segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Walsingham, a Loreto Inglesa

     Estamos assistindo com grande alegria a conversão ao catolicismo de muitas personalidades do Reino Unido, bem como de grande número de anglicanos comuns, portanto convém rezarmos a Nossa Senhora de Walsingham, pelo crescimento tanto numérico quanto em profundidade desse providencial movimento. Que Ela converta a Inglaterra à Igreja verdadeira, restaure o acendrado fervor religioso da época de Santo Agostinho da Cantuária e de seus heróicos companheiros.
     Com efeito, Walsingham é o principal título com que Nossa Senhora há cerca de mil anos vem aspergindo suas graças naquele reino, a partir do priorado agostiniano situado na região de mesmo nome, fundado em 1016. 
     Localiza-se ele a poucos quilômetros do Mar do Norte, numa das renomadas campinas verdejantes e ajardinadas da Inglaterra, no território de Norfolk, cujos Duques constituíram uma grande estirpe que manteve a fidelidade a Roma, em meio à generalizada apostasia anglicana. Em 1016 já vivia Santo Eduardo o Confessor, e poucos anos antes havia reinado seu tio, Santo Eduardo o Mártir.
     Desde o início, os insignes favores concedidos por Nossa Senhora naquele santuário tornaram-no objeto de frequentes peregrinações, que partiam de toda a Inglaterra e até do Continente europeu. Ainda no século atual é conhecido como Palmers’Way (Via dos Peregrinos) o principal caminho que conduz a Walsingham, através de Newmarket, Brandon e Fakenham.
O Santuário atualmente
     Muitas foram as dádivas de terras, prebendas e igrejas obsequiadas aos cônegos agostinianos de Walsingham em virtude da grande devoção mariana arraigada na população britânica, e dos muitos milagres alcançados através das súplicas dirijas a Nossa Senhora de Walsingham. O Rei Henrique III para lá peregrinou em 1241; Eduardo I, em 1280e 1296; Eduardo 11, em 1315; e Henrique VI, em 1455.
     Eduardo I nutria grande devoção a Nossa Senhora de Walsingham. Atribuiu a Ela o fato de se ter salvado de um desastre. Certo dia, num intervalo entre suas ocupações, jogava xadrez quando subitamente lhe veio a idéia de se levantar do assento, sem explicar por que lhe ocorria tal impulso. Um instante depois grande pedra desprendeu-se da abóbada da sala onde estava o Rei e caiu sobre o lugar que acabava de deixar. Tal fato fez com que redobrasse o amor que votava à Virgem.
     Henrique VIII, em 1513, muito antes de sua apostasia, chegou a peregrinar descalço a Walsingham. Em 1511, por exemplo, tal era o prestígio do santuário mariano que o ímpio humanista Erasmo de Rotterdam foi visitá-lo, partindo de Cambridge, em cumprimento de um voto. Terá sido um resíduo de fé nele existente ou uma jogada para prestigiar-se junto aos católicos ingleses? Qualquer que tenha sido a causa da peregrinação, não impediu que o humanista deixasse como oferenda a Nossa Senhora louvores escritos em versos gregos. Anos depois, num opúsculo, Erasmo comentou a riqueza e a magnificência de Walsingham.
     De modo trágico (embora coerente com seus pérfidos princípios) a Revolução protestante não poupou o santuário: seus tesouros foram espoliados, destruiu-se o priorado, foi desmantelada a igreja. Hoje, felizmente, está ela restaurada atraindo um fluxo considerável de fiéis.
     Qual a origem dessa admirável devoção? Nossa Senhora apareceu à nobre Lady Richeldis de Faverches, mostrando-lhe misticamente a Santa Casa de Nazaré, para que, tomando-lhe as medidas exatas, edificasse uma igual em Walsingham. Como tem ocorrido em outros países e épocas, a vidente ofereceu certa resistência para acreditar em algo tão extraordinário, como seja uma inesperada incumbência vinda diretamente do Céu. Assim, Nossa Senhora teve que repetir o pedido em três ocasiões diferentes, a fim de que Richeldis pusesse mãos à obra. Seu filho, Geoffrey, e o sucessor deste, Richard, Duque de Gloucester, solicitaram e obtiveram que a Ordem de Santo Agostinho definitivamente cuidasse do culto da Santíssima Virgem no lugar por Ela escolhido.
     Quando Lady Richeldis começou a construção da capela, observou certa manhã, com espanto, olhando para o prado, dois trechos planos do terreno misteriosamente não atingidos pelo orvalho. Aquelas duas partes correspondiam exatamente às dimensões da planta da Santa Casa de Nazaré, que Lady Richeldis havia medido durante sua visão.
     É digna de nota a semelhança do fato prodigioso presenciado por Lady Richeldis com a demarcação do terreno da Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e mais ainda com o milagre do véu de Gedeão, relatado no Antigo Testamento.
     Em 2011 o Santuário comemora 950 anos e recebe peregrinos do mundo inteiro. Embora a festa de Nossa Senhora de Walsingham seja comemorada no dia 24 de setembro, não podiamos deixar de prestar esta homenagem a Ela antes do término deste ano.
_____________________________

FONTES DE REFERÊNCIA:
1. The Catholic Encyclopaedia, Londres, 1912, t. XV, p. 543.
2. Calendrier Marial, Constantinopla, 1935, p. 362.
3. Edésia Aducci, Maria e seus gloriosos títulos, Florianópolis, 1958, 1ª ed., Editora “Lar católico”, pp. 97-99.
4. Chamber’s Encyclopaedia, William & Robert Chambers, Limited, Londres e Edimburgo, 1895, p. 540.
5. Wilhelmine Harrod, Norfolk A. Shell Guide Londres, 1982,4ed., p. 168.
6 . Pe. Luís Cláudio Fillion, Nuestro Senor Jesucristo según los Evangelios. Editorial Difusión, S. A., Tucumán, 1859, pp. 145-147.
Revista Catolicismo http://www.catolicismo.com.br/

domingo, 27 de novembro de 2011

27 de novembro: 181 anos da Medalha Milagrosa e Primeiro Domingo do Advento


   Preparemo-nos para a Festa do Natal do Menino Jesus. Advento é tempo de oração, reflexão e renascimento espiritual. "Vinde Ó Menino Jesus!"

