segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Finados - Museu das Almas do Purgatório

     

     Indo à Basílica de São Pedro pelo Lungo Tevere – a avenida que bordeja o histórico Rio Tibre – o romeiro é surpreendido por uma bonita igreja que tem o imponderável de conter algo muito singular. Não é só o fato de seu estilo neogótico evocar a França e destoar do distendido conjunto arquitetônico romano.
     Luminosa, delicada, esguia, risonha, mas infelizmente fechada boa parte do dia, a Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio fica a dois quarteirões de Castel Sant’Angelo e da Via dela Conciliazione, que leva direto ao Vaticano.
     Nela se encontra o Museu das Almas do Purgatório, quer dizer, uma coleção de sinais do além deixados por essas almas, que na maioria das vezes apareceram ardendo internamente a parentes ou irmãos de religião, sempre pedindo orações para saírem do Purgatório, onde pagavam penas devidas a seus pecados antes de irem para o Céu.
     Nele os objetos estão expostos dentro de quadros protegidos por vidros, encostados uns aos outros por causa da exiguidade da sala. Talvez seja o menor museu do mundo. E, entretanto, pode-se dizer que o tema ao qual se dedica é mais transcendente que o de muitos museus mais ricos e famosos.
     A importância do Museu evidenciou-se ainda mais com a entrevista realizada há pouco por uma TV italiana com o pároco da igreja, o Pe. Domenico Santangini. Como ela foi feita em italiano, transcrevemos todas suas palavras para o português e apresentamo-la aqui.
     Os singulares objetos que fazem parte do Museu – roupas, madeiras e outros objetos queimados com formas de mãos e outras pelas almas em fogo – merecem serem estudados pela ciência.
     Como católicos nada tememos sobre as verdades de Fé envolvidas no caso. O Purgatório não foi objeto de uma definição solene ex-catedra, mas são inúmeros os ensinamentos revelados contidos nas Escrituras e não é lícito duvidar de sua existência. 
     Se os teólogos discutem sobre ele, é apenas sobre seu lugar e outras circunstâncias que não mudam o fato essencial: o Purgatório existe e por ele devem passar as almas destinadas ao Céu que devem pagar penas por faltas cometidas na Terra.
     Diz-se até que a grande Santa Teresa de Jesus teria passado pelo Purgatório para fazer uma genuflexão que não fez certa vez ao atravessar uma capela...
     Como sói acontecer, estudos científicos poderiam fornecer detalhes materiais que contribuiriam para compreendermos melhor a realidade desse lugar do além, o qual não está tão longe de nós como poderíamos achar.
     Em consequência, nós nos sentiríamos mais convidados a rezar pelas almas que nele estão – quem garante que também nós não estaremos lá um dia? – e fazermos uma meditação sobre o destino final de nossa existência.
     “Pensa nos teus novíssimos e não pecarás eternamente” (Eclo 7, 40) – ensinam as Escrituras.
     Aliás, o caso desse museu não é o único sobre o qual as ciências não se debruçam. Mas é algo muito concreto, material: as provas estão gravadas com fogo em panos, folhas, livros e móveis que a gente vê com os próprios olhos e que nos abre uma janela para uma imensa realidade.
Pe. Domenico Santangini, pároco do Sagrado Coração do Sufrágio, Roma: É certo que o Purgatório existe, embora não seja uma verdade de fé absoluta como o Inferno e o Paraíso. Porém, para a Igreja, é uma realidade autêntica, verdadeira. Muitos, infelizmente, fingem não acreditar ou não acreditam de fato, por motivos pessoais. Para nós existe.
     Como? Por quê? Porque o homem é pecador e, enquanto tal, para chegar ao Senhor tem necessidade de purificação. E esta passagem das almas boas é obrigatória, uma passagem para ter uma alma limpíssima.
     É lógico que o Purgatório é uma passagem para o Paraíso, não pode ser para o Inferno, porque o Inferno é uma condenação absoluta e imediata. Portanto, procuremos descobrir a importância do Purgatório e de rezar muito pelas almas do Purgatório, porque, uma vez que estas almas entram no Paraíso, elas podem interceder por nós que estamos aqui embaixo.
     Portanto, caros amigos, caríssimos fiéis, permanecei tranquilos e serenos. O Purgatório é uma grande verdade, uma grande realidade que não podemos deixar de reconhecer.
     Quando falamos do além, falamos das almas do Purgatório. Certamente podemos falar do Inferno. Mas, não cabe a nós estabelecer quem está no Inferno ou no Purgatório. Só o Padre Eterno sabe, por isso nós cristãos de boa fé, quando encomendamos uma Missa pelos defuntos, a encomendamos pelas almas do Purgatório.
     As almas santas podem se fazer sentir, “se apresentar” a nós, de muitas maneiras. Poder ser num sonho, pode ser num elemento exterior, pode ser uma intuição, pode ser algumas vezes uma aparição.
     Assim como temos nesta paróquia, existem testemunhos que põem em evidência como as almas do Purgatório pedem a nós, vivos, orações ou Santas Missas para que elas possam ser liberadas dos sofrimentos do Purgatório.
     Por que o Purgatório é sofrimento? Por quê? É sofrimento porque ainda não chegaram a Deus. É o sofrimento da separação de Deus. Esta separação cessa quando entram no Paraíso.
     Quem pratica o espiritismo não faz outra coisa senão invocar a alma dos mortos, mas, se respondem, esses mortos querem dizer que estão no Inferno, porque as almas que estão no Purgatório, embora distantes do Senhor, não se prestam ao nosso jogo humano de invocação, enquanto que as almas do inferno, que já são almas perdidas, como verdadeiros diabos então respondem, para poder atrair outras almas para onde elas estão. Portanto, o espiritismo é exatamente o oposto da oração ou da aparição dessas almas aos vivos. É exatamente o oposto.
     O bom cristão não pode não acreditar no Purgatório. Porque se ele não crê no Purgatório não é um verdadeiro cristão, transforma-se quase em um pagão. Sim, um pagão.
     Jesus nos disse muitas vezes no Evangelho que, no Fim do Mundo, Ele levará ao Paraíso as almas dos justos que dormem o sono da paz. Os levará ao Paraíso. Então, quer dizer que existe esta passagem.
     Lógico, há santos que talvez vão direto ao Paraíso. Mas muitas almas, por faltas mais ou menos graves, passam pelo Purgatório.
     Mas o espiritismo é uma coisa nefasta, e os cristãos que vão consultar esses charlatões cometem pecado grave, gravíssimo.
Avental de uma Irmã 
Jornalista: E fazer encomendas é pecado?
Pe. Domenico Santangini: É pior ainda. É pior ainda. Por favor, não façam essas coisas. Porque é o demônio que responde, e de fato toma conta da vossa alma.
     O demônio é velhaco, velhaquíssimo. Devemos verdadeiramente evitar ir, e dizer aos outros para não o fazer – a nossos parentes, amigos –porque, de outro modo, podem comprometer sua alma. Quando dizemos que alguém vende a alma ao demônio é através dessa via, desse espiritismo, dessas evocações.
Jornalista: Entendemos, portanto, qual é a diferença entre a invocação dos defuntos pelo espiritismo, e a simples oração e a veneração. Mas voltemos ao Purgatório. Este local que pela sua natureza é uma realidade ultraterrena, deixou sua marca e é uma marca muitíssimo tangível. Olhemos.
Pe. Domenico Santangini: Aqui, em 1895, não havia nada, apenas uma capela. Em 15 de novembro de 1897 houve um incêndio fortuito e, quando o incêndio foi apagado, uma imagem misteriosa ficou impressa na parede da capela.
     Agora lhe faço ver exatamente o original. É a imagem de um homem que sofre, pelo que o Pe. Victor Jouët (N.T.: 1839-1912, missionário do Sagrado Coração, de Issoudun, França), capelão que cuidava desta igrejinha e devoto das almas do Purgatório, entendeu: “Este é um sinal dessas almas que querem uma igreja dedicada às suas intenções”.
     Então, quando a notícia se espalhou pela região, segundo as crônicas, houve um afluxo de gente durante oito dias, de milhares de pessoas para verem este fenômeno. Então, o Pe. Jouët teve a ideia de construir neste local uma igreja dedicada ao Sagrado Coração do Sufrágio. Quer dizer, do sufrágio das almas do Purgatório.
     E o Pe. Jouët era um engenheiro que se tornara padre. O que é que ele fez? Fez a planta de uma igreja gótica, porque a área era reduzida. Encomendou trabalhos para poder erigir esta igreja. Mas não havia recursos.
     Pediu ajuda ao Papa, e então o Papa Leão XIII aprovou e deu uma ajuda. Mas ele próprio foi na França ver sua família em Marselha, que era uma família de posses, e ali recebeu também ajudas. E assim o prédio da igreja foi subindo.
     Durante esta construção, que durou até 1912, como ele era devoto das almas do Purgatório, foi viajando pela Europa para buscar testemunhos que dissessem a verdade sobre o grande mistério do Purgatório.
Jornalista: Não somente esta imagem é custodiada como prova da existência do Purgatório. Há outras que constituem verdadeiras provas. Esta história é de tal maneira incrível que ficou decidido dar vida ao único Museu do Purgatório do mundo.
Pe. Domenico Santangini: Entremos no pequeno Museu do Purgatório. Mostrar-lhes-emos todos os testemunhos reunidos pelo Pe. Jouët, o fundador desta igreja e deste museu.
[...]
     Já o dissemos: são imagens, são testemunhos de uma realidade – a do Purgatório – fundamental para nós. Devemos procurar verdadeiramente ter uma devoção profundíssima pelas santas almas do Purgatório. Rezar por elas, fazer rezar Missas por elas, porque é o único modo de liberá-las dos sofrimentos do Purgatório. Sofrimento devido ao afastamento do Senhor.
     Porque se nós fazemos entrar no Paraíso uma só alma do Purgatório, esta alma, uma vez dentro do Paraíso, terá para conosco um movimento de gratidão pelo dom recebido.
     Eis por que resulta muito espontâneo crer na Comunhão dos Santos: os santos do Paraíso, os santos do Purgatório e nós aqui na Terra, Igreja militante que estamos caminhando rumo ao Paraíso e, infelizmente com frequência, passamos pelo Purgatório”.

