segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Beata Margarida Colonna, Clarissa - 30 de dezembro

    
     Margarida nasceu em 1254 ou 1255, filha de Odão Colonna, chefe do ramo primogênito dos Colonnas, casado com Madalena Orsini. O nascimento deve ter sido em Palestrina, a antiga Preneste, a uns 40 quilômetros de Roma, onde se encontrava o castelo paterno.
     Descendente da célebre família Colonna, Margarida foi desde a mais tenra idade educada cristãmente pela mãe, que tinha conhecido São Francisco em casa de seu irmão Mateus. Tendo ficado órfã do pai poucos anos depois de nascer, e também da mãe, quando tinha dez anos, foi confiada à tutela do irmão mais velho, João, duas vezes senador de Roma (+ 1292).
     Quando Margarida chegou aos 18 anos, João pensou que era tempo de casá-la, mas Margarida recusou e foi defendida pelo irmão Tiago, que terminava os estudos na Universidade de Bolonha. Margarida e Tiago estavam profundamente influenciados pelos ideais franciscanos.
     Em 6 de março de 1273, Depois de ter recusado um matrimônio muito vantajoso com um nobre romano, retirou-se ao Monte Prenestino, hoje Castelo São Pedro, onde fundou uma comunidade de clarissas, animada no seu propósito por aparição de Maria Santíssima. Ali viveu e edificou o povo com uma vida em tudo exemplar, sobretudo na assiduidade à oração e a caridade heroica. Distribuiu pelos pobres a sua rica herança e recusou qualquer ajuda direta por parte dos irmãos; preferiu viver como franciscana, recorrendo à “mesa do Senhor, pedindo esmola de porta em porta”.
     Não estando sujeita à clausura, Margarida pode entregar-se às obras de caridade especialmente junto aos Irmãos Menores doentes de Zagarolo e das leprosas de Póli. Por ocasião de uma epidemia, Margarida fez-se “toda para todos”, assistindo maternalmente aos irmãos doentes. Uma vez acolheu em casa um leproso, com ele comeu e bebeu, usando o mesmo prato e o mesmo copo, e num ímpeto de amor beijou-lhe as repugnantes chagas.
     Seria longo recordar todas as manifestações da intensa vida mística de Margarida: a observância escrupulosa da regra de Santa Clara, o amor à pobreza, a contínua união com Deus, os êxtases, as efusões de lágrimas, as frequentes visões celestes, o casamento místico com o Senhor, que lhe apareceu e lhe colocou um anel no dedo, lhe pôs na cabeça uma coroa de lírios e lhe imprimiu uma chaga no coração.
     Nos três últimos anos de vida Margarida sofreu de uma grave úlcera no estômago. Na noite de Natal de 1280 apareceu-lhe Maria com o Menino nos braços e deixou-a num estado de profunda exaltação. Foi atacada por uma febre de que morreu no dia 30 de dezembro daquele ano.
     A morte de Margarida foi em tudo digna duma perfeita filha de São Francisco, que por amor da sua dama pobreza quis morrer nu sobre a terra nua. Na madrugada de 30 de dezembro, depois de ter recebido o viático e a unção dos enfermos, pediu ao seu irmão, o Cardeal Jaime, que a colocassem no chão, pois desejava morrer pobre como Jesus e São Francisco. Fizeram-lhe a vontade, mas apenas por pouco tempo, visto encontrar-se demasiado debilitada.
     Por fim, pediu que lhe dessem um crucifixo. Depois de beijá-lo com muito afeto, mostrou-o às irmãs, exortando-as a amá-Lo com todas as suas forças. Adormeceu por uns momentos, e voltando a si exclamou com vigor: “Aí vem a Santíssima Trindade! Adorai-a!”. Nesse instante cruzou os braços sobre o peito, fixou os olhos no céu e expirou serenamente, ao alvorecer do dia 30 de dezembro de 1280.
     As exéquias tiveram lugar nesse mesmo dia na igreja de São Pedro no Monte Prenestino, com enorme concorrência de povo e de todos os franciscanos da região.
     Em 24 de setembro de 1285, uma bula do papa Honório IV, obtida por Tiago Colonna, cardeal desde 12 de março de 1278, dava às clarissas de Castelo São Pedro o mosteiro de São Silvestre in cápite em Roma, para onde levaram os restos mortais da falecida. Pio IX confirmou o seu culto a 17 de setembro de 1847.
     Na vida da Beata Margarida Colonna é relatado que tendo chegado a Roma com o irmão cardeal para venerar as relíquias dos Apóstolos, desejou visitar uma santa mulher chamada Altrude, que vivia consagrada a Deus em sua própria casa usando o hábito da Ordem Terceira de São Francisco, e ficou admirada das suas virtudes. Altrude morreu cerca de 1280. Sua festa é celebrada em 22 de junho.
     Margarida aparece como uma delicada figura de mulher em quem os dotes naturais de inteligência, fascínio e sensibilidade, unidos à dignidade da sua estirpe, se inserem na árvore robusta da espiritualidade franciscana. A sua vida é como um arco-íris de paz e de esperança na tormentosa história do seu tempo.

Fontes:
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

Postado pela 1ª vez em 29 de dezembro de 2014

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Exemplo moderno de honra feminina: Jamie Schmidt