*

Palavras escritas por Santa Catarina Labouré sobre a aparição de Nossa Senhora e a revelação da Medalha Milagrosa

     Vi a Santíssima virgem à altura do quadro de São José. A Santíssima Virgem, de estatura média, estava de pé, vestida de branco, com um vestido de seda branco-aurora… com um véu branco que Lhe cobria a cabeça e descia de cada lado até em baixo.
     Sob o véu, vi os cabelos lisos repartidos ao meio e por cima uma renda a mais ou menos três centímetros de altura, sem franzido, isto é, apoiada ligeiramente sobre os cabelos.
     O rosto bastante descoberto, bem descoberto mesmo, os pés apoiados sobre uma esfera, quer dizer, uma metade da esfera… tendo uma esfera de ouro, nas mãos, que representava o globo. Ela tinha as mãos elevadas à altura do cinto de uma maneira muito natural, os olhos elevados para o Céu… seu rosto era magnificamente belo.
     Eu não saberia descrevê-lo… e depois, de repente, percebi anéis nos dedos, revestidos de pedras, mais belas umas que as outras, umas maiores e outras menores, que despediam raios mais belos uns que os outros.
     Partiam das pedras maiores os mais belos raios, sempre alargando para baixo, o que enchia toda a parte de baixo. Eu não via mais os seus pés… Nesse momento em que estava a contemplá-La, a Santíssima Virgem baixou os olhos, olhando-me. Uma voz se fez ouvir, e me disse estas palavras:
     A esfera, que vedes, representa o mundo inteiro, particularmente a França e cada pessoa em particular.
     Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi; a beleza e o fulgor; os raios tão belos…
     - É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem, fazendo-me compreender quanto era agradável rezar à Santíssima Virgem e quanto ela era generosa para com as pessoas que rezam a Ela, quantas graças concedia às pessoas que rezam a Ela, que alegria Ela sente concedendo-as…
     Formou-se um quadro em trono da Santíssima Virgem, um pouco oval, onde havia, no alto, estas palavras: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós, escrita em letras de ouro.
     A inscrição, em semicírculo, começava à altura da mão direita, passava por cima da cabeça e acabava na altura da mão esquerda. Então, uma voz se fez ouvir, e me disse:
     Fazei, fazei cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança.
     No mês seguinte, outra vez Santa Catarina viu Nossa Senhora. Ela estava, como em novembro, segurando o globo de ouro, encimado por uma pequena cruz também de ouro, e dos anéis jorravam os mesmos raios de luz desigual.
     “Dizer-vos o que entendi no momento em que a Santíssima Virgem oferecia o globo a Nosso Senhor, é impossível transmitir. Como eu estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma voz se fez ouvir no fundo do meu coração, e me disse: Estes raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem obtém para as pessoas que as pedem”.
     Santa Catarina reparou que, de algumas pedras dos anéis não partiam raios. Uma voz lhe esclareceu o porquê disso: “Estas pedras das quais nada sai são graças que os homens se esquecem de Me pedir”.
     Durante mais de um ano, a religiosa incansavelmente insistiu com o Sacerdote para que fossem cunhadas as medalhas, conforme Nossa Senhora determinara. Mas ele, inflexível, sempre resistia.
     Afinal, depois de um longo período de aflição para a santa religiosa, o Pe. Aladel, acompanhando seu superior numa audiência com o Arcebispo de Paris, Mons. De Quélen, aproveitou a oportunidade para expor ao Prelado o que acontecera na Rue Du bac, ocultando porém o nome da vidente. Essa audiência se deu em janeiro de 1832.
     O Arcebispo, diferentemente do Pe. Aladel, desde logo viu com bons olhos a iniciativa e incentivou a confecção da medalha. Encorajado, o Pe. Aladel mudou de atitude e, quatro meses depois, em maio, encomendou à Casa Vachette um primeiro lote de 20 mil medalhas.
     No momento que iam ser cunhadas as primeiras medalhas, uma terrível epidemia de cólera, proveniente da Europa oriental, atingia Paris.
     O morbo se manifestou a 26 de março de 1832 e se estendeu até meados do ano. A 1° de abril, faleceram 79 pessoas; no dia 2 168; no dia seguinte, 216, e assim foram aumentando os óbitos, até atingirem 861 no dia 9.
     No total, faleceram 18.400 pessoas, oficialmente; na realidade, esse número foi maior, dado que as estatísticas oficiais e a imprensa diminuíram os números para evitar a intensificação do pânico popular.
     No dia 30 de junho, as primeiras 1500 medalhas foram entregues pela Casa Vachette, e as Filhas da Caridade começaram a distribuí-las entre os flagelados. Na mesma hora refluiu a peste e começaram, em série, os prodígios que em poucos anos tornariam a Medalha Milagrosa mundialmente célebre.
     O Arcebispo, que recebera logo algumas das primeiras medalhas, alcançou imediatamente uma graça extraordinária por meio delas, e passou a ser entusiasta propagandista e protetor da nova devoção.
     Também o Papa Gregório XVI recebeu um lote de medalhas, e passou a distribuí-las a pessoas que o visitavam.
     Até 1836, mais de 15 milhões de medalhas tinham sido cunhadas e distribuídas, no mundo inteiro. Em 1842, essa cifra atingia a casa dos 100 milhões. Dos mais remotos países chegavam relatos de graças extraordinárias alcançadas por meio da medalha: curas, conversões, proteção contra perigos iminentes, etc.

