Uma
verdadeira vida virginal ascética Cristã a tornou mãe espiritual do século IV e
modelo de educadora
A vida desta Santa nos leva às origens da
vida religiosa feminina. Santa Macrina está ligada à fundação do
monasticismo no Oriente, apesar de ter ficado obscurecida pelas figuras
ilustres de seus irmãos. Além de São Basílio o Grande, São Gregório de Nissa e
São Pedro de Sebaste, um outro irmão de Macrina, Naucratius, tornou-se ermitão,
dedicando sua vida a auxiliar os pobres.
Santa Macrina persuadiu sua mãe a fundar dois mosteiros, um para homens e outro para mulheres, pois não existiam conventos e a vida consagrada se realizava nas próprias casas; escreveu as regras para as monjas com admirável prudência e piedade; estabeleceu no mosteiro o espírito de pobreza, de humildade, de oração permanente, de contemplação, um desprendimento completo do mundo e o canto de Salmos.
Macrina nasceu em Cesaréia, na Capadócia, outrora um reino independente e província do Império Romano a partir de 14 d.C. Era a primogênita de dez filhos de São Basílio o Maior e Santa Emélia, pertencentes à aristocracia helenizada da Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo.
Como seus pais sofressem perseguições religiosas por parte do imperador Galério Máximo (293-311), a família mudou-se para o Ponto, província romana localizada ao norte da Capadócia.
Macrina é chamada ‘a Jovem’, porque levava o nome da avó paterna, ela também santa, Macrina a Anciã. Desde a mais tenra idade foi educada nas Sagradas Escrituras; o Livro da Sabedoria e os Salmos de David eram as obras prediletas de Macrina, que não se descuidava dos deveres domésticos e dos trabalhos de bordado e de costura.
Na adolescência, devido a sua beleza, muitos foram os pretendentes à sua mão. Aos doze anos, como era costume, o pai prometeu-a em matrimônio, mas o noivo morreu prematuramente. Macrina recusou-se a aceitar novos compromissos e, como a mãe ficara viúva após o nascimento do décimo filho, permaneceu a seu lado ajudando-a na educação de seus irmãos.
Os irmãos aprenderam com ela o desprezo do mundo, o temor da riqueza e o amor à oração e a palavra de Deus. Macrina foi “o pai e a mãe, a guia, a mestra e a conselheira” de seu irmão mais novo, Pedro, pois o pai morreu pouco depois do seu nascimento.
Macrina exerceu muita influência sobre seu irmão Basílio, que deixou a vida mundana de erudito para abraçar, em 356, a vida monástica, tornando-se depois Bispo de Cesárea (em 370). Ele voltou a rever a irmã no mosteiro em 376; ordenou sacerdote o irmão mais novo, Pedro, que vivia em um mosteiro vizinho ao da irmã. São Basílio morreu em 1° de janeiro de 379.
Quando todos os irmãos se tornaram autossuficientes, Macrina convenceu a mãe a se retirar com ela para a solidão em uma propriedade da família em Anési, nas margens do Rio Íris, onde fundaram um mosteiro, e para onde seguiram também suas criadas e companheiras.
Numa organização de tipo familiar, as monjas dedicavam-se à meditação sobre as verdades do cristianismo, às orações e ao auxílio aos pobres. O claustro feminino deveria ser um espaço inviolável, longe do profano. O convento era considerado essencial para as virgens absorverem a cultura sagrada; nele as mulheres poderiam ser alfabetizadas. Não só os irmãos de Macrina, mas também amigos da família, como São Gregório Nazianzeno e Santo Eustáquio de Sebaste, estiveram ligados a esta comunidade.
Macrina teve papel preponderante na espiritualidade católica do século IV. Pelo fato de viverem inteiramente dedicadas ao ascetismo virginal e de basear seu conhecimento unicamente nas Escrituras, Macrina e outras virgens são consideradas verdadeiros esteios do cristianismo. Macrina possuía uma excelente bagagem intelectual: sua mãe a ensinara a ler e ela conhecia autores cristãos, como Orígenes, além de ler as obras dos irmãos.