(Para ver fotos de diversas de manifestações de almas do Purgatório visite o blog abaixo)

     Em 1900, Pe. Jouët fundou a revista Il Purgatório. Até 1912, ano em que o Pe. Jouët morreu, tinha recolhido 280 marcas de pirogênese, bem documentadas, de todo o mundo. O Bispo Gilla Gremigni e o Pe. Ricasoli selecionaram o que mais os impressionara do material do Pe. Jouët e de outros, com melhor documentação, mais testemunhos e aprovações das autoridades. Formaram assim o "Piccolo Museo del Purgatorio", na Via Lungo Tevere Prati, 12, propriedade da Arquiconfraria, e adjacente à Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio.

Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio, Roma

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Santa Ermelinda, Virgem do Brabante (Bélgica) - 29 de outubro

     
         Ermelinda nasceu em Lovenjoul, próximo de Louvain, no Brabante (atual Bélgica), filha de Ermenoldo e Armesinda, de ilustre família ligada aos duques do Brabante.
     Recebeu uma educação adequada à sua classe social, mas longe de prender seu coração aos atrativos da vaidade ou ao brilho da grandeza, desde criança ela aspirava pela vida solitária, pela oração e pela meditação das Escrituras.
     Recusando qualquer proposta de casamento e tendo feito voto de castidade, para que seus pais não a ligassem a nenhum compromisso cortou seus cabelos, renunciou às pompas do século e dedicou-se inteiramente a Deus praticando severas austeridades.
     Mas, desejando ainda maior entrega, deixou a casa paterna e foi viver em Bevec (Beauvechain). Ali, pés nus, Ermelinda ia à igreja onde passava os dias e as noites em oração. Ela não tinha outra ambição que ser uma humilde serva de Nosso Senhor.
     Ermelinda teve que resistir às investidas de dois irmãos, senhores do local, que tentaram seduzi-la; eles combinaram de raptá-la durante a oração noturna. Advertida por um anjo, Ermelinda fugiu e se fixou em Meldrik (chamada depois Meldaert ou Meldert), na atual Diocese de Malinas (Mechelen).
      Ermelinda passou ali os restantes dias de sua vida, vivendo de ervas e numa ascese semelhante à dos antigos solitários do deserto do Egito, combatendo o demônio e a carne. Ela morreu aos 48 anos de idade, por volta do século VI, ou no início do século VII, no dia 29 de outubro.
     Anos depois, o local onde seu corpo fora enterrado pelos anjos foi encontrado. Em 643, uma capela foi erguida no local onde fora sepultada e numerosos milagres ocorreram ali.
     Há doze séculos Santa Ermelinda é venerada em toda Diocese de Malinas (Mechelen), mas particularmente em Meldert e em Lovenjoul. Em Lovenjoul surgiu uma fonte de água milagrosa, que obtém a cura das doenças dos olhos, chamada “Fonte de Santa Ermelinda”, porque irriga as terras que pertenceram aos seus pais.
     A partir do século XIII suas relíquias sofreram inúmeras vicissitudes, transladações, ocultação para protegê-las das profanações dos invasores e dos ímpios durante a invasão francesa em 1792. Finalmente, em 22 de julho de 1849, foram definitivamente depositadas na igreja de Meldert num magnífico relicário. Nesta cidade existe ainda a Confraria dedicada a esta Santa.
     A Diocese de Malinas a festeja no dia 29 de outubro, tradicionalmente tido como o dia de sua morte.
 