Extraído do livro: “A verdadeira História da Medalha Milagrosa” – Armando Alexandre dos Santos

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Beata Caetana Sterni, Fundadora - Festejada 26 de novembro

     Caetana Sterni viveu toda sua vida em Bassano del Grappa, antiga e alegre cidade da província de Vicenza (Itália). Ali chegou aos 8 anos, com sua família, vindos de Cassola, onde nasceu em 26 de junho de 1827. Seu pai, João Batista Sterni, administrava as propriedades rurais da família Mora, nobres venezianos, em “Ca’Mora de Cassola”, onde vivia bem com sua esposa Joana Chiuppan e seus 6 filhos. Em 1835 mudou-se com a família para Bassano.
     Algumas vicissitudes mudaram as condições de vida da família Sterni. A irmã mais velha de Caetana, Margarida, morreu aos 18 anos; depois de uma penosa enfermidade seu pai também faleceu, enquanto seu irmão Francisco deixou a família, que então passava por uma situação econômica crítica, em busca de uma carreira artística. Estes fatos marcaram a vida de Caetana, que crescia rapidamente, dividindo com a mãe os problemas de cada dia.
     É inteligente, se mostra sensível e madura, cheia de entusiasmo, “desejosa de amar e de ser amada”. Sua educação na fé é sólida e apoiada pelo exemplo de vida e pelos ensinamentos de sua mãe, na oração e frequência aos sacramentos. Em seu ambiente familiar adquiriu estima e apreço por sua viva personalidade e por sua delicada feminilidade. Estas qualidades humanas atraíram a atenção de um jovem empreendedor, viúvo e com 3 filhos, que quis tomá-la por esposa.
     Avaliando conscientemente a responsabilidade do matrimônio, Caetana, aos 16 anos, aceitou tornar-se esposa de Liberale Conte. A jovem esposa enche de vitalidade, serenidade e alegria o novo lar. A felicidade dos esposos se completa quando Caetana espera um filho.
     Um dia, estando em oração, Caetana teve o pressentimento do iminente falecimento de seu esposo. Seu espírito se turbou e angustiada via desaparecer a pessoa mais querida de sua vida. Ao mesmo tempo, sente no mais íntimo de sua alma a presença de uma força espiritual que a fortalece para não cair no desespero, mas antes abandonar-se completamente em Deus.
     O pressentimento se realizou e Liberale Conte morreu na plenitude de sua juventude, vigor e saúde. A jovem esposa vive momentos de terrível angústia não apenas pela morte de seu esposo, como também pela dor de seus filhos, mais uma vez órfãos, e pela morte prematura de seu próprio filho, que não chegou a conhecer o pai. Estes momentos difíceis de sua vida ela os vive com confiança e completo abandono no Senhor, sua única esperança e fortaleza.
     Começa para Caetana a dolorosa prova da viuvez. A família de seu esposo, não levando em conta o afeto que a une aos três filhos órfãos, atormenta-a com suspeitas, incompreensões e calúnias, até separá-la de seus filhos e afastá-la de seu lar. Aos 19 anos Caetana retorna a casa de sua mãe. Esquecendo-se de si em meio à tão dura prova, Caetana ajuda seus filhos a compreenderem e a aceitarem a separação.
     Amável e segura defende os direitos de seus filhos, perdoa, compreende e alcança a plena reconciliação com todos seus familiares. O sofrimento não a desespera. Sua fina e delicada sensibilidade se faz presença misericordiosa e solidária.
     Jamais havia pensado em tornar-se religiosa. No silêncio da oração pede a Deus que a faça conhecer qual é o esposo que Ele quer para ela. Precisamente na oração compreende com claridade meridiana que é Deus mesmo quem quer “ser o único esposo de sua alma”. Foi grande a sua surpresa. O confessor lhe assegura que se trata de uma autêntica chamada de Deus.
     Caetana pede então para ingressar no convento das Canossianas de Bassano, sendo aceita como postulante, mas permanece ali somente por cinco meses. Estando em oração, pressente o falecimento de sua mãe e se prepara espiritualmente para esta nova prova. Poucos dias depois, sua mãe morre e Caetana teve que deixar a querida comunidade para cuidar e velar por seus irmãos menores.
     Seguem-se anos em que ela enfrenta dificuldades, enfermidades, dissabores e apertos econômicos.
     Consultando novamente seu confessor, e em constante oração para conhecer qual a vontade de Deus a seu respeito, Caetana começa a entrever que Deus a quer totalmente dedicada ao serviço dos pobres e necessitados.
     Ela se recorda que durante sua breve permanência com as Canossianas, ao mesmo tempo em que pressentia a morte de sua mãe, começava a intuir que Deus mesmo a estava preparando para o asilo para ali “entregar toda sua vida ao serviço dos pobres e assim cumprir sua vontade”.
     Por muito tempo conservou oculto este chamado de Deus, que não se atreve manifestar ao confessor, porque lhe parece um chamado estranho e exigente. Finalmente, quando se abre com seu confessor, este não lhe dá muita credibilidade. Apesar da atitude do confessor, cada vez que vê e encontra um pobre do asilo, sente de novo o convite do Senhor: “Te quero entre meus pobrezinhos”.
     Em 1853, “só para fazer a vontade de Deus”, se colocou a serviço dos pobres no asilo da cidade, que tinha então 115 hóspedes, “na sua maioria vítimas de uma vida desordenada e do vício”. Ali permaneceu por 36 anos, até o dia de sua morte, completamente dedicada, com infatigável caridade.
     Caetana era toda abnegação, doçura, suavidade e ternura quer nas noites de vigília junto ao leito dos moribundos, quer nos serviços mais humildes aos anciãos e doentes, com a firme convicção de servir a Deus mesmo em cada pobre e em cada necessitado. Com grande confiança em Deus e com um grande desejo de ser toda dEle, buscou fazer e cumprir em tudo somente sua vontade.
     Aos 33 anos, e com a aprovação de seu confessor, Padre Simonetti, fez o voto de doação total de si mesma a Deus, “disposta a aceitar o que Deus queira dispor para ela”. Com ilimitada confiança se abandona nas mãos de Deus, “débil instrumento do qual Deus se serve para seus desígnios”. Atribui só a Divina Providência o nascimento de sua congregação que surge na simplicidade e no ocultamento, com a profissão de suas duas primeiras companheiras em 1865.
Bossano del Grappa
     O nome “Filhas da Divina Vontade”, interiormente inspirado a Caetana, para ela e para suas seguidoras indica a característica própria que sempre as deve distinguir: “conformidade em tudo com a Divina Vontade, mediante um total abandono em Deus e um santo zelo pelo bem do próximo, dispostas se for necessário a sacrificar-se totalmente”. Como ela, suas primeiras companheiras, animadas pelo mesmo espírito, se consagraram a Vontade de Deus e se dedicaram ao serviço dos pobres do asilo, ao próximo necessitado, especialmente com a assistência aos doentes a domicílio e com outras obras de caridade, segundo as necessidades particulares do momento.
     O Bispo de Vicenza aprovou as primeiras Regras da congregação em 1875.
     Caetana faleceu no dia 26 de novembro de 1889, amorosamente assistida por suas filhas e venerada por seus concidadãos. Seus restos mortais são venerados na Casa Mãe.
     A Congregação das Filhas da Divina Vontade se multiplicou e difundiu, sendo presente atualmente na Europa, América e África.
     O caminho de santidade da Beata Caetana Sterni é essencialmente um itinerário espiritual que se pode e deve propor a todo cristão: cumprir em tudo e sempre o que agrada a Nosso Senhor, entregando-se a Ele com ilimitada confiança, seguindo o exemplo de Jesus.
     Caetana Sterni foi beatificada em 4 de novembro de 2001 por S.S. João Paulo II.

