna Maria de Maillé (santiebeati.it)

segunda-feira, 25 de março de 2024

Beata Maria Serafina do Sagrado Coração, Fundadora - 24 de março

     
     Clotilde Micheli nasceu em Imer (Trento) no dia 11 de setembro de 1849. Seus pais eram profundamente católicos. Com 3 anos, como era uso então, recebeu o Sacramento da Crisma em Fiera di Primiero, do bispo-príncipe de Trento Mons. Tschiderer. Aos 10 anos recebeu a Primeira Comunhão.
     No dia 2 de agosto de 1867, com 18 anos, quando estava em oração na igreja de Imer, Nossa Senhora manifestou-lhe que era a vontade de Deus que fosse fundado um instituto religioso com a finalidade especifica de adorar a Santíssima Trindade, com especial devoção a Nossa Senhora dos Anjos, estes modelos de oração e de serviço.
     Seguindo os conselhos de uma senhora sábia e prudente, Constança Piazza, Clotilde dirigiu-se para Veneza para se aconselhar com Mons. Domenico Agostini, futuro patriarca daquela cidade, que a aconselhou a iniciar a obra desejada por Deus, começando por redigir a Regra do Instituto. Mas temendo não conseguir levar adiante o projeto, Clotilde retornou a Imer.
     Em 1867, se transferiu para Pádua, onde permaneceu por nove anos, sendo dirigida por Mons. Ângelo Piacentini, professor do Seminário local, buscando compreender melhor a mensagem recebida.
     Com a morte de Mons. Piacentini, em 1876, Clotilde mudou-se para Castellavazzo, onde o arcipreste Jerônimo Barpi, conhecedor das intenções da jovem, colocou à sua disposição um velho convento para a nova fundação.
     Em 1878, para fugir de um casamento combinado, Clotilde vai para a Alemanha para onde seus pais tinham ido para trabalhar. Ali permaneceu por sete anos, de 1878 a 1885, trabalhando como enfermeira no Hospital das Irmãs Elisabetanas e tornando-se notável por sua caridade e delicadeza com os enfermos.
     Depois da morte da mãe em 1882 e do pai em 1885, decidiu deixar a Alemanha e voltar para Imer, sua terra natal.
     Dois anos depois, aos 38 anos, Clotilde e sua prima Judite, iniciam a pé uma peregrinação a Roma, fazendo visitas a vários santuários marianos com devoção e espírito de penitência, sempre em busca da vontade de Deus acerca da fundação idealizada. 
     Em agosto chegaram a Roma e se hospedaram nas Irmãs de Caridade Filhas da Imaculada, fundação de Maria Fabiano. A fundadora, conhecendo Clotilde mais profundamente, convenceu-a a tomar o hábito de sua fundação nascente, prometendo deixá-la livre se o seu plano juvenil se concretizasse.
     Clotilde adotou o nome de Irmã Anunciada e permaneceu naquela fundação até o início de 1891, ocupando inclusive o cargo de superiora de 1888 a 1891 no convento de Sgurgola de Anagni.
     Em 1891, Clotilde vai para Caserta, atendendo ao convite do Pe. Francisco Fusco de Trani, franciscano conventual, que queria propor a ela a realização de uma fundação idealizada pelo bispo Mons. Scotti, mas ela constatou que o projeto do prelado não concordava com o que lhe parecia ser a vontade de Deus.
     Depois de permanecer em Caserta como hóspede de uma família que a sustentava, Clotilde mudou-se para Casolla, com duas jovens que a ela tinham se unido. Alguns meses depois, o bispo de Caserta, Mons. de Rossi, príncipe de Castelpetroso, autorizou a vestição religiosa do primeiro grupo de cinco irmãs.
     No dia 28 de junho de 1891, com a presença do Pe. Fusco, a nova instituição adotou o nome de Irmãs dos Anjos, Adoradoras da Santíssima Trindade. Clotilde Micheli, a fundadora, tinha 42 anos; ela adotou então o nome de Irmã Maria Serafina do Sagrado Coração.
     Um primeiro núcleo de irmãs foi enviado para dirigir um orfanato em Santa Maria Capua Vetere (Caserta), o qual se tornou a primeira Casa do Instituto, seguido de outras obras voltadas ao serviço da infância e da juventude abandonada.
     A partir do fim de 1895, iniciou-se para Madre Serafina um período de sofrimentos físicos. Após uma cirurgia muito delicada, solicitada pelo próprio bispo de Caserta, sua debilidade era visível. Neste tempo, depois de vários problemas, foi aberta a Casa de Faicchio (Benevento), em junho de 1899. Esta casa se tornará o Instituto de formação da Congregação.
     Madre Serafina empenhava-se em realizar outras obras, mas a fragilidade da saúde a constrange a não mais sair de Faicchio.
     Como quase todas as fundadoras de Congregações religiosas, ela também teve muito que sofrer moralmente pela incompreensão até no interior de seu Instituto, e no dia 24 de março de 1911, consumida pelos sofrimentos físicos, faleceu na Casa de Faicchio, onde foi sepultada.
     As Irmãs dos Anjos introduziram a causa de sua beatificação na Santa Sé em 9 de julho de 1990. A mensagem da Virgem no longínquo ano de 1867 a acompanhou por toda a vida e se difundiu na sua Congregação como um dom do Espírito Santo: “Como os Anjos adorem a Trindade e sereis na terra como eles são nos céus”.
     Madre Serafina foi beatificada na diocese de Cerreto Sannita, província de Benevento, em 28 de maio de 2011
 