Igreja de Sta. Ermelinda em Meldet, Bélgica

Etimologia: O nome Ermelinda caiu em desuso, mas existe ainda numa forma abreviada, Linda. O nome Ermelinda é de origem alemã: ‘Erme’ = ‘poderosa’; ‘linda’, de ‘linta’ = ‘escudo’. Portanto, temos aí um “escudo poderoso” que é venerado há séculos numa demonstração do apreço que Deus Nosso Senhor tem por esta sua dedicada e fiel serva.



Fontes diversas

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Santa Canna (ou Candace), Esposa, mãe e religiosa – 25 de outubro

     
     Santa Canna (do galês, Cenaf, em português, Candace) nasceu por volta do ano 510, era mãe de santos e foi religiosa no sul do País de Gales.
     De acordo com os escritos de Iolo Morganwg, Canna era uma princesa bretã, filha de Tewdwr Mawr ap Emyr Llydaw. Este homem, no entanto, parece ter sido realmente o neto, ao invés do filho, de Emyr Llydaw (Budic II) e foi provavelmente o irmão da santa. Ela se casou com seu primo, o príncipe Sadwrn (*), um homem mais velho do que ela, e eles se tornaram os pais de São Crallo.
     Santa Canna, seu marido, São Sadwrn, e seu filho, São Crallo se tornaram missionários cristãos ativos. A família se mudou para Gales, onde Sadwrn se tornou religioso e parece ter abandonado sua jovem esposa Canna, a fim de se tornar um eremita em Anglesey, onde morreu mais tarde.
     Canna se casou novamente com Alltu Redegog, descendente do rei Cadrod Calchfynedd, com quem ela teve outro filho, Santo Elian Geimiad (o Peregrino). As descrições dela na arte que a apresentam segurando uma vara que milagrosamente floresce, pode sugerir uma lenda perdida, semelhante a da mãe de São Ciaran, que, ao sentir as dores do parto, agarrou em uma vara seca na qual imediatamente surgiram folhas. A qual criança esta remete é desconhecida.
     Canna tornou-se freira, fundando igrejas em Llangan e Llanganna e, possivelmente, em Canton, em Glamorganshire. Sua residência principal estava em Llangan em Caermarthenshire, onde sua "cadeira" de pedra ainda pode ser vista com seu nome inscrito. Em Llangan, Glamorgan, ela foi considerada importante o bastante para ser esculpida na cruz da igreja. A vizinha Fynnon Ganna (Poço Sagrado de Canna) foi, durante séculos, um lugar popular de peregrinação após sua morte.
     Seu nome também aparece como parte de dois subúrbios de Cardiff: Canton (tradução para o inglês de Treganna Welsh, cidade de Santa Canna); e Pontcanna (Galês para Ponte de Canna).
    O festival de Canna é comemorado no dia 25 de outubro. Ela não deve ser confundida com Santa Cain ferch Brychan ou Santa Caen ap Caw.


     Igreja de Santa Canna em Llangan, W. Glamorgan. Umas 3 milhas a noroeste de Cowbridge, fica uma igreja de Santa Canna do século XII. No adro da igreja há uma cruz esculpida de 1,3 metros de altura - a escultura que data do século IX, embora a pedra poderia ser mais antiga. Ergue-se debaixo de um abrigo do século XIX.

Etimologia: Candace, do grego Kandáke, do latim Cándace, nome de origem etíope (Kandakit), título das rainhas da Etiópia, provavelmente “soberana, majestosa”. Nos Atos dos Apóstolos (8:27) aparece como nome próprio.

  (*)   São Sadwrn (do latim: Saturnino) Farchog de Llansadwrn nasceu por volta do ano 485.
     Como seu irmão, Illtud, São Sadwrn Farchog - o Cavaleiro - foi, provavelmente, enviado para a escola sob seu tio-avô, São Garmon (mais tarde Bispo de Manaw), em sua nativa Britânia. Quando jovem, ele logo seguiu as pegadas de Bican, seu pai, e se tornou militar. Daí seu epíteto. Ele se casou com sua prima, Santa Canna e foram pais de São Crallo.
     Ao se aposentar de sua soldadesca, Sadwrn atravessou o Canal da Mancha, com São Cadfan, e mudou-se com sua família para Gales, onde seu irmão estava vivendo. Ele fundou a igreja de Llansadwrn em Caermarthenshire e se desligou de sua jovem esposa para se tornar um eremita em Anglesey, onde morreu.
     A igreja de Llansadwrn ergue-se no local de sua pequena cela e também sepultura, como é demonstrado pela magnífica pedra século VI, inscrita com o seu nome, que foi descoberto em 1742. Ele agora repousa na parede interna da igreja.

     O dia de festa de São Sadwrn é 29 de novembro, embora esta data seja provavelmente devido a ele ser confundidos com São Saturnino de Toulouse. Ele também não deve ser confundido com São Sadwrn de Henllan que aparece na vida de Santa Winifreda. Na arte, Sadwrn de Llansadwrn aparece em um túmulo na igreja de Beaumaris como um cavaleiro de barba de armadura segurando um cajado de peregrino e levantando a mão em bênção.