Fonte: Vatican.va

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Beata Elisabete Achler de Reute, Virgem, 3a. Franciscana - 25 de novembro

    Elisabete nasceu em Waldsee, Württemberg, sul da Alemanha, em 25 de novembro de 1386, filha de João e Ana Achler, humildes e virtuosos pais. Ela cresceu no meio de numerosos irmãos e irmãs. Seu pai era muito respeitado na corporação dos tecelões.
   Desde jovem Elisabete se distinguiu por uma rara piedade, inocência virginal e um caráter tão doce e amável, que todos a chamavam “a Boa”, nome que a acompanhou sempre ("Gute Beth", como é conhecida na Alemanha).
    Seu confessor, o Padre Konrad Kügelin (1367-1428), dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, aconselhou-a a deixar o mundo para tomar o hábito de São Francisco na Ordem Terceira. Elisabete tinha então 14 anos. Observou a regra franciscana primeiramente em sua casa, porém, considerando os perigos que punham obstáculos à caminhada para a perfeição, abandonou seus pais e foi viver com uma piedosa terciária franciscana.
     O demônio, invejoso dos progressos de Elisabete na perfeição, a atormentava com frequência. Enquanto ela aprendia a arte de tecer, ele enredava o fio, estragava o seu trabalho, forçava-a a perder a metade do tempo reparando os danos. Elisabete lutou com paciência e perseverança.
Convento de Reute (atual)
     Em 1403, aos 17 anos, o confessor a encaminhou para uma comunidade religiosa de Reute, próximo de Waldsee, erigida com a ajuda de Jakob von Metsch, onde algumas religiosas seguiam com fervor a Regra Franciscana. Em 1406 a comunidade foi elevada a convento franciscano e as Irmãs seguiram a Regra da Ordem Terceira Franciscana.
     Elisabete, sempre doce, obediente, assídua na oração e na penitência, preferia os ofícios mais humildes da comunidade; amante da solidão, não saia do convento senão por motivos graves, tanto que a chamavam “a reclusa”. Ela se ocupava da cozinha e cuidava dos pobres que batiam na porta do convento. A sua vida de religiosa se passava sobretudo na contemplação e na participação da Paixão de Cristo.
     O demônio continuou a persegui-la sob forma terrível, porém, fortalecida com a penitência e a oração, conseguiu vencer seus artifícios. Foi atacada pela lepra, e outros sofrimentos corporais. Estas provas serviram para fazer brilhar mais sua paciência heróica, e, sem se queixar, bendizia a Deus por tudo.
     Deus, comprazido com as virtudes de sua humilde serva, favoreceu-a com êxtases e visões maravilhosas. Obteve que algumas almas do Purgatório aparecessem a seu confessor para solicitar os sufrágios e as aplicações de Santas Missas. Durante o Concilio de Constança, predisse o fim do grande Cisma do Ocidente e a eleição do Papa Martinho V.
     Jesus concedeu a ela a graça de sofrer em si mesma as dores da Paixão e de receber em seu corpo a impressão das Sagradas Chagas. Às vezes sua cabeça aparecia ferida pelos espinhos. Em meio à dor exclamava: “Graças, Senhor, porque me fazeis sentir as dores de vossa Paixão!”. As chagas apareciam somente em intervalos, porém os sofrimentos eram contínuos.
     A Beata morreu em Reute no dia 25 de novembro de 1420, aos 34 anos de idade. O seu culto se difundiu logo após a sua morte e foi confirmado pelo Papa Clemente XIII em 1766.
     O Padre Konrad Kügelin foi sempre seu diretor espiritual e logo após a sua morte escreveu uma biografia em língua latina que foi difundida em numerosas versões, inclusive na língua alemã. O relato apresentava os elementos essenciais, segundo o modelo da Vida de Santa Catarina de Siena, e serviu como base para o processo de canonização de Elisabete.
Aspecto de Reute, Alemanha
     Elisabete foi uma mística rica de dons excepcionais: teve visões, êxtases, passou três anos sem tocar em alimento e levava os estigmas. Mas sobretudo foi uma jovem do povo que seguiu as pegadas de Jesus Cristo. Ela é a única entre as místicas dos séculos XIV e XV que se tornou popular e ainda hoje é venerada.
     Sua festa é celebrada em 25 de novembro. É venerada sobretudo na Baviera, no Tirol e na Suíça; é invocada nos temporais, nos incêndios e na guerra.
 
