sexta-feira, 29 de maio de 2020

A Gloriosa Epopeia de Santa Joana d’Arc – 30 de maio

     

     Pastorinha chamada por Deus para realizar um feito sem igual no Novo Testamento, ela restaurou a França, país então sem esperança, arruinado pelo caos político-religioso e ocupado em larga medida pelos ingleses. Reinstalou no trono o rei legitimo e levou à vitória seus desanimados exércitos.
     Considerada como profetisa do Novo Testamento, a santa gravou o nome de Jesus na bandeira com que conduzia as tropas ao combate. Dois séculos e meio depois, o Sagrado Coração viria pedir a Luís XIV, rei da França, mediante aparição à vidente Santa Margarida Maria Alacoque, que gravasse sua imagem nas bandeiras reais.
     Aprisionada por ocasião de uma escaramuça, Santa Joana d’Arc foi julgada por um tribunal iníquo que a condenou a ser queimada como bruxa na cidade de Rouen, em 1431. Hoje, porém, a história da santa, canonizada em 1920, faz vibrar o mundo.
     Quem foi Joana d’Arc e como eram as vozes do Céu que ouvia? Como fez o que parecia impossível?
As vozes no campo de batalha
     As vozes sobrenaturais que ela ouvia todos os dias desde o início de sua missão foram um dos pretextos para tentar fazê-la cair em erro ou contradição.
     Segundo Dunois, no encontro com o rei, Joana disse: “Concluída minha oração a Deus, ouço uma voz que me diz: ‘Filha de Deus, vai, vai, vai, eu te ajudarei, vai.’ E quando ouço esta voz, sinto uma grande alegria’”.
     Quando a santa entrou na Guerra dos Cem Anos, o pretendente inglês e seu aliado, o Duque de Borgonha, dominavam grande parte da França. Carlos VII, o legítimo pretendente à coroa francesa, era apelidado de “reizinho de Bourges”, de tal maneira seu território estava reduzido. Seu exército estava dizimado, desmoralizado, malvestido e mal alimentado. A batalha decisiva travava-se em volta de Orleans, sobre o rio Loire. A cidade era fiel a Carlos VII, mas os ingleses construíram bastiões e linhas que impediam levar alimentos e munições aos defensores. Orleans ia cair pela fome.
     Santa Joana fez uma gloriosa entrada em Orleans com o exército francês no dia 29 de abril de 1429. Dunois ficou pasmo vendo depois a Donzela esmigalhar o cerco inglês com soldados desmoralizados. Em 4 de maio de 1429, a santa impulsionou a conquista do bastião de Saint-Loup, vitória que reanimou os abatidos franceses.
     Na festa da Ascensão, narra Dunois: “[A Donzela] dirigiu aos ingleses uma carta impositiva, […] dizendo-lhes que levantassem o cerco e voltassem para a Inglaterra, porque do contrário ela lançaria um grande assalto e os forçaria a irem embora”. ... “Eis o que vos escrevo pela terceira e última vez, eu não vos escreverei mais”.
“JESUS MARIA, Joana a Donzela’.
     “Após escrever, Joana pegou uma flecha, amarrou nela a carta com um fio e ordenou a um arqueiro lançá-la aos ingleses, gritando: ‘Lede, são notícias’”. Os ingleses a receberam, leram-na e vociferaram as piores injúrias contra a virgem.
Santa Joana d’Arc enfrenta um tribunal ilegítimo
     Numa escaramuça junto às muralhas de Compiègne, Santa Joana d’Arc foi aprisionada e vendida aos ingleses que haviam invadido a França. Estes queriam condená-la como bruxa para tentar vencer a fabulosa reação que ela inspirou. Porém, como simples militares, eles não tinham meios para realizar isso. Necessitavam recorrer a maus religiosos do país ocupado. Promoveram então a instalação de um tribunal composto por mais de 50 eclesiásticos e legistas dirigidos pelo bispo de Beauvais, D. Pierre Cauchon.
     Este tribunal, que a condenou em 1431, era destituído de qualquer competência jurídica, civil-criminal ou canônica. As palavras da santa e de seus injustos interrogadores foram registradas com minúcia pelos escreventes do tribunal. Anos depois, num processo concluído em 1455 e validamente conduzido, as legítimas autoridades civis e eclesiásticas declararam nulo o processo contra a santa, cuja memória reabilitaram. Por fim, um processo de beatificação realizado no século XX constatou a heroicidade de suas virtudes, e Bento XV a canonizou em 1920.
O Bispo Cauchon, chefe do tribunal
     O advogado Nicolas de Bouppeville, contemporâneo de Santa Joana d’Arc, depôs da seguinte forma sobre o presidente do tribunal: “Eu jamais acreditei que o bispo de Beauvais estivesse engajado no processo pelo bem da Fé ou por zelo da Justiça. Ele obedecia simplesmente ao ódio que lhe inspira o devotamento de Joana ao rei da França; longe de capitular diante do medo aos ingleses, ele não fez senão executar sua própria vontade. Eu o vi relatar ao regente [o duque de Bedford] e a Warwick suas negociações para comprar Joana; ele não continha seu contentamento e falava com animação”.
     O escrevente Guillaume Manchon registrou: “Numa sessão, Frei Isambard dirigiu-se a Joana, tentando orientá-la e informá-la sobre o alcance da submissão à Igreja. ‘Calai-vos, em nome do diabo’, interrompeu o bispo aos berros”.
A Donzela na fogueira
     Na segunda-feira, 28 de maio, a santa foi imediatamente conduzida ao tribunal, que formalizou sua condenação final. Dois dias depois, por volta das 9 da manhã, ela foi levada ao local da execução: a Praça do Velho Mercado.
     Após ouvir pacientemente a condenação, a virgem elevou orações e lamentações tão piedosas que até juízes, bispos e muitos presentes custavam a conter as lágrimas. Ela encomendou sua alma a Deus, a Nossa Senhora e a todos os santos, pediu perdão pelos juízes e pelos ingleses, pelo rei da França e por todos os príncipes do reino.