sábado, 22 de outubro de 2016

Beata Lucia Bartolini Rucellai, Monja – 22 de outubro

   
Porta do Batistério de Florença
 Beata Lúcia Bartolini Rucellai, viúva e monja professa da Ordem de São Domingos nasceu em Florença, Itália, no século XV e faleceu na mesma cidade em 1520.
     Os Rucellai eram mercadores que haviam feito fortuna sobretudo com o tingimento de tecidos. Conservaram zelosamente o segredo - descoberto casualmente, em circunstâncias impensadas, para não dizer embaraçosas - para obter aquela bela cor violeta, chamada precisamente "oricello" (*).
     Em Florença, a família Rucellai foi por gerações uma das casas mais ilustres e magníficas da cidade. Pode-se dizer que um bairro inteiro, o de Santa Maria Novella, estava sob o patronato dos Rucellai, cujo escudo estava em muitos monumentos, símbolo da altivez e sinônimo de opulência. Ele continha a forma de uma vela inflada pelo vento da fortuna propícia.
     Nossa Beata recebera o nome de Camila no batismo e havia nascido na nobre família dos Bartolini. Adolescente, contraiu matrimônio com Rodolfo Rucellai, e foi viver no esplêndido palácio albertino dos afortunados tintureiros.
     Quando tinha uns trinta anos, a palavra do frade dominicano Jerônimo Savonarola a tirou dos cuidados mundanos, acendendo nela o fogo da mais profunda e sofrida espiritualidade.
     Rodolfo também foi influenciado pelas proféticas orações do pregador, e decidiu, um pouco precipitadamente, deixar sua esposa, que não tinha tido filhos, para vestir o hábito dominicano no Convento de São Marcos.
     Camila aceitou a decisão do marido e tornou-se terciária de Santo Domingo. Depois de poucos meses, Rodolfo Rucellai, mais impulsivo, porém não tão forte quanto a esposa, se cansou do estado religioso e regressou ao mundo, tratando de convencer a esposa a fazer o mesmo. Ela se opôs com inesperada tenacidade. Ela de fato havia encontrado em seu novo estado uma tal riqueza espiritual que não podia comparar com as adulações do mundo.
Palácio Rucellai, Florença
     Rodolfo Rucellai morreu pouco tempo depois e Camila, religiosa com o nome de Lúcia, permaneceu no convento das terciárias dominicanas, promovendo a fundação de uma nova casa com o nome de Santa Catarina de Siena.
     Depois da trágica morte do frei Jerônimo Savonarola, queimado como herege na Praça de la Signoria, no mês de maio de 1498, Lúcia Bartolini Rucellai foi dirigente sábia e rigorosa do convento florentino de Santa Catarina, na qualidade de priora, obtendo para suas monjas terceiras a permissão de emitir os três votos e mais tarde obteve a autorização de vestir o hábito das religiosas da Ordem Segunda de São Domingos.
     Mortificada, penitente, severíssima consigo mesma, Lúcia rezava com tanto fervor que, se dizia, o Convento de Santa Catarina aparecia coroado de chamas quando ela estava rezando. Apenas faleceu, no ano 1520, depois de uma enfermidade serenamente aceita, a aureola de Beata tornou-se a glória mais preciosa da riquíssima família Rucellai.
     Ela é festejada no dia 22 de outubro.


Fonte: www.santiebeati.it/

     (*) O ‘oricello’ é um corante obtido a partir de várias espécies de líquenes de Roccella tipo em várias partes da África Oriental, dele Canarie, América. O oricello foi amplamente utilizado no passado para tingir de lã roxa e seda e foi um bem que muitas vezes foi cultivado em especial Oricellari Orti valorizado. No período colonial foi recolhido e comercializado por uma companhia especial que operam na Somália italiana. Nome de algumas variedades de liquens a partir da qual é extraído um corante vermelho-púrpura substância corante extraído a partir destes líquenes.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Santa Celina de Meaux, Virgem - 21 de outubro

     

     Nenhum documento contemporâneo desta Santa permite verificar a autenticidade dos episódios biográficos que foram primeiramente recolhidos por Usuardo, retomados posteriormente por Fulcan de Meaux no século XI, e citados finalmente por Tillemont.  
     Celina, uma donzela de nobre origem, vivia na cidade de Meaux, onde Santa Genoveva se deteve algum tempo durante uma de suas viagens fora de Paris. Admirada com as virtudes de Santa Genoveva, Celina lhe pede para tomar o hábito das virgens. Santa Genoveva a incentiva e a jovem tomou o hábito.
     Seu noivo, furioso, se opunha a este projeto e quando soube que a jovem já havia se consagrado a Deus, promete recorrer a violência para raptá-la. Genoveva e Celina se refugiam na igreja, onde o batistério se fechou milagrosamente sobre elas. Assim Celina pode guardar a virgindade por toda sua vida e se dedicar às boas obras. Santa Genoveva também curou uma de suas servas que há dois anos não caminhava.
     Ignora-se a data da morte de Santa Celina, mas pode-se deduzir, pelo seu encontro com Santa Genoveva, que esta tenha ocorrido entre 465 e 480. Ela foi sepultada perto de Meaux. Um priorado beneditino construído sobre o seu túmulo existiu até a Revolução Francesa, quando suas relíquias foram levadas para a Catedral de Meaux e foram escondidas no cemitério.
     Estas relíquias ainda estão na Catedral de Meaux e seu culto ficou restrito à diocese de Meaux. É possível que ela tenha sido venerada em outros locais (Troyes), mas ela é confundida com Santa Celina, mãe de São Remígio, venerada no mesmo dia, se bem que uma era virgem e a outra viúva.

Etimologia: Celina = diminutivo de Célia, do latim Caelia: “celeste, celestial”.


terça-feira, 18 de outubro de 2016

Beata Sancha de Aragão, Virgem mercedária - 19 de outubro

     
     Filha do Beato Jaime 1°, Rei de Aragão e cofundador da Ordem dos Mercedários, Sancha nasceu em Barcelona por volta do ano 1242.
     A jovem princesa teve uma educação muito católica, que bem cedo a inspirou a abandonar o palácio real e as delícias deste mundo para o bem da Ordem das Mercês.
     Desejou ir à Terra Santa para visitar os lugares onde vivera Nosso Senhor, e percorrendo aquelas estradas de cidade em cidade, chegou a Jerusalém. Ali, levada por uma fé profunda, se colocou ao serviço do Hospital socorrendo os peregrinos pobres e necessitados.
     Modelo de várias virtudes e famosa por milagres que propiciou, faleceu no dia 19 de outubro de 1262, na jovem idade de 20 anos.
     Foi sepultada em Jerusalém próximo da Basílica do Santo Sepulcro. A Ordem a festeja no dia 19 de outubro.