 
Fontes: diversas

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Beata Margarida de Saboia, Marquesa, Viúva, Dominicana - Festa 23 de novembro

     A Beata Margarida de Sabóia (não confundir com a homônima Rainha da Itália, que viveu uns cinco séculos depois) era aparentada com as principais famílias reais da Europa. Seu pai era o Conde Amadeu de Sabóia-Acaja, e sua mãe era uma das irmãs de Clemente VII, que durante o Grande Cisma se declarou papa em Avinhão. Margarida mereceu o apelido de Grande, que adquiriu por ter sido realmente um exemplo de grandeza evangélica nos diferentes estados em que Deus a colocou: filha, esposa, soberana e religiosa.
     Nasceu em Pinerolo, Turim, entre os anos de 1382 e 1390. Desde a infância foi a imagem da candura e de uma sabedoria precoce, o que a fazia aborrecer tudo que o mundo ama. Tendo ficado órfã bem cedo, junto com a irmãzinha Matilde foi entregue à tutela do tio Luis, que por falta de herdeiros homens, sucedeu o falecido príncipe Amadeu.
     O primeiro passo de Luís de Sabóia foi pôr um fim às longas discórdias entre Piemonte e Monferrato, e ambas as partes viu em Margarida um penhor seguro de paz duradoura. Há décadas o Piemonte era agitado por guerras que visavam dominar esta região da Itália. Os Sabóia, o Marquês de Saluzzo, os marqueses de Monferrato e os viscondes de Milão disputavam-na ferrenhamente.
     A jovem princesa, já sonhava com o claustro, entusiasmada no seu propósito por São Vicente Ferrer, que era então pregador no Piemonte. Margarida, pelo bem comum e pela paz entre as duas zonas do Piemonte, sacrificou com generosidade os seus mais preciosos ideais: em 1403, ela se tornou esposa do Marquês de Monferrato, Teodoro II Paleólogo, muito mais velho do que ela.
     Nenhuma ilusão terrena, porém, seduzia a jovem marquesa, que iniciou a nova vida de soberana com os pés na terra, mas o coração fixo no céu. Após ter sido sábia conselheira do esposo e mãe terníssima dos súditos, enviuvou no ano de 1418. Governou então como regente até a maioridade de seu enteado João. Assim que este pode tomar as rédeas do governo, ela retirou-se para o palácio de Alba, de sua propriedade, junto com suas mais fiéis donzelas, para dedicar-se às obras de caridade, recusando a proposta de casamento de Filipe Maria Visconti.
     Tornou-se terciária dominicana e fundou uma congregação inicialmente de terciárias e depois, em 1441, com a aprovação do Papa Eugênio IV, de monjas. Nasceu assim o Mosteiro de Santa Maria Madalena, na cidade de Alba.
     A nova vida religiosa de Margarida não foi isenta de trabalhos e dificuldades. Teve um dia a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que lhe trazia três setas, cada uma com uma palavra escrita: doença, calúnia e perseguição. Realmente, no período que seguinte, teve que suportar todos estes três sofrimentos.
     Afligida por uma saúde delicada, foi acusada de hipocrisia, depois de tirania nos confrontos com as Irmãs do mosteiro. Um pretendente rejeitado por ela espalhou a calúnia que o mosteiro era um centro de propulsão da heresia valdense. O frade que era seu diretor espiritual foi preso e, quando Margarida dirigia-se ao castelo para pedir sua liberdade, o portão foi-lhe fechado violentamente, fraturando uma de suas mãos.
     Apesar de todas as dificuldades, por vinte e cinco anos ela viveu retirada em oração, estudos e caridade. A Biblioteca Real de Turim conserva um volume contendo as cartas de Santa Catarina de Siena copiadas e encadernadas "por ordem de nossa ilustre senhora, Margarida de Sabóia, Marquesa de Monferrato".
     Imitando a Santa Doutora da Igreja, que durante o cativeiro de Avinhão se dedicou de corpo e alma ao retorno do pontífice para Roma, Margarida empenhou-se intensamente para que seu primo Amadeu VIII, primeiro duque de Sabóia, eleito antipapa com o nome de Felix V, no Concílio de Basiléia, desistisse de sua posição.
     Felix V abdicou e reconheceu como único chefe da Igreja o Papa então legitimamente reinando em Roma. Voltando a ser Amadeu de Sabóia, continuou a dirigir a Ordem Mauriciana fundada por ele no mosteiro às margens do lago de Genebra. O Papa o recompensou por ter recomposto a unidade da Igreja nomeando-o cardeal e legado pontifício. O Cardeal Amadeu morreu em fama de santidade e ainda hoje repousa na Capela do Sudário, adjacente à Catedral de Turim.
     Um misterioso acontecimento no mosteiro de Margarida é digno de nota. A prova documental tornou-se pública somente no ano 2000.
     No longínquo 16 de outubro de 1454, rodeada de todas as suas co-irmãs e do confessor Padre Bellini, uma Irmã agonizava. A superiora e fundadora do convento, Beata Margarida, também estava presente. Durante esta triste circunstância, se verificou o fato extraordinário relatado nos documentos:
     "Aconteceu uma visão profética recebida e referida aos presentes no momento da morte da agonizante Irmã Filipina à qual Nossa Senhora Santíssima, Santa Catarina de Siena, o Beato Humberto de Sabóia e o Abade Guilherme de Sabóia predisseram acontecimentos prósperos e funestos para a Casa de Sabóia, guerras terríveis num tempo futuro não preciso, do exílio de um outro Humberto de Sabóia em Portugal, e de um monstro proveniente do Oriente com grande sofrimento para a Humanidade, monstro que será, porém, destruído por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima se todos os seres humanos A invocarem com grande contrição".
     Os leitores poderão ver nestas linhas alusões aos trágicos acontecimentos do século XX e à mensagem transmitida por Nossa Senhora nas aparições de Fátima.
     Essa Irmã Filipina era na realidade uma prima de Margarida, portanto da Casa de Sabóia, fugitiva de uma conjuração contra sua família. As suas vicissitudes são entretanto muito longas, complexas e desvirtuariam a finalidade da presente narração.
     Margarida de Sabóia faleceu em Alba, no dia 23 de novembro de 1464, rodeada do afeto e da veneração de suas filhas espirituais.
     Em 1566, o Papa São Pio V, religioso dominicano e prior do convento de Alba, permitiu um culto a Margarida de Sabóia reservado ao Mosteiro de Alba. O Papa Clemente IX a beatificou solenemente em 9 de outubro de 1669, fixando seu memorial no dia 27 de novembro, para toda a Ordem de São Domingos. Hoje ela é celebrada também em algumas dioceses do Piemonte. O Martirológio Romano a festeja no dia 23 de novembro, aniversário de seu nascimento para o céu. O seu corpo incorrupto é ainda objeto de veneração na Igreja de Santa Maria Madalena de Alba.
     A Beata Margarida de Sabóia, grande e ativa figura feminina no Piemonte de seu tempo, fautora da paz e da concórdia entre as várias zonas da região, mereceria plenamente ser honrada como patrona celeste do Piemonte e também com a canonização, para que fosse universalmente venerada como um virtuoso exemplo de esposa, mãe, soberana e religiosa.

