segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Santa Jacinta Marescotti, Padroeira de Viterbo - 30 de janeiro

  
   
Clarice de Marescotti era filha de Marcantonio Marescotti e Otávia Orsini, Condessa de Vignanello, localidade próxima de Viterbo, Itália, onde nasceu provavelmente no dia 16 de março de 1585.
     De seus pais recebeu profunda formação religiosa. Entretanto, atingindo a adolescência, Clarice, nobre, bela, tornou-se vaidosa e mundana, buscando apenas divertir-se. Sua preocupação passou a ser vestidos, adornos, entretenimentos e um casamento digno de sua classe social.
     Seu pai se preocupava muito com a salvação da filha. Resolveu mandá-la para o convento onde já estava sua irmã mais velha, que lá era um exemplo de virtude. Clarice foi de má vontade, mas como terceira franciscana, pois alimentava o desejo de sair dele o mais rápido possível para voltar à vida de antes. Tanto insistiu que o pai acabou cedendo.
     Mas fora ela não encontrou o que esperava: nenhum casamento apareceu e Clarice viu ainda sua irmã mais nova, Hortência, casar-se com o marquês romano Paulo Capizucci e ela ficar para trás.
     Por insistência da família ela retornou àquele mesmo convento das religiosas da Ordem Terceira Franciscana regular, desta vez como freira, tomando o nome de Jacinta.
     Mas, julgando ela que as celas das freiras eram muito pequenas e pobres, mandou construir uma especial para si, de acordo com sua posição social. Sua cela parecia um bazar pelos luxuosos adornos. Aquilo poderia ficar bem num palácio, destoava do ambiente do convento. Sua piedade é tíbia; a mortificação prescrita, um tédio; até recebe as admoestações com desprezo. Por dez anos levou no convento uma vida mundana.
     Quando completou 30 anos, chegou a hora de Deus e surgiu potente a nobre e católica linhagem que levava dentro de si. Uma grave doença a faz refletir sobre o fogo do Purgatório e do Inferno; tremeu de terror e clamou pelo confessor.
     O Pe. Antônio Biochetti, virtuoso sacerdote, foi atender a doente. Mas, entrando naquele quarto luxuoso recusou-se atender a confissão da freira, dizendo que o Paraíso não era feito para os soberbos. Chorando perguntou-lhe: "Então não há mais salvação para mim?". "Sim — respondeu o religioso — contanto que deixe esses vãos adornos, essas vestimentas suntuosas, e se torne humilde, piedosa, esqueça o mundo e pense só nas coisas do Céu".
     Na manhã seguinte, após ter trocado sua roupa de seda por um pobre hábito, Jacinta fez sua confissão geral com um verdadeiro arrependimento. Depois, no refeitório, aplicou-se forte disciplina diante das irmãs e pediu-lhes perdão pelos maus exemplos que havia dado.
     Nova enfermidade fez com que a ruptura com a vida antiga fosse total. Entregou tudo o que possuía para a superiora e revestiu-se com a mortalha de uma freira que acabava de morrer. Fez o propósito de romper com tudo aquilo que lhe lembrava a antiga vida. Desde então passou a ser chamada de Jacinta de Santa Maria e não mais de Marescotti.
     Trocou sua cama por um feixe de lenha, tendo uma pedra como travesseiro; mortificava-se dia e noite, tomando tão ásperas disciplinas, que o solo de sua cela ficava manchado de sangue. Às sextas-feiras, em memória da sede que Nosso Senhor sofreu na Paixão, colocava um punhado de sal na boca. Sua alimentação passou a ser pão e água. Durante a Quaresma e o Advento, vivia de verduras e raízes apenas cozidas na água.
     Considerando-se como a pior pecadora, escolheu para patronos santos que tinham ofendido a Deus antes de se converterem, como Santo Agostinho, Santa Maria Egipcíaca e Santa Margarida de Cortona. Era devota do Arcanjo São Miguel, amava a contemplação da Paixão de Jesus Cristo, a Missa a levava às lágrimas, as imagens da Virgem Santíssima eram seu refúgio.
     Procurava toda ocasião para se humilhar. Às vezes ia ao refeitório com uma corda ao pescoço, ajoelhava-se diante das freiras, beijava-lhes os pés pedindo perdão pelos maus exemplos passados.
     Ela escreveu a uma religiosa: "Há 14 anos que eu mudei de vida. Durante esse tempo eu rezei algumas vezes quarenta horas seguidas, assisti todos os dias a várias missas, e me encontro ainda longe da perfeição. Quando poderei servir meu Deus como Ele merece? Reze por mim, minha amiga, para que o Senhor me dê ao menos a esperança".
     Embora se considerasse a mulher mais pecadora, a nomeiam subpriora e mestra de noviças. E a fama de suas virtudes propaga-se por toda a região. Deus recompensou sua fiel serva com dons extraordinários como o de profecia, milagres, conhecer os corações, ser instrumento de conversões e frequentes êxtases.
     A conversão de Francisco Pacini, célebre por seus desmandos, tornou-se famosa. Ouvindo falar dele, a Santa fez jejuns e orações por sua conversão. Convencido por um amigo convertido por Jacinta, Pacini vai ao convento falar com ela. No parlatório, diante daquela pobre freira, começou a tremer e à medida que ela falava, ele foi se transformando, caiu de joelhos e prometeu confessar-se.
     No domingo seguinte, o da Paixão, com os pés descalços e uma corda no pescoço, Pacini, no meio da igreja pediu perdão a todos por seus crimes e escândalos. Mais tarde revestiu o hábito de peregrino e consagrou sua vida a Deus.
     Jacinta reformou muitos conventos com cartas escritas às superioras relaxadas, admoestando-as dos castigos que as ameaçavam. Por sugestão sua a Duquesa de Farnese e de Savella fundou dois mosteiros de clarissas, um em Farnese, outro em Roma.
     Ela se preocupava com as almas que se extraviavam no pecado e para sua recuperação fundou duas confrarias: a Companhia dos Sacconi, para atendimento material dos enfermos e para ajudá-los a morrer bem; e a Congregação dos Oblatos de Maria para incentivar a piedade, fazer obras de caridade e fomentar o apostolado dos leigos.
     Como não tinha voto de clausura, Jacinta ia visitar os pobres, levando-lhes sempre o auxílio espiritual, além do material. Em seu grande apreço pela nobreza dava assistência especialmente aos nobres empobrecidos e envergonhados.
     Santa Jacinta de Marescotti entregou sua bela alma a Deus em 30 de janeiro de 1640. Foi canonizada em 1807 pelo Papa Pio VII. É festejada no dia de seu nascimento para o Céu.
 
Fontes: Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo II, pp. 348 a 356 ; Manuel de Castro, O.F.M., Santa Jacinta de Marescotti, in Santoral Franciscano.
 
Postado neste blog em 30 de janeiro de 2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Santa Ângela Merici, Fundadora - 27 de janeiro