Macrina e outras virgens elaboravam retiros para onde afluíam moças pobres e também viúvas abastadas que decidiam ingressar na vida religiosa. Os grandes grupos de virgens, de cinquenta a cem, eram mantidos por aquelas senhoras ricas que dedicavam seus recursos ao convento e nele também viviam.
Uma passagem de uma carta de São Basílio Magno aos habitantes de Neocesareia mostra a força da virtude feminina na difusão do cristianismo do século IV: “Que prova mais clara poderia haver em favor da nossa fé do que o fato de ter sido educado por uma avó que era uma bem-aventurada mulher saída do meio de vós? Falo-vos da ilustre Macrina, que nos ensinou as palavras do bem-aventurado Gregório (o Taumaturgo), todas as que a tradição oral lhe tinham conservado, que ela própria guardava e de que se servia para educar e para formar nos dogmas da piedade a criancinha que éramos ainda?”
Por ocasião da morte da mãe, em 373, Macrina tornou-se superiora do mosteiro. Macrina repartiu entre os pobres a herança que recebeu de sua mãe, e viveu do trabalho de suas mãos.
Retornando do Concílio de Antioquia, em 379, São Gregório, Bispo de Nissa, desejou passar por Anési para visitar a irmã, mas a encontrou nos seus últimos momentos de vida.
O santo ficou muito consolado vendo a alegria com que sua irmã suportava a tribulação e muito impressionado com o fervor com que ela se preparava para a morte. Eles tiveram somente um último colóquio de elevado teor espiritual e depois de uma magnífica oração a Deus Macrina entregou a alma a Deus (380).
Santa Macrina era tão pobre, que para amortalhar o cadáver não se encontrou outra coisa além de um vestido velho e um tecido surrado. São Gregório, porém, doou a sua túnica de linho para seu sepultamento. O corpo foi sepultado na igreja dos 40 Mártires de Sebaste, a pouca distância do mosteiro, onde já estavam sepultados seus pais.
Ao funeral compareceu o bispo do local, Arauxio; juntos ele e São Gregório transportaram o féretro. Uma grande multidão de fiéis foi venerar a falecida.
“A Vida de Macrina”
A sua “Vida” e a sua espiritualidade são narradas em uma importante obra escrita pelo próprio São Gregório de Nissa, com muitos detalhes sobre sua virtude, sua vida e seu enterro. A “Vita Macrinae Junioris” foi redigida em forma de carta e dedicada ao monge Olímpio, que o acompanhara no Concílio de Constantinopla em 381.
O Concílio de Nicéia, convocado por Constantino, refutara as ideias de Ario (c. 260-336), bispo de Alexandria, que afirmava que Deus e Cristo não possuíam a mesma substância: o Filho seria inferior ao Pai. Em Nicéia, os ensinamentos de Ario foram condenados e adotou-se o conceito de substância idêntica para estabelecer a relação entre Pai e Filho, conforme descrito no Credo de Nicéia.
Entretanto, o arianismo continuaria forte por mais sessenta anos, praticamente durante toda a vida de Macrina (o arianismo, embora enfraquecido, fez ainda muita devastação na Cristandade nascente). As disputas teológicas e as perseguições aos cristãos do Oriente formam o pano de fundo da Vida de Macrina, a obra escrita por São Gregório de Nissa.
O santo fala de dois milagres: no primeiro, Santa Macrina recuperou a saúde quando a mãe traçou sobre ela o Sinal da Cruz; e, no segundo caso, a Santa curou de uma doença nos olhos a filhinha de um militar.
São Gregório acrescenta: "Creio que não é necessário que eu repita aqui todas as maravilhas que contam os que viveram com ela e a conheceram intimamente... Por incrível que pareçam esses milagres, posso assegurar que os consideram como tais quem teve ocasião de estudá-los a fundo. Só os homens carnais se recusam em crer neles e os consideram impossíveis. Assim, pois, para evitar que os incrédulos sejam castigados por se negar a aceitar a realidade desses dons de Deus, preferi abster-me de repetir aqui essas maravilhas sublimes..."