Santa Cecília, Mártir, Modelo da Virgindade Cristã - 22 de novembro

     Dom Guéranger, notável abade be­neditino do século XIX, quis colocar o primeiro mosteiro de Beneditinas da Congregação de Solesmes sob a proteção desta Santa, modelo ideal da virgindade cristã.
     Santa Cecília pertencia à uma das famílias mais ilustres de Roma, a dos Caecillius, e viveu no século III. Numa época em que o martírio era o fim provável dos cristãos, conver­teu-se decididamente ao Cristianismo, consagrando sua virgindade a Nosso Se­nhor Jesus Cristo. Desde então, seu Anjo da Guarda se tornou visível, prote­gendo-a nas mil vicissitudes da vida pa­laciana. Sob o vestido de seda e ouro usava o cilício, multiplicando os jejuns e orações para obter aquela coragem inte­rior indispensável à perseverança.
     Obrigada a casar-se com um jovem pagão, Valeriano, Cecília suplicava con­tinuamente a Deus a preservação de sua virgindade. Na brilhante festa profana dos esponsais, cantava com os Anjos, interiormente: "Guardai, Senhor, sem mancha meu coração e meu corpo".
     Assim que esteve a sós com Valeria­no, expôs-lhe o voto de vir­gindade, asseverando que um Anjo de Deus a assistia e o mataria se não respei­tasse aquele voto. Impressionado com a revelação, Valeriano quis que o Anjo se tornasse visível também a ele, para que pudesse acreditar. Ao saber que era preciso "ser purifi­cado na fonte que brota para a vida eterna", o jovem não hesitou um instante, cônscio dos riscos que corria: foi logo entrevistar-se com o Papa Urbano I. Esclarecido sobre as ver­dades fundamentais da Fé, foi-lhe admi­nistrado o Batismo.
     Regressando a seu palácio, revestido da túnica branca dos neófitos, encontrou sua esposa em oração, e ao lado dela, o Anjo Custódio, tendo nas mãos duas co­roas de rosas e lírios, colocando uma sobre a cabeça de Cecília e outra sobre a de Valeriano.
     Valeriano desejava a conversão de seu irmão Tibúr­cio. No dia seguinte, ao visitar os recém ­casados, Tibúrcio percebeu o aroma de rosas e lírios, maravilhando-se com o fato, sobretudo porque não via as flores, raras naquela estação. Valeriano revelou-­lhe a existência das coroas, e que só lhe seriam visíveis se se tornasse cristão. E começou a instruí-lo, com pouco suces­so. Interveio então Cecília. Utilizando a linguagem dos profetas, tantas vezes re­petida pelos mártires, demonstrou toda a vergonha da idolatria, e alcançou que Tibúrcio execrasse verdadeiramente os ídolos. Convertido e batizado, ele passou a ver continuamente os Anjos e a conver­sar com eles.
     Cecília e Valeriano alegravam-se com estas maravilhas, e todos os três os enchiam a Igreja com o brilho de sua caridade. Os dois irmãos foram de­nunciados, perseguidos, e depois de uma corajosa profissão de Fé, que converteu grande número de pagãos, foram degola­dos.
     Preparando-se para a tormenta inevi­tável, Cecília distribuiu todos os seus bens aos pobres e doou seu palácio do Trastevere a um nobre personagem cha­mado Gordiano, para que fosse salvo do confisco e consagrado depois ao culto católico.
     Esse palácio tornou-se uma das mais belas igrejas de Roma. Reconstruído no século IX, e reformado no século XVI, constitui a atual Basílica de Santa Cecília, em Roma, em cuja cripta repousam os corpos de Santa Cecília, São Valeriano e São Tibúr­cio.
     Depois de ter enfrentado o pre­feito de Roma com a majestade de uma filha da Igreja, esposa de Cristo e patrícia romana, refutando as alegações do magistrado e patenteando aos olhos de todos sua inocência, Cecília foi injustamente condenada à morte aproximada­mente no ano de 230, durante o reinado do Imperador Alexandre Severo.
     O prefeito romano enviou um carrasco com a ordem de cortar a cabeça da virgem com a espada. Depois de três golpes, não tendo conseguido degolar aquela jovem de Fé inabalável, produzin­do apenas a efusão de sangue, o carrasco fugiu, pois havia uma lei que proibia ferir a vítima que não tivesse morrido com três golpes.
     Durante três dias permaneceu Cecília agonizando, mantida em vida por verdadeiro milagre, falan­do continuamente à multidão que se concentrava em tomo dela, estimu­lando uns e convertendo outros. So­mente ao terceiro dia, o santo Pon­tífice Urbano I pôde comparecer ao local: "Pai, disse-lhe a Santa, pedi ao Senhor esta demora para colocar nas vossas mãos os pobres que eu sustentava; deixo-vos tam­bém esta casa, a fim de que, consa­grada por vós, seja para sempre uma igreja". Após essas palavras entregou sua bela alma a Deus.
     Seu corpo foi depositado numa urna de cipreste; conservaram a posição em que estava ao morrer: os braços estendidos, os três dedos simbolicamente dispostos, indican­do seu ato de fé na Santíssima Trin­dade, o rosto voltado para a terra. Precisamente a posição em que foi encontrada nas escavações do sécu­lo IX e do século XVI.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Beata Elisabete Canori Mori, Mãe de Família e Mística