A Beata Maria Serafina e a visão de Lutero no inferno

     Em 10 de novembro de 1883, a Beata passou por Eisleben, na Saxônia, cidade natal de Lutero. Naquele dia se festejava o quarto centenário do nascimento do grande herege que dividiu em duas a Europa e a Igreja. As ruas estavam lotadas, as varandas enfeitadas com bandeiras. Entre as numerosas autoridades presentes aguardava-se, a qualquer momento, a chegada do imperador Guilherme I, que presidiria a celebração solene.
     A futura beata, embora notasse o grande tumulto, não estava interessada em saber a razão para aquele entusiasmo inusitado: seu único desejo era procurar uma igreja para fazer uma visita a Jesus Sacramentado.
     Depois de caminhar por algum tempo, finalmente encontrou uma, mas as portas estavam fechadas. Então ela se ajoelhou na escadaria de acesso para fazer as suas orações. Sendo noite, não havia percebido que não era uma igreja católica, mas protestante. Enquanto rezava, o Anjo da Guarda lhe apareceu e disse: “Levanta-te, pois esta é uma igreja protestante”. E acrescentou: “Mas eu quero fazer-te ver o local onde Martinho Lutero foi condenado e a pena que sofreu em castigo do seu orgulho”.
     Depois destas palavras, a santa religiosa viu uma horrível voragem de fogo, na qual era cruelmente atormentado um número incalculável de almas. No fundo deste precipício havia um homem, Martinho Lutero, que se distinguia dos demais: estava cercado por demônios que o obrigavam a se ajoelhar e todos, munidos de martelos, se esforçavam em vão para fincar em sua cabeça um grande prego.
     A Irmã Serafina ficou horrorizada com o que viu e pensou: “se o povo em festa visse esta cena dramática, certamente não tributaria honra, recordações, comemorações e festejos para um tal personagem”. 
     Desde então, Irmã Serafina passou a exortar as irmãs de sua congregação a viverem a humildade e o esquecimento de si em vista dos outros. Ela estava convencida que Martinho Lutero foi condenado ao Inferno, sobretudo por causa do primeiro pecado capital: o orgulho. Esse pecado o levou a voltar-se contra a Igreja Católica e gerar uma divisão em toda a Europa.
     O orgulho o fez cair em pecado, conduziu-o à rebelião aberta contra a Igreja Católica Romana. A sua conduta, a sua postura para com a Igreja e a sua pregação foram determinantes para enganar e levar muitas almas superficiais e incautas à ruína eterna.  [...]
 
Cf. Stanzione, Pe. Marcello: Futura beata viu Lutero no inferno. [tradução do site http://fratresinunum.com]
 

quarta-feira, 20 de março de 2024

Beata Joana Véron, Virgem e mártir de 1794 - 20 de março

 
   
Joana Véron nasceu em Quelaines no dia 6 de agosto de 1766. Ela professou seus votos religiosos na Congregação das Irmãs da Caridade de Nossa Senhora de Evron, dedicada à educação de jovens e às várias obras de caridade. Por seu característico hábito cinza as irmãs eram conhecidas como "as irmãzinhas cinza".
     Ela foi enviada para Saint-Pierre-des-Landes para auxiliar Irmã Francisca Tréhet na gestão da escola paroquial fundada por ela para o ensino e também para ajudar os doentes. Joana se destacou por sua ternura para com o próximo, sua bondade e caridade.
     Se avizinhavam, porém, tempos nada tranquilos para a Igreja e para toda a nação francesa. Com o advento da Revolução, apesar de não haver reclamações ou queixas contra as duas Irmãs, no entanto elas foram colocadas em uma lista de pessoas condenadas à guilhotina, para serem depois presas entre o final de fevereiro e o início de março de 1794. Ambas foram detidas em Ernée, Irmã Francisca foi para a prisão, enquanto a Irmã Joana foi levada para o hospital, pois estava gravemente enferma.
     Em 13 de março a primeira foi julgada e morta, e sete dias depois Joana Véron foi finalmente levada ao tribunal em uma cadeira de rodas. Ali então foi pedido que ela gritasse: "Longa vida à República!", mas a religiosa se recusou a fazê-lo e foi então definitivamente condenada à guilhotina. O veredicto elaborado pela comissão a acusou de ter "escondido padres refratários e alimentado e protegido os revoltosos Vandeanos".
     A sentença trágica foi executada no mesmo dia e Joana teve que ser transportada em uma maca até o cadafalso: ela tinha apenas 28 anos. Seus restos mortais, juntamente com os da Irmã Francisca Tréhet, desde 1814 são venerados na Igreja de St-Pierre-des-Landes. Ambas foram beatificadas em 19 de junho de 1955, juntamente com outros mártires da Diocese de Laval.
http://nominis.cef.fr/contenus/saint/10196/Bienheureuse-Jeanne-Veron.html
Blessed Jeanne Veron
Bienheureuse Jeanne Véron (cef.fr)

quinta-feira, 14 de março de 2024

Santa Matilde da Alemanha, Rainha, Viúva – 14 de março


Rainha, mãe de imperador, de reis e de santo, ilustrou o trono com suas singulares virtudes
 