 
     Santa Ângela Merici viveu na época em que o tristemente célebre Martinho Lutero pregava a desobediência à Cátedra de Pedro e a rebelião contra a Igreja Católica. O Renascimento corroborava com os desmandos dos pseudo-reformistas. Deus suscitou então donzelas que levantariam o pendão da pureza e da virgindade numa época em que a corrupção era ostentada com despudor e petulância. Ângela foi a alma dessa verdadeira reforma dos costumes.
     Ângela Merici nasceu em 21 de março de 1470, num pequeno porto de pescadores na margem meridional do Lago de Garda (Norte da Itália) chamado Desenzano. Sua família era pobre, mas piedosa. De sua mãe sabe-se apenas seu nome de família, Biancosi, originária da cidade de Salò.
     Ela não frequentou escolas. Seu pai reunia todas as noites os filhos e os servidores para as orações e para a leitura de alguma passagem piedosa. Ângela demonstrou desde cedo muita atração por tais leituras e decidiu seguir a via da santidade.
     O traço dominante de sua personalidade era uma extraordinária pureza. Desde a mais tenra idade dedicava-se a uma intensa mortificação, limitando-se apenas ao necessário. Jamais imaginou outro destino para sua vida do que a de permanecer virgem.
     Aos treze anos, ainda sob a ação das consolações que recebeu na sua Primeira Comunhão, uma grande provação a atingiu: o falecimento de seu pai, modelo de homem católico. Dois anos após, sua mãe também falecia.
     Ângela e sua irmã foram confiadas a um tio materno, em Salò. As duas jovens viviam em casa do tio num tal recolhimento, que eram conhecidas por todos pelo nome "as duas rolinhas de Salò". A profunda amizade que unia as duas irmãs durou pouco: a irmã também deixou esta terra.
Sua missão
     Tendo morrido seu tio, Ângela retornou à Desenzano com o intuito de consagrar-se à instrução religiosa da mocidade feminina.
     No ano de 1506, Deus lhe fez conhecer Seu desígnio sobre ela. Certo dia, quando trabalhava no campo, por volta do meio-dia separou-se um pouco das jovens que a acompanhavam para rezar sozinha entre as vinhas. Numa visão, foi-lhe apresentado um número incontável de virgens rodeadas de luz celeste, trazendo coroas na cabeça e lírios nas mãos, que subiam uma escada que ia da terra ao céu. Anjos, cujos instrumentos enchiam o ar de sons, acompanhavam as virgens, e os movimentos se fundiam numa espécie de apoteose da pureza sem mancha.
     Uma delas, que Ângela reconheceu como uma amiga falecida, se destacou dentre as companheiras e lhe disse: "Ângela, saiba que Deus te concedeu esta visão para indicar que, antes de morrer tu deverás fundar em Bréscia uma sociedade de virgens semelhantes a estas que vês; tal é a disposição da Providência a teu respeito".
     Ângela estava ainda em êxtase, quando suas jovens amigas a encontraram. Por inspiração divina, contou a elas a visão que tivera, bem como a missão que recebera de Deus. Tocadas pela graça, as jovens desejaram segui-la nessa via. Ela, porém, não conhecia Bréscia nem as pessoas que lá moravam, mas estava certa de que a fundação se faria lá. Ela decidiu esperar a ocasião suscitada por Deus para isso.
     A espera prolongou-se por dez anos, durante os quais sua atividade apostólica se intensificou e se ampliou. Ângela tinha uma graça natural, uma suavidade sorridente, uma afabilidade constante que lhe bastavam para atrair os corações. Deus abençoou o seu apostolado: as famílias confiavam-lhe a educação das filhas e sua fama espalhou-se tão rapidamente, que ela era conhecida por toda região.
     Durante esses dez anos um núcleo de discípulos se formou em torno dela. Entre eles, Jerônimo Pentagola e sua esposa Catarina ocupavam lugar de destaque.
     Em 1516, os Pentagola perderam seus dois filhos, com breve intervalo entre os falecimentos. Como nada os pudesse consolar em sua imensa dor, pensaram em Ângela. Pediram-lhe então, com insistência, que lhes concedesse a graça de sua presença na casa onde moravam, em Bréscia.
     Foi assim que Ângela se dirigiu a Bréscia. A fama de sua santidade lá se difundiu tanto quanto em sua cidade natal ou em Salò.
Ciência infundida pelo Espírito Santo
     Devido à ação do Espírito Santo sobre a alma de Ângela, que ignorava as letras e as ciências humanas, de repente ela foi capaz de ler, não somente em italiano, mas também em latim; comentava a teologia, especialmente a teologia mística, de tal sorte que lia não apenas nos textos, mas nas próprias almas, que eram para ela como livros abertos.
     Em vista disso, aos visitantes habituais, as notabilidades e o bom povo de Bréscia, se juntaram caravanas de eruditos, teólogos, legistas, diretores de consciência e filósofos. Nem uma só vez, durante os minuciosos interrogatórios a que era submetida, Ângela caiu em erro. A ciência infusa daquela mulher humilde causava admiração em todos. A sua integridade doutrinária contrapunha-se aos erros de Lutero, que dividiam a Cristandade.
     A guerra entre o rei da França, Francisco I, e o futuro Imperador alemão, Carlos V, estendia-se por todas as províncias italianas do Norte. Em meio àqueles conflitos, Ângela se esmerou em opor ao sensualismo a pureza virginal, e à heresia uma dócil e total submissão à ortodoxia doutrinária.
Em Roma, com o Papa
     Por ocasião do ano jubilar de 1525, a Santa fez uma peregrinação a Roma. O Papa Clemente VII recebeu-a em audiência, tomou conhecimento da visão que ela tivera em 1506 e da missão que recebera de Deus. Ele examinou os seus projetos e, convencido da origem sobrenatural dessa missão, o Papa abençoou a sua obra.
     Pouco depois de seu regresso, foi obrigada a deixar novamente a cidade ameaçada de pilhagem em consequência das devastações que a guerra fazia em todo o norte da Itália. Parte então para Cremona como refugiada com seus amigos mais próximos. Durante o êxodo é sua força de alma que ergue os abatidos, animando-os e consolando a todos.
     Em Cremona também a procuram no lugar onde reside. O próprio duque Francesco Sforza, de Milão, também refugiado em Cremona, recebe de Ângela a direção espiritual iniciada pouco antes em Bréscia.
     Em 23 de dezembro de 1529, a paz é assinada em Cambrai e Carlos V é sagrado Imperador pelo Papa Clemente VII. Ângela pôde então voltar a Bréscia
A fundação
     É chegada a hora de cumprir o que lhe fora indicado na visão. Vinte e quatro anos haviam se passado (1506-1530). No ano de 1530, reuniu as doze moças que escolhera para serem o núcleo original da Companhia de Virgens que tinha por missão fundar.
     Ângela tinha em mente uma congregação totalmente diferente do que até então tinha havido: não procurou um lugar para instalar um convento para aí residir com suas religiosas, mas apenas um local onde elas pudessem reunir-se para receber uma orientação adequada e fazer certas orações em comum.
     Suas filhas espirituais continuariam a residir em suas próprias casas, no mundo, para ali serem exemplo eloquente de uma virtude tipicamente contra-revolucionária: a pureza. Elas combateriam a dissolução dos costumes no próprio âmbito familiar e social; não seriam religiosas de clausura, mas deveriam praticar uma pureza ilibada e virginal, vencendo o mundo em seu próprio reduto.
     Embora a vigilância pela conservação dos bons costumes fosse a principal meta de sua obra, suas filhas trabalhariam também na instrução religiosa, na assistência aos pobres e enfermos. Mais tarde seu instituto tomaria a feição de Ordem religiosa, com clausura e votos. Mas o fim conservou-se o mesmo: a educação da mocidade. Foi o primeiro instituto religioso de ensino na Europa.
     Em 25 de novembro de 1535 já eram 27 as virgens reunidas em torno de Ângela. No ano seguinte ela submeteu a Regra da nova sociedade ao Cardeal Francesco Cornaro, bispo de Bréscia, que a aprovou em 8 de agosto de 1536.
     Ângela foi eleita Superiora Geral por unanimidade, apesar dos protestos de sua humildade. Ela fez, entretanto, duas exigências: a de não ser apontada como Fundadora, e a de colocar o novo Instituto sob o patrocínio de Santa Úrsula. Ela esperava assim ver seu nome desaparecer, substituído pelo da gloriosa padroeira, virgem e mártir.
     Até sua morte, ocorrida em 27 de janeiro de 1540, Ângela continuou a ser um modelo perfeito de santidade para suas filhas espirituais.
     Após ter indicado a Condessa Lucrécia Lodroni como sua sucessora e reunindo em torno de si as 150 virgens que formavam sua Companhia, entregou a alma ao Criador, não sem antes recomendar expressamente a suas filhas:
     "Obedecendo a vossas superioras é a mim mesmo que obedecereis; e, ao me obedecer, obedecereis a Jesus Cristo, cuja misericordiosa bondade me escolheu para ser, viva ou morta, a Mãe desta Companhia, ainda que de mim mesma fosse muito indigna disso".
     A notícia de seu falecimento espalhou-se rapidamente por toda a região e uma multidão participou de seu sepultamento, que se realizou no dia seguinte. Seus santos despojos foram sepultados na Igreja de Santa Afra. Nessa ocasião, durante três noites consecutivas apareceu no céu uma estrela de brilho extraordinário, cujos raios convergiam para o ponto onde estava o corpo.
     É interessante notar a similitude da obra de Ângela com a de Santo Inácio de Loyola: ambos fundaram Ordens com o nome de companhia. Assim como o nome Companhia de Jesus indicava seu caráter militante, o nome do instituto fundado por Santa Ângela indicava sua luta contra o sensualismo renascentista.
     Ela foi beatificada em 1768 e o Papa Pio VII a canonizou em 1807. É festejada a 27 de janeiro.
 