     Frei Jean Toutmouillé atestou que, voltando-se em direção de D. Cauchon, a santa lhe disse: “Bispo, eu morro por vossa causa”. Ao que, insensível, o prelado revidou: “Joana, tenha paciência, você morre porque não cumpriu o compromisso e você reincidiu em seu primeiro malefício”.
     – “Eu apelo contra ti na presença de Deus”, foram as últimas palavras desse diálogo.
     A pedido da santa, frei Isambard de la Pierre, O.P. segurava uma cruz, pois ela queria ver o símbolo de Jesus até o último instante de sua vida. “No meio das chamas, contou o frade, ela não parava de invocar em altas vozes o nome de Jesus, implorando a misericórdia e o auxílio dos santos do Paraíso. Ela afirmava que não era nem herética, nem cismática como dizia o acórdão. Com o fogo ardendo, ela inclinou a cabeça e, antes de render o espírito, pronunciou ainda com força o nome de Jesus. O público chorava”.
     “No mesmo dia – acrescentou Frei Isambard – o carrasco veio até o convento para procurar a frei Martin Ladvenu e a mim. Ele estava tocado e muito emocionado, com espantoso arrependimento e angustiada contrição. Tomado pelo desespero, ele temia nunca obter o perdão e a indulgência de Deus pelo fato de ter feito isso a uma santa mulher. ‘Eu temo muito estar condenado – dizia para nós – porque eu queimei uma santa’.
     “Esse mesmo carrasco dizia e afirmava que não obstante o óleo, o enxofre e o carvão que ele aplicou sobre as entranhas e o coração de Joana, não conseguiu que fossem consumidos e reduzidos a cinzas. Ele estava muito perplexo, como se fosse um evidente milagre”, depôs ainda frei Isambard.
A virgem guerreira no dia-a-dia
     “Joana era pura – conta o duque de Alençon – e odiava muito essas mulheres que acompanham os exércitos. Certo dia, em Saint-Denis, voltando da sagração do rei, eu a vi de espada na mão perseguindo uma jovem prostituta, e até quebrou a espada nessa perseguição.
     “Ela fazia questão de vigiar para que as mulheres dissolutas não fizessem parte de seu séquito, pois dizia que Deus permitiria que fôssemos derrotados por causa de seus pecados.
     “Ela também se irritava enormemente quando ouvia os soldados blasfemar e os repreendia com veemência. Ela me repreendia especialmente quando eu blasfemava. Quando eu a via, eu parava de blasfemar”, acrescentou o duque.
     “Ao anoitecer, Joana – narra Dunois – costumava retirar-se a uma igreja. Mandava tocar os sinos aproximadamente durante meia hora e reunia os religiosos mendicantes que acompanhavam o exército do rei. Então, dedicava-se à oração e fazia cantar pelos frades uma antífona em louvor da Bem-aventurada Virgem, Mãe de Deus”.
     “Joana era muito devota de Deus e da bem-aventurada Virgem Maria. Ela se confessava quase todos os dias. […] Sua grande alegria consistia em comungar com os filhos dos mendigos. Quando se confessava, chorava”, confirmaram diversas testemunhas.
O retorno de Santa Joana d’Arc 
     Segundo uma piedosa tradição, seu coração ainda palpitava entre as brasas quando foi jogado no rio Sena para fazê-lo desaparecer. Mas, do fundo das águas, ele continua ainda palpitando e preparando o encerramento da missão da santa profetisa de Domrémy.
     Com efeito, Santa Joana d’Arc julgava que sua epopeia não fora senão o sinal de uma grande missão que ela realizaria. “O sinal que Deus me deu é levantar o sítio dessa cidade e fazer sagrar o rei em Reims” – atestou ter ouvido dela Frei Pierre Seguin O.P. Numa carta aos ingleses, conclamando-os a saírem da França, a heroína escreveu: “Se vós ouvirdes [a Donzela], ainda podereis vir em companhia dela, lá onde os franceses farão a mais bela ação jamais feita pela Cristandade”.
     O enigma aumenta ao se considerar uma confidência da santa durante a épica campanha da Ile-de-France: “Quando eu estava sobre os fossos de Melun, me foi dito por minhas vozes que eu seria aprisionada antes da São João”. E após comungar na igreja de Saint-Jacques, ela disse a umas crianças: “Meus filhinhos, eu fui vendida e traída. Logo serei entregue à morte. Rogai a Deus por mim, pois eu não mais poderei servir ao rei e ao reino de França”.
    Em seu livro La Mission Posthume de Sainte Jeanne d’Arc2, Mons. Henri Delassus apresentou uma douta e esclarecedora explicação. Ele demonstrou que D. Cauchon e os juízes seus cúmplices difundiam os erros e as más tendências revolucionárias enquistados na Universidade de Sorbonne, como aliás se pode ler na sua condenação. Esses erros igualitários e tendências desordenadas eram insuflados por uma verdadeira conspiração anticristã e se desenvolveram através da Revolução protestante, da Revolução Francesa e da Revolução comunista até desembocarem em nossos dias na tentativa de dissolução anárquica da família e da sociedade civil.
     O que sucede na cabeça dos franceses e dos homens hoje – indagou com pasmo “The New York Times” – para que uma santa medieval, virgem e profetisa, saída de um conto de fadas, impressione o mundo moderno, laicista e igualitário, do século XXI? Não adianta fugir da realidade – continua o quotidiano de Nova York: faça-se uma simples busca dos livros sobre ela na maior livraria virtual do mundo e encontrar-se-ão mais de seis mil títulos!
     Na perspectiva de Mons. Delassus, a resposta a “The New York Times” não é difícil: cresce cada vez mais a percepção de que, herdeira dos erros condenados pela santa, a sociedade atual ruma para a morte; ou – hipótese previsível – caminha para uma restauração em favor da qual a Donzela está trabalhando eficazmente do Céu e cujos sintomas promissores já parecem ser visíveis.