 
     Nosso Divino Redentor afirmou que é muito difícil um rico entrar no reino dos Céus (Mt 19, 23). Mas não disse que é impossível. A dificuldade está em que, na prosperidade e na abundância, encontra-se mais dificuldade para desprender-se das coisas da Terra a fim de pensar nas do Céu. Entretanto, um rico pode e deve santificar-se, utilizando adequadamente os bens que a Providência põe em suas mãos.
     Nas vidas dos santos encontramos muitos exemplos disso. Com efeito, entre os santos canonizados figuram imperadores, reis, príncipes e muitos leigos de projeção, que utilizaram suas riquezas para cumprir os preceitos evangélicos. Um exemplo é Santa Matilde, rainha da Alemanha, notável por seu amor a Deus, que a levava a amar também os pobres e os necessitados. Sua festa se comemora no dia 14. 
Educação esmerada e matrimônio modelar
     Santa Matilde nasceu em Engern, na Westfália, por volta do ano 895. Era filha do conde Dietrich, da Saxônia, e da condessa Reinhilde, da Dinamarca.
     Ainda pequena, foi entregue para ser educada por uma das avós, que tinha o mesmo nome e que depois de enviuvar-se entrara para o mosteiro de Erfurt, do qual se tornara abadessa.
     Destinada ao trono ducal, Matilde casou-se em 909 com Henrique, o Passarinheiro, filho do Duque da Saxônia. O casal teve cinco filhos: Oton I, que foi Imperador da Alemanha; Henrique, duque da Baviera; Bruno, o Grande, arcebispo de Colônia e duque da Lorena, também santo; Gerberga, que desposou o duque Giselberto da Lorena e, morto este, Luís IV, da França; e Edwiges, que se casou com Hugo, o Grande, conde de Paris, e foi mãe de Hugo Capeto, rei francês fundador da dinastia dos Capetos.
     Os biógrafos de Santa Matilde ressaltam a harmonia perfeita e a identidade de cogitações existentes entre ela e seu esposo: “Os dois foram afortunados e mereceram os louvores dos povos. Em ambos reinava o mesmo amor a Cristo, uma mesma união para o bem, uma vontade igual para a virtude, a mesma compaixão para com os súditos, e o mesmo afeto entranhável para com os desgraçados”. (1)
     Ambos se dedicavam a toda sorte de obras de misericórdia, à construção de hospitais e mosteiros, e à propagação do Evangelho pelos reinos vizinhos ainda pagãos. Zelavam para que as leis antigas que julgavam boas fossem observadas no ducado e depois no reino, e procuravam fazer outras novas que favorecessem seus súditos.
     Em 912, sendo Henrique, o Passarinheiro, o mais velho dos filhos vivos, sucedeu ao pai Oton I como Duque da Saxônia, com o nome de Henrique I; e, em 918, a Conrado I como rei da Alemanha. Alguns hagiógrafos dão a Conrado o título de Imperador; portanto, Henrique também o seria. Por isso atribuem a Santa Matilde, sua esposa, o título de Imperatriz. Entretanto, isso historicamente não é correto.
     Como rainha, Santa Matilde fez-se a mãe de todos, especialmente dos pobres e desfavorecidos. Interessava-se muito pelos prisioneiros, e àqueles que o eram por dívidas, pagava seus débitos, obtendo assim sua liberdade. Todos os pobres, peregrinos e necessitados de toda ordem encontravam nela sua protetora. A rainha santa exercia com mais largueza sua caridade aos sábados, por ser o dia dedicado à Mãe de Deus.
Viúva segundo São Paulo e desapego de uma santa
     Após frutuoso reinado de mais de 17 anos, Henrique I faleceu no ano de 936. No leito de morte, diante de toda a corte reunida, o piedoso monarca fez o elogio da rainha, como testemunha que fora de sua eminente virtude.
     Santa Matilde mandou celebrar inúmeras missas pela alma de seu defunto esposo, não só por ocasião de sua morte, mas enquanto viveu.
     Entregou-se então inteiramente aos exercícios de piedade que São Paulo recomenda a uma verdadeira viúva. “Ela era muito sóbria em suas refeições, pacífica e tranquila na conversação, pronta somente a fazer o bem a todo mundo, e a cumprir tudo o que era de seu dever; não empreendia nada senão depois de procurar conselho e ter consultado a Deus na oração”. (2)
     Santa Matilde tinha preferência pelo segundo filho, Henrique, que apesar de não ser o primogênito, ela queria que sucedesse ao pai no trono. Alegava que Oton, o mais velho, havia nascido antes de o marido ser rei. E que, portanto, Henrique, tendo nascido filho de rei, deveria ser o escolhido. Como o monarca era eleito, ela convenceu alguns nobres a votarem em Henrique. Apesar disso, o eleito foi Oton. Ela então obteve deste o Ducado da Baviera para Henrique.
     Santa Matilde era conhecida principalmente pelas suas muitas esmolas para os necessitados, conventos e igrejas. Ora, Oton e Henrique — este se mostrando assim ingrato para com sua mãe — consideravam exorbitante a sua prodigalidade, alegando que ela estava empobrecendo a coroa. Para satisfazê-los, a santa renunciou em favor deles a todas suas propriedades, mesmo as que herdara do marido, e retirou-se para uma casa campestre em Engern.