Fontes: G. Bernoville, Sainte Angèle Merici; Les Ursulines de France et l'Union Romaine, Bernard Grasset Éd., Paris, 1947.
 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Beata Maria Poussepin, Fundadora - 24 de janeiro

      Procedente de uma antiga família de notáveis parisienses (procuradores, conselheiros, secretários do rei etc.) remontando ao século XV, Maria Poussepin nasceu no dia 14 de outubro de 1653 em Dourdan, perto de Paris (França).
     Seus pais Cláudio Poussepin e Juliana Fourrier formavam um casal de sólidas convicções religiosas que transmitiram a seus sete filhos, dos quais somente dois, Maria e Cláudio, chegaram à idade adulta. A mãe servia como tesoureira da Confraria da Caridade local. Era uma família relativamente abastada, mas o pai acabou na falência.
      Maria era a mais velha e ainda jovem teve que retomar a empresa de fabrico de meias de seu pai não só para prover às necessidades da sua família, mas também para a economia da aldeia. Nessa época a miséria era muito grande: as colheitas eram más, as doenças e as guerras frequentes deixavam a população num estado dramático.
     Em 1685, o ateliê Poussepin era o único na França a fazer das meias uma profissão, e formar gerações de aprendizes. Maria rapidamente demonstrou uma incrível intuição empresarial e um forte senso comercial. Ela observou que o futuro estava na fabricação de máquinas de produtos de lã, em vez do tricô manual. Tomou a corajosa decisão de abandonar as formas obsoletas de artesanato da guilda e investiu no tear industrial de lã. Aprendeu sozinha como operar o equipamento e treinou seus funcionários para operar com o novo método de produção.
     Em 1702, Dourdan, graças ao zelo da Srta. Poussepin, era a segunda cidade da França na fabricação de meias. Como diretora da empresa, Maria contratou jovens entre 15 e 22 anos, e fixou uma produção semanal mínima, quatro pares de meias não pagas. Mas, tudo que o aprendiz fazia a mais era largamente remunerado. Desta forma suprimia a necessidade de estes pagarem um direito de formação à aprendizagem ao mestre de estágio. Esta prática muito inovadora permitiu oferecer às jovens pobres, aos órfãos etc., a possibilidade de adquirir um ofício. Ela criava empregos de modo a permitir que estes jovens saíssem da miséria por eles mesmos.
     Quando seu irmão já estava mais maduro, Maria entregou a administração dos negócios da família a ele. Seguiu os passos de sua falecida mãe ao tornar-se presidente da Associação Internacional da Caridade AIC.
     Em 1692 o Pe. François Mespolié, dominicano, visita Dourdan e por meio dele Maria conhece a Ordem de São Domingos e encontra nela as respostas para seus desejos de uma vida espiritual mais intensa. Assim, a partir de 1693 passou a pertencer a Ordem Terceira Dominicana. Nestes grupos, Maria tornou-se logo a responsável, pelo zelo que mostrava em visitar os doentes, as viúvas, os mendigos. Estas obras apresentam as duas vertentes da sua caridade: a economia e a compaixão.
     No início de 1696, Maria deixa Dourdan e se instala em Sainville, uma aldeia muito pobre, após ter-se comovido com a miséria das áreas rurais e em especial pelo estado das órfãs, das viúvas, das mulheres doentes e pela condição da mulher pobre da sua época.
     Maria Poussepin fundou ali uma comunidade dominicana à qual deu todos os bens pessoais. Esta obra instalada na pequena Sainville é uma inovação: tratava-se de viverem juntas, de acordo com os costumes dominicanos, mas sem clausura, para poder irradiar a caridade; propunha-se assim a um desafio: lutar contra a miséria e viver plenamente a vida religiosa.
     Em Sainville, Maria organizou uma pequena escola para as jovens. A comunidade aumentou e rapidamente outras comunidades foram criadas, sempre a serviço dos mais pobres, dos doentes, das órfãs. Durante a vida de Maria cerca de vinte comunidades existiam na região parisiense e também em Chartres.
     Contudo, o Bispo de Chartres colocou uma condição para reconhecer a Congregação fundada por Maria: exigiu que as Irmãs renunciassem a qualquer relação com os dominicanos. Maria teve que obedecê-lo; as relações serão restabelecidas apenas no fim do século XIX e institucionalmente no meio do século XX.
     Maria Poussepin instituiu uma Congregação original, as Irmãs de Caridade Dominicanas da Apresentação de Tours, onde as Irmãs atuam gratuitamente a serviço dos pobres e, além disso, devem ganhar a vida (na época da fundação, trabalho de tecelagem). Coloca o exercício da caridade no centro da vida religiosa e o trabalho um meio para viver a pobreza religiosa. Maria dava um lugar proeminente ao trabalho como verdadeira ascese e compromisso fraternal para atingir os objetivos da Congregação.
     A Beata faleceu no convento de Sainville, o primeiro que se construiu, no dia 24 de janeiro de 1744.
     Maria foi beatificada em 20 de novembro de 1994 pelo Papa João Paulo II.
 
A Congregação em 2011
     A Revolução Francesa espalhou a comunidade. Os despojos de Maria só foram localizados em 1857, sob a laje funerária rompida. Depois, outras casas das Irmãs da Apresentação foram criadas na Itália, na Inglaterra, no Chile, em Israel, no Peru, em Curaçao, na Colômbia, na Costa do Marfim em 1987 e em Camarões em 1988.
     Em 15 de dezembro de 1959, a Congregação foi «agregada» à Ordem Dominicana.
     Em 2011, a Congregação reunia cerca de quatro mil Irmãs por todo o mundo dedicadas ao ensino e à medicina.
     Na França, as Irmãs estão presentes em 23 cidades; a casa provincial fica em Paris.
 
Para mais informações:
Sœurs dominicaines de la Présentation de Tours,
Maison Mère 15 quai Portillon, 37100 TOURS (France
http://alexandrinabalasar.free.fr/maria_poussepin.htm
 
Postado neste blog em 23 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Beata Josefa de Sta. Inês, a Açucena de Benigànim - 21 de janeiro

 
   
Josefa Teresa nasceu em Benigànim (Valência, Espanha) em 9 de janeiro de 1625, filha de Luis Albyñana e de Vicenta Gomar, pais muito modestos de bens da terra, em uma pobre casa da Rua de São Miguel.
     Seguindo louvável costume da época foi batizada no mesmo dia. A venerada igreja paroquial de Benigànim, hoje do Puríssimo Sangue de Cristo, teve a honra de ser o local do batismo de Josefa Teresa; onde também, oito anos mais tarde, foi crismada, em 24 de agosto de 1633. Pouco tempo depois ela recebeu sua Primeira Comunhão na mesma venerada igreja.
     Entregue ao cultivo de sua angelical pureza, Josefa passou a infância e a adolescência. Era analfabeta, e não aprendeu outra língua além do valenciano. Ficou órfã de pai quando era ainda muito jovem e teve que empregar-se na casa de seu tio Bartolomeu Tudela, de quem suportou maus tratos. Na mansão dos Cuquerella, com o seu horto anexo, foi onde a jovem travou suas primeiras batalhas contra o demônio e recebeu do Senhor dons celestiais de consolação e familiaridade.
     Ao deixar a casa de seu tio Bartolomeu, o perfume dos milagres ali ocorridos permaneceu, pois no horto, entre as árvores frutíferas, as plantas e as flores, Josefa passava o dia trabalhando, e era onde Jesus gostava de se manifestar a ela. Enquanto lavava a roupa, o Menino Jesus lhe aparecia; ela era uma hábil lavadeira, deixava as roupas tão brancas quanto sua alma angelical.
    No horto há também uma árvore plantada por Josefa. Ela havia plantado, por desconhecer os segredos do plantio, um ramo de laranja, mas com as folhas no chão, ao invés do caule. Mesmo assim, os peregrinos ainda hoje podem ver os belos frutos da árvore plantada por ela.
     Superadas algumas dificuldades, como irmã leiga ingressou no mosteiro das Agostinianas Descalças da Puríssima Concepção e São José, em sua terra natal, em 25 de outubro de 1643. Este convento pertencia à observância descalça, fundada dentro da Ordem pelo Arcebispo de Valência, São João de Ribeira, em 1597. Na Ordem chamou-se Josefa Maria de Santa Inês, por devoção àquela virgem mártir. Comumente era chamada Madre Inês.
     Em 27 de agosto de 1645 professou e em 18 de novembro de 1663 o Arcebispo D. Martín de Ontiveros a tornou corista.
     Desempenhou trabalhos como irmã leiga, dedicada aos trabalhos domésticos. Destacou-se por sua espiritualidade, extrema obediência ao realizar os serviços na cozinha ou no jardim, entre outros. Por causa de sua inocência, era chamada carinhosamente "la niña".
     Simples, humilde, entregue infatigavelmente aos trabalhos e serviços da comunidade, era um espírito de eminente contemplação. De medíocres qualidades intelectuais, analfabeta, seu dom de conselho e seus conhecimentos teológicos causavam admiração. Seus êxtases surpreendiam a todos.
     Por causa disso, e também pelo extraordinário dom do discernimento, seu conselho era procurado pelas pessoas mais importantes e mais influentes da Espanha.
     