Fonte (excertos): Equipe Lepanto - 30 de junho de 2014

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Santa Mariana de Jesus Paredes, o Lírio de Quito – 26 de maio

     
     Como resultado do zelo apostólico dos primeiros colonizadores de nosso continente, a Divina Providência suscitou em várias regiões almas ardentes que consagraram suas vidas à salvação das almas entre os indígenas que deixaram as trevas do paganismo e da barbárie para entrar nas hostes benditas da Santa Igreja, ou nos ambientes sociais que iam sendo criados nas colônias da Espanha e de Portugal.
     O apostolado na incipiente sociedade dos primeiros séculos não foi menos árduo do que aquele levado a efeito entre os nativos. Nesse apostolado brilhou a alma extraordinária de Santa Mariana de Jesus Paredes y Flores.
     Muitos brasileiros conhecem Santa Rosa de Lima, a Padroeira da América Latina, santa peruana que também viveu na época da colonização espanhola, mas Santa Mariana de Jesus é quase desconhecida entre nossos compatriotas.
     Que as ações virtuosas praticadas por esta Santa sirvam de estímulo e exemplo a ser imitado, de acordo com as sábias adaptações que cada qual deve fazer, seguindo sempre a Santa Vontade de Deus.
*
     Nasceu em Quito, Equador, em 31 de outubro de 1618; morreu em Quito, em 26 de maio de 1645. Ela pertencia a uma ilustre linhagem de antepassados: era filha do capitão espanhol Jerônimo de Paredes y Flores e da nobre Mariana Jaramillo.
     Seu nascimento foi acompanhado por fenômenos mais incomuns nos céus, claramente ligados à criança e juridicamente atestados no momento do processo de beatificação. Quase desde a infância ela deu sinais de uma atração extraordinária pela oração e mortificação, ao amor de Deus e à devoção à Virgem Santíssima; e além de ter manifestações notáveis de favor divino, foi inúmeras vezes milagrosamente preservada da morte.
     Antes dos sete anos ficou órfã e uma de suas sete irmãs, Jerônima, esposa do capitão Cosme de Miranda, passou a encarregar-se de sua educação.
     Aprendeu o catecismo tão bem, que aos oito anos de idade foi admitida a Primeira Comunhão (o que era uma exceção naquela época). O sacerdote que fez o exame de religião ficou admirado com a compreensão das verdades do catecismo que ela demonstrava ter.
     Ao ouvir um sermão sobre a grande quantidade de gente que ainda não recebera a mensagem da religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, se dispôs a ir com um grupo de companheirinhas evangelizar os pagãos. No caminho, encontraram pessoas que as levaram de volta para casa; as crianças não tinham se dado conta dos perigos que poderiam enfrentar.
     Em outra ocasião resolveu ir com outras meninas a uma montanha para viver como anacoretas dedicadas ao jejum e a oração. Felizmente um touro muito bravo as fez voltar correndo para a cidade. Mariana convidava suas sobrinhas, que eram quase da mesma idade, para rezar o Rosário e fazer a Via Sacra.
     Seu cunhado então se deu conta dos grandes desejos de santidade e oração desta menina e procurou que uma comunidade religiosa a recebesse. Porém, as duas vezes que tentou entrar em convento contrariedades imprevistas a impediram de fazê-lo. Ela então se deu conta de que Deus a queria santificar permanecendo no mundo.
     Sob a direção do jesuíta Juan Camacho fez voto de virgindade perpétua. E sem ingressar em nenhuma Ordem religiosa se consagrou à oração e à penitência na sua própria casa. Ela se propôs cumprir aquele mandato de Jesus: "Quem deseja seguir-me, que negue a si mesmo".
     Em 6 de novembro de 1639 ingressou na Ordem Terceira de Penitência de São Francisco de Assis, a que mais se adequava ao seu espírito de renúncia.
     O jejum que ela mantinha era tão rigoroso, que ela comia um pedaço de pão seco a cada oito ou dez dias. A comida que milagrosamente sustentava sua vida, como no caso de Santa Catarina e de Santa Rosa de Lima, era, de acordo com o testemunho sob juramento de muitos depoentes, o Pão Eucarístico que ela recebia todas as manhãs na Santa Comunhão.
     Mariana recebeu de Deus o dom do conselho e os conselhos que ela dava às pessoas lhes faziam um bem imenso. Ela também anunciava acontecimentos futuros, inclusive a data de sua morte. Era possuidora de um dom especial para paziguar contendores e para conseguir que as pessoas deixassem de pecar.
     Ela possuía um dom extático de oração, previu o futuro, via eventos distantes como se estivessem passando diante dela, lia os segredos dos corações, curou doenças com o sinal da Cruz, ou aspergindo o sofredor com água benta, e pelo menos uma vez ela ressuscitou uma pessoa morta.
     Ela é chamada de “o Lírio de Quito” porque durante uma enfermidade lhe fizeram uma sangria e a jovem de serviço jogou o sangue que tinham tirado de Mariana em um vaso e nele nasceu um lírio.
    Em 1645, um grande terremoto abalou a cidade de Quito e causou muitas mortes por uma epidemia terrível que se lhe seguiu. Um padre jesuíta num sermão disse: "Deus meu, eu Vos ofereço minha vida para que acabem os terremotos". Porem Mariana exclamou: "Não, Senhor, a vida deste sacerdote é necessária para salvar muitas almas. Eu, entretanto, não sou necessária. Eu Vos ofereço minha vida para que cessem esses terremotos".
     Naquela manhã mesmo ela começou a sentir-se mal e morreu no dia 26 de maio. Deus aceitou o seu oferecimento: os terremotos cessaram e as pessoas não mais morreram. Por isso, em 1946 o Congresso do Equador deu a ela o título de "Heroína da Pátria".
     Os primeiros passos preliminares para a beatificação foram dados pelo Monsenhor Alfonso della Pegna, que instituiu o processo de investigação e coleta de provas para a santidade de sua vida, suas virtudes e seus milagres; mas a cópia autenticada do exame das testemunhas não foi encaminhada para Roma até 1754.
     A Congregação Sagrada dos Ritos, tendo discutido e aprovado esse processo, decidiu a favor da introdução formal da causa, e Bento XIV assinou a comissão para a introdução da causa em 17 de dezembro de 1757.
     O processo apostólico relativo às virtudes da Venerável Mariaana de Paredes foi elaborado e examinado da forma devida pelas duas Congregações Preparatórias e pela Congregação Geral dos Ritos, e as ordens foram dadas por Pio VI para a publicação do decreto atestando o caráter heroico de suas virtudes.
     O processo relativo aos dois milagres feitos pela intercessão da Serva de Deus foi posteriormente preparado e, a pedido do próprio Reverendo João Roothaan, Geral da Sociedade de Jesus, foi examinado e aceito pelas três congregações, e foi formalmente aprovado em 11 de janeiro de 1817, por Pio IX.
     Santa Mariana de Jesus foi beatificada pelo Beato Pio IX em 20 de novembro de 1853 e canonizada por Pio XII em 4 de junho de 1950.
     Muitos milagres foram a recompensa daqueles que invocaram sua intercessão, especialmente na América, da qual ela parece ter o prazer de mostrar a si mesma a padroeira especial.