Como ter uma morte gloriosa e defender a honra

     Segunda-feira, 19 de novembro de 2018, poderia parecer um dia normal para Jamie Schmidt. Mal sabia ela, quando entrou na Catholic Supply, uma loja de artigos religiosos no subúrbio de St. Louis, Missouri, que esse dia comum seria o último. Nem sua família jamais sonhou que sua vida chegaria a um fim heroico, sendo ela comparada a Santa Maria Goretti. (1)
     Jamie Schmidt, de 53 anos, pode ser considerada uma típica senhora católica, o que torna seus momentos finais mais marcantes. Ela era mãe de três filhos, se casou com seu namorado do ensino médio; ela cantava no coro em sua igreja paroquial, Santo Antônio de Pádua, em High Ridge, Missouri. Amigos a descreviam como uma pessoa que estava sempre presente se você precisasse de ajuda. Ela também era devota de Nossa Senhora, fazia e distribuía rosários.
     Sabemos disso porque o motivo de ela ir à Catholic Supply era comprar material para seu apostolado do rosário. Havia apenas duas outras pessoas na loja - ambas funcionárias - no momento de sua chegada às 15:30 h.
     Momentos depois, Thomas Bruce entrou. Ele olhou em volta e depois explicou que iria fazer uma compra, mas precisava pegar um cartão de crédito no carro. Quando voltou, ele empunhava uma arma e as três mulheres enfrentaram seu pior pesadelo.
"Em nome de Deus..."
     Depois de encurralar as mulheres num canto da loja, ele começou a agredir sexualmente as duas funcionárias. Ele então virou a arma para Jamie com a intenção de fazer o mesmo com ela, mas ela tinha outros planos.
     O que aconteceu depois foi um ato de testemunho cristão que só se esperaria encontrar entre os primeiros mártires da Igreja no Coliseu Romano, não de uma senhora católica do século XXI em uma cidade americana moderna.
     Thomas Bruce virou-se para Jamie e, pelo que sabemos de relatos, ordenou que ela se despisse. Em tal situação, ela poderia ter respondido de uma maneira que pacificasse seu agressor. Só podemos especular o que estava passando por sua cabeça naquele momento crítico.
     Quando se considera os atos perversos que ela foi forçada a testemunhar, é provável que Jamie tenha entendido que não haveria diálogo possível com tal homem. Também pode ter ocorrido a ela que Deus a colocara naquela situação porque Ele queria testar sua fidelidade a Ele. Embora tudo isto sejam conjecturas, sua resposta categórica, conforme relatada pelas duas funcionárias, é um fato documentado.
     “Em nome de Deus”, ela disse, “eu não tirarei minhas roupas!” Usar esse tipo de fraseologia era o equivalente a fazer um juramento diante de seu Criador. Era, portanto, um categórico não, uma recusa inequívoca, absoluta a um homem com uma arma carregada que claramente não aceitaria oposição.
Um fim glorioso
     Infelizmente, o resultado foi o que se esperaria nas circunstâncias: ela foi baleada à queima-roupa. Ao cair mortalmente ferida no chão, no que seriam seus últimos momentos na Terra, ela precisava de uma força espiritual e se voltava para Deus. Enquanto a vida se esvaia de seu corpo, as duas funcionárias puderam ouvi-la murmurar com voz fraca o Pai Nosso, a oração composta por Nosso Senhor.
     O assaltante fugiu da cena, mas foi preso mais tarde. Jamie viveu o suficiente para ser levada de ambulância para um hospital próximo. Ela não cessava de rezar e, com a respiração agonizante, foi ouvida sussurrando a mesma oração enquanto sua vida chegava a um final glorioso.
     Seria razoável que uma pessoa refletindo sobre o sacrifício heroico desta corajosa senhora, se perguntasse por que tal história nos comove tanto? É porque vemos na heroica defesa da pureza de Jamie a luminosidade dominante daquilo que era melhor nela: a honra. (2)
Um mundo que é devastado e sem honra
     Esta qualidade esquecida possui várias características definidoras. Em primeiro lugar, é a virtude pela qual estimamos o que é excelente. Isto não é uma coisa difícil de fazer no caso emocionante de uma esposa e mãe católica que olha para o cano de uma arma carregada e, sem hesitar, escolhe a morte ao invés da desonra.
     Em segundo lugar, a honra é também a qualidade que leva uma pessoa a viver de acordo com essa excelência em todas as coisas. Por exemplo, aqueles que se importam com sua honra não apenas manterão sua pureza, mas também procurarão praticar todas as virtudes por amor aos princípios.
     Finalmente, há momentos na vida de uma pessoa que podem ser definidos como a hora ‘h’, ou o momento do tudo ou nada. É uma circunstância que pede a uma pessoa que vá além do que eles, ou qualquer um que os conhece, acham que são capazes de alcançar. Quando fiel naqueles momentos, a plenitude da honra é vista, e junto com ela, uma série de outras qualidades e virtudes aparecem em segundo plano, por assim dizer, como um anjo.
     É por esse motivo que o heroísmo de Jamie é particularmente uma lufada de ar fresco. Os dias em que vivemos não são muito diferentes do mundo definido no Livro dos Macabeus como sendo “devastado e sem honra”. Portanto, é em dias licenciosos e egocêntricos como os nossos que a honra tem mais brilho pelo simples fato de que está em contraste com a decadência que nos rodeia.
Ignorando os Prazeres da Vida para Fazer a Vontade de Deus
     (...) Infelizmente, há aqueles que, ao ouvir a história de Jamie, perguntarão: “Isto valeu a pena?” Ela perdeu a oportunidade de aproveitar com sua família as alegrias do Natal. Ela não verá seus filhos envelhecer nem jamais poderá acariciar seus netos. Embora essas considerações sejam legítimas, especialmente para as mães que estão lendo este artigo, a importantíssima lição de vida de Jamie pode ser perdida. Suas palavras finais, embora sucintas, eram ao mesmo tempo uma declaração sobre a obrigação que todos temos de ser fiéis à vontade de Deus, não importa quão dolorosa possa ser. (...)
     Do lugar na eternidade que ela ocupa agora, Jamie pode dizer com justiça para aqueles que ela deixou para trás: "Tudo está perdido, exceto a honra".

2. Os conceitos de Honra dados aqui foram desenvolvidos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em uma série de encontros sobre o tema, proferidos em 1976. Ele foi capaz de fazer comentários volumosos sobre este assunto, porque ele era, de uma forma muito eminente, um homem de honra.

Fonte:
Artigo escrito por Norman Fulkerson

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Santa Tybie, Mártir do País de Gales – 26 de dezembro

     Santa Tybie (ou Tybieu) é uma santa virgem mártir no País de Gales. Santa Tybie era uma das filhas de Brychan Brycheiniog (*). Ela era uma mulher devotada, costumava a se isolar muitas vezes para a oração em uma cela adjacente à sua casa em Llandebie, em Carmarthenshire.
     A tradição nos diz que ali foi morta por piratas pagãos, saxões ou irlandeses.
     Sua festa é comemorada no dia 26 de dezembro.