Outras características da Irmã Josefa foram: sua penitência assombrosa, que dedicava à conversão dos pecadores; sua caridade inesgotável para com as almas do Purgatório; e seu dom de oração e contemplação, que a mantinham em constante arroubamento das potências naturais, e que pela força de seu espírito arrebatava do solo sua leve carga corporal, que se mantinha no ar, cravados os olhos no céu. Sua vida foi toda ela um milagre do sobrenatural e uma confidência continua com seu esposo divino, que lhe aparecia e falava com invejável familiaridade.
     A Beata Josefa morreu no dia 21 de janeiro de 1696, na festa de sua patrona, Santa Inês, aos 71 anos de idade e 52 de profissão religiosa.
     Foi beatificada por Leão XIII em 26 de fevereiro de 1888. Seu confessor, Frei Filipe Benevento, pároco de Benigànim, escreveu sua biografia autorizada. Seus restos mortais estiveram conservados no convento das Agostinianas Descalças de Benigánim até o ano de 1936, quando desapareceram.
 
Buscam corpo incorrupto de uma beata espanhola
     Madri, 24 de março de 2002 (ACI). A publicação de um livro sobre a destruição de templos durante a Guerra Civil, revelou que os restos incorruptos da beata Josefa Maria de Santa Inês foram escondidos em 1936 para evitar sua profanação, porém, ainda não foram encontrados.
     Andrés de Sales recopiou em um livro mais de 150 fotos inéditas de esculturas patronais e templos destruídos durante a Guerra Civil em Valência. A obra, de 350 páginas, é intitulada "Escultura patronal valentina destruída em 1936". Inclui fotografias de operários "demolindo templos a marteladas, para o que inclusive lhes pagavam um jornal".
     Segundo a Agência Avan, o corpo da beata Josefa Maria de Santa Inês, religiosa nascida em 1625, "suportou o macerante passo do tempo e a corrupção até 1936 em uma urna de cristal e bronze dourado em Benigánim (Valência)".
     Porém estalou a Guerra Civil, e diante da onda de vilania e vandalismo que destruiu igrejas e imagens sagradas - em Valência ficou reduzido a cinzas noventa por cento do patrimônio artístico da Igreja -, o venerado corpo da beata foi ocultado para preservá-lo da profanação. A pessoa que o ocultou certamente o fez com consciência, posto que ainda não foi encontrado.
     Josefa Maria de Santa Inês foi elevada aos altares pelo Papa Leão XIII em 26 de fevereiro de 1896. "Seus restos, se crê que foram ocultados em 1936, porém ainda não se pôde localizá-los" explicou De Sales. Por este motivo, os fiéis de Benigànim fizeram uma reprodução do corpo jazente que foi abençoado em 1944.
 
http://www.santosebeatoscatolicos.com/2014/10/beata-josefa-maria-de-santa-ines.html
 
Postado neste blog em 20 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Santa Maria Cristina da Imaculada Conceição, Fundadora - 20 de janeiro

 
     Adelaide Brando nasceu em Nápoles no dia 1º de maio de 1856, numa família com boa situação financeira. O pai, João José, homem muito respeitado, ocupava um importante cargo num Banco da cidade; sua mãe, Maria Concetta Marrazzo, faleceu poucos dias após o nascimento da filha.
     Aos doze anos, na noite de Natal, ajoelhada diante do Menino Jesus, ela se consagrou a Deus com um voto de perpétua virgindade. Quando desejou ser uma Sacramentina encontrou oposição do seu pai, que depois a abençoou e permitiu que se juntasse à sua irmã Maria Pia, uma Clarissa do mosteiro das Fiorentinas, em Nápoles.
     Mas uma grave doença a fez regressar para casa duas vezes. Uma vez curada, em 1875, ingressou na Congregação das Sacramentinas. Um ano depois tomou o hábito e tomou o nome de Maria Cristina da Imaculada Conceição. Porém tornou a adoecer e foi forçada a deixar o caminho que havia iniciado com tanto fervor.
     A esta altura pôde perceber que tinha chegado o momento de criar uma família religiosa. Assim, no ano de 1878, enquanto morava no pensionato junto às Teresianas de Torre del Greco, lançou os fundamentos da Congregação das Irmãs Vítimas Expiadoras de Jesus Sacramentado, que cresceu rapidamente apesar das escassas economias e das oposições, sem falar da precária saúde da Fundadora.
     Depois de ter passado por várias sedes, seguindo os conselhos dos seus diretores espirituais, Pe. Michelangelo de Marigliano e Beato Ludovico de Casoria, a comunidade se transferiu para Casoria, não muito distante de Nápoles.
     A nova Congregação encontrou muitas dificuldades, mas conseguiu se manter com a ajuda da Divina Providência e de muitos benfeitores e sacerdotes, dentre os quais se sobressai o Pe. Domenico Maglione. A Congregação se enriqueceu com novos membros e casas, sempre testemunhou uma grande devoção para com a Eucaristia e primou pelo constante empenho e cuidado na educação de meninos e meninas.
     No ano de 1897, Maria Cristina emitiu os votos temporários; no dia 20 de julho de 1903 a Congregação obteve a aprovação canônica da Santa Sé; e no dia 2 de novembro do mesmo ano a Fundadora, junto com muitas irmãs, emitiu a profissão perpétua.
     Ela viveu com generosidade, com perseverança e alegria espiritual a sua consagração e assumiu o encargo de superiora geral com humildade, prudência e amabilidade, dando exemplos contínuos de fidelidade a Deus e à vocação, trilhando o caminho da santidade.
     Madre Maria Cristina adoeceu gravemente em 14 de janeiro de 1906, entregando sua bela alma a Deus no dia 20 de janeiro, aos 50 anos de idade. Assim como viveu, morreu, sem prodígios, mas com um semblante sereno que significava a vontade de Jesus Cristo totalmente cumprida.
     A Congregação por ela fundada em Nápoles se espalhou pela Itália e muitos outros países, com suas filhas empenhadas hoje como ontem no árduo caminho da virtude, sendo guiadas pela luminosidade do seu exemplo.
     Foi beatificada em 27 de abril de 2003, em Roma; e em 17 de maio de 2015 foi canonizada, sendo indicada sua festa para o dia de sua morte.
     Entre os fragmentos que nos restam de sua autobiografia, escrita por obediência ao diretor espiritual, podemos ler:
     A finalidade principal desta obra é a reparação dos ultrajes que recebe o S. Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento, especialmente as irreverências e desprezo, as comunhões sacrílegas, os sacramentos recebidos sem preparação, as santas missas pessimamente escutadas e o que mais amargamente traspassa este Coração Santíssimo é que muitos dos seus ministros e muitas pessoas a Ele consagradas se reúnem a esses desconhecidos e mais ainda ferem o seu coração (...) às Perpétuas Adoradoras, o divino Coração de Jesus quis confiar o caro e sublime encargo de Vítimas de perpétua adoração e reparação ao Seu Divino Coração horrivelmente ofendido e ultrajado no Santíssimo Sacramento do amor (...) Às Perpétuas Adoradoras de vida mista (...) o Sagrado Coração de Jesus confia o caro encargo de Vítimas da Caridade e da reparação; da caridade porque nos vem confiado o cuidado das meninas”.
 