Ingratidão, castigo de Deus e reparação
     Eclodiram então distúrbios e calamidades no reino. E não só o povinho miúdo, mas também a nobreza, começou a clamar que os mesmos se deviam à injustiça feita à rainha. E aconteceu um fato bem característico da Idade Média: “Com efeito, os males aumentaram a um tal ponto, que os grandes e os ministros de Estado foram forçados a solicitar à rainha Edite, esposa de Oton, que pedisse o retorno da rainha-mãe [...] Esse príncipe abriu os olhos, reconheceu suas faltas e, imediatamente, nomeou senhores da mais alta estirpe para irem apresentar a essa ilustre princesa a dor na qual ele estava mergulhado por causa da conduta que havia tido a seu respeito, e o desejo ardente que tinha de revê-la na corte”.(3)
     Houve a partir de então a mais perfeita harmonia entre a mãe santa e os dois filhos ingratos. O bom povinho de Deus comentou depois que a eleição de Oton como Imperador deveu-se em grande parte a essa justiça rendida à sua mãe.
     Pois “o Império teve em seu berço o hálito santo desta mulher forte. Matilde formou o coração de Oton, o homem da Providência, e pôs nele as sementes de fé, de fortaleza, de piedade e de amor à Igreja de Cristo. [...] Oton foi digno filho de tal mãe. Fez justiça aos seus vassalos, venceu seus inimigos, amparou a Igreja, protegeu os sábios, e sujeitou novos povos à civilização do Evangelho. (4)
“Grande prudência unida à humildade”
     Com seu filho Oton, Santa Matilde fundou um mosteiro que se tornou célebre, no qual três mil monges cantavam ininterruptamente os louvores divinos. Fundou também um mosteiro feminino de cônegas nobres em Quedlimburg, com o objetivo de que estas oferecessem dia e noite suas preces e penitências a Deus para agradecer as bênçãos que Ele derramava sobre o Império, e atrair novas bênçãos sobre a família real.
     Muito tempo depois, no século XVI, sua abadessa tinha precedência sobre as princesas do Império. Mas... tristeza deste Vale de Lágrimas: em 1539 esse mosteiro, que tanto brilho tivera na “doce primavera da fé”, aderiu à pseudo-reforma de Lutero sob a influência da condessa Ana de Stolberg. (5)
     Diz de Santa Matilde um historiador alemão quase seu contemporâneo: “De tal sorte sua grande prudência unia a humildade ao decoro régio, que quem mais a admirava humilde, devota e recolhida — sempre em oração, assistida por pobres, peregrinos e enfermos —, mais a venerava como grande princesa, rainha excelsa e imperatriz soberana” (Witchindo, História saxônica, livro III). (6)
Morte da “mais virtuosa princesa de seu século”
     Sentindo que seus dias chegavam ao fim, a rainha-mãe pediu licença ao filho Imperador para retirar-se a Nordhausen, o predileto dos mosteiros que havia fundado, a fim de preparar-se para o encontro com Deus. Vivendo santamente e cumprindo de modo exímio todas as normas da casa, precisou, no entanto, deixar seu retiro para atender a problemas urgentes no mosteiro dos Santos Gervásio e Dionísio, em Quedlimburg, onde sua neta era abadessa.
     Estando lá, contraiu uma febre lenta e incômoda, que se agravava gradualmente e que a atormentou durante vários meses, ameaçando sua vida. Matilde pediu então os últimos Sacramentos. Estes lhe foram ministrados por seu neto Guilherme, que era arcebispo de Mainz. Contam seus primeiros biógrafos que ela quis então dar-lhe um testemunho de seu agradecimento e estima pelo grande favor que lhe tinha feito. Porém, como não tinha mais nada para dar, uma vez que já havia se despojado de tudo, pediu então que dessem a ele os panos mortuários que lhe estavam destinados, dizendo que o neto precisaria dos mesmos antes dela. E, com efeito, saindo do mosteiro, o arcebispo sentiu-se mal, falecendo no caminho de sua diocese.
     Santa Matilde faleceu no dia 14 de março do ano de 968, sobre uma mortalha posta na terra. De tal maneira fora unida ao seu marido, falecido 32 anos antes, que quis ser enterrada ao lado dele. Pela sua fama de santidade, começou a ser venerada logo depois da morte.
     "Foi assim que terminou sua vida aquela que era a mãe dos pobres, a protetora dos povos, a advogada dos prisioneiros e dos cativos, a alegria do Império, a fundadora de tantas igrejas, hospitais e mosteiros, em uma palavra, a mais completa, a mais cristã e a mais virtuosa princesa de seu século”. (7)
      A vida de Santa Matilde foi escrita alguns anos depois de sua morte, por ordem do Imperador Santo Henrique, seu neto. (8)
_______________
 