(*) De acordo com a hagiografia celta, Brychan nasceu na Irlanda, no ano 419, filho do príncipe Anlach, filho de Coronac, e sua esposa, Marchel, herdeira do reino galês de Garthmadrun (Brycheiniog), que o casal mais tarde herdou. Após a morte de seu pai, ele retornou para Garthmadrun e mudou seu nome para Brycheiniog.
     O nome de Brychan pode ser uma versão galesa do nome irlandês Broccán e a de seu avô Coronac pode representar Cormac. A educação de Brychan foi confiada a um santo homem chamado Drichan.
     A vida de São Cadoc por Lifris (c. 1100) retrata Brychan lutando contra Arthur, Cai e Bedivere por causa do sequestro de sua filha Sta. Gladis de sua corte em Talgarth pelo rei Gwynllyw de Gwynllwg.
     Ele às vezes é descrito como um santo não documentado, mas a literatura tradicional não se refere a ele como santo, mas como um patriarca, e não há igrejas dedicadas a ele. Um vitral do século 15, na igreja paroquial de St. Neot, na Cornualha, supostamente retrata Brychan, sentado e coroado, tendo em seus braços onze crianças. Entretanto, isto foi descrito por um guia moderno como "Deus com almas em seu colo".
     Brychan faleceu no ano 480 d.C.

Filhos de Brychan
     Segundo a tradição cristã, Brychan se casou três vezes - com Prawst, Banhadlwedd e Gladys - e teve uma família muito grande. Essas esposas são mencionadas em vários manuscritos, incluindo os de William Worcester, John Leland e Nicholas Roscarrock. O número de filhos atribuídos a ele varia de doze a sessenta e três, sendo vinte e quatro o número mais frequentemente encontrado. Existem duas listas principais, no entanto, uma de origem galesa e outra da Cornualha. A maioria de seus filhos parece que viajaram de Brecon para evangelizar a Cornualha e o Devon Norte, onde são venerados, mas há pouca concordância entre as duas listas.
     O número de filhos de Brychan pode ter crescido ao longo do tempo, à medida que mais e mais pessoas seculares, assim como os santos, queriam reivindicar descendência de uma das "Sagradas Famílias da Bretanha". Listados abaixo estão as crianças das fontes galesa.

Filhos relacionados em fontes galesas
     A lista De Situ Brecheniauc: Eleri, Hunydd, Gwladys, Ceingar, Tudglid, Nyfain, Gwawr, Marchell, Lluan, Gwrygon Goddeu, Arianwen, Bethan, Ceinwen (Keyne), Cerddych, Clydai, Cynheiddon (identificado com Santa Endelienda), Dwynwen, Eiliwedd, Goleudydd, Gwen, Lludd, Tudful, Tudwystl e Tybie.
     Outras fontes galesas reivindicam os seguintes filhos adicionais: Beiol, Tydieu, Eufail, Hawystl, Edwen, Gwenrhiw, Tudwen, Callwen, Gwenfyl, Gwennan e Mwynwen.

  
Fontes: www.santiebeati.it/; https://en.wikipedia.org/wiki/Brychan

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo








     “É o esplendor desta luz inaugurando nas trevas uma aurora que triunfalmente se transformou em dia, é o cântico de surpresa e esperança diante dessa renovação sobrenatural, o anelo e o antegosto de uma ordem nova baseada na fé e na virtude, que os fiéis de todos os séculos se comprazem em considerar, quando seus olhos se detêm no Menino-Deus, deitado na manjedoura, a sorrir enternecido para a Virgem-Mãe e seu castíssimo Esposo".




(Plinio Corrêa de Oliveira: "Hodie in Terra Canunt Angeli, Laetantur Archangeli, Hodie exultant Justi"; "Catolicismo Nº 84, Dezembro de 1957)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Santa Anastácia, mártir – 22 de dezembro