O texto grego se encontra nas obras do Santo. Na Acta Sanctorum, julho, vol. IV, há uma tradução em latim. Há também uma tradução em inglês feita por W. K. Lowther Clarke (1916).
https://www.santiebeati.it/dettaglio/63450
Postado
neste blog em 19 de julho de 2011
Santa Macrina persuadiu sua mãe a fundar dois mosteiros, um para homens e outro para mulheres, pois não existiam conventos e a vida consagrada se realizava nas próprias casas; escreveu as regras para as monjas com admirável prudência e piedade; estabeleceu no mosteiro o espírito de pobreza, de humildade, de oração permanente, de contemplação, um desprendimento completo do mundo e o canto de Salmos.
Macrina nasceu em Cesaréia, na Capadócia, outrora um reino independente e província do Império Romano a partir de 14 d.C. Era a primogênita de dez filhos de São Basílio o Maior e Santa Emélia, pertencentes à aristocracia helenizada da Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo.
Como seus pais sofressem perseguições religiosas por parte do imperador Galério Máximo (293-311), a família mudou-se para o Ponto, província romana localizada ao norte da Capadócia.
Macrina é chamada ‘a Jovem’, porque levava o nome da avó paterna, ela também santa, Macrina a Anciã. Desde a mais tenra idade foi educada nas Sagradas Escrituras; o Livro da Sabedoria e os Salmos de David eram as obras prediletas de Macrina, que não se descuidava dos deveres domésticos e dos trabalhos de bordado e de costura.
Na adolescência, devido a sua beleza, muitos foram os pretendentes à sua mão. Aos doze anos, como era costume, o pai prometeu-a em matrimônio, mas o noivo morreu prematuramente. Macrina recusou-se a aceitar novos compromissos e, como a mãe ficara viúva após o nascimento do décimo filho, permaneceu a seu lado ajudando-a na educação de seus irmãos.
Os irmãos aprenderam com ela o desprezo do mundo, o temor da riqueza e o amor à oração e a palavra de Deus. Macrina foi “o pai e a mãe, a guia, a mestra e a conselheira” de seu irmão mais novo, Pedro, pois o pai morreu pouco depois do seu nascimento.
Macrina exerceu muita influência sobre seu irmão Basílio, que deixou a vida mundana de erudito para abraçar, em 356, a vida monástica, tornando-se depois Bispo de Cesárea (em 370). Ele voltou a rever a irmã no mosteiro em 376; ordenou sacerdote o irmão mais novo, Pedro, que vivia em um mosteiro vizinho ao da irmã. São Basílio morreu em 1° de janeiro de 379.
Quando todos os irmãos se tornaram autossuficientes, Macrina convenceu a mãe a se retirar com ela para a solidão em uma propriedade da família em Anési, nas margens do Rio Íris, onde fundaram um mosteiro, e para onde seguiram também suas criadas e companheiras.
Numa organização de tipo familiar, as monjas dedicavam-se à meditação sobre as verdades do cristianismo, às orações e ao auxílio aos pobres. O claustro feminino deveria ser um espaço inviolável, longe do profano. O convento era considerado essencial para as virgens absorverem a cultura sagrada; nele as mulheres poderiam ser alfabetizadas. Não só os irmãos de Macrina, mas também amigos da família, como São Gregório Nazianzeno e Santo Eustáquio de Sebaste, estiveram ligados a esta comunidade.
Macrina teve papel preponderante na espiritualidade católica do século IV. Pelo fato de viverem inteiramente dedicadas ao ascetismo virginal e de basear seu conhecimento unicamente nas Escrituras, Macrina e outras virgens são consideradas verdadeiros esteios do cristianismo. Macrina possuía uma excelente bagagem intelectual: sua mãe a ensinara a ler e ela conhecia autores cristãos, como Orígenes, além de ler as obras dos irmãos.
Macrina e outras virgens elaboravam retiros para onde afluíam moças pobres e também viúvas abastadas que decidiam ingressar na vida religiosa. Os grandes grupos de virgens, de cinquenta a cem, eram mantidos por aquelas senhoras ricas que dedicavam seus recursos ao convento e nele também viviam.