Notas:
1.        Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Santa Matilde, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, p. 502.
2.        Mgr Paul Guérin, Sainte Mathilde, Impératrice, in Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo III, p. 417.
3.        Id. Ib. p. 418.
4.        Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., op. cit. p. 503.
5.        Cfr. Mgr Paul Guérin, op. cit., p. 421, nota 1.
Pe. Pedro de Ribadeneira, Santa Matildis ó Matilde, Emperatriz, Reina e Matrona, Flos Sanctorum, apud. Dr. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compañia – Editores, Barcelona, 1896, p. 594.
7.        Paul Guérin, op. cit. p. 421.
     Outras obras consultadas: Michael T. Ott, St. Matilda, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. Pe. José Leite, Santa Matilde, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I. Edelvives,Santa Matilde, Emperatriz de Alemania, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo II.
 
Fonte: www.catolicismo.com.br – Autor: Plinio Maria Solimeo

quarta-feira, 13 de março de 2024

Santa Rosina de Wenglingen, Virgem, mártir - 11 de março

     
     Embora poucos sejam os dados sobre esta mártir, Rosina é uma das santas mais populares santas ​​em algumas partes da Alemanha. Diferentes fontes dizem que ela morreu nos anos 400, ou em torno de 1000. Venerada no sul da Baviera, não está claro se isso implica que ela viveu na região.
     Em um relato sobre a procissão levada a cabo em 1769 para a festa de "Corpus Christi" em Miesbach, a santa foi representada em um quadro vivo, o que é reservado para os santos mais populares.
     Ao mesmo tempo, devemos considerar que celebrações dedicadas a ela no dia 11 de março existem há séculos e a data ainda hoje é conservada em Wenglingen, Bavária.
     Quanto à sua vida, nada se sabe sobre ela; provavelmente viveu no século IV como uma virgem, ou como uma virgem mártir. É por isso que ela está representada no altar mor da igreja de Wenglingen, na diocese de Augsburg, com a palma tradicional e a espada. Às vezes ela é considerada como uma mártir ermitã no bosque. Nas pesquisas históricas Rosina é confundida por vezes com uma Santa Eufrosina, ou com Santa Rufina.
     Desde o século XIII ela é padroeira da cidade de Wenglingen. Nos séculos XVIII e XIX seu culto se tornou cada vez maior, o que resultou no fato de que muitas meninas recebessem seu nome; as muitas imagens religiosas populares também testemunham este fenômeno.
     Nada mais sabemos a respeito dela, porém o amor que inspirou sobreviveu durante séculos e é o que basta.
     Rosina na Itália é o diminutivo de Rosa, enquanto os outros países da Europa o utilizam assim; lembremo-nos de seu uso na literatura para os libretos de óperas famosas como "O Barbeiro de Sevilha" de Rossini e "As bodas de Fígaro" de Mozart.
***
Altar na Capela da Santa
em Wenglingen

     Há muito pouco sobre Santa Rosina na internet em língua inglesa. CathlicSaints.Info diz que foi uma "jovem que se consagrou a Deus. Pode ter vivido como um eremita da floresta". Diz que ela foi uma mártir, embora não dê detalhes. Sua morte é listada como caindo no século IV. No ano passado, Rosina de Wenglingen foi apresentada como Santa do mês em nada menos que L’Osservatore Romano. O artigo é um conto um tanto quanto sentimental sobre uma garota que desmaia enquanto faz o papel de Santa Rosina em uma procissão, e todos ficam furiosos quando percebem que ela deve estar grávida, mas então seu namorado aparece para anunciar que suas orações para Rosina foram atendidas e a ele foi oferecido um emprego em Wenglingen. Não há, no entanto, nada sobre a própria Santa Rosina na história, exceto quando o padre local diz: "Haverá uma comemoração de Santa Rosina em nossa cidade. Ela é a padroeira de Wenglingen e lá ela é celebrada em 11 de março”.
 
Etimologia: Rosina = diminutivo do nome da flor.
 
Fontes: www.santiebeati.it
Torneio de Arte Infinita: Santa do Mês: Santa Rosina de Wenglingen! (infinitearttournament.com)
 

quarta-feira, 6 de março de 2024

Santa Colete Boylet de Corbie, Virgem Clarissa e Reformadora de sua Ordem – 6 de março