Fontes
www.paulinas.org.br
http://www.santiebeati.it/dettaglio/91063
 
Postado neste blog em 19 de janeiro de 2013

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Santa Rosalina de Villeneuve, Abadessa - 17 de janeiro

     
Rosalina de Villeneuve nasceu no dia 27 de janeiro de 1263 no Castelo de Les Arcs-sur Argens, na Provença, próximo de Draguignan. Era filha de Arnaud II de Villeneuve, Senhor de Arcs, de Trans, de La Motte e de Esclans, e de Sybille Burgole de Sabran (ilustre família de origem espanhola vinda para Provença em 1112).
     Por ocasião da morte de sua mãe, seu pai a confiou a seu primo Santo Elzear de Sabran e a sua esposa a Beata Delfina.  De volta a Arcs, ela frequentava assiduamente a Cartuxa de La Celle-Roubaud, então dirigida por sua tia, Joana de Villeneuve, priora da Abadia.
     Algum tempo depois, Josselin, Bispo de Orange, voltando de uma peregrinação a Roma, conduziu-a ao convento de Santo André de Ramières, onde ela deveria entrar como noviça. De passagem por Aix, ela encontrou pela primeira vez Jacques Duéze, que se tornaria seu grande protetor como Bispo de Fréjus, e mais tarde como Papa, com o nome de João XXII.
     Foi enviada posteriormente à Cartuxa de Bertaud para ali continuar seus estudos, sendo admitida como professa por unanimidade no dia de Natal de 1280.
     Em 1285, ela retorna a La Celle-Roubaud; em 1300 foi escolhida para suceder sua tia, Joana de Villeneuve, como priora. Ela permanecerá no cargo até 1328, data em que pede para voltar a ser simples religiosa.
     Santa Rosalina morreu no dia 17 de janeiro de 1329, com a idade de sessenta e seis anos, e foi sepultada no cemitério da Abadia. A pedido de João XXII, em 11 de junho de 1334, primeiro domingo de Pentecostes, uma exumação foi feita sob a direção de Elzear de Villeneuve, Bispo de Digne.
     O corpo da Santa estava milagrosamente conservado, sem nenhum sinal de decomposição; os olhos estavam vivos e brilhantes como se ela estivesse viva. Elzear de Villeneuve extraiu-os das órbitas e colocou-os num relicário para expô-los à veneração do povo.
     O milagre da conservação dos olhos da Santa seria constatado por ordem do rei, em 1660. Luís XIV, em peregrinação à Cotignac, pediu que seu médico pessoal, Dr. Vallot, verificasse a veracidade do milagre. Este descobriu que o olho esquerdo havia se extinguido, enquanto o direito conservava sua luminosidade.
     O corpo foi levado para a capela e colocado atrás da balaustrada que o protegia contra profanações. Em 1334, foi transladado para uma capela fechada e colocado sob o altar. Em 1360, nova transladação do corpo para uma urna com visor de vidro para que os peregrinos pudessem contemplá-lo através dele.
     Por volta da metade do século XV, o convento foi devastado por um bando de saqueadores; as religiosas haviam tomado a precaução de esconder o corpo.
     Em 1504, após um período de decadência do mosteiro, o Barão des Arcs, Louis de Villeneuve, obteve a instalação de uma comunidade de Franciscanos no local. Depois de um milagre, o corpo da Santa foi reencontrado em bom estado de conservação, colocado em uma urna de madeira dourada e depositado ao lado do coro.
     Do século XVI até a Revolução Francesa, os Franciscanos guardaram as relíquias que lhes haviam sido confiadas por uma bula do Papa Alexandre VI, datada de 7 de outubro de 1499.
     O corpo de Santa Roselina somente será embalsamado em 1894, cerca de seis séculos após sua morte. Os Cartuxos, alertados pelo padre Besson, fizeram um minucioso tratamento do corpo para protegê-lo da destruição por insetos. No dia 6 de julho, o corpo foi transferido para uma nova urna, onde repousa ainda hoje, no lado direito da capela. Os venerandos despojos, revestidos do hábito da Cartuxa, permanecem até hoje expostos à veneração de seus devotos.
A Cartuxa de La Celle-Roubaud
     
La Celle-Roubaud deve seu nome ao eremita que nos primeiros séculos da Igreja, atraído pela beleza calma da região da Provença e pela presença de uma nascente abundante, fixou-se ali. Uma capela foi construída no local daquela ermida. Os Templários adquiriram La Celle-Roubaud em 1200 e colocaram a abadia sob a proteção de Santa Catarina do Monte Sion. Mais tarde, eles cederam a abadia às beneditinas.
     Em 1260, a Abadia de monjas beneditinas de La Celle-Roubaud foi cedida para a Ordem dos Cartuxos. Um grupo de religiosas ali se instalou sob a direção de Joana de Villeneuve, priora, enquanto as beneditinas se transferiam para Aix.
     A capela, que existia desde o século XII, sofreu inúmeras restaurações antes da instalação do altar principal e das estalas. Classificada como monumento histórico, ela possui um mobiliário muito rico, notadamente as estalas da Renascença e o revestimento do coro, que data de 1635.
     A capela lateral abriga um retábulo da Natividade de 1541: o Menino Jesus ladeado pela Virgem e São José; no plano posterior Santa Roselina ajoelhada, acompanhada dos filhos do doador e de anjos; na retaguarda, Claude de Villeneuve, Senhor de Arcs, e sua esposa, Isabel de Rétis. 
     Na parte externa do coro, numa urna de cristal, repousa o corpo de Santa Rosalina de Villeneuve e, em um armário mural, o relicário contendo seus olhos (1883).
O Castelo de Santa Rosalina
     Santa Rosalina foi Superiora da Abadia de La Celle-Roubaud de 1300 a 1328. Sua piedade e sua generosidade deixaram uma impressão duradoura na população local e, como consequência, seu nome ficou ligado à propriedade da Abadia.
     No século XIV, sob a influência do Bispo de Fréjus (futuro Papa João XXII), a propriedade tornou-se um dos mais importantes vinhedos da Provença. Essa liderança tradicional foi perpetuada por seu proprietário, Henri de Rasque de Laval. Em 1994, sob a direção do Sr. Bernard Teillaud a grande propriedade tornou-se uma das joias da vinicultura do sul da França.
     Mas, é o venerável corpo da Santa que mais atrai os visitantes. Devotos de todo o mundo visitam a capela, especialmente no dia 17 de janeiro (festa da Santa) e no primeiro domingo de agosto.
     Para assegurar uma completa renovação da Abadia e para preservar o nobre caráter do local, muitos artistas celebraram a vida de Santa Rosalina cada qual com sua especialidade. O arquiteto Jean-Michel Wilmotte realizou uma distribuição espacial do interior do castelo, respeitando sua história.
     Uma bela alameda com velhas árvores leva ao parque; enormes tanques coletam as águas da nascente; à beira das águas, as raízes gigantes de sequoias são nutridas pelas águas da nascente que caem em cascata nos tanques; os vinhedos dourados se perdem de vista... É um local realmente encantador!

Fontes:
http://www.santiebeati.it/dettaglio/90540
https://silenciocartujano.wordpress.com/tag/santa-rosalina-de-villeneuve/
 
Postado neste blog em 17 de janeiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2023