Sobre a Ordem dos Mercedários
     “A diferença da Ordem da Santíssima Trindade (Trinitários), que a precedeu de vinte anos, a Ordem da Mercê fundada, por assim dizer, em pleno campo de batalha contra os mouros, contou com mais cavaleiros do que clérigos em sua origem”.
     “Ela foi nomeada Ordem Real, Militar e Religiosa de Nossa Senhora da Mercê para a redenção dos cativos. Seus clérigos se entregavam mais especialmente ao ofício do coro nos conventos; os cavaleiros vigiavam as costas e se desempenhavam da missão perigosa do resgate dos prisioneiros cristãos”.
     “São Pedro Nolasco, que foi o primeiro comendador geral ou Grão-Mestre da Ordem, por ocasião do encontro de seus preciosos restos, foi ainda encontrado na sepultura armado de couraça e de espada”.
     “A Igreja instituiu a festa de Nossa Senhora das Mercês por causa da Ordem religiosa fundada a conselho de Nossa Senhora para resgate dos cativos. Estando os cristãos escravizados pelos mouros na Espanha, parece que Deus se compadeceu daqueles infelizes, expostos a perder a fé e a inocência, e sujeitos a toda espécie de maus tratos”.
     “Depois de São Pedro Nolasco, São Raimundo de Penaforte e Jaime 1º, Rei de Aragão, verificarem que cada um tinha tido a mesma visão, então não duvidaram mais e resolveram fundar a Ordem a que dão o nome de Ordem de Nossa Senhora das Mercês para resgate dos cativos”.


Nota: Conforme texto em "As Ordens resgatadoras" de Dom Guéranger.
Beato Jaime I, Rei de Aragão, pai da Beata Sancha


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Santa Margarida d’Youville, Fundadora - 16 de outubro

     
     Margarida nasceu em Varennes, Quebec, no dia 15 de outubro de 1701, filha de Cristovão-Dufrost de Lajemmerais e de Renée de Varennes. Era a mais velha de uma família de seis filhos; perdeu seu pai quando tinha apenas sete anos. 
     Dos 11 aos 13 anos estudou no pensionato das Irmãs Ursulinas de Quebec, o que lhe possibilitou ajudar na educação de seus irmãos; foi também apoio indispensável à sua mãe nos trabalhos domésticos.
     Margarida cresceu em idade e maturidade. Sua graça e distinção atraiam a atenção de pretendes e um jovem nobre tornou-se seu noivo. Entretanto, o segundo casamento de sua mãe com um médico irlandês, que a sociedade de Varennes considerava como um estrangeiro, influencia a reputação familiar de Margarida e o seu primeiro noivado é desfeito.
     A família se transferiu para Montreal, onde Margarida conheceu Francisco d’Youville e casou-se com ele no dia 12 de agosto de 1722. O marido era um homem volúvel, egoísta, indiferente e ela sofria com suas longas ausências e seu comércio ilegal de aguardente com os Ameríndios. Francisco ficou gravemente doente e veio a falecer com a idade de 30 anos, após oito anos de casamento. Margarida estava grávida de seu sexto filho; dos seis filhos, quatro morreram ainda pequenos.
     Viúva aos 28 anos, com dois filhos para educar, com dívidas contraídas pelo marido e sua reputação de novo abalada devido aos atos do esposo, Margarida abre um pequeno comércio tendo em vista a sua sobrevivência e a dos filhos, as dívidas que o marido lhe deixara, e ainda prover as necessidades dos pobres que ela encontra em seu caminho.
     Sua família não aprovava seu gesto de caridade, alegando não ser bem visto pela sociedade que uma mulher de ascendência nobre, agisse de tal maneira. Apesar da oposição familiar e da sociedade, Margarida continuou sua missão junto aos pobres. Na idade de 26 anos, ainda durante o casamento, ela havia sido agraciada por Deus com uma experiência espiritual que iria transformar a sua vida conduzindo-a a cumprir sua missão de caridade.
     No dia 21 de novembro de 1737, Margarida acolheu em sua casa uma mulher cega. Mais ainda, pedia esmola para o enterro dos criminosos executados na praça do mercado de sua cidade e consertava as roupas dos idosos do Hospital geral de Montreal. Sua dedicação aos pobres inspira três mulheres a se juntarem a ela.
     No dia 31 de dezembro de 1737, Margarida e suas três amigas se consagram ao serviço dos pobres em quem elas veem Jesus Cristo. Esse ato é considerado como a fundação da Congregação das Irmãs de Caridade de Montreal “Soeurs Grises”. Este foi o nome dado a este pequeno grupo por desprezo. “As irmãs estão grises” (quer dizer estão embriagadas!), gritava o povo, com desprezo, para Margarida e para suas companheiras.
     As pessoas que a discriminavam o faziam por relacionarem o seu trabalho ao tráfico de Francisco d’ Youville. Contudo, o mesmo povo que as desprezava então, as enalteceria mais tarde, pois elas passariam para a História como aquelas que a todos atendem e estendem a mão com suma caridade.
     Mais tarde, quando as irmãs já eram bem respeitadas, Margarida escolheria este nome (soeurs grises) em sinal de humildade e lembrança desta injusta acusação.
     Nos anos seguintes a obra sofre várias provações: incêndio, doença, pobreza extrema, conquista do país pelos ingleses. Margarida e suas Irmãs as aceitam numa atitude de confiança na Providência divina. No dia 2 de fevereiro de 1745, dia seguinte ao incêndio que destruiu sua casa, assinavam os Primeiros Propósitos: “receber, nutrir e manter tantos pobres quantos possamos sustentar...” Fiéis ao compromisso que assumiram, se mantêm serenas e encontram força e apoio na inabalável confiança na Divina Providência.
     O Hospital geral de Montreal, construído em 1693 pelos irmãos Charon, estava em ruínas. A direção desse hospital foi confiada provisoriamente a Margarida, pois ninguém queria assumir tal tarefa. Ela entrou nesta instituição no dia 7 de outubro de 1747 e, em menos de 3 anos, com a ajuda de suas companheiras, renovou completamente esse hospital para fazer dele uma casa de acolhimento. – “Vamos à casa das ‘Soeurs Grises’, dizia o povo desvalido, elas nunca recusam ninguém”.
     Sem conhecimento de Margarida, as autoridades decidiram fazer uma fusão entre o Hospital geral de Montreal e o de Quebec. Com sua constante confiança em Deus, ela diz: “Se Deus nos chama a governar esta casa, seu plano se realizará, os obstáculos e perseguição dos homens não nos poderão abalar”.
     Em 1753, Luís XV, rei da França, assinava as “Cartas patentes” sancionando a nomeação de Margarida como diretora do Hospital geral. Não demorou e esta instituição ficou cheia, abrigando idosos, órfãos, deficientes mentais ou físicos, doentes crônicos, crianças abandonadas.
     Margarida viveu no Hospital geral de 1747 até seu falecimento, dia 23 de dezembro de 1771. Ela abria seu coração e sua casa a todas as necessidades humanas. As últimas palavras de Margarida continuam ainda a inspirar as Irmãs de Caridade hoje. Seu último pedido foi que ficassem fiéis ao caminho que lhes havia sido traçado por Deus e percorrido por ela e suas companheiras: obediência à vontade de Deus e a mais perfeita união entre elas.
     No dia 3 de maio de 1959, o papa João XXIII beatificou Margarida. Ela tornou-se assim a primeira mulher de origem canadense beatificada. Em 9 de dezembro de 1990, o papa João Paulo II canonizou esta Mãe dos pobres e apresentou-a ao mundo inteiro como modelo de amor compassivo.
     A Igreja celebra sua festa litúrgica no dia 16 de outubro.

