quinta-feira, 22 de junho de 2023

Beata Maria d'Oignies, Beguina e Mística - 23 de junho

     A Diocese de Liège foi o berço das Beguinas graças à vida e à ação de Maria d'Oignies, cujo modo de vida agradou o frei dominicano Tiago de Vitry, seu confessor e discípulo. Quando ele a conheceu, um numeroso grupo de mulheres e homens estavam estabelecidos junto ao priorado de São Nicolau de Oignies, próximo à cidade natal de Maria, Nivelles.
     O movimento nascera no final do século XII, sendo que o primeiro convento destas religiosas foi fundado por Lambert Le Bègue na Bélgica. Após a sua fundação, espalharam-se pelos Países Baixos, Alemanha e França.
     As Beguinas eram mulheres piedosas que praticavam uma vida ascética em comum, parecida com a monacal, a maior parte das vezes nos chamados beguinários. Elas dedicavam-se ao cuidado dos doentes e dos pobres, assim como às tarefas caritativas e piedosas, sem estar, contudo, vinculadas a regras de clausura nem a votos públicos.
     Em 1311, o Concílio de Vienne condenou-as por causa do perigo de heresia que representavam. Posteriormente subsistiram sob a forma de asilos. Encontram-se ainda hoje alguns beguinários muito bem conservados em Bruxelas, Antuérpia, Kortrijk e Gante (Bélgica), bem como nos Países Baixos.
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     Maria d’Oignies nasceu em Nivelles, no Brabante, provavelmente em 1177, numa família abastada. Muito cedo ela nutriu um desprezo pelos prazeres em que normalmente se envolvem as pessoas mais favorecidas; nada lhe agradava tanto como a solidão, onde ela se consagrava inteiramente à meditação sobre as coisas divinas.
     Quando ela completou catorze anos, seus pais fizeram-na desposar um jovem proveniente duma excelente família, que também possuía grande fortuna, cujo nome era João. Durante algum tempo eles viveram a vida conjugal, mas Maria conquistou seu jovem esposo ao seu ideal de vida religiosa. Juntos, na castidade, eles decidem se consagrar a Deus na pobreza e nas obras de piedade. Para o grande desgosto de seus pais e de seus amigos, eles se instalam no leprosário de Willambroux, onde eles viveram vários anos cuidando dos leprosos.
     A personalidade brilhante de Maria aliada a uma vida de austera mortificação atraia visitantes que a consultavam sobre questões de vida espiritual. São atribuídos a ela milagres, leprosos são curados.
     Como ela se tornou muito célebre em Willambroux, sua sede de solidão e de renúncia fez com que, de acordo com seu marido, ela deixasse Willambroux em 1207, e se juntasse à uma pequena comunidade de religiosas beguinas instaladas junto a um mosteiro de cônegos agostinianos recentemente fundado em Oignies (vilarejo da comunidade de Aiseau-Presles, próximo de Charleroi). Sua reputação de santidade e de sabedoria espiritual cresceu: as pessoas vinham de longe para consultá-la.
     Entre estes visitantes, em 1208, chegou um brilhante teólogo de Paris (mais tarde cardeal), Tiago de Vitry (+ 1240). Ele ficou encantado com a personalidade de Maria. A afinidade foi recíproca. Tiago de Vitry renunciou a uma brilhante carreira em Paris e se instalou em Oignies, onde ele se tornou discípulo, confessor e ‘pregador’ de Maria de Oignies. Ele permaneceu ali até o falecimento da beata em 1213.
     Eram tempos complexos, a Cristandade era dilacerada pelas lutas contra as heresias dos cátaros e dos albigenses. Embora vivendo quase em clausura, Maria acompanhava os acontecimentos. Passava muitas horas noturnas em oração diante do Santíssimo Sacramento. Um dia teve a premonição de que a festa de Corpus Christi seria instituída. Com efeito, isto aconteceu em 1246, na vizinha cidade de Liège, graças a Santa Juliana de Cornillon.
     Em 1212, Maria conheceu São Folco, Bispo de Toulouse, quando os albigenses o expulsaram de sua diocese. O Santo se refugiou em Liège e ficou impressionado com a santidade de vida das Beguinas. Naquele ano Maria recebeu os estigmas. No ano seguinte, no dia 23 de junho de 1213, depois de numerosas e especiais graças, morreu na idade de 36 anos. No leito de morte predisse que surgiria uma ordem de pregadores que para o bem da Igreja venceria a heresia. Folco de Toulouse, junto com São Domingos, lutou contra os cátaros e assistiu à fundação dos primeiros conventos dominicanos.
     Os seus rigores e abstinências obtiveram de Jesus que ela se beneficiasse também de visões celestes, particularmente do seu Anjo da Guarda que lhe aparecia regularmente e a aconselhava. Teve igualmente várias vezes, a “visita” de São João Evangelista que lhe oferecia manjares celestes. Maria d’Oignies tinha pela Virgem Maria uma grande devoção e não hesitava, mesmo durante os rigores do inverno, em visitar um dos seus Santuários; ela peregrinava descalça, em espírito de penitência.
     Em 1216, a pedido de Folco, Tiago de Vitry escreveu uma Vida de Maria d’ Oignies que é praticamente a única fonte de informação sobre a Beata. Para Tiago de Vitry Maria d’Oignies é um exemplo da vida espiritual na Diocese de Liège, que ele avaliava como uma terra de santos. Para obter a aprovação para as Beguinas, e a correspondente comunidade masculina, foi para Perugia sede temporária do Papado. Tiago era um pregador ilustre, teólogo e historiador; foi sagrado bispo de São João d’Acre, na Palestina.
     Em 1226 ou 1228, o corpo de Maria foi exumado e colocado num sarcófago de pedra dentro da igreja do priorado. Em 1609, ocorreu uma nova cerimônia de transladação por iniciativa do Bispo de Namur, Francisco Buisseret. Seus despojos foram repartidos e colocados em três relicários, executados entre 1609 e 1622 pelo ourives Henri Libert, e se conservam respectivamente em Nivelles, Igreja de São Nicolau, em Falisolle e em Aiseau.  
 
Fontes: Jacques de Vitry, Vita B. Mariae Oigniacensis, dans Acta Sanctorum, juin, vol. IV, 1707. 
https://www.santiebeati.it/dettaglio/59030
 
Postado neste blog em 22 de junho de 2012

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