     
    A vida e a obra de Santa Colete se situam numa época extremamente tormentosa: a Guerra dos Cem Anos, gerada pelas rivalidades sangrentas entre duas famílias principescas da França; e o Cisma do Ocidente que dividia a Cristandade. Na Ordem franciscana, as dissensões - nascidas já em vida de São Francisco - entre os partidários da regra estrita e os que desejavam mitigações, terminaram com a vitória destes últimos.
     Quanto ao ramo feminino da Ordem, o direito de possuir bens, concedido por Alexandre IV ao mosteiro de Longchamps, próximo de Paris, fundado pela Beata Isabel de França, irmã de São Luís IX, começou a enfraquecer seriamente o "privilégio da pobreza" arduamente defendido por Santa Clara.
     Em 1263, Urbano IV estendeu a regra mitigada a todos os conventos de Clarissas e só raras comunidades guardaram a estrita observância primitiva. A autorização de possuir bens e tolerâncias relativas à clausura levaram à tibieza os conventos "urbanistas".
     É neste contexto que devemos compreender a missão de Santa Colete.
A vocação
     Nicolette Boylet ou Boëllet nasceu em Corbie, diocese de Amiens, França, em 13 de janeiro de 1381. Seus pais, Roberto Boylet e Marguerite Moyon, quase sexagenários, colocaram este nome na menina em sinal de reconhecimento a São Nicolau de Bari pelo seu nascimento. O pai era artista carpinteiro, caridoso e virtuoso; a mãe confessava-se e comungava toda semana, coisa rara naquela época.
     A menina cresceu em um ambiente acolhedor e muito religioso. Aos quatro anos já tinha uma vida de oração; aos sete, fazia uma hora de oração diária e assistia clandestinamente as Matinas cantadas nos beneditinos. Ela dirá mais tarde que aos nove anos recebeu plena e inteira revelação do espírito da Ordem franciscana e da necessidade de sua reforma.
     Em 1399, seus pais faleceram com alguns meses de intervalo um do outro. O pai confiara a filha aos cuidados de D. Raoul de Roye, abade do mosteiro beneditino de Corbie. Este desejava que ela se casasse. Colete recusou-se e acabou obtendo sua permissão para doar seus bens aos pobres e para entrar para a beguinaria (*) de Amiens, onde ficou apenas um ano por achar muito suave a disciplina ali vigente.
     Pelo mesmo motivo fez tentativas frustradas junto às beneditinas de Corbie e no Convento de Moncel, que seguia a regra de Urbano IV.
     Colete retornou a Corbie e seus concidadãos, que anteriormente a admiravam, passaram a desprezá-la porque a consideravam uma instável. Seu tutor começava a se impacientar com seus "caprichos".
     Neste isolamento moral, a Providência colocou o Padre João Pinet em seu caminho. Ele era guardião do convento de Hesdin, fervoroso religioso de São Francisco, intensamente desejoso de fazer reviver a observância primitiva da Ordem. Este religioso aconselhou-a a se fazer reclusa da Terceira da Ordem de São Francisco.
     Em 17 de setembro de 1402, festa dos Estigmas de São Francisco, ela pronunciou o voto de clausura, e passou a viver numa pequena ermida próxima da igreja paroquial de Nossa Senhora, em Corbie. Emparedaram-na entre dois contrafortes da igreja, numa pequeníssima cela que recebia a luz através de uma grade de ferro que dava para a igreja.
     Ali permaneceu por três anos, jejuando durante a Quaresma a pão e água, dormindo sobre um punhado de gravetos espalhados no chão.
A reformadora
     Em sua reclusão as visões se multiplicaram: por determinação de São Francisco e de Santa Clara, que lhe apareceram, ela devia reformar a Ordem segunda franciscana. Colete temia que tais visões fossem causadas "pelo inimigo do inferno". Ela consultou clérigos de seu meio e todos concordam em que ela devia agir. Após muita relutância, fruto de sua humildade, empreendeu a reforma inspirada por Deus.
     Ela precisava de alguém que a aconselhasse e mais uma vez a Providência vem em seu auxílio: o Padre Henrique de Baume, religioso franciscano de grande virtude, que sofria com a decadência da sua Ordem, tornou-se seu diretor espiritual e seu colaborador zeloso. Ele obtém a adesão da Condessa Branca de Genebra para a causa de Colete. Em Besançon, ele se encontra com Isabeau de Rochechouard, viúva do Barão de Brissay, que o acompanha a Corbie.
     Durante o Cisma havia três papas ao mesmo tempo: um em Roma, outro em Avinhão e o terceiro em Pisa. A França - bem como a Espanha e a Escócia - prestava obediência ao papa de Avinhão, que então era Bento XIII.
     Em 1406, obtida a dispensa do voto de reclusão perpétua, Colete dirigiu-se a Nice, acompanhada do Padre Baume e da Baronesa de Brissay, para se encontrar com Bento XIII. Expõe-lhe detalhadamente seu propósito restaurador.
     Depois de profunda reflexão, Bento XIII impôs-lhe o véu e o cordão seráfico e nomeou-a Superiora Geral de todos os conventos de Clarissas que viesse a fundar ou reformar. Autorizava Colete a transferir para o convento que fosse fundar as religiosas de mosteiros estrangeiros, e acolher eventualmente membros da Ordem Terceira franciscana. Bento XIII expediu a bula autorizando a reforma no dia 16 de outubro de 1406.