     
     Esta mártir desfruta da distinção, única na liturgia romana, de ter uma comemoração especial na segunda missa no dia de Natal. Esta Missa era originalmente celebrada não em honra do nascimento de Cristo, mas em comemoração à esta mártir, e no final do quinto século seu nome também foi inserido no cânon da Missa.
     No entanto, ela não é uma santa romana, pois sofreu o martírio em Sirmium, e não foi venerada em Roma senão a partir do final do quinto século. É verdade que uma lenda posterior, não antes do século VI, torna Anastásia uma romana, embora, mesmo nessa lenda, ela não tenha sofrido o martírio em Roma. A mesma lenda liga o seu nome com o de São Crisógono, também não um mártir romano, mas morto em Aquileia, embora tenha uma igreja em sua honra em Roma.
     De acordo com esta "Passio", Anastácia era filha de Pretextato, um romano vir illustris, e tinha Crisógono como professor. No início da perseguição de Diocleciano, o imperador convocou Crisógono a Aquileia, onde sofreu o martírio.
     Anastácia, tendo ido de Aquileia a Sirmium para visitar os fiéis daquele lugar, foi decapitada na ilha de Palmaria, em 25 de dezembro, e seu corpo foi enterrado na casa de Apolônia, convertida em basílica.
     O relato é puramente lendário e não se baseia em informações históricas. Tudo o que é certo é que uma mártir chamada Anastácia deu sua vida pela fé em Sirmium, e que sua memória foi mantida sagrada naquela igreja.
     O chamado "Martyrologium Sieronymianum" (ed. De Rossi e Duchesne, Acta SS., 2 de novembro) registra seu nome em 25 de dezembro, não apenas para Sirmium, mas também para Constantinopla, uma circunstância baseada em uma história separada.
     De acordo com Theodorus Lector (Hist. Eccles., II, 65), durante o patriarcado de Gennadius (458-471) o corpo da mártir foi transferido para Constantinopla e enterrado em uma igreja que até então era conhecida como “Anastasis” (Gr. Anastasis, ressurreição); daí em diante a igreja adotou o nome de Anastácia. Da mesma forma, o culto de Santa Anastácia foi introduzido em Sirmium por meio de uma igreja já existente. Como esta igreja já era bastante famosa, trouxe a festa da santa em destaque especial.
     Existia em Roma desde o quarto século, aos pés do Palatino e acima do Circo Máximo, uma igreja adornada pelo papa Dâmaso (366-384) com um grande mosaico. Era conhecida como “titulus Anastasix”, e é mencionada como tal nos Atos do Concílio Romano de 499.
     Há alguma incerteza quanto à origem deste nome: ou a igreja deve sua fundação e recebeu o nome de uma matrona romana Anastácia, como no caso de várias outras igrejas titulares de Roma (Duchesne), ou era originalmente uma igreja "Anastasis" (dedicada à ressurreição de Cristo), como já existia em Ravenna e Constantinopla. Da palavra "Anastasis" veio eventualmente o nome "titulus Anastasix" (Grisar). Seja como for, a igreja foi especialmente proeminente do quarto ao sexto século, sendo a única igreja titular no centro da Roma antiga, e rodeada pelos monumentos do passado pagão da cidade.
     Dentro de sua jurisdição estava o Palatino, onde ficava a corte imperial. Desde que a veneração da mártir de Sirmium, Anastácia, recebeu um novo ímpeto em Constantinopla durante a segunda metade do quinto século, podemos facilmente inferir que as íntimas relações contemporâneas entre a Velha e a Nova Roma trouxeram um aumento na devoção a Santa Anastácia os pés do Palatino. Em todo caso, a inserção de seu nome no Cânon Romano da Missa, no final do século V, mostra que ela ocupava uma posição única entre os santos publicamente venerados em Roma.
     Daí em diante a igreja no Palatino é conhecida como “titulus sanctx Anastasix”, e a mártir de Sirmium tornou-se a santa titular da antiga basílica do século IV. Evidentemente por causa de sua posição como igreja titular do distrito incluindo as moradas imperiais no Palatino, esta igreja manteve por muito tempo um posto eminente entre as igrejas de Roma; apenas duas igrejas a precederam em honra: São João de Latrão, a igreja mãe de Roma e Santa Maria Maior. Este antigo santuário está hoje bastante isolado entre as ruínas de Roma. A comemoração de Santa Anastácia na segunda missa no dia de Natal é o último resquício da antiga proeminência desfrutada por esta santa e sua igreja na vida da Roma cristã.

Fonte: J.P. KIRSCH (Catholic Encyclopedia)




    A vida de santa Anastácia, transmitida de geração a geração, desde os primórdios do cristianismo, traz os episódios históricos verídicos mesclados a fatos lendários e às tradições orais. Vejamos como chegou à cristandade no terceiro milênio.
     Diocleciano foi imperador romano entre os anos 284 e 305. Na época, Anastácia, filha de Protestato e Fausta, ambos romanos e pagãos, era uma jovem belíssima. Junto com sua mãe, foi convertida à fé cristã por seu professor Crisógono, futuro santo mártir. As duas se dedicavam a ajudar os pobres e à conversão de pagãos.
     Com a morte da mãe, o pai lhe impôs o casamento com Públio, um rico pagão da nobreza romana. Mesmo contra a vontade, Anastácia se casou. Logo o marido a proibiu de envolver-se com qualquer tipo de atividade, como era de costume entre as damas da sociedade. Mas ela continuou ajudando os pobres às escondidas e, quando o marido foi informado, puniu-a com crueldade. Foi proibida de sair de casa. Naquele momento, o consolo veio por meio dos conselhos do professor Crisógono, que já era perseguido e acabou sendo preso.
     Na ocasião, o imperador Diocleciano nomeou Públio embaixador na Pérsia. Ele partiu deixando Anastácia sob a guarda de Codizo, homem cruel que tinha ordem de deixá-la morrer lentamente. Logo chegou a notícia da súbita morte de Públio. Anastácia foi libertada e soube que seu conselheiro, Crisógono, seria transferido para o julgamento na Corte imperial de Aquiléia. A discípula o acompanhou na viagem e assistiu o interrogatório e, depois, a sua decapitação.
     Cada vez mais firme na fé, voltou a prestar caridade aos pobres e a pregar o evangelho de Cristo. Suspeita de ser cristã, foi levada à presença do prefeito de Roma, que tentou fazê-la renunciar à sua religião. Também o próprio imperador Diocleciano tentou convencê-la, mas tudo inútil. Anastácia voltou para a prisão.
     Em seguida, Diocleciano partiu para a Macedônia, levando consigo os prisioneiros cristãos, inclusive ela. Da Macedônia foram para Esmirna, na Dalmácia, atual Turquia. Lá, outros cristãos denunciados foram presos. Entre eles estavam a matrona Teodora e seus três filhos, depois também santos da Igreja. A eles Anastácia dispensava especial atenção.
     Os carcereiros informaram o imperador, que mandou prender Anastácia durante um mês no pior dos regimes carcerários. No fim do período, ela estava mais bela do que antes, e ainda mais firme na sua fé. Inconformado, o imperador a entregou para ser morta junto com os outros presos cristãos. Anastácia morreu queimada viva, no dia 25 de dezembro de 304, em Esmirna.
     Primeiro, o corpo de Anastácia foi enterrado na diocese de Zara; depois, em 460, foi levado para Constantinopla. Seu culto, um dos mais antigos da Igreja, se espalhou por toda a cristandade do Oriente e do Ocidente. Em quase todos os países, existem igrejas dedicadas a ela, e muitas guardam, para devoção dos fiéis, um fragmento de suas relíquias. Sua celebração ocorre tanto no Oriente como no Ocidente, no dia de sua morte, sempre recordada na missa do período da tarde, em razão da festa do Natal de Jesus Cristo.

Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Santa Segnat, Virgem irlandesa – 18 de dezembro

    
     Santa Segnat é uma virgem irlandesa de quem nada sabemos; é associado apenas a Domnach Ceirne.
     No "livro de Leinster" do século XII, foi relatada uma única ladainha antiga em versos sobre as sagradas virgens irlandesas.
     Santa Segnat é lembrada nos dois martirológios de Gorman e Donegal, com indicação de sua celebração em 18 de dezembro.

sábado, 15 de dezembro de 2018

NOVENA PREPARATÓRIA PARA O SANTO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO – 16 de dezembro

Orações para rezar todos os dias da novena:

Ato de Contrição

Oração Inicial:

     Ó Padre Eterno, nós Vos oferecemos, pelas mãos de Maria Santíssima, Medianeira única entre Vosso Filho Unigênito e os homens, esta novena preparatória para o Santo Natal.
     Sabemos que, dada a miséria que nos vem da culpa original e de nossos pecados atuais, nada temos em nós que não desperte Vossa cólera. Mas, confiados nos méritos e nas preces da Virgem Santíssima, que aplaca a justa ira Vossa e do Vosso Filho e abre para nós as torrentes da misericórdia infinita que brotam da Santíssima Trindade, podemos ser benignamente atendidos.
     Assim, com Maria, em Maria e por Maria, Vos oferecemos humildemente as preces desta novena.

V. Ó Deus + vinde em meu socorro.
R. Senhor, apressai-Vos em me socorrer.
V. Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém.

I - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, o mistério do nascimento de Nosso Divino Redentor.  Glória ao Pai, etc.

II - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, os sofrimentos da Santíssima Virgem e de São José na longa e penosa jornada de Nazaré a Belém, e a angústia de seus corações por não acharem onde se hospedar quando se aproximava o nascimento do Redentor do mundo. Glória ao Pai, etc.

III - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, o presépio em que Jesus Cristo nasceu, as palhas que Lhe serviram de berço, o frio que sofreu, as mantilhas em que foi envolvido, as lágrimas que derramou e seus ternos gemidos. Glória ao Pai, etc.

IV - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, a dor que padeceu o Divino Infante Jesus em seu delicado corpo quando se submeteu ao duro golpe da circuncisão, e o precioso sangue que Ele pela primeira vez derramou para salvação do gênero humano. Glória ao Pai, etc.

V - Eterno Padre, nós Vos oferecemos, para Vossa honra e glória e para nossa salvação, a humildade, a mortificação, a paciência, a caridade e todas as virtudes de Jesus Menino, e Vos agradecemos, amamos e bendizemos constantemente por este inefável mistério da Encarnação do Verbo Divino. Glória ao Pai, etc.

V. E o Verbo Divino se fez carne. R. E habitou entre nós.

Oremos:
     Ó Deus, cujo Unigênito apareceu na substância de nossa carne, concedei-nos, Vo-lo suplicamos, que reconhecendo ser Ele semelhante a nós exteriormente, mereçamos ser reformados por Ele interiormente. Por Cristo Nosso Senhor, que conVosco vive e reina em unidade com o Espírito Santo, Deus pelos séculos dos séculos. Amém.

1 Pai Nosso    1 Ave-Maria    1 Glória ao Pai

Beata Margarida Fontana, Virgem – 15 de dezembro

     Todos nós, mesmo os mais generosos e complacentes, pacientes e até despreocupados, sempre nos apegamos a algo e com ciúmes retemos mais do que o valor material que o objeto justifica. É um livro, um objeto de lembrança, ou um vestido, ou talvez uma delicadeza. Generosos, ou indiferentes, de mil outras coisas, preservamos e defendemos o único, ou os poucos, como se fosse um tesouro único.
     Não surpreende, portanto, que Alessandro Fontana, que também era generoso em tudo como um bom cristão que era, afetuoso pai de família, e também, não menos importante, como um bom habitante de Modena, se ressentisse quando encontrou na adega o barril de seu vinho favorito vazio.
     Era um bom vinho, habilmente envelhecido, e ele o guardara para as festas, talvez para o Natal ou para o Ano Novo. Quem o havia consumido até a última gota não havia sido um ladrão, nem mesmo algum gourmet. Fora sua irmã Margarida, que ia ao barril quase diariamente, para dar aos pobres um pouco de vinho.
     Naquela ocasião, o irmão, que também era generoso, estava zangado, e Margarida, que de alguma forma se sentia culpada, embora o fizesse para algo bom, tremeu. Ela rezou mentalmente e teve uma inspiração rápida. Ela pediu a seu irmão que a seguisse até a adega; foram, se aproximaram do barril e - incrível! - ela percebeu, e o seu irmão também, que o barril estava cheio de novo, e o vinho era tão bom quanto antes, senão melhor.
     Margarida Fontana, nasceu em Modena por volta de 1440 e ficou órfã muito jovem. Seu irmão, já casado, a levou para sua casa, e esse ato de generosidade, continuado ao longo de sua vida, foi recompensado de acordo com o mérito.
     A casa hospitaleira pareceu, de fato, tornar-se o alvo de todas as bênçãos dos céus, para atraí-las, como um para-raios atrai choques elétricos, era necessária uma antena de grande alcance. E este foi constituído, neste caso, pelas orações e boas obras de que Margarida Fontana era uma fonte incansável.
     Em sua vida, ela seguiu o sistema infalível dos dois pesos e medidas: severa consigo mesma, generosa com os outros; reservava os espinhos para si, aos outros oferecia as rosas.
     Mencionamos sua caridade para com os pobres, que às vezes até ameaçava a paz familiar. Pode-se acrescentar que nas obras de misericórdia corporal ela acrescentou a prática da caridade espiritual, consolando e ensinando, corrigindo e convertendo. Além do barril inexplicavelmente cheio, outros episódios milagrosos, que a tiveram como protagonista, são relatados em Modena, onde passou toda a sua longa vida de 73 anos, até 1513, e até o fim rica de obras excelentes, e de frutos de bênçãos.