BOERO, Beata Maria Ana de Jesus; O Breviário Romano.
J. H. Fisher (Encylopedia Católica)

Postado neste blog em 25 de maio de 2011
     

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Santa Melangell (latim: Monacella), a Abadessa de Gales - 27 de maio / 31 de janeiro

"A Igreja nas Ilhas Britânicas só começará a crescer quando ela começar a venerar seus próprios santos" - São Arsínicos de Paros (†1877)
   
     As paisagens celtas têm uma maneira de encantar o coração humano com sua majestade e grandeza. Elas trazem à mente os santos corajosos e extremamente autossuficientes que abandonaram tudo por uma vida de solidão e oração em ambientes isolados, até traiçoeiros. Esses santos, por suas vidas sagradas e não convencionais, conferiram paz à terra e às criaturas porque tinham sido libertados, pelo menos em parte, de sua natureza humana caída. Como afirma o Apóstolo São Paulo sucintamente: “A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus". (Romanos 8:19,21).
     Melangell (pronuncia-se Mel-en-geth) por meio de sua vida consagrada, ajudou a libertar o povo e a criação ao seu redor para alcançar seu status supremo de beleza e finalidade em Deus.
     Embora a vida de Santa Melangell não tenha sido escrita até o século XV, é provável que seu culto floresceu muito antes de uma vida ser escrita sobre ela, tão grande foi a estima mantida pela população local.
     Mesmo nas sombras nebulosas de sua genealogia irlandesa e/ou galesa, é certo que ela era de linhagem real ou nobre e, assim, era esperado que se casasse. Em resposta ao chamado de Deus para uma vida de oração e solidão, Melangell renunciou ao seu status real para se dedicar à vida religiosa. Seu pai insistiu que ela se casasse. Desejando acima de tudo ser dedicada apenas a Deus, ela fugiu da Irlanda por volta de 590 e se estabeleceu em Pennant, uma das áreas mais solitárias e adoráveis de Montgomeryshire (Powys atuais), à frente do Vale Tanant no norte do País de Gales. Neste local, que passou a ser chamado de "Pennant Melangell", dormindo em rocha nua, com uma caverna como sua cela, ela viveu uma vida oculta de oração por quase quinze anos.
     Por volta de 604, Melangell foi "descoberta" pelo príncipe galês de Powys, Brochfael Ysgithrog, enquanto caçava na área ao redor de Pennant. Enquanto seus cães perseguiam suas presas, uma lebre assustada correu para um matagal. Procurando a lebre no matagal, o príncipe inesperadamente encontrou Melangell. Ela estava em profunda oração e não tinha ouvido os cães ou a corneta ou o som de passos humanos. A lebre sem fôlego se escondeu nas dobras de sua roupa e olhou para os cães ferozes, confiando em sua santa protetora. O Príncipe Brochfael mandou os cães pegar a lebre, mas eles não se atreveram a se aproximar da santa nem a matar a lebre. Ciente agora da situação, Melangell mandou os cães embora.
     O Príncipe nunca tinha visto algo assim antes. Ele estava totalmente espantado e cautelosamente se aproximou da jovem para uma explicação. Depois de ouvir sua história, o príncipe Brochfael, profundamente comovido pela beleza, pureza e amor de Santa Melangell por Deus, reconheceu sua santidade. No entanto, ele sugeriu que ela deixasse sua solidão e se casasse com ele, mas ela inflexivelmente recusou. Impressionado com sua santidade e determinação, ele doou uma parcela de terra, que incluía um cemitério e um vale, para ser usado por ela para fundar um mosteiro. O Príncipe expressou seu desejo fervoroso de que a área fosse dedicada ao serviço de Deus. Ele também pediu que a terra fosse um lugar de refúgio para pessoas e animais, em particular as lebres.
     Santa Melangell deve ter vivido cerca de 37 anos após o incidente da caça. A área de fato se tornou um santuário sob a tutela da santa. Durante sua vida, nenhum animal foi morto em suas terras. Um conhecido paraíso de segurança não apenas para lebres, mas para todas as criaturas, até mesmo animais selvagens que viviam na área tornaram-se mansos. Os humanos, também, buscaram asilo ali, confiantes de que ninguém colocaria os pés em Pennant Melangell em uma tentativa de agarrá-los violentamente ou exigir tributo injusto. Com o tempo, Santa Melangell tornou-se abadessa de uma comunidade de virgens que tinham sido atraídas por seu exemplo.
    A Igreja de Pennant Melangell está localizada perto de Llangynog em Powys. Desde sua primeira fundação no século VII, era um local regular de culto para a comunidade agrícola local. Durante séculos ninguém mataria uma lebre nas proximidades de Pennant Melangell. Além disso, se alguém gritasse à uma lebre caçada "Deus e Melangell estejam contigo", com certeza escaparia. Até hoje, em homenagem a santa as lebres são respeitadas pelos caçadores locais e nunca são prejudicadas. Após sua morte, Santa Melangell tornou-se a santa tutelar das lebres. Hoje, ela é reconhecida como a padroeira celta de animais [lebres, outros pequenos] e do ambiente natural.
     A tradição local afirma que Santa Melangell foi especialmente chamada pelo próprio Senhor para restaurar o Vale Pennant tornando-o um espelho do Paraíso. Assim, sua própria presença impregnou a terra, criaturas e pessoas com alegria, paz e segurança.

     Ela morreu em 590 e foi enterrada na igreja vizinha, chamada Pennant. Sua cama dura é mostrada na fenda de uma rocha vizinha. Seu túmulo ficava em uma pequena capela, ou oratório ao lado da igreja. Este ainda é chamado de "Cell-y-bedd" ou a Cela do Túmulo. A legenda é perpetuada por uma escultura rude de madeira da Santa, com inúmeras lebres buscando a sua proteção. Elas eram chamadas de 'Oen Melangell' (Cordeiros de Santa Monacella). Pennant Melangell tem sido um lugar de peregrinação por muitos séculos

Igreja de Santa Melangell
     A Igreja é um prédio tombado e é uma Igreja Cristã há mais de 1200 anos. Seu cenário, em um lugar de grande beleza nas montanhas Berwyn, é pacífico e intocado. A igreja fica em um adro redondo, e é cercada por árvores antigas estimadas em dois mil anos de idade. Partes do edifício datam do século XII, embora a mais recente, uma reconstrução em suas fundações originais, foi concluída apenas em 1990. A impressão ainda é a de uma simples igreja normanda, embelezada ao longo dos anos. Os ossos que dizem ser da santa foram depositados dentro do santuário.
     Em 1987, a igreja estava em um estado tão pobre que uma restauração em larga escala era necessária para ser salva. Este trabalho foi iniciado em 1988 por Paul Davies e sua esposa Evelyn. Não há congregação residente aqui, pois a Igreja Paroquial fica em Llangynog. A Igreja de Santa Melangell sempre foi uma Igreja dos Peregrinos, e os visitantes vêm de toda a Grã-Bretanha e além.