Nota: Seus três filhos
- José Francisco Youville de la Découverte (1724-1778)
- Maria Luísa Youville (1727-1727)
- Carlos Maria Madalena Youville (1729-1790)
     Os dois filhos que chegaram a idade adulta se tornaram sacerdotes.


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Há 99 anos o Sol bailou no céu e 100.000 pessoas presenciaram o maior milagre do século 20! - 13 de outubro de 1917

     
     
     Você está a caminho do trabalho, como faz todos os dias. Imagine se num dia comum, de repente, você olhasse para o céu e…
                                           …o Sol começasse a se mexer! 
     No mínimo curioso, não é? Pois foi exatamente isso que aconteceu há 99 anos!
     No dia 13 de outubro de 1917, 70.000 pessoas estavam na Cova da Iria, local onde os pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta contemplavam a visita de Nossa Senhora desde maio daquele ano. 
     Agora era o cenário onde milhares de pessoas poderiam ver com os próprios olhos o milagre que a Mãe de Deus já havia previsto para aquela data.
     Nossa Senhora havia alertado os pastorinhos, três meses antes do milagre do sol, que ela faria  um milagre “para que todos vissem e acreditassem”.
     O governo de Portugal tentou evitar que as pessoas chegassem até a Cova da Iria. Haviam soldados impedindo a passagem dos fiéis.
     Uma verdadeira agitação. Mas nada impediu aqueles que esperavam o milagre anunciado pela Virgem de Fátima.
     Todos estavam ansiosos, inclusive os céticos e, independentemente da motivação para chegarem até lá, ninguém imaginava o que estava por vir…
     Ninguém além dos três pastorinhos podia ver Nossa Senhora. Ela apareceu a eles, novamente perto de uma árvore chamada azinheira, como havia feito desde o começo de suas aparições.
     Enquanto a Virgem Maria fazia previsões às três crianças, a multidão começou a presenciar o milagre do sol.
     Esse foi o testemunho do Sr. Mário Godinho, que presenciou de perto os 10 minutos em que o Sol “bailou” no céu: “Vi, numa área bem nítida do céu (onde não se pode fixar o sol diretamente) o próprio sol. Era como um disco de vidro fosco iluminado por detrás e girando sobre si mesmo, dando a impressão que estava caindo sobre nossas cabeças. Ouvi centenas de pessoas gritarem palavras de fé e amor à Santíssima Virgem. E então acreditei. Estava certo de que não tinha sido vítima de sugestão. Nunca mais vi o sol como aquela vez”.
     Além das 70.000 testemunhas que estavam na cova da Iria, cerca de 30.000 pessoas ainda puderam assistir ao espetacular milagre em até 960 km quadrados de distância.
     Inúmeras pessoas se converteram naquele dia. O Sol se mexeu no céu, sem cegar. As roupas das pessoas secaram da chuva. 

     Era um sinal claro, direto e maravilhoso que Deus, por intermédio de Nossa Senhora, enviou ao povo de Portugal no dia 13 de outubro de 1917.
     O país inteiro começou então a perceber que não se tratava de invenção das três crianças.
     Multidões inteiras continuaram a se dirigir a Fátima e o impacto do milagre aumentava à medida em que as testemunhas divulgavam mais e mais o que tinham visto.
     O Milagre do Sol é dirigido a nós para nos recordar de que Deus existe e que nós o rejeitamos toda vez que O desobedecemos e ignoramos; foi espetacular e assustador para que todos acreditassem.
     A Virgem Maria em sua gigantesca bondade nos deu em suas aparições os meios de rejeitarmos a nós mesmos e abandonar o pecado que nos lança para os castigos de Deus.
     Se de um lado a mensagem é terrível, de outro ela nos dá esperanças e a total confiança na máxima: ”Por fim meu Imaculado Coração Triunfará”
     “Sinto-me incapaz de descrever o que vi […]. Apavorado, corri e me escondi do meio das pessoas que choravam, imaginando que o fim do mundo fosse iminente. Tratava-se de uma multidão reunida do lado de fora de nossa aldeia em que homens e mulheres gritavam surpreendidos pelo que estava acontecendo; razão pela qual
todos nós deixamos as aulas e corremos à rua”. (Padre Joaquim Lourenço, que assistiu ao milagre do Sol)


Fonte: http://www.adf.org.br

Santa Parasceve, a Jovem, eremita - 13 de outubro

     