Fonte: www.santiebeati/it

Nota: A figura acima é apenas ilustrativa, por não termos nenhuma gravura relativa à Beata Margarida Fontana;


quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Venerável Anita Cantieri, Virgem da Ordem Carmelita Descalça Secular (alma reparadora) – 12 de dezembro

     
     A Venerável Anita Cantieri nasceu no Município de Lucca, na Província da Toscana, Itália, em 30 de março de 1910. Ela foi a última de uma família de mais sete irmãos e três irmãs, em um total de 11 filhos. Sua família era profundamente religiosa, de forma tal que iniciaram o seu catecismo muito cedo: aos cinco anos de idade ela já era considerada pronta para receber a Primeira Eucaristia.
     Dos 11 aos 18 anos, ela estudou sob a orientação das irmãs de Santa Dorotéia em Lucca. Aos 12 anos de idade, ela decidiu se tornar religiosa e aí muitas transformações ocorreram dentro dela, transformações estas que ela mesma definiu como sendo a sua conversão para Deus.
     Enquanto os anos se passavam, tornou-se notório a todos, na sua escola ou na sua Paróquia, que ela era sempre a primeira a tomar as iniciativas espirituais de senso comum, sempre encorajando suas amigas e companheiras, especialmente através do próprio exemplo de vida que dava. E assim ela se preparava para a sua total consagração à Deus através da vida religiosa.
     Em 24 de maio de 1930, Anita tornou-se postulante nas Irmãs Carmelitas de Santa Teresa. Desde o dia que ingressou, ela sempre demonstrou que possuía uma profunda vida interior e mostrou cada um dos sinais de que se tornara uma perfeita religiosa. Tudo fazia com alegria, muito cuidado e exatidão. Era especialmente devota à Eucaristia, perpetuamente exposta à adoração aos fiéis na igreja localizada ao lado do Convento.
     Apenas três meses após sua entrada no convento, adoeceu seriamente. Seus superiores foram forçados a enviá-la para sua casa. Ela retomou sua vida como leiga, sempre cheia de esperança de que sua enfermidade passasse e ela pudesse voltar ao Carmelo. Isto foi uma grande provação para Anita, porém ela aceitou com resignação a vontade de Deus.
     Em seu diário ela relatava como a sua doença física não afetava a sua calma e, na realidade, ela agradecia a Deus por tê-la feito entender que a vocação Carmelita dela era para ser vivida na sua família, onde não faltava clausura, cela ou mortificação.
     Para se tornar uma santa conforme a Espiritualidade Carmelita, seu diretor espiritual, Monsenhor Pasquinelli, a matriculou na Ordem Terceira Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e Santa Teresa em 1º de julho de 1935. Como Carmelita, ela chamou-se Teresa do Menino Jesus.
     Em 25 de agosto de 1936, tornou-se membro de Regnum Christi, uma associação de leigos orientada para o apostolado. De acordo com a sua compreensão do significado da vida, ela entendeu que uma vida de oração e meditação é um momento especial de união com Deus, aceitação generosa e serena dos seus sofrimentos emocionais e físicos de todos os dias e orações oferecidas à conversão das almas, bem como pela santificação dos padres e das almas consagradas a Deus.
     Sua condição física piorou e no início de 1942 tornava-se claro que o seu tempo aqui na terra não duraria muito. Comenta-se até que ela previu o dia e a hora da sua morte. A morte de Anita Cantieri se deu às 10 horas da manhã de 24 de agosto de 1942.
     Apesar de não haver eventos extraordinários na sua vida, ela se destacou pelo seu desejo ardente de imitar a Cristo e atingir o auge da perfeição cristã. De fato, ela escreveu em seu diário: “Eu não quero permanecer medíocre na fé. Eu quero me tornar uma santa e como a Glória de Deus se correlaciona com a minha santidade espiritual, eu desejo alcançar isso de maneira grandiosa”.
     Dois outros pontos importantes emergiram no processo da sua beatificação. Primeiro, ela se deixou guiar pela fé verdadeira em todos os seus pensamentos e atitudes. Ela sempre aderiu com todas as suas forças às verdades da religião. Em particular, ela se sentiu fortemente atraída pelos mistérios da Santíssima Trindade, da Eucaristia, da morte redentora do Cristo e da vida da Virgem Santíssima. Em todas as suas ações, foi profundamente animada pelo desejo de realizá-los para a glória de Deus e a salvação das almas. 
     A segunda consideração foi destacada durante os julgamentos canônicos. Anita, apesar de acometida de tuberculose pulmonar e abdominal, e limitada a conseguir sentar-se em uma cadeira de tempos em tempos, era intensamente interessada no bem-estar espiritual dos outros e no apostolado da igreja.    
     Padre Simeão da Sagrada Família, o postulador da ordem descalça, escreveu sobre este aspecto notável da sua vida: “Ela também sentiu um desejo vívido de comunicar sua fé aos outros. Consequentemente, ela teve um zelo particular por espalhar o reino de Deus e tornou-se um ajudante eficaz do Pastor. Preocupava-se com a instrução de adultos na fé e na vida de oração. Ela trabalhava pela salvação dos pecadores, garantindo que o Viático era dado a tempo a todos os necessitados”.
     Anita devotou-se de todo o coração à vocação que descobriu no seu leito de doente: participação nos sofrimentos de Jesus Crucificado pela salvação dos outros. Esta união com Jesus na Cruz, juntamente com o amor d’Ele no Sagrado Sacramento e o amor por Maria, foram as grandes devoções de sua vida.
     Ela realizou um apostolado impressionante do seu leito de doença. Pessoas que inicialmente iam consolar a sofredora, eram confortadas, aconselhadas e encorajadas por Anita. No final de sua vida, havia uma corrente constante de visitantes no seu leito. Anita tornou-se uma fonte de graça para todos que dela se aproximavam. Ele se tornou Venerável no dia 12 de dezembro de 1991.
     O pensamento de que existem almas que, por sua própria culpa, caem no inferno, me faz tremer de compaixão. A todo custo quero evitá-lo, oferecendo a mim mesma por eles como sacrifício de adoração e reparação. Para amar a Deus e torná-lO amado por muitas e muitas almas em eterna alegria, eu pouco me importaria de uma eternidade de sofrimentos”.
     Para agradecer por uma única comunhão, uma vida inteira empenhada no serviço de Deus não seria suficiente. E Jesus se dá para mim todos os dias!”