domingo, 24 de maio de 2020

Beata Catarina Nai Savini, Terciária dominicana, mártir – 24 de maio

    
     Ela nasceu no final de 1400 em uma antiga família de Gambolò, uma vila não muito longe de Vigevano. Os Nai Savina (ou Savini), também eram chamados de Ingarami.
     Na adolescência, ela entrou na Ordem Terceira Dominicana que os Padres Pregadores haviam erguido desde a abertura de seu convento de São Pedro, o Mártir, em Vigevano.
     No momento de vestir com o santo hábito terciário, ela recebeu o nome de Catarina. Na escola do seu confessor, o Beato Matteo Carreri, a jovem Catarina aprendeu a amar o Senhor sobre todas coisas e fazê-lo amado por todos os que se aproximavam dela.
     Santa Catarina de Siena era um modelo de perfeição espiritual que a inspirava. Seu convento ficava no atual Castelo de Vigevano, um palácio disponibilizado pela família de Bussi, acompanhando comunitariamente as funções litúrgicas na Igreja de São Pedro, o Mártir, do lado de fora dos muros. Ela logo se tornou um ponto de referência espiritual para muitas pessoas que recorriam a ela para pedir orações e conselhos.
     Um dia Catarina caiu em êxtase, então nasceu nela uma grande devoção a um crucifixo colocado na Igreja de São Pedro. Várias vezes, levada pelo desejo de ficar em oração diante dessa cruz, conta-se que ela passava pelas paredes a fim de alcançá-la.
     Catarina morreu em Vigevano no dia 24 de maio de 1516, morta por um homem que queria raptá-la. Ela foi enterrada na mesma igreja de São Pedro, o Mártir, onde seus restos mortais são mantidos até hoje. O funeral foi seguido por todos os seus concidadãos em lágrimas que se reuniram ao redor do seu corpo, tentando oscular, cortar pedaços do hábito e de fios de cabelo. Em seu túmulo graças e milagres foram concedidos
     Há cem anos uma biografia da Irmã Catarina foi escrita pelo Beato Francisco Pianzola, a convite do então reitor de São Pedro Mártir, Pe. Luigi Maffioli, uma obra popular dedicada à juventude de sua diocese, especialmente aos jovens do oratório de Lomellina, para que a imitassem. Ele se referiu à "Beata de Gambolò” como um modelo de fé e virtude.
     Com o mesmo espírito, sua vida foi reescrita atualmente, a convite do reitor de Gambolò, Pe. Paolo Nagari, para redescobrir uma figura que os séculos quase fizeram com que os seus traços biográficos evanescessem, mas que a fé do povo de Gambolò e de Vigevano tem guardado entre as coisas mais queridas.

Autor: Daniele Bolognini

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Santa Lídia de Tiatira, Leiga do 1º século – 20 de maio

