Patrona dos missionários
equatorianos “ad gentes”
O povo católico do Equador e
a Igreja universal podem venerar com alegria duas “flores” nascidas naquele
país: a «Açucena de Quito», Santa Mariana de Jesus, e a “Rosa de Guayas”, como
carinhosamente é conhecida a Beata Mercedes de Jesus. O perfume de santidade
dessas duas flores, de poderosa intercessão celestial, é exemplo e estímulo
para uma autêntica vida católica.
Mercedes se destaca não só por seus dotes
espirituais e religiosos, mas também por suas qualidades de grande dama,
transmitidos por meio de uma vida ativa e profundamente contemplativa,
institucionalizados pelo cumprimento de sua missão de fundadora de uma família
religiosa na Igreja do Equador, as Irmãs Marianitas, e por seu legado: “ser
amor misericordioso aonde há dor humana”.
Mercedes Molina de Ayala nasceu no dia 20
de fevereiro de 1828, em Baba, então Departamento de Guayaquil. Era a quarta
filha do casal Dom Miguel Molina y Arbeláez e da Sra. Rosa de Ayala y Olvera,
família abastada, proprietária de grandes extensões de terra, com plantações de
cacau e frutos tropicais. Recebeu as águas batismais na cidade de Pueblo Viejo,
em 5 de março do mesmo ano, e sua Primeira Comunhão, bem como sua Confirmação,
recebeu das mãos de Mons. Francisco Javier de Garaicoa, em 19 de maio de 1839.
Sua respeitável mãe ficou viúva quando Mercedes
tinha somente dois anos de vida. Ela se consagrou totalmente ao cuidado de seus
filhos, lhes ensinando firmeza nos bons propósitos, a justiça, a solidariedade,
e que em seus lábios sempre habitasse a verdade.
“Mercedita, menina de beleza nada comum,
nascida em um lar respaldado por uma fortuna apreciável, era modelo de virtudes
singulares”.
No ano de 1841, era uma bela jovenzinha que
atraía pretendentes, quando também morre Dona Rosa. A perda de sua mãe foi uma
dor indizível. Mercedes ficava órfã de pai e mãe, em companhia de seus irmãos,
Maria e Miguel Molina de Ayala.
Após uma grave queda de cavalo, Mercedes passou
por uma conversão, resolvendo levar uma vida de piedade e penitência. Em 1849,
quando acabava de cumprir vinte e um anos, renunciou a um brilhante matrimônio,
e resolveu se dedicar à ação social e apostólica em um asilo de órfãos.
Repartiu todos os bens que havia herdado de seus pais, que tinham provido seus
filhos não apenas de dinheiro, mas de uma esmerada educação intelectual e
artística.
Ela se dedicou então aos
órfãos em Guayaquil, depois em Cuenca. Foi justamente por essa época que ela
conheceu Santa Narcisa de Jesús Martillo Morán, com quem compartilhou sua casa
por muito tempo para se ajudarem mutuamente no caminho da cruz, e praticarem
juntas a virtude, a oração e a penitência.
Mercedes viveu inicialmente consagrada a Deus
no mundo, sob a direção de sacerdotes insignes. Desta maneira buscava
identificar–se com Cristo crucificado, a quem havia elegido acima de qualquer
outro amor humano, pela oração e pela penitência.
Em 1862, começou a levitar quando rezava,
perdia os sentidos e tinha êxtases depois de comungar. No ano seguinte, sua
fama de beata se estendeu por toda cidade ocasionando os mais variados
comentários.
Grande devota de Santa Mariana de Jesus, se
propôs seguir seu exemplo de santidade e à chegada do Padre Garcia, designado
Superior da Comunidade Jesuíta de Guayaquil em 1863, fez votos de pobreza,
obediência e castidade.
Naqueles dias, duas damas tinham reunido
numerosas crianças pobres do bairro às quais ensinavam, vestiam e davam de
comer em uma casa chamada orfanato "A Beneficência".
Na noite do dia 1º de fevereiro de 1867, aos 39
anos de idade, Mercedes de Jesus tomou a resolução mais importante de sua vida.
Furtivamente escapou da casa de sua única irmã, onde vivia, e passou a
madrugada no interior da Igreja de São José, absorta em oração. Ao amanhecer,
ouviu Missa, comungou, e com algumas poucas peças de roupa no braço, foi para o
orfanato, aonde a receberam com imenso júbilo. Sua irmã Maria se encolerizou tanto,
que levou muitos anos para perdoá–la e voltar a falar com ela.
No orfanato passou alguns
meses se adestrando no serviço de seus semelhantes, até que o Padre Garcia, que
estava em Gualaquiza fundando uma missão, a mandou chamar para que ela o
ajudasse em sua obra. Grande foi a surpresa de Mercedes de Jesus ao receber a
carta, porém cumpriu a ordem imediatamente e viajou para aquela região dos
índios jibaris em 1870, perdendo peso em dez meses de trabalhos rudes e
cansativos.
Em maio de 1871, voltou para Cuenca, fundou o
Beatério de Santa Mariana e deu aulas a numerosas meninas. Anos depois, quando
seu processo de beatificação foi instaurado, várias velhinhas se apresentaram
declarando que haviam sido suas alunas, e que conservavam gratas recordações
dela por ser carinhosa com todas.
Em janeiro de 1873 Mercedes transferiu–se para
Riobamba, fundou outro Colégio e caiu gravemente doente. O médico que a
assistiu pensou que ela morreria e assim o disse, mas a Beata, com toda calma
lhe disse: "Não é verdade, porque tive uma visão. Vi um roseiral
muito frondoso e florido que representa a Congregação e esta ainda não cresce,
por isso eu viverei o suficiente e muitos anos mais". E sarou em
seguida. É por este motivo que ela ficou conhecida como “a Rosa de Guayas”.
Todos esses trabalhos
providencialmente iam acrisolando sua vocação de fundadora.
Finalmente, na segunda-feira de Páscoa, dia 14
de abril de 1873, recebeu a aprovação do Bispo de Riobamba. Nasceu então,
oficialmente, a Congregação das Religiosas de Santa Mariana de Jesus, as
Marianitas, nome de sua escolha por ter assumido desde sua juventude a
espiritualidade da Santa equatoriana.
A Beata Mercedes Maria de Jesus Molina é a
Fundadora do primeiro Instituto Religioso na Igreja do Equador. O Instituto
tinha como meta o atendimento aos órfãos, dar asilo às convertidas e às jovens
em perigo, a assistência às prisões. O Instituto tinha e tem uma
espiritualidade missionária.