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Santa Maravilhas de Jesus – 11 de dezembro


Fiel filha espiritual de Santa Teresa de Ávila no seu amor à Religião e à Ordem carmelitana, Madre Maravilhas de Jesus, carmelita descalça, lutou tenazmente no século XX para que permanecessem intactas as regras, os usos e costumes legados pela grande Santa de Ávila, Reformadora do Carmelo.


     Maria de las Maravilhas Pidaly Chico de Guzmán nasceu em Madri no dia 4 de novembro de 1891, filha de Luís Pidal e Cristina Chico de Guzmán y Muñoz, Marqueses de Pidal. Seu pai exerceu os cargos de ministro de Fomento, embaixador da Espanha junto à Santa Sé e presidente do Conselho de Estado.
     Os Marqueses de Pidal eram muito religiosos e esmoleres, rezavam o terço diariamente em família e cumpriam com a maior exatidão seus deveres de estado. Num ambiente familiar assim, Maravilhas sentiu-se desde cedo predisposta à virtude. Além disso, beneficiava-se da boa influência de sua avó materna, Da. Patrícia Muñoz Dominguez, piedosa e austera, com quem compartilhava a habitação.
     Madre Maravilhas de Jesus afirmará que sentiu o apelo divino para a vida religiosa com o despertar da razão. Aos cinco anos de idade, fez voto de castidade. Diariamente ia com sua avó à santa Missa e, apesar de seu desejo, não pôde fazer a primeira comunhão senão depois dos 10 anos de idade, como era costume na época. Dirá ela a seu diretor espiritual: “O dia de minha primeira comunhão foi felicíssimo. Só falei com o Senhor de meus anelos de que chegasse o dia de poder ser toda sua na vida religiosa”.1
Ardente desejo de consagração a Jesus
     Nesse tempo, foi recebida como filha de Maria. A adolescente escreveu na primeira página de seu manual francês, também nesse idioma: “Maravilhas, filha de Maria! Ó Santa Mãe de Deus, obtende-me um coração ardente para desejar a Jesus; um coração puro para recebê-Lo; um coração constante para não O perder jamais”.
     Em 1913 morre seu pai, e no mês seguinte sua avó materna. Como seus irmãos já se haviam casado, tocava a Maravilhas ficar com a mãe, o que tornava mais difícil para ela a entrada no convento.
     Anos depois, indo passar uma temporada com seu irmão e cunhada em Torrelavega, foram até Covadonga, onde Maravilhas suplicou muito à Virgem ali venerada que lhe concedesse a graça de entrar o quanto antes num carmelo. Nossa Senhora a ouviu. Pouco depois, tanto seu diretor espiritual quanto sua mãe concederam-lhe a esperada permissão. Entrou no carmelo de El Escorial no dia 12 de outubro de 1919. A obediência a fizera esperar até os 27 anos para consagrar-se toda a Jesus!
O Cerro de los Angeles e o novo carmelo
     Em junho de 1911 realizou-se em Madri o Congresso Eucarístico Internacional. Como conclusão do mesmo, foi organizado um ato de consagração da Espanha ao Coração de Jesus Sacramentado. Alguns fervorosos católicos tiveram a idéia de erigir um monumento a esse Divino Coração no Cerro de los Angeles, a 14 quilômetros da capital, solenemente inaugurado no dia 30 de maio de 1919, com a presença de toda a família real e ministros, tendo então o jovem rei Alfonso XIII lido o ato de consagração.
     No entanto, não havendo boas estradas, o monumento do Cerro foi caindo no esquecimento. Certo dia Nosso Senhor, por meio de inspirações interiores, comunicou à então Irmã Maravilhas seu desejo de que fosse edificado um carmelo naquele local, para velar pelo monumento e se imolar pela Espanha. Também inspirou outra freira do mesmo convento a secundar a Irmã Maravilhas nessa empresa.
     Depois de mil e uma dificuldades, as duas religiosas com sua antiga Mestra de Noviças e uma noviça fundaram o carmelo no Cerro de los Angeles. Este depressa prosperou, tendo recebido muitas vocações. A Irmã Maravilhas, apesar de ter feito os votos solenes pouco tempo antes, foi designada Mestra de Noviças, e logo depois priora do novo carmelo.
Enfrentando a revolução comunista de 1936 
    Era necessário um pulso forte para enfrentar a tormenta que se avizinhava, e que resultou numa das mais cruentas perseguições à Religião de que se tem notícia — a revolução comuno-anarquista de 1936 a 1938, que produziu um número imenso de mártires.
     Não coube a Madre Maravilhas e às suas filhas espirituais, embora o desejassem ardentemente, darem a vida pela Fé. Foram expulsas do convento e passaram um ano em Madri, mantendo a vida de comunidade num apartamento, sob constante risco. Até que ela e suas 20 freiras, com alguns leigos que a ela tinham se confiado, conseguiram sair da Espanha para nela reentrar na região não dominada pelos comunistas. Assim surgiu o convento de Batuelas, onde se estabeleceu a comunidade até a liberação do país do jugo vermelho. Então, como havia muitas pretendentes para o carmelo, foi possível voltar ao Cerro de los Angeles deixando uma comunidade em Batuelas.
     Madre Maravilhas, que em 1933 já havia enviado religiosas para a ereção de um convento carmelita em Kottayan, na Índia, fundaria ainda mais 10 na Espanha. Enviou também freiras suas para reforçar o carmelo de Ávila, onde tinha vivido Santa Teresa, bem como outro no Equador.
Fidelidade heroica ao espírito de Santa Teresa
     Pela Constituição Sponsa Christi, Pio XII propunha aos religiosos a formação de federações de mosteiros com noviciados comuns, madres federais e religiosos para as assessorar. Isso trazia como consequência reuniões, visitas dos dirigentes da federação etc., o que alterava muito a vida de um convento de contemplativas como são as carmelitas. E não se coadunava com o que Santa Teresa estipulara para seus carmelos, que deveriam ser comunidades autônomas e estáveis, com número limitado de monjas, clausura estrita etc.