   
     Santa Lídia foi inscrita na lista dos santos católicos pelo cardeal Cesar Barônio em 1607. Ela e os familiares da sua casa estavam entre os primeiros na Europa a aceitar o Cristianismo, por volta de 60 d.C, em resultado da atividade do Apóstolo São Paulo em Filipos.
     Padroeira dos tintureiros e comerciantes, a primeira mulher a se fazer cristã na Europa, e uma das primeiras aclamadas santas e veneradas desde o início do cristianismo, era filha espiritual de São Paulo e seus companheiros Lucas, Timóteo e Silas.
     O que se sabe sobre Santa Lídia está escrito no livro dos Atos dos Apóstolos 16, 14-40. Pela descrição de São Lucas, que a conheceu pessoalmente, Lídia era uma mulher rica, influente, líder e empreendedora. Ela era comerciante de púrpura nascida em Tiatira, Grécia, e estabelecida em Filipos, colônia romana, também na Grécia. O comércio de púrpura era dos mais caros e promissores da época. As roupas na cor púrpura eram usadas somente por reis, rainhas e pessoas da nobreza. A cor púrpura era tirada de um molusco nativo do Mar Mediterrâneo, abundante na região da Fenícia, chamado Murici.
     Santa Lídia tinha algumas características incomuns para a época: era empresária, dona do próprio comércio e chefe de família. É o que lemos em At 16, 14 e 15. O versículo 15 diz que depois de ouvir São Paulo falar sobre Jesus Cristo. ela quis ser batizada e levou junto toda a sua família. Este fato mostra a liderança que ela tinha sobre os seus, fato notável na sociedade em que ela vivia. E pelo que lemos nos Atos dos Apóstolos, a influência e a posição social de Santa Lídia ajudaram decisivamente a São Paulo e seus companheiros na missão em Filipos.
     O texto de São Lucas diz que Santa Lídia era prosélita, isto é, ela era de origem pagã (não judaica) e que tinha se convertido ao judaísmo. O fato mostra que Santa Lídia já vinha de uma caminhada de busca da verdade. Abandonou as crenças politeístas gregas e abraçou o monoteísmo pregado pelo judaísmo. Porém, ao ouvir São Paulo, reconheceu prontamente a verdade e abraçou-a. Em seguida, tornou-se evangelizadora, anunciando a Boa Nova para a sua família e ajudando na missão de São Paulo e seus companheiros.
     São Paulo e seus companheiros pensavam em ficar em Filipos apenas alguns dias e partir em missão. Porém, Santa Lídia insistiu: "Se vocês me consideram fiel ao Senhor, permaneçam em minha casa". E os forçou a aceitar (At 16, 15). Então, os Apóstolos mudaram seus planos e ficaram. Em Filipos, São Paulo sofreu várias perseguições. Ele e seus amigos foram presos e soltos milagrosamente por um terremoto. Depois disso, voltaram para a casa de Santa Lídia onde confortaram os irmãos na fé – vários que tinham ouvido Paulo e se fizeram batizar, formando a comunidade cristã de Filipos, para a qual, mais tarde, São Paulo escreveu sua “Carta aos Filipenses”. A casa de Santa Lídia transformou-se na primeira Igreja da Europa, como vemos em At 15, 14.
     Santa Lídia influenciou não apenas sua família como também outras mulheres e pessoas de todos os tipos com quem lidava em seu comércio de púrpura. Por isso, ela também foi missionária, mostrando através de seu testemunho, a verdade sobre Jesus Cristo. Ela é uma das grandes responsáveis pela sustentação da Comunidade Cristã de Filipos. Santa Lídia e São Paulo tiveram um profundo laço de amizade cristã, admirado por todos.
     O culto a Santa Lídia faz parte da Tradição desde os tempos mais antigos. Seu nome aparece em inscrições nas catacumbas. No Livro dos Atos dos Apóstolos seu nome é mencionado duas vezes.