Uma passagem de uma carta de São Basílio Magno aos habitantes de Neocesareia mostra a força da virtude feminina na difusão do cristianismo do século IV: “Que prova mais clara poderia haver em favor da nossa fé do que o fato de ter sido educado por uma avó que era uma bem-aventurada mulher saída do meio de vós? Falo-vos da ilustre Macrina, que nos ensinou as palavras do bem-aventurado Gregório (o Taumaturgo), todas as que a tradição oral lhe tinham conservado, que ela própria guardava e de que se servia para educar e para formar nos dogmas da piedade a criancinha que éramos ainda?”
Por ocasião da morte da mãe, em 373, Macrina tornou-se superiora do mosteiro. Macrina repartiu entre os pobres a herança que recebeu de sua mãe, e viveu do trabalho de suas mãos.
Retornando do Concílio de Antioquia, em 379, São Gregório, Bispo de Nissa, desejou passar por Anési para visitar a irmã, mas a encontrou nos seus últimos momentos de vida.
O santo ficou muito consolado vendo a alegria com que sua irmã suportava a tribulação e muito impressionado com o fervor com que ela se preparava para a morte. Eles tiveram somente um último colóquio de elevado teor espiritual e depois de uma magnífica oração a Deus Macrina entregou a alma a Deus (380).
Santa Macrina era tão pobre, que para amortalhar o cadáver não se encontrou outra coisa além de um vestido velho e um tecido surrado. São Gregório, porém, doou a sua túnica de linho para seu sepultamento. O corpo foi sepultado na igreja dos 40 Mártires de Sebaste, a pouca distância do mosteiro, onde já estavam sepultados seus pais.
Ao funeral compareceu o bispo do local, Arauxio; juntos ele e São Gregório transportaram o féretro. Uma grande multidão de fiéis foi venerar a falecida.
“A Vida de Macrina”
A sua “Vida” e a sua espiritualidade são narradas em uma importante obra escrita pelo próprio São Gregório de Nissa, com muitos detalhes sobre sua virtude, sua vida e seu enterro. A “Vita Macrinae Junioris” foi redigida em forma de carta e dedicada ao monge Olímpio, que o acompanhara no Concílio de Constantinopla em 381.
O Concílio de Nicéia, convocado por Constantino, refutara as ideias de Ario (c. 260-336), bispo de Alexandria, que afirmava que Deus e Cristo não possuíam a mesma substância: o Filho seria inferior ao Pai. Em Nicéia, os ensinamentos de Ario foram condenados e adotou-se o conceito de substância idêntica para estabelecer a relação entre Pai e Filho, conforme descrito no Credo de Nicéia.
Entretanto, o arianismo continuaria forte por mais sessenta anos, praticamente durante toda a vida de Macrina (o arianismo, embora enfraquecido, fez ainda muita devastação na Cristandade nascente). As disputas teológicas e as perseguições aos cristãos do Oriente formam o pano de fundo da Vida de Macrina, a obra escrita por São Gregório de Nissa.
O santo fala de dois milagres: no primeiro, Santa Macrina recuperou a saúde quando a mãe traçou sobre ela o Sinal da Cruz; e, no segundo caso, a Santa curou de uma doença nos olhos a filhinha de um militar.
São Gregório acrescenta: "Creio que não é necessário que eu repita aqui todas as maravilhas que contam os que viveram com ela e a conheceram intimamente... Por incrível que pareçam esses milagres, posso assegurar que os consideram como tais quem teve ocasião de estudá-los a fundo. Só os homens carnais se recusam em crer neles e os consideram impossíveis. Assim, pois, para evitar que os incrédulos sejam castigados por se negar a aceitar a realidade desses dons de Deus, preferi abster-me de repetir aqui essas maravilhas sublimes..."
O texto grego se encontra nas obras do Santo. Na Acta Sanctorum, julho, vol. IV, há uma tradução em latim. Há também uma tradução em inglês feita por W. K. Lowther Clarke (1916).
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