Santa Ita (Ida), Abadessa de Cluain Credhail - 15 de janeiro

     
Santa Ida (Ite, Ytha), a quem vários biógrafos atribuem o cognome de “Brígida de Munster”, nasceu em 480, no local atualmente chamado de Condado de Waterford. Seu pai Cennfoelad era descendente de Felim, o legislador, e sua mãe chamava-se Necta. Sua família era relacionada com o nobre e influente clã Déisi. O nome de batismo de Ita era Doroteia ou Deirdre; o nome Ita, que ela tomou posteriormente, significava sua sede do Amor Divino.
     Desde muito pequena Ita demonstrava uma inclinação incomum para a oração e a santidade. Todos que com ela conviviam notavam sua pureza e graça. Ela encarnava as seis virtudes da mulher irlandesa: sabedoria, pureza, beleza, habilidade musical, gentil no falar e perícia com agulhas. Ela foi descrita também como doce e cativante, prudente em palavras e obras, constante e firme nos propósitos. Mas sua feminilidade não a impedia ter um caráter forte.
     Em sua juventude Ita sonhou que um anjo lhe dera três pedras preciosas. Ela ficou perplexa e pensava o que significaria tal simbolismo. Outro visitante celestial explicou a ela que sonhos e visitas celestes iriam acontecer durante toda sua vida. As pedras no sonho simbolizavam os dons do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
     Já muito jovem Ita acreditava ter um chamado de Deus e desejava tornar-se religiosa. Mas seu pai relutava em permitir que ela dedicasse totalmente a Deus sua vida. E planejou dá-la em casamento a um jovem nobre. Depois de três dias de jejuns e orações de Ita, o pai sonhou que sua filha iria servir a Deus em outra região do condado e muitas pessoas encontrariam a salvação por meio dela. Na manhã seguinte, Cennfoelad permitiu que Ita realizasse seu desejo.
     O Bispo Declan de Ardmore conferiu a ela o véu, tornando-a monja. Ela ingressou no mosteiro de Cluain Credhail, posteriormente conhecido como Killeedy (Igreja de Santa Ida) no condado de Limerick. Mais tarde seria eleita abadessa do mosteiro. Esta comunidade se caracterizou por ensinar as crianças da comarca.
     Era legendária sua ênfase na austeridade, bem como seus milagres e dons proféticos. Suas obras e milagres foram descritos por São Cuimin de County Down.
     Santa Ita faleceu cerca de 570, provavelmente em decorrência de um câncer, pois os cronistas contemporâneos descrevem sua enfermidade como um escaravelho que cresceu como um leitão, maneira de descrever uma doença desconhecida.
     Sua morte é mencionada nos Anais de Inisfallen (ca. 1092) com a seguinte frase: "Morte de Ita de Cluain, mãe adotiva de Jesus Cristo e de Brandão". Os Anais também mencionam que em 553 uma batalha foi vitoriosa graças às suas orações.
     Santa Ita foi venerada por numerosos Santos, incluindo São Brandão, São Pulcerio (Mochoemog) e São Cuimin. São Brandão de Clonfert foi aluno de Ita, e quando mais tarde ele perguntou a ela quais as três coisas mais importantes para agradar a Deus, ela citou: fé verdadeira, simplicidade e generosidade. As mais detestáveis eram mau humor, amor ao pecado e avareza.
     Diz-se que Santa Ita é a autora de uma canção de ninar irlandesa que ela cantava quando o Menino Jesus aparecia para ela. É festejada no dia 15 de janeiro.
 

http://www.santiebeati.it/dettaglio/91036
https://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Ita
 
Postado neste blog em 15 de janeiro de 2013

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Santa Margarida Bourgeoys, Fundadora - 12 de janeiro

     
A cidade de Montreal (Canadá) deve sua origem a um grupo de fiéis, homens e mulheres da França do século dezessete, cujo sonho era levar aos povos do Novo Mundo o que consideravam como seu bem mais precioso: sua Fé. Foi com a esperança de realizar este objetivo que estabeleceram uma colônia na ilha de Montreal. Em maio de 1642 a Vila Maria era fundada na ilha de Montreal. Margarida Bourgeoys chegou à nascente Vila Maria em 1653. A fundação vivia então o temor de todos os perigos aos quais estava exposta.
     A chegada de Margarida, onze anos depois da fundação, realizava uma parte do plano inicial, que previa a educação das crianças da colônia. Ela acompanhava o “recrutamento dos cem homens”, com o qual se contava salvar Vila Maria, que em 1653 enfrentava uma tremenda alternativa: abandonar o novo posto ou aumentar seus habitantes.
     Com aqueles homens e aquelas mulheres, compartilhava tanto os perigos e as privações, como os esforços e as esperanças que marcavam o ritmo da vida da colônia nascente. Como eles, era vulnerável às ameaças que a rodeavam: ataques dos inimigos ou enfermidades, bem como as incompreensões das autoridades da Igreja e do Estado, algumas vezes hostis ou incompetentes.
     Como muitos dos que participaram da direção dos trabalhos de fundação de Montreal, Margarida Bourgeoys vinha de uma região da França onde desde a Idade Média as mulheres colaboravam ativamente na sociedade. Ela estava convencida da importância do papel das mulheres na colônia: nas mãos das educadoras, nas mãos das futuras esposas e mães repousava o futuro do Canadá. Como consequência, considerava sua educação como uma prioridade.
     A educação que Margarida e suas companheiras davam às crianças, meninos e meninas no começo, bem como às mulheres da Nova França, era antes de tudo a educação da Fé. A Fé que Margarida expressava tanto na sua vida como em suas palavras, era a alma de todo seu ensinamento, era uma Fé baseada no mandamento do Novo Testamento: Amarás ao Senhor teu Deus de todo coração, de toda tua alma e ao próximo como a ti mesmo.
     Além dos valores religiosos, Margarida preparava as crianças, em sua maioria filhos dos colonos que edificavam Montreal, para o desafio de ganhar a vida para si e para suas famílias e construir um país novo.
A Fundadora
     Margarida nasceu no dia 17 de abril de 1620, uma Sexta-feira Santa, em Troyes, antiga capital da Champagne. Foi batizada no mesmo dia na Igreja de São João, vizinha da casa paterna. Era a sexta dos doze filhos de Abraão Bourgeoys e de Guilhermina Garnier e cresceu no seio de uma família profundamente cristã pertencente à burguesia da dita cidade, e comerciantes de cera.
     Na cidade natal frequentou a escola elementar. Nas suas “Memórias” a Santa revela a sua vocação precoce. “Desde minha primeira juventude o Senhor me deu uma particular inclinação para reunir as jovens da minha idade”. Com elas não só jogava, como costurava e rezava.
     Aos dezenove anos, com a morte da mãe, Margarida assume a direção da casa. Participando de uma procissão no primeiro domingo de outubro de 1640, Margarida passou diante do portal da abadia e ergueu o olhar na direção de uma imagem de Nossa Senhora. Por um instante o rosto da Virgem lhe pareceu vivo e sorridente, e ela sentiu-se livre dos sentimentos de vaidade que a vinham acometendo. Ela considerou sempre tal episódio como “a sua conversão”.
     Para corresponder à graça recebida, Margarida entrou na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora, fundada por São Pedro Fourier e ali fez os votos como externa na Congregação “das jovens piedosas e caridosas destinadas ao ensino das crianças dos bairros pobres da cidade de Troyes”.
     Seu diretor espiritual, Monsenhor Jendret, lhe propôs a fundação de uma congregação de religiosas que, embora vivendo em comunidade, trabalhassem no mundo a favor dos pobres, dos doentes e dos ignorantes. Como tal empreendimento não fosse momentaneamente levado adiante, Margarida retoma sua vida de oração e de assistência aos pobres e doentes.
     Em 1650, no dia da Assunção, prostrada em adoração ao Santíssimo Sacramento, viu, ao lado da Hóstia, o Menino Jesus que lhe sorria sem nada dizer.
     Um dia recebe a visita do governador do Canadá, Paul Chomedey de Maisonneuve, considerado pelos contemporâneos “um verdadeiro cavaleiro, forte e corajoso como um leão e piedoso como um monge”, francês de origem, que propõe a Margarida transferir-se para Montreal para abrir uma escola elementar.
     Na noite anterior, São Francisco aparecera à Santa em sonho acompanhado daquele senhor. Ela não hesitou em colocar-se à sua disposição, no caso de seus superiores consentirem. Os parentes procuraram retê-la, mas, no início de 1653, embarcou para o Novo Mundo, sem dinheiro nem vestiário, não sem antes renunciar legalmente à sua parte na herança. A viagem durou três meses e foi trágica: a peste se espalhou a bordo e Margarida se tornou enfermeira, médica e sacerdote.
     Em Vila Maria, na ilha de Montreal, ao lado do forte onde Margarida se alojou, surgira um pequeno hospital fundado pela Venerável Jeanne Mance em 1645. As duas heroínas da caridade logo se tornaram amigas e colaboradoras. A principal ocupação da Santa era dar aulas aos filhos dos colonos, mas também seria enfermeira no hospital e auxiliadora dos soldados mais pobres.
A Sta e Maisonneuve
diante da Cruz
     Escoltada por trinta homens, fez reconstruir a grande cruz que Maisonneuve havia erigido sobre a montanha vizinha, em cumprimento a um voto, e que os iroqueses tinham abatido. Libertou o governador de grave tentação, exortando-o a cumprir o voto de castidade. Enfim, idealizou a construção da primeira igreja de pedra dedicada a Nossa Senhora.
     Em 1658, após quatro anos de intensa atividade, Margarida conseguiu abrir a primeira escola. Como os trabalhos se multiplicassem, a Santa pensou em procurar na França jovens desejosas de servir a Deus no próximo. O seu plano para o futuro constava de um pequeno instituto para as crianças indígenas, uma associação para as jovens e um círculo para os jovens esposos, com a finalidade de preparar boas mães de família. Encontrou quatro jovens na França dispostas a segui-la, e a amiga Jeanne Mance ajudou-a a encontrar reforços para suas obras.
     As obras de Madre Bourgeoys foram se consolidando, o que lhe pareceu uma confirmação da Providência para que ela realizasse a fundação da Congregação de Nossa Senhora de Montreal. A doação de terras efetuadas em 1662 pelo governador é uma nova forma de apoio à obra.
     Para obter autorização real e encontrar novas vocações, a Fundadora viajou novamente para a França em 1670. Ajudada pela “Companhia de Montreal”, consegue ser recebida por Luiz XIV, que lhe concedeu tudo que desejava. A única preocupação da Madre era então dar uma formação religiosa ao seu Instituto, como ela anotou em suas “Memórias”: “Nos é sempre lembrado que um certo espírito de humildade, de simplicidade, de docilidade, de obediência, de pobreza, de desprendimento de todas as coisas e de abandono à Divina Providência deve ser o verdadeiro espírito da Congregação”.
     O primeiro Bispo de Quebec, Monsenhor de Laval, erigiu a Congregação em 1676. Madre Margarida fundava uma das primeiras comunidades religiosas de mulheres não enclausuradas da Igreja, as quais deviam prover as suas próprias necessidades, e que sobrevivem até hoje. Sua característica é resultado da experiência adquirida por Margarida ao longo do que se tem chamado “o período heroico da história de Montreal”. Sua fonte de inspiração foi a Santíssima Virgem, que ela considerava como a primeira e a mais fervorosa dos discípulos do Senhor, ensinando e fazendo o bem na Igreja primitiva.
     Se fossemos perguntar a Madre Margarida qual foi o melhor momento de sua vida, acreditamos que ela teria escolhido o período compreendido entre 1653, com a saída de Paul de Chomedey de Maisonneuve e a chegada do batalhão de Carignan. Foram anos de luta, de perigo, de privação e de prova; foram também anos de esperança, de amizade e de sonhos compartilhados. Naqueles anos, Margarida conhecia cada colono e cada mulher de Montreal, muitos dos quais intimamente: ela era parte de suas vidas como eles eram da sua.
     Durante sua vida, a Congregação contou não somente com mulheres francesas, mas também com norte-americanas de ascendência francesa, ameríndia e até inglesa. Sua ação educadora se estendeu até Quebec e aos pequenos povoados ao redor de São Lourenço.
     Como tantas outras fundadoras de congregações religiosas, Margarida é conhecida por sua obra, para cuja realização sofreu a dupla prova de ter posta em dúvida sua capacidade de realização, e de sentir-se terrivelmente indigna aos olhos de Deus. Porém, sua coragem e seu ardente desejo de ajudar as crianças e a todos, levou-a sempre para frente. Ela dizia: “Quero a todo custo não apenas amar ao meu próximo, mas fazer-me amada por eles”.
     Em 19 de setembro de 1693, aos 72 anos, Madre Margarida renunciou ao cargo de superiora, quando suas forças começavam a declinar. Eis as palavras que dirigiu à comunidade na ocasião:
     “Agora não se trata mais de falar de mim senão como uma miserável, que por não ter sido fiel ao empreendimento que me foi confiado tão amorosamente, merece grandíssimos castigos, que aumentaram ainda por causa da pena que meu relaxamento vos fez sofrer. Peço-vos perdão e o auxílio de vossas orações. Coloquem aqui o remédio enquanto for possível. É preciso mudar prontamente de superiora, e a que for eleita faça observar exatamente a Regra, até nas maiores minúcias, porque sem isto, que coisa se fará nesta comunidade diferente do que fazem as pessoas do mundo que vivem cristãmente? Mantende-vos no espírito que deveis ter, que é de pobreza, de mortificação, de obediência e de abandono nas mãos de Deus”.
     Nos últimos anos de vida, Madre Margarida viveu serena e em perfeita conformidade com a vontade de Deus.
     Em 1698, após quarenta anos, o Senhor concedeu-lhe a alegria de ver sua Congregação ser aprovada como ela a havia concebido: além dos três votos, as religiosas fazem o de instruírem e educarem a juventude feminina.
     Confinada na enfermaria, a Fundadora se preparou para a morte cosendo, rezando e exortando as Irmãs à fidelidade ao dever, à caridade e à observância da Regra. O fim chegou de forma inesperada. No último dia do ano 1699, a fundadora ofereceu sua vida para salvar a da mestra de noviças, que estava gravemente enferma. A mestra de noviças recobrou a saúde e a Madre Bourgeoys morreu no dia 12 de janeiro de 1700.
     Pio XII a beatificou em 12 de novembro de 1950, e foi canonizada por João Paulo II em 31 de outubro de 1982, oferecendo assim à nação canadense a sua primeira Santa.
  