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     Lídia morava em Filipos, a principal cidade da Macedônia, mas seria originária de Tiatira, ou pelo menos teria morado lá anteriormente. Tiatira era uma cidade que ficava na região chamada Lídia, na parte ocidental da Ásia Menor. Por esta razão, alguns creem que Lídia não seria o seu nome, mas simplesmente uma alcunha ou apelido que os filipenses lhe teriam atribuído. Ou seja, ela seria chamada "a lídia", assim como a mulher com quem Jesus Cristo falou em Sicar podia ser chamada de "a mulher samaritana", por viver em Samaria. Independentemente disso, o termo "Lídia" veio a tornar-se um prenome feminino da onomástica da língua portuguesa.
     Tiatira era bem conhecida pela sua indústria de tingimento e é provável que Lídia tivesse aprendido ali as habilidades que vieram a tornar-se a sua profissão. A existência de fabricantes de corante tanto em Tiatira como em Filipos é comprovada por inscrições descobertas por arqueólogos. É possível que Lídia se tivesse mudado por causa do trabalho, quer para cuidar do seu próprio negócio, quer como representante de uma firma de tintureiros tiatirenos. Mais tarde, já em Filipos, Lídia vendia púrpura tíria, quer o corante, quer o vestuário e tecidos tingidos com ele. Parece que era ela quem dirigia a sua casa, o que pode ter incluído escravos ou servos, e, portanto, possivelmente era viúva ou solteira.
     O corante púrpura era extraído de várias fontes. O mais caro era de certos tipos de moluscos marinhos. Segundo Marcial, poeta romano do Século I, um manto da mais fina púrpura de Tiro, outro centro fabricante dessa substância, chegava a custar 10.000 sestércios, ou 2.500 denários, o equivalente ao salário de 2.500 dias de um trabalhador. É óbvio que essas roupas eram artigos de luxo ao alcance de poucos. Vê-se que Lídia devia viver bem em sentido financeiro, ela tinha condições de receber o Apóstolo Paulo e seus companheiros, Lucas, Silas, Timóteo e talvez outros.
Torna-se cristã
     Santa Lídia é descrita como "adoradora de Deus", o que indica que poderia ser uma pagã convertida ao judaísmo.
     Tudo indica que ela não era materialista, embora tivesse uma boa fonte de rendimento, visto que reservava tempo para as atividades religiosas no sábado, tendo ainda de enfrentar crescentes sentimentos de anti-semitismo.
     A vida em Filipos não devia ser fácil para os judeus e para os prosélitos do judaísmo, pois pouco antes da visita de São Paulo, o Imperador Cláudio havia banido os judeus de Roma. Talvez houvesse poucos judeus e nenhuma sinagoga em Filipos, portanto, no sábado, ela e outras mulheres devotas se reuniam junto a um rio fora da cidade. Há quem afirme, porém, que a lei romana proibia aos judeus a prática de sua religião nos "limites sagrados" de Filipos. Portanto, depois de passar "alguns dias" lá, os missionários encontraram, no sábado, o tal lugar junto a um rio, fora da cidade, onde "pensaram haver um lugar de oração" (Atos 16:12-13). Pelo visto era o Rio Gangites. Lá os missionários encontraram só mulheres, uma das quais era Lídia. Quando São Paulo pregou a estas mulheres, Lídia escutou com atenção acerca de Jesus.
     Depois de ser batizada, junto com os da sua casa, ela mostrou a sua hospitalidade ao suplicar a Paulo e aos seus companheiros que ficassem no seu lar. O escritor dos Atos dos Apóstolos, companheiro de viagem de São Paulo, acrescenta: "Ela simplesmente nos fez ir" (Atos 16: 11-15).
     A Bíblia não especifica quem eram os membros da família de Lídia, que podia ser solteira ou viúva, já que não se fala do marido. A sua família talvez fosse composta de parentes, mas esse termo podia referir-se também a escravos ou servos. De qualquer forma, Lídia foi pronta a transmitir às pessoas que moravam com ela a sua nova fé e as coisas que havia aprendido.
     Mais tarde, depois de São Paulo e Silas terem sido soltos da prisão, eles foram novamente ao lar de Lídia. Encorajaram ali os irmãos e então partiram de Filipos (Atos 16: 36-40). Pode ser que os fiéis da recém-formada congregação ou igreja filipense usassem a casa de Lídia como local para reuniões. É lógico imaginar que sua casa tenha continuado a ser um centro de atividades cristãs na cidade.