     Elizabete Canori é filha de Tomás Canori, grande proprietário de terras romano, e de Teresa Primoli, aistocrática dama da Cidade dos Papas. Nasceu no dia 21 de novembro de 1774; recebeu esmerada educação familiar.
     Um alto prelado conhecendo os problemas econômicos e a qualidade espiritual da família Canori, propôs colocar Elizabete e a irmã mais nova, Benedita, no mosteiro das Oblatas de São Felipe, encarregando-se de todas as despesas. Mas somente Benedita aceitou; Elizabete permaneceu junto à família.
     Em 10 de janeiro de 1796, desposou um jovem advogado, Cristóvão Mora, filho de um rico médico da mesma Roma. Do casal nasceram quatro filhas, duas das quais morreram com pouca idade: Mariana nasceu em 1799 e Maria Lucina em 1801.
     Tudo augurava ao novo matrimônio um brilhante futuro. Mas a tragédia veio logo. O marido arruinou a família e abandonou o lar, seduzido por uma mulher de má vida. Foi preso pela polícia pontifícia, primeiro num cárcere, depois num convento. Jurou mudar de vida, mas após retornar ao seu lar, tentou repetidas vezes assassinar sua esposa Elizabete. Ela foi de uma fidelidade heróica, oferecendo pelo marido enormes sacrifícios. E profetizou que ele acabaria morrendo sacerdote.
     Quando abandonada pelo esposo, incompreendida pelos familiares, Elizabete teria caído na miséria se benfeitores compassivos não a tivessem auxiliado. Entre eles encontravam-se Prelados romanos, que narraram ao Papa Pio VII os seus méritos. O Pontífice, beneficiado pelas orações e sacrifícios dela, concedeu privilégios pouco comuns à capela privada da sua humilde casa.
     Tendo que ganhar o sustento da família com seu trabalho, Elizabete não descuidava dos mais pobres. Sua casa tornou-se ponto de referência e muitos a procuravam para solucionar dificuldades espirituais e materiais.
     Ela conheceu e aprofundou a espiritualidade dos Trinitários e abraçou a sua ordem secular, correspondendo com dedicação à vocação familiar e de consagração secular.
     Depois de uma vida toda dedicada à conversão do esposo, de dedicação ao Papado, à Santa Igreja e à sua cidade, Roma, a Bem-aventurada faleceu em 5 de fevereiro de 1825. Após seu falecimento, Cristóvão caiu em si e fez-se religioso, levando exemplar vida de penitência. Foi ordenado sacerdote e morreu rodeado de grande consideração.
     A causa de sua beatificação foi introduzida em 1874, durante o pontificado do Bem-aventurado Pio IX. O decreto de heroicidade de virtudes foi concedido em 1928; Elizabete Canori Mora foi beatificada em 24 de abril de 1994 por João Paulo II.
 