Fontes: Museu “Margarida Bourgeoys”; www.santiebeati.it
 
Postado neste blog em 11 de janeiro de 2012

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Santa Leônia Francisca de Sales Aviat, Fundadora - 10 de janeiro

     
Sua vida foi marcada por três etapas fundamentais: o período de formação no Mosteiro da Visitação de Troyes, capital da Champagne; o encontro com o Pe. Louis Brisson, futuro fundador dos Oblatos de São Francisco de Sales; e a aplicação das leis subversivas contra os institutos religiosos na França no final do século XIX.
     Leônia Aviat nasceu no dia 16 de setembro de 1844 na cidade de Sézanne, na região francesa de Champagne. Seus pais eram católicos praticantes e honestos comerciantes.
     Conforme o costume da época, quando completou dez anos eles a enviaram para o colégio das Irmãs da Visitação da cidade de Troyes, ali permanecendo por seis anos. Foi naquele período que ela recebeu a Primeira Comunhão e a Crisma. Sob a sábia orientação do capelão Pe. Luís Brisson e da superiora Madre Chappuis, recebeu uma educação humanística, uma profunda formação religiosa e moral, marcada pela doutrina salesiana de abandono à Divina Providência.
     Em 1866, Leônia rejeitou um vantajoso matrimonio, expressando o desejo sincero de dedicar sua vida a Jesus Cristo. Com autorização dos pais ela foi visitar o Pe. Brisson a fim de se aconselhar.
     A cidade de Troyes naquela época tinha se tornado um polo de indústrias têxteis que atraiam a mão-de-obra do campo para o centro urbano.
     Atento a esta situação e sensível às necessidades das adolescentes camponesas que deixavam suas famílias em busca do trabalho promissor, desde 1858 o Pe. Brisson havia fundado a Obra São Francisco de Sales, uma casa-família que acolhia e assegurava a assistência e a educação cristã àquelas jovens operárias. Porém, como era difícil encontrar uma diretora estável para esta casa-família, o Pe. Brisson havia decidido fundar uma congregação religiosa.
     Durante a visita de Leônia o experiente padre expôs esta situação e encontrou nos anseios da jovem um sinal de Deus. Colocou-a na direção da casa-família.
     Em 1868 ele fundou a Congregação para continuar de forma organizada a sua Obra para as operárias e Leônia vestiu o hábito religioso juntamente com Lucia Cannet, sua ex-companheira de estudos, adotando o nome de Irmã Leônia Francisca de Sales Aviat.
     Em 1872 Leônia foi eleita superiora da nova Congregação, colocada sob a proteção e guia do Santo bispo de Genebra, de quem adotam completamente as regras espirituais e pedagógicas. Isto explica o nome adotado “Madres Oblatas de São Francisco de Sales”.
     Desde então, Madre Aviat se dedicou ao apostolado entre as jovens operárias, dando a elas segurança, educação religiosa, recreação e preparando-as para no futuro constituírem famílias católicas bem estruturadas. As Oblatas abrem escolas básicas nas paróquias.
     Após ter estabilizado a Congregação e as casas-famílias de Troyes, Madre Aviat foi para Paris, onde organizou um pensionato para moças de famílias ricas, revelando-se uma educadora excepcional, obtendo, junto à alta sociedade parisiense, o mesmo sucesso que alcançara com as jovens operárias de Troyes. Madre Aviat dirigiu esta obra por oito anos, estendendo assim seu apostolado às diversas classes sociais.
     Retornando a Casa Mãe da Congregação, ali residiu por mais quinze anos, assumindo o posto de superiora até sua morte.
A Santa na juventude
     Madre Aviat enviou Irmãs Oblatas para a Namíbia, África do Sul, Equador, Suíça, Áustria, Inglaterra e Itália, abrindo pensionatos, escolas e obras assistenciais.
     No ano de 1903 as leis anticlericais francesas de Emilio Combes decretaram a dissolução das Congregações religiosas e o fechamento de suas casas, apoderando-se de todos os seus bens. Vinte e três casas de sua obra, mais seis dos padres Oblatas foram fechadas.
     Madre Aviat e suas Oblatas se refugiam em Perugia, onde desde 1896 tinham uma casa para assistência das jovens empregadas domésticas.
     Daquela cidade Madre Aviat, que não esmorecera, continuou a atividade da Congregação, exortando suas Irmãs com cartas, visitas e ensinamentos.
     Sua última grande prova foi a morte do Padre Brisson, em 2 de fevereiro de 1908: o venerando Pe. Brisson faleceu na sua cidade natal, e Madre Leônia só pode assistir ao funeral vestindo roupas civis.
     Nos últimos anos ela se dedicou à obtenção da aprovação definitiva das Constituições da obra, que ela apresentou ao Papa São Pio X, tendo este dado a aprovação canônica em 1911.
     Madre Leônia morreu em Perugia, Itália, no dia 10 de janeiro de 1914, na Casa religiosa da Via della Cupa. Foi primeiramente sepultada no cemitério local. Mais tarde seu corpo foi transladado para a Igreja de Santa Maria della Valle e atualmente repousa na Casa Mãe da Congregação em Troyes, França.
     Foi beatificada em 27 de setembro de 1992 pelo Papa João Paulo II e canonizada pelo mesmo pontífice em 25 de novembro de 2001, na Basílica Vaticana, em Roma. Para sua festa litúrgica a Igreja reservou o dia 10 de janeiro.
 