terça-feira, 19 de maio de 2020

Beata Bartolomea Carletti de Chivasso, Terciária Franciscana, Fundadora – 18 de maio


     Bartolomea nasceu em Chivasso, na diocese de Ivrea, entre 1425 e 1435. Seu pai Martino era irmão do Beato Angelo Carletti. Seguindo o conselho do famoso tio, ela vestiu o hábito de terciária franciscana, dedicando-se à vida de oração e assistência aos necessitados, e dando vida a uma próspera comunidade terciária.
     Em 1486 obteve a permissão do tio para erguer um verdadeiro cenóbio em Chivasso, que em 1505 foi aprovado como um mosteiro regular de Irmãs de Santa Clara ou Clarissas.
     Ela morreu de velhice em dezembro de 1508. Ela foi enterrada às custas da comunidade de Chivasso na sacristia da igreja de São Bernardino, e foi imediatamente homenageada com o título de Bem-Aventurada pelos cidadãos e pela ordem franciscana. Mais tarde, seu corpo incorrupto foi colocado na igreja de Santa Maria dos Anjos, sob o altar principal.
     Desde 1801 ela descansa na catedral da cidade. Em 2016, a mando do Bispo Dom Eduardo Aldo Cerrato, a urna contendo os restos mortais da Beata Bartolomea, há muito escondida atrás de um confessionário, se tornou visível novamente.
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Chivasso e o mistério da "Santa Esquecido"
Em plena Chivasso, Bartolomea Carletti deve ser reverenciado como santa

     Dois portões na parede perto do altar principal, sob o corredor esquerdo da Catedral de Chivasso, por mais de dois séculos esconderam um segredo, revelado pelo Bispo de Ivrea, Monsenhor Eduardo Cerrato, durante a missa solene celebrada por ocasião das celebrações do Santo Padroeiro, o Beato Angelo Carletti.
    "Prepare-se, hoje haverá uma grande surpresa", disse o alto prelado ao jovem pároco, Padre Davide Smiderle, pouco antes da missa. Aquelas grandes madeiras escuras escondiam um nicho coberto com uma cortina preta. Encorajado pelo bispo, o pároco levantou o tecido e, para espanto dos fiéis e do próprio pároco, apareceu um corpo perfeitamente preservado.
     Este é o corpo da Beata Bartolomea Carletti, que morreu em 1508, sobrinha neta do Beato Angelo, o santo padroeiro da cidade. Ela estava descansando lá desde 1801, antes de ser preservado sob o altar principal da Igreja de Santa Maria dos Anjos, que agora sedia exposições e eventos de música clássica.
     Após sua morte, ela foi enterrada em outra igreja, aquela de São Bernardino, que não existe mais hoje, à vontade e às custas da comunidade chivassense.
     Muito amada por sua dedicação aos doentes e aos pobres, a Beata Bartolomea nasceu entre 1425 e 1435; seu pai Martino era irmão do Bem-aventurado Angelo Carletti, conhecido teólogo da época e autor da famosa "Summa Angélica". Foi o tio dela que a instigou a assumir o hábito de terciária franciscana.
     Em 1486 Bartolomea conseguiu construir um mosteiro para as Irmãs de Santa Clara, que liderou até sua morte, mas nunca se tornou uma Clarissa. Esse mosteiro hoje se chama Palazzo Santa Chiara e nada mais é que a sede da Prefeitura de Chivasso. 
    Ela dedicou toda a sua vida para ajudar os pobres, os doentes e os necessitados. Alguns testemunhos podem ser vistos nas "Memórias Históricas da Cidade de Chivasso" escritas em meados da década de 1700 pelo frei agostiniano José Borla, de uma rica dinastia de notários chivassenses. Destes emerge como os beatos resgataram as tropas francesas, aniquiladas pela peste.
     Bartolomea Carletti deve ser reverenciada como a santa chivassense. Por que, então, ela permaneceria na escuridão de uma cripta por duzentos anos, escondida dos fiéis, mesmo que os historiadores e padres da paróquia que a sucederam estivessem bem cientes de sua existência e presença dentro da Catedral?
     Um verdadeiro mistério... Talvez o constrangimento da Igreja em venerar um santo (o tio Beato Angelo) que nasceu sim em Chivasso, mas que viveu fora dos muros de sua cidade natal e foi enterrado em Cuneo onde seus restos mortais ainda estão preservados no Santuário dos Anjos.
     "Fiquei surpreso quando o bispo me disse para tirar a cortina preta que escondia a porta", comenta o pároco da Catedral de Santa Maria Assunta, o Padre Davide Smiderle. O que vamos fazer? Agora pretendo reorganizar e embelezar a área onde o corpo está preservado". A data marcada para a celebração solene da Bem-Aventurada já foi definida, 18 de maio de 2017. Quem sabe se depois de meio milênio Bartolomea Carletti não entra definitivamente no coração dos Chivassenses.

 A Catedral de Santa Maria Assunta na praça de Chivasso, Itália