     Os católicos viviam na perplexidade e na boa vontade durante esses tormentosos anos do Cisma; estavam do lado que tinham por autêntico, ou que lhes indicavam suas autoridades. Santa Catarina de Siena e Santa Catarina da Suécia estavam com o papa de Roma, enquanto São Vicente Ferrer e Santa Colete estavam com o de Avinhão, concretamente com Bento XIII.
     Não foi fácil para Colete dar andamento aos seus projetos imediatamente. Durante alguns anos suas tentativas de reforma fracassaram. Seu empenho teve o apoio de personagens tão relevantes como a Condessa de Genebra e das duquesas de Borgonha e da Baviera.
     No Franche-Comté, com mais três amigas, que se tornaram suas primeiras filhas, ela se instalou. A comunidade logo cresceu e foi preciso procurar um lugar mais espaçoso. Em 1410, conseguiu finalmente autorização para ocupar o convento de urbanistas de Besançon, onde viviam apenas duas irmãs. A reforma estava assegurada. Àquele convento logo seguiram outros até um total de 17, reformados ou novas fundações.
     Como norma, cada convento devia ter quatro frades a seu serviço. Assim, a dinâmica reformadora sempre mantinha contato com os Gerais Franciscanos. Os Gerais da Ordem, principalmente Antônio de Massa e Guilherme de Casal, aceitaram e confirmaram a bula de 1406. O espírito da reforma coletina se infiltrava sutilmente na Ordem primeira.
     Colete precisava criar as Constituições para reger tão numerosas fundações. Em 1430, ela redigiu um texto - conhecido como Sentimentos de Santa Colete - que foi remanejado em 1432 e aprovado em 28 de setembro de 1434 por Frei Guilherme de Casal. Este havia submetido o texto a dois cardeais e alguns outros teólogos, que deram sua aprovação.
     Quanto ao ramo masculino, Santa Colete não tinha evidentemente jurisdição sobre a Ordem primeira, mas ela exerceu uma forte influência espiritual nela e conseguiu a adesão de alguns conventos masculinos à sua reforma. Segundo uma estimativa mais provável, em 1447, data da morte da Santa, a sua reforma contava com 17 conventos femininos e 7 masculinos.
     A reforma coletina estendeu-se rapidamente pela França, Espanha, Flandres e Saboia. Sob o impulso renovador de Santa Colete, os franciscanos voltaram a praticar aquilo que São Francisco havia querido para sua Ordem: vida de pobreza sem mitigações, vida austera, intensa oração pessoal e comunitária, e muita oração e penitência pela unidade da Igreja, então dividida pelo Cisma.
     Atualmente, os conventos de "coletinas" são cerca de 140, a maior parte na Europa, embora haja alguns também na América, Ásia e África.
     A piedade de Colete, notável desde a infância, cresceu e a conduziu a um tal grau de união com Deus, que os êxtases se tornaram contínuos. Por vezes, eles duravam vários dias. Ao redor dessa intensa vida mística, que a ação não obstava, gravitavam fenômenos tais como: levitação; exalações odoríferas que emanavam não somente da pessoa de Colete, mas das coisas que ela tocava; conhecimento das consciências; o estado das almas do Purgatório; dons de profecia.
     Santa Colete era de uma pureza requintada, e seu amor por esta virtude se manifestava por seu pendor irresistível pelas almas puras, as crianças também a atraiam, e mesmo os animais cuja aparência simbolizavam a pureza, como as rolas e os cordeiros.
     Ela protagonizou inúmeros milagres que favoreciam suas fundações: na reforma de Hesdin, recebeu uma soma de quinhentos escudos de ouro, de origem celeste; em Poligny, descoberta de água potável; a provisão de trigo de Auxonne não diminuía e possibilitava às religiosas reparti-la com os frades de Dôle; um tonel de vinho encheu-se sob a ação das preces de Colete, e muitos outros fatos relatados em seu processo de canonização.
     Verdadeira filha da Igreja, ele sofria com o Cisma que dilacerava sua unidade, e trabalhou denodadamente com São Vicente Ferrer pela extinção do Cisma.
     Coleta era também filha da França. As nobres casas conflitantes, Armagnacs (partido do Duque d'Orleans) e Bourguignons (partido do Duque de Bourgogne), a chamaram para fundar conventos em seus domínios. Segundo depoimentos, ela certa vez conseguiu dissuadi-los de lutar. Apesar das tensões, Colete foi respeitada por ambas e pode continuar sua obra.
     Santa Colete viajou muito, operou numerosos milagres, suportou sofrimentos de toda a espécie. Ela foi uma mulher extraordinária que soube obter a colaboração de papas, frades, príncipes, duques para a sua obra.
     Santa Colete morreu em Gand, Bélgica, no dia 6 de março de 1447. As marcas de sua própria doença e do sofrimento desapareceram. Seu corpo tornou-se belo, com uma pele branca como a neve, membros flexíveis e exalando um celestial perfume. Como era seu desejo, o corpo foi sepultado direto na terra. Numeroso foi o público que compareceu às suas exéquias, atraídos por sua fama de virtude e pelos fatos maravilhosos que narravam sobre ela.
     O processo de sua canonização iniciou poucos anos após sua morte, em 1472, mas somente se tornaria realidade anos depois. O processo relata, além dos fatos mencionados, curas operadas em pessoas de suas comunidades e cinco casos de ressurreição. Colete foi beatificada em 23 de janeiro de 1740. Porém, ela só foi canonizada em 24 de maio de 1807, sob o pontificado de Pio VII. Sua festa é celebrada no dia 6 de março.
 