Visões e Revelações
     Além de todas as suas virtudes, a Beata Elizabete Canori Mori nos legou uma extraordinária narração dos favores místicos com que foi agraciada pela Providência. As visões e revelações contidas em um diário no qual ela anotava as mensagens celestes são proféticas e seriam endossadas, anos mais tarde, pelas aparições de Nossa Senhora em La Salette, França, e em Fátima, Portugal.
     Por brevidade, somente reproduziremos as mais importantes, se é que podemos analisar assim mensagens celestes, mas aos que se interessarem por maiores detalhes, indicamos a revista Catolicismo de maio de 2002, de onde tiramos alguns trechos que seguem.
    No Natal de 1813, a Beata foi arrebatada a um local inundado de luz, onde inúmeros santos rodeavam um humilde presépio. Nele, o Menino Jesus chamava-a docemente. A própria Elizabete descreve sem preocupações literárias a surpresa que teve:
     "Só de pensar, me causa horror. [...] Vi o meu amado Jesus recém-nascido banhado no seu próprio sangue [...], nesse momento compreendi por via intelectual qual era a razão de tanto derramamento de sangue do Divino Infante apenas nascido. [...] A má conduta de muitos sacerdotes seculares e regulares, de muitas religiosas que não se comportam segundo o seu estado, a má educação que é dada aos filhos por parte dos pais e mães, como também por aqueles a quem incumbe uma obrigação similar. Estas são as pessoas por cujo bom exemplo deve aumentar o espírito do Senhor no coração dos outros. Mas eles, pelo contrário, apenas nasce [o espírito de Nosso Senhor] no coração das crianças, fazem-lhe uma perseguição mortal com sua má conduta e maus ensinamentos".
     Deus foi-lhe revelando o lamentável agir de certos setores eclesiásticos que atraíam a cólera divina, acumpliciados com a Revolução que derrubava tronos e seculares costumes cristãos na ordem temporal. Tais visões patenteiam, um século antes das revelações na Cova da Iria, que o mal já se infiltrara na Igreja e na sociedade civil. Vê-se bem que em Fátima Nossa Senhora fez uma advertência final para esse mal, que progredia apesar de todos os avisos em sentido contrário.
     Em 22 de maio de 1814, enquanto rezava pelo Santo Padre, "vi-o viajando rodeado de lobos que faziam complôs para atraiçoá-lo". A visão repetiu-se nos dias 2 e 5 de junho. Nesta última, narra a vidente: "Vi o sinédrio de lobos que circundavam [o Papa Pio VII, então reinante] e dois anjos que choravam. Uma santa ousadia me inspirava a lhes perguntar a razão da sua tristeza e do pranto. Eles, contemplando a cidade de Roma com olhos cheios de compaixão, disseram o seguinte: `Cidade miserável, povo ingrato, a Justiça de Deus castigar-te-á'".
     Em 16 de janeiro de 1815, o que mais a impressionou foi ver Deus indignado. Num local altíssimo e solitário, viu Deus representado por "um gigante forte e irado até o extremo contra aqueles que O perseguiam. Suas mãos onipotentes estavam cheias de raios, o seu rosto estava repleto de indignação: só o seu olhar bastava para incinerar o mundo inteiro. Não tinha nem anjos nem santos que o circundassem, mas somente a Sua indignação circundava-o por todas partes".
     Tal visão durou apenas um instante. Segundo Elizabete, "se tivesse durado mais um momento, certamente eu teria morrido". A descrição acima lembra a visão do inferno apresentada a Lúcia, Francisco e Jacinta. Entre ambas as visões há uma correlação profunda. Enquanto Deus manifestou à Beata sua justa indignação pelas ofensas que sofre, Nossa Senhora em Fátima apontou o destino das almas que ofendem a Deus e morrem impenitentes.
     Na visão de 29 de junho de 1820, após as purificadoras punições descritas, a Beata Elizabete viu São Pedro retornar do Céu num majestoso trono pontifical. Logo a seguir, desceu com grande pompa o Apóstolo São Paulo. Ele "percorria todo o mundo e algemava aqueles malignos espíritos infernais, e os conduzia diante do Santo Apóstolo São Pedro, o qual, com uma ordem cheia de autoridade, voltava a confiná-los nas tenebrosas cavernas das quais tinham saído [...]. Nesse momento viu-se aparecer sobre a terra um belo resplendor, que anunciava a reconciliação de Deus com os homens".
     A pequena grei dos católicos fiéis, refugiada sob as árvores com forma de Cruz, foi então conduzida aos pés do trono de São Pedro. "O santo escolheu o novo Pontífice — acrescenta a vidente —, toda a Igreja foi reordenada segundo os verdadeiros ditames do Santo Evangelho; foram restabelecidas as ordens religiosas, e todas as casas dos cristãos tornaram-se outras tantas casas penetradas de religião; tão grande era o fervor e o zelo pela glória de Deus, que tudo era ordenado em função do amor de Deus e do próximo. Desta maneira tomou corpo num momento o triunfo, a glória e a honra da Igreja Católica: Ela era aclamada por todos, estimada por todos, venerada por todos, todos decidiram segui-la, reconhecendo o Vigário de Cristo, o Sumo Pontífice".
     Deus lhe fez ver várias vezes uma esplendorosa nave nova, símbolo da Igreja restaurada, que estava sendo armada pelos anjos. Também, em 10 de janeiro de 1824, mostrou-lhe o principal obstáculo para a conclusão dessa nave. Ela viu cinco árvores de desmesurado tamanho: "Observei que essas cinco árvores com suas raízes alimentavam e produziam um emaranhadíssimo bosque de milhões de plantas estéreis e selváticas". Deus lhe fez entender que essas cinco enigmáticas árvores simbolizavam "as cinco heresias que infeccionam o mundo nos nossos tempos".
     A Beata Elizabete faleceu quase um século antes da manifestação de Nossa Senhora em Fátima. Mas suas visões e revelações, das quais demos algumas amostras, patenteiam o grandioso desígnio divino que sobrepaira a História e mostram que o plano do Reino de Maria, como profetizado em Fátima, é como um imenso palácio que a Divina Providência vem preparando há séculos e que quando finalizado ultrapassará toda expectativa. E elas nos mantêm firmes na certeza de que a promessa de Nossa Senhora se cumprirá: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!"
 
Fontes:
www.catolicismo.com.br; La mia vita nel Cuore della TrinitàDiario della Beata Elisabetta Canori Mora, sposa e madre, Libreria Editrice Vaticana, 1996, 765 pp. Imprimatur do Vicariato de Roma, Pe. Luigi Moretti, secretário-geral, 31-8-1995.