Fontes: http://www.paulinas.org.br
https://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20011125_de-sales-aviat_sp.html
 
Postado neste blog em 9 de janeiro de 2012

sábado, 7 de janeiro de 2023

Santa Gúdula, padroeira de Bruxelas - 8 de janeiro

     
     A Catedral de Bruxelas é visitada por todos que vão àquela cidade por causa de seu grande valor histórico e arquitetônico. Ela é dedicada a Santa Gúdula, virgem, padroeira de Bruxelas, muito pouco conhecida fora da Bélgica. Para muitos o seu nome soa estranho e bárbaro, como a longínqua época em que ela viveu.
     De acordo com a Vita Gudilae, escrita em 1048 por Onulfo de Hautmont, hagiógrafo na Abadia de Hautmont, Santa Gúdula nasceu numa aristocrática família franca. Seu pai era Viterico, duque da Lorena, e sua mãe, Santa Amalberga de Maubeuge.
     Gúdula veio ao mundo no ano de 650, no Brabante, região central da atual Bélgica. É uma das estrelas de uma constelação de santos: filha de Santa Amalberga, afilhada de Santa Gertrudes de Nivelles, irmã de São Aldeberto e Santa Reinalda. Santa Reinalda, viveu praticamente como monja em uma de suas propriedades no Brabante, próximo de Hal, e São Aldeberto foi bispo de Arrás e Cambrai.
     Gúdula foi educada no Convento de Nivelles sob a tutela de sua santa madrinha. Por ocasião da morte de Santa Gertrudes, em 659, retornou à casa de seus pais. De acordo com alguns historiadores, Gúdula viveu reclusa no oratório de São Salvador de Moorsel, distante poucas milhas de sua casa paterna. Segundo outros, ela passou a viver em casa, levando uma vida extraordinária de piedade e de recolhimento.
     Narra a tradição que todas as manhãs, antes da aurora, Santa Gúdula se dirigia à capela de madeira dedicada a São Salvador, em Moorsel. Certa manhã, o demônio, furioso por vê-la tão devota, apagou a lanterna que ela levava. Gúdula ajoelhou-se no chão lamacento, se pôs a rezar e a lanterna acendeu milagrosamente. Este fato deu origem à iconografia da Santa: uma lanterna às vezes substituída por uma vela que a Santa tem na mão, enquanto o demônio, iracundo, jaz a seus pés e um anjo acende de novo o círio.
     Outra versão, conta que toda vez que Gúdula buscava chegar até a capela, o demônio enviava diabinhos para que estes perturbassem sua concentração e, com isso, conseguissem apagar a chama da lanterna. Vendo isto, Gúdula intensificava sua oração e um Anjo do Senhor aparecia ao seu lado, afastando o mal. Cansado e vencido, o mal partia e Gúdula chegava protegida até a capela.
     Esta história nos faz refletir sobre a força e o poder da oração, que é uma luz que nos conduz e nos protege em nosso caminho, afastando o mal que tenta nos prejudicar.
     A ação do Anjo – protegendo e guiando Santa Gúdula – nos mostra como estas criaturas divinas colaboram na obra do Senhor e velam por nós, nos protegendo, mas também orientando-nos em direção à Luz Divina. Nos momentos difíceis, somos guiados e protegidos pelos Anjos do Senhor, por isso a devoção aos Anjos e, sobretudo, ao Anjo da Guarda é importante em nossa caminhada espiritual.
     Humberto, o antigo cronista de Lobbes, apresenta Santa Gúdula como uma mulher consagrada de corpo e alma ao socorro do próximo. Voltando um dia da capela de Moorsel, encontrou uma pobre mulher que levava nos braços um menino de dez anos, paralítico de pés e mãos. Gúdula tomou-o em suas mãos, acariciou-o e rezou com fervor Àquele que disse: "Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome vos será concedido". O menino se sentiu curado imediatamente e começou a dar saltos de alegria.
     Em outra ocasião, uma leprosa chamada Emenfreda foi ao seu encontro. A Santa examinou suas chagas, consolou-a com pensamentos sublimes e em seguida a curou. Estes fatos prodigiosos rapidamente se tornaram conhecidos na região e uma multidão de sofredores procuravam-na em busca de alívio para os seus males.
A Santa em iluminura
do séc. XV
     Após breve enfermidade Gúdula morreu, provavelmente em 8 de março de 712. O cronista Humberto descreve a desolação da pobre gente da comarca, que estava acostumada a vê-la como a uma espécie de fada protetora, e relata os grandes louvores que dela fizeram. Nunca se tinha visto tantas muletas e sacolas numa missa de funeral, que foi rezada na igreja de Ham (Alost, Bélgica). Gúdula foi enterrada em Vilvoorde.
     Tempos depois, o corpo de Santa Gúdula foi transladado para Moorsel, e junto ao seu túmulo construiu-se um mosteiro que durou pouco tempo.
     Mais tarde, provavelmente em 977, seus despojos foram confiados a Carlos de França, filho de Luís, duque da Lorena. Durante uns sessenta anos Santa Gúdula repousou na Igreja de São Géry de Bruxelas.
     Finalmente, em 1047, o Conde de Lovaina, Lamberto II, transladou a preciosa relíquia para a Igreja de Molemberg, dedicada a São Miguel, a primeira paróquia de Bruxelas, mudando o seu nome para o de Santa Gúdula. O Conde erigiu ali uma colegiada. Nos Arquivos Gerais do Reino de Bruxelas encontramos um relato da história desta fundação. A partir de então, Bruxelas tomou-a como sua padroeira.
     Infelizmente, em 1579 as relíquias da Santa foram dispersas pelas mãos dos calvinistas.
     O Martirológio Romano celebra a festa de Santa Gúdula em 8 de janeiro; a arquidiocese de Malinas e a diocese de Gent a celebram no dia 19 do mesmo mês.
Catedral de Bruxelas
     
Essa magnífica igreja combina vários estilos, desde o Romano até o Gótico, sendo esse último o estilo predominante. O início da sua construção data de 1226, mas sua origem é ainda anterior a isso, provavelmente do século VIII ou IX, quando uma capela dedicada a São Miguel havia sido construída no local.
    Dois séculos depois, o então duque de Brabante, Lamberto II mandou construir uma igreja romanesca no local. Ainda no século XI, as relíquias de Santa Gúdula, a padroeira de Bruxelas, foram transferidas para lá, e foi a partir de então que se tornou conhecida como a igreja de São Miguel e de Santa Gúdula, os dois santos padroeiros da cidade. É por isso que se vê estátuas de São Miguel no topo de vários prédios importantes da cidade.
     Foi Henrique I, outro duque de Brabante quem ordenou o início da construção da igreja atual que durou por nada menos que 300 anos! A igreja finalmente ficou pronta em 1519, próximo ao reinado do imperador Carlos V. Essas duas figuras importantes historicamente para Bruxelas foram as mesmas que moraram no palácio Coudenberg. O estilo gótico apareceu nessa mesma época na região e por isso ele está tão realçado na catedral.
 



Capela de Santa Gúdula em Moorsel