*) Beguinaria: convento onde vivem religiosas sem pronunciar votos, cada qual ocupando o seu aposento à parte. Beguina é o nome dado a essas religiosas nos Países Baixos e na Bélgica.
 
Etimologia: Colete, ou Colette, abreviação de Nicolette, feminino de Nicolet, em português Nicolau, do grego Nikólaos: “vencedor (niko) do povo (laos)”.
 
Fontes: St. Coletta Boylet (santiebeati.it);  Colette de Corbie – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Beata Francisca Ana Cirer y Carbonell – 27 de fevereiro


Martirológio Romano: No lugar de Sencelles, na Ilha de Maiorca, a Beata Francisca Ana de Nossa Senhora das Dores Cirer Carbonell, virgem, que, sem saber ler nem escrever, mas movida pelo zelo divino, entregou-se a obras de apostolado e caridade, e fundou a comunidade das Irmãs da Caridade († 1855)
 
     Nasceu em Sencelles, Maiorca (Ilhas Baleares), Espanha, no dia 1º de junho de 1781, filha de João Cirer e Joana Carbonell, agricultores tão pobres que nunca puderam deixá-la frequentar a escola, mas tão fervorosos, que no mesmo dia do seu nascimento a levaram à fonte batismal, quando recebeu o nome de Francisca Ana Maria Boaventura.
     Sem saber ler nem escrever, entretanto aprendeu a doutrina católica de viva voz e mereceu ser crismada aos sete anos por Mons. Pedro Rubio Benedetto, bispo da diocese, e em seguida, admitida à Primeira Comunhão.
     Crescendo, adquiriu a sabedoria das virtudes católicas com tal perfeição, que a levava a praticá-las todas em grau heroico e a tornava capaz de ensinar o catecismo às crianças, o que fazia após as Missas do domingo.
     Aos treze anos tentou entrar no convento de La Piedad, em Palma, mas não obteve o consentimento do pai, por isso permaneceu em casa, levando uma vida isolada de piedade. Ajudava aos pais nos trabalhos domésticos e agrícolas, mas, com a permissão dos pais, voltava à igreja no fim do dia para tomar parte no Rosário ou na Via Sacra.
     Em 1798, aos 17 anos, ingressou na Ordem Terceira de S. Francisco e, em 1813, na Confraria do Santíssimo Sacramento.
     A Beata tinha grande devoção à Santíssima Trindade, à Paixão de Cristo e a Nossa Senhora das Dores, a quem honrava com o terço diário e o jejum sabatino. Rezava com frequência pelas almas do Purgatório.
     Em 2 de maio de 1815, a Beata, que compreendia a importância da conformidade com a vontade de Deus e obedecia sem lamentações, recebeu a revelação de que sua casa seria transformada em um convento das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula.
     Após a morte de seus irmãos e de sua mãe, dedicou-se com seu pai às tarefas agrícolas, sem descuidar do cuidado dos mais pobres, que a chamavam, por seu caráter alegre e dedicado, de "sa tia Xiroia".
     Aos 40 anos, Francisca ficou órfã de pai. Sendo praticamente impossível realizar seu desejo de se tornar religiosa pela idade, falta de instrução e sem dote, procurou viver como verdadeira religiosa no mundo, em companhia de uma prima, Clara Llabrés, e depois de alguns anos, de Madalena Cirer, sua sobrinha. 
Convento das
Irmãs em Sencelles
    
     Finalmente, aos 70 anos, no dia 23 de dezembro de 1850, com a aprovação de seu pároco, sua casa tornou-se convento das Irmãs da Caridade, que foi juridicamente aprovado no dia 7 de dezembro de 1851. Tinham por finalidade cuidar dos doentes e ensinar o catecismo em casa e nas paróquias. Naquele dia ela e as duas companheiras vestiram o hábito. Francisca foi eleita para ficar à frente do grupo; governou com sabedoria, prudência e humildade, cuidando da perfeita observância dos votos religiosos.
     A Beata faleceu repentinamente no dia 27 de fevereiro de 1855, aos 76 anos de idade, após ter recebido a Santa Comunhão. Seu funeral foi triunfal. Seus restos são venerados no Oratório da Casa de Caridade de Sencelles.
     Numerosos milagres, êxtases frequentes e outros fenômenos místicos foram atribuídos a ela durante sua vida. A reputação de santidade que desfrutou desde o momento de sua morte levou ao início do processo de beatificação em 1899. No entanto, isso não culminou até que ela foi solenemente proclamada beata pelo Papa João Paulo II em 1º de outubro de 1989, após a confirmação de um milagre obtido por sua intercessão.
 
Fontes: LaVerdadCatolica.org
https://es.catholic.net/
Bibl.: B. Colombás Llull, Francisca Ana Cirer, una vida evangélica, Palma de Mallorca, Hermanas de la Caridad de San Vicente de Paul, 1971; T. Suau Puig, Sor Francinaina Cirer, una vida para los otros, Palma de Maiorca, Hermanas de la Caridad de San Vicente de Paul, 1992; J. Bouflet, Encyclopedie des phénomènes extraordinaires dans la vie mystique, I, Paris, Le jardin des Livres, 2002, pp. 23-25.
Frances Anne abençoada | Academia Real de História (rah.es)