     Madre Maravilhas, que não desejava nenhuma alteração naquilo que Santa Teresa legara, fez o possível para evitar modificações que alterassem a vontade da grande reformadora do Carmelo. Consultou o Geral da Ordem do Carmo, o Pe. Silvério de Santa Teresa, a quem já conhecia e com quem tratara por ocasião da fundação do carmelo de Cerro de los Angeles. Dirigiu-se mesmo ao Secretário da Congregação dos Religiosos, o espanhol Pe. Arcádio Larraona. Os dois concordaram com o ponto de vista da Madre. Mobilizou ela todos os contatos que mantivera, tanto no campo civil quanto no eclesiástico, em favor de sua aspiração.
     Para ela, tratava-se de uma verdadeira batalha, para a qual tinha que usar todos os recursos da piedade, mas também da argúcia, da tenacidade e da sua extraordinária vitalidade.
Tenaz defensora da Ordem carmelitana
     A todo momento lemos em sua correspondência da época as palavras milagre, salvar a Ordem, e outras que externam suas profundas preocupações, bem como sua sensação de que se entrava em difíceis tempos.
     Assim, quando o embaixador da Espanha junto à Santa Sé, Fernando Castiella, comunicou-lhe boas notícias a respeito do andamento de suas gestões no Vaticano, escreveu à priora do Cerro em 5 de junho de 1954: “Isto foi um milagre verdadeiro. A Santíssima Virgem quis salvar sua Ordem”.2Em outra carta à mesma, três meses mais tarde, afirmava: “A Santíssima Virgem, em seu Ano Mariano [1954], vai nos salvar”. A essa Madre, ela já afirmara pouco antes: “Minha Madre! Quanto temos que pedir à Santa Madre Teresa que livre sua Ordem! A Santíssima Virgem no-lo concederá”.3
     A Frei Victor de Jesus Maria, O.C.D., canonista e Definidor Geral da Ordem, escreveu ela em 4 de julho de 1956: “Já sei que V. Revma. não nos esquecerá e pedirá muitíssimo para que não permita o Senhor que a Ordem de sua Mãe seja tocada em nada. Já não nos resta mais que a oração, mas realmente é a arma mais poderosa”.4
Resistindo aos ventos dos novos tempos
     A questão arrasta-se, sobretudo com o início do Concílio Vaticano II. Em carta escrita em abril de 1967 ao Preposto Geral da Ordem, Frei Miguel Ângelo de São José, diz ela: “A eleição de V. Revma. nos encheu de alegria, e vimos como Nossa Mãe Santíssima vela por sua Ordem, pondo-a em suas mãos nestes tão difíceis e delicados momentos”.5
A Santa nos últimos anos de vida
     No dia de São Miguel, 29 de setembro de 1967, volta a escrever ao mesmo: “Faça tudo quanto seja necessário para salvar a ‘Ordem da Virgem’ nestes tão difíceis tempos. Com a ajuda de Cristo, nosso Bem, e de sua Mãe Santíssima, não podemos duvidar de que assim será”.
     O tempo foi passando, e um dos decretos do Vaticano II, o Perfectae Caritatis, voltou com a proposta de Pio XII, recomendando às religiosas contemplativas a formação de federações, uniões ou associações, como um meio de ajuda mútua entre os mosteiros. Madre Maravilhas vê no número 22 do decreto a saída que buscava. Recomenda esse item que “os Institutos e Mosteiros autônomos promovam entre si [...] uniões, se têm iguais constituições e costumes e estão animados do mesmo espírito, principalmente se são demasiado pequenos”.6
     Discernia ela aí uma saída: fundar uma união de carmelos (dos por ela fundados e mais alguns que pediram sua admissão) sem ter que alterar em nada a vida desses mosteiros. A finalidade de tal associação era a de que esses carmelos pudessem ajudar-se com facilidade, espiritual e economicamente, e até com o pessoal necessário, sem saídas nem entradas, sem visitas nem visitadoras etc.7
Realização do desejo de “não mudar nada”
     Depois de muitas dificuldades, tensões e argúcias da Madre, finalmente Roma aprovou essa união em 14 de dezembro de 1972, com o nome de Associação de Santa Teresa, sendo Madre Maravilhas eleita sua presidente por unanimidade, em 12 de março de 1973.
Numa carta enviada a Madre Luísa do Espírito Santo, priora de Arenas, em 22 de março desse mesmo ano, mostra Madre Maravilhas seu contentamento ao mesmo tempo em que indiretamente aponta as principais conquistas:
     Como veem, já nos concedeu o Senhor esta graça que lhe vínhamos pedindo, se essa fosse sua vontade, e já temos aprovada a nossa Associação de Santa Teresa na Espanha. Foi como um milagre que o Senhor tenha feito que a aprovassem tal como a havíamos pedido. Para nossos conventinhos tudo isso não supõe nenhuma novidade, pois o vínhamos vivendo, com a ajuda do Senhor, desde há tantos anos; mas é muito que o Senhor, pondo em nossa maneira de viver o selo e a aprovação da Igreja, parece dizer-nos, pelo caminho mais seguro, que está contente com isso e que aprova nossos desejos de não mudar nada, e que sigamos adiante pelos mesmos caminhos que nossa Santa Madre nos traçou. [...] De vários conventos nos pedem para entrar em nossa união, mas por agora nos parece que não convém aumentar o número”.8
     Madre Maravilhas de Jesus morreu em 11 de dezembro de 1974, sendo beatificada por João Paulo II em 1998, e por ele canonizada em 3 de maio de 2003.
O "Priorito", imagem do Menino Jesus colocado como prior do Convento de los Angeles pela Santa
Notas:
1.Pe. Rafael Maria López Melús, O.Carm., Nuestra Dulcíssima Madre — La Virgen Maria en la vida y escritos de la Beata Madre Maravilhas, Edibesa, Madri, 2001, p. 50.
2.Id., p. 104.
3.Id., ib.
4.Id., p. 105.
5.Id., ib.
6.Paulo VI, Decreto Perfectae Caritatis — Sobre a adequada renovação da vida religiosa, 28 de outubro de 1965, n. 22.
7.Pe. Rafael M. López Melús, op. cit., p. 106.
8.Id., p. 107.

Fonte: http://catolicismo.com.br/ - Autor: Plinio Maria Solimeo