      A “Vida de Santa Parasceve, a Jovem”, foi escrita pelo Metropolitana de Myra, Mateus, no século XVII, após a última transferência das relíquias para a Moldávia em 1641, seis séculos depois da morte da santa eremita.
     Parasceve nasceu em Epivate, um porto a um dia de caminhada de Constantinopla. Ela viveu e morreu provavelmente no século X.
     Pertencia a uma família nobre; ela e seu irmão Eutimio ficaram órfãs muito jovens e ambos decidiram abraçar a vida religiosa. Eutimio, por suas virtudes, foi feito bispo de Maditos. Parasceve, depois de um certo número de anos em um mosteiro, se retirou como eremita em uma área do deserto do Jordão, imitando a vida santa dos antigos monges eremitas do Egito e da Síria: longas orações, vigílias noturnas e jejum frequente. Ela só comia algo aos sábados e domingos e dormia sobre a terra nua
     Certa noite Parasceve teve uma visão de um anjo que a exortava a perseverar em sua vida de penitente, e recomendou-lhe voltar para sua cidade natal.
     Parasceve deixou então o eremitério e foi para Constantinopla, e como peregrina visitou os santuários, colocando-se sob a proteção da Virgem na igreja de Blachernae; em seguida, dirigiu-se a Epivate, onde continuou nas práticas de penitência, mortificação e oração, o que fez o resto de sua vida. Quando morreu, ela foi enterrada por pessoas que sequer a conheciam, e sua memória se evanesceu.
     Mas, em uma data posterior, um milagre fez florescer sua memória: perto de Epivate vivia um estilita. Um dia alguns marinheiros lançaram aos pés de sua coluna o corpo de um dos seus colegas morto de peste. O corpo começou a apodrecer, exalando um cheiro tão forte, que o estilita rezou para alguém vir enterrá-lo. Alguns homens, cavando a sepultura, encontraram um corpo enterrado que exalava um perfume tão delicado que superava o mau cheiro do cadáver.
     Um certo Jorge, que fazia parte do grupo de coveiros, à noite teve um sonho no qual ele era convidado a colocar em um caixão o corpo encontrado, revelando-lhe o nome de Parasceve, nascida e criada em Epivate. Na mesma noite uma vizinha de Jorge teve um outro sonho em que a Santa prometia que ajudaria quem com fé recorresse a ela. Ela tornou-se padroeira da cidade. As relíquias foram levadas para a igreja dos Santos Apóstolos, onde muitos milagres ocorreram; em 1204, os conquistadores francos levaram inúmeras relíquias de Constantinopla para o Ocidente.
     Mas, em 1230-1231 o corpo Santa Parasceve foi cedido pelo imperador de Constantinopla ao rei conquistador búlgaro João II de Asen (1218-1241), que o levou para Turnov, na Bulgária, onde foi recebido com solenidade pelo Patriarca Basílio, e foi colocado na basílica do palácio imperial.
     Quando em 1393 os turcos tomaram Turnov, então capital da Bulgária, as relíquias foram transferidas para Belgrado, onde permaneceram até 1521, quando a cidade foi conquistada por Solimão, o Magnífico. Sabendo da grande veneração que os cristãos tinham por essas relíquias, o sultão as enviou para Constantinopla, onde o patriarca as fez depositar na igreja Pammacaristos.
     Mas as relíquias não permaneceram por muito tempo ali: quando em 1586 Murad III tomou o santuário dos cristãos, estas e outras relíquias foram levadas para a igreja de São Demétrio Kanabu e depois para a igreja de São Jorge no Fanar, em 1612 e, finalmente, em 1641, chegaram à Moldávia.
     Suas relíquias agora repousam na Romênia, na cidade de Iasi. Em Belgrado, o poço de Santa Parasceva cura miraculosamente os enfermos que dele se aproximam com fé em Deus e amor a essa santa.
     Depois da transladação para Turnov a Santa, com o nome de Petka ou Petnica, gozava de grande popularidade entre o povo búlgaro e logo se tornou a patrona nacional. Ela sempre teve um culto especial entre os povos eslavos dos Balcãs, porque acreditava-se que seus pais eram eslavos.
     Sua festa é celebrada no dia 13 de outubro.


Fonte: www.santiebeati.it/

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A Princesa Isabel e sua devoção a Nossa Senhora Aparecida




    

     A história da Princesa Isabel com Nossa Senhora Aparecida é muito bonita e conhecida por poucos.
     A Princesa Isabel era devota fervorosa de Nossa Senhora Aparecida e tinha o sonho de ser mãe de um menino que herdasse o trono da realeza.
     Com o objetivo de ser mãe a qualquer custo, a Princesa Isabel sofreu vários abortos e a primeira gravidez que conseguiu levar até os nove meses foi frustrante, porque resultou no nascimento de uma menina morta, após um trabalho de parto difícil e muito doloroso de 50 horas. Foi um momento muito triste.
     Mas muito persistente e devota de Nossa Senhora Aparecida, a Princesa Isabel pedia com muita fé o favor da Santa Mãe de Deus de lhe conceder um filho, e no mês de Maria se dedicava limpando e adornando diariamente, com flores frescas, a Igreja de Petrópolis (RJ) onde morava.
     Um ano após perder a filha, a Princesa deu à luz o herdeiro do trono. No dia 15 de outubro de 1875 nasceu D. Pedro de Alcântara; o menino nasceu asfixiado em consequência do fórcipe e sofreu lesões no braço esquerdo.
     Foi com muita fé que a Princesa Isabel conseguiu realizar o sonho de ter um filho, após 11 anos de casada. Nos anos seguintes a realeza brasileira ganhou outros dois herdeiros, D. Luiz Maria e D. Antônio.
     Por duas vezes, durante o Império, a Princesa se fez romeira da santa e lhe ofereceu régios presentes.
     Em 6 de novembro de 1888, a Princesa Isabel visitou pela segunda vez a basílica e ofertou à santa, em agradecimento por uma graça alcançada (promessa feita em sua primeira visita, em 8 de dezembro de 1868), uma coroa de ouro de 14 centímetros de altura e 11 de largura, feita com 300 gramas de ouro 24 quilates, cravejada com 40 diamantes e rubis, juntamente com um manto azul, ricamente adornado. Esta é a mesma coroa com que a Imagem foi coroada Rainha do Brasil em 8 de setembro de 1904 e que está coroando Nossa Senhora em Aparecida até hoje.
*

     Isabel, filha do último Imperador do Brasil, D. Pedro II, nasceu em julho de 1846. Casou-se com 18 anos, com D. Luiz Felipe d’ Orleans, o Conde d’Eu e governou o Brasil por três vezes. Na terceira vez, assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão.
     Por esse nobre motivo o Papa Leão XIII concedeu a ela a Rosa de Ouro, em 28 de setembro de 1888. A princesa foi a única brasileira a receber a Rosa de Ouro. Os outros dois exemplares foram dedicados ao Santuário Nacional de Aparecida pelos Papas Paulo VI em 1967 e Bento XVI em 2007.
     A história de Aparecida tem outro fato curioso sobre a passagem da Princesa Isabel.
     No ano de 1857, o escravo Zacarias fugiu de Curitiba e veio para Bananal, cidade de São Paulo, sendo preso e algemado. Ao passar pela Capela de Aparecida, pediu ao feitor a licença de ver Nossa Senhora Aparecida e ele permitiu. Ao fazer o seu pedido de clemência por liberdade, o escravo se ajoelhou e ergueu os braços algemados e fez a prece. A corrente caiu tinindo no chão. Foi um dos primeiros milagres conhecidos de Nossa Senhora Aparecida a correr pelas vilas vizinhas e pela província.
     Quando aconteceu o milagre da libertação de Zacarias, todos os escravos tinham a esperança de também serem libertos. Outro escravo conseguiu autorização do feitor para entrar na Capela. Rezou e fez o mesmo pedido, mas a corrente não se abriu. Ele rezou tristemente e ficou decepcionado por não ter alcançado o milagre. Levantou-se e descendo a antiga Rua da Calçada, hoje Ladeira Monte Carmelo, no centro de Aparecida, viu a comitiva real. O escravo ajoelhou-se e pediu a bênção da Princesa.
     Dona Isabel ordenou então que o escravo fosse posto em liberdade. As correntes não caíram no chão como o do escravo Zacarias, mas Nossa Senhora fez com que a princesa fosse tocada pelo gesto do escravo e lhe concedesse a libertação.
     Por ter assinado a libertação dos escravos a Princesa recebeu o título de ‘Redentora’. Após 32 anos de desterro, a Princesa faleceu em Paris no dia 14 de outubro de 1921.





sábado, 8 de outubro de 2016

Santa Renfrida, Abadessa de Denain – 8 de outubro

     
     A História nos relata que “Renfrida, educada santamente por seus pais, pediu-lhes para se consagrar inteiramente a Nosso Senhor Jesus Cristo fazendo-se religiosa”.
     Parece que suas nove irmãs seguiram a mais velha na vocação religiosa. Um relato moderno diz “que é possível que alguns dos nomes de irmãs tenham sido dados a companheiras de Renfrida por ter abraçado a vida religiosa com as outras”.
     Os pais, que se alegraram com esta decisão comum de suas filhas, “fundaram e edificaram, em 764 (754 ou 774) uma igreja e um claustro dedicados a Virgem Maria, em um local de seu condado chamado Denaing”, e também uma outra igreja dedicada à São Martinho, para os habitantes da região.
     Documentos antigos são ainda inéditos, por exemplo, o manuscrito de Jean d’Arleux no. 880 da biblioteca de Cambrai e as obras de Wauchier de Denain do século XIII, e poderão esclarecer ainda mais todo o itinerário desta cidade, da Abadia e, consequentemente, a história de seus ilustres Santos.
     Está escrito que “este local próximo ao rio L’Escaut, muito aprazível e bastante conveniente, deleitável, com belos prados, rico de boas terras, fecundas de bosques e a floresta que existe aí embeleza a região. Este local é chamado Denaing desde antigamente”. É certo que o vilarejo existia antes da construção do mosteiro (300 a 400 habitantes), mas foi graças às monjas que Denain entrou para a História.
     A Igreja de São Martinho existe ainda hoje. A igreja das religiosas de Santa Maria localizava-se em parte na atual Praça Wilson, os fundamentos foram encontrados em 1924, mas infelizmente não foram preservados.
     O mosteiro ficava entre o presbitério de São Martinho e o castelo Le Bret (um dos últimos vestígios da abadia com as casas da rua levando ao castelo – talvez as mais antigas cavalariças, e comuns ao castelo – e também o pavilhão da rua da pirâmide hoje abandonado).
     Esta região foi evangelizada inicialmente por pregadores itinerantes: São Martinho, São Saulve, São Amando e também por monges irlandeses. Uma segunda evangelização foi feita em seguida por habitantes da região: Santa Aldegunda (Maubeuge), Santa Maxelenda (Caudry), Santa Fara (Bruay sur l’Escaut), Santa Renfrida (Denain). Toda esta história religiosa se estende por vários séculos: do século VI à época carolíngia (750-850).
     Muito se tem falado sobre uma viagem à Roma e à Jerusalém levada a cabo “sob boa escolta” por Renfrida e suas irmãs. É certo que as peregrinações por devoção aos Lugares Santos eram muito comuns na época; é dito que foi a mãe, Santa Regina, que incentivou suas filhas a fazer esta viagem, cheia de perigos.
     Em Roma, cinco irmãs decidiram ir a Terra Santa – Jerusalém, Belém e Nazaré – e não retornaram. As outras também morreram na cidade de Roma e Renfrida voltou sozinha para Denain. Ela encontrou sua mãe desolada por ter suas filhas longe e neste meio tempo havia perdido seu esposo, o conde Adalberto *, que, dizem, morreu de desgosto pela perda de suas filhas.
     Parece que durante a ausência de Renfrida jovens ingressaram no mosteiro. Foi Santa Regina que as acolheu e por isso ela é considerada como a primeira abadessa e é representada com a coroa real e o báculo de abadessa.
     Quando Renfrida retornou a Denain, Regina se retirou em uma cela, que ela havia mandado construir, para ali se consagrar à contemplação e à oração.
     É dito também que Renfrida dirigiu o mosteiro durante 25 anos e que ela morreu em 805 (ou 775, 791, 800). Ela foi sepultada na igreja entre o pai e a mãe. Em 1793 as sepulturas de Regina, Adalberto e Renfrida ainda eram visíveis na igreja de Denain.
     Renfrida, considerada fundadora da Abadia de Denain, com a ajuda de sua mãe, Santa Regina, é celebrada na diocese de Cambrai. Ela também é patrona de duas paróquias da diocese de Namur (Bélgica).
     Santa Renfrida foi venerada, amada e invocada durante os mil anos de existência do ilustre capítulo das Cônegas de Denain. Ela também foi venerada pelos habitantes de Denain e pelas regiões vizinhas devido à reputação do mosteiro.
     Os três relicários contendo relíquias de Renfrida, Regina e Adalberto eram levados em procissões solenes, especialmente na cidade de Valenciennes. Os anais dos Bollandistas (volume IV, de outubro) lembram que há muitas comprovações litúrgicas do culto de Santa Renfrida que remontam ao século IX.
     Santa Renfrida continua sendo a Padroeira de Denain.  Há séculos ela é venerada por uma multidão de peregrinos, que veem implorar sua intercessão junto ao Senhor, para curá-los de alguma doença dos olhos. Para isto, a Fonte de Santa Renfrida é procurada por suas águas milagrosas.
     Há uma paróquia dedicada a Santa Renfrida em Hönnepel, Alemanha; outra em Oret, ao sul de Charleroi, na Bélgica; e ainda outra em Pry, França.
     Em 2005, todas estas paróquias, comemoraram os 1200 anos do falecimento de Santa Renfrida. Em Denain, ela foi mais especialmente lembrada.
     O Martirológio Romano a festeja no dia 8 de outubro.


* Adelberto II de Ostrevent († 790), ou Santo Adalberto, esposo de Santa Regina, além de Renfrida foi pai do rei Pepino. Ele é festejado em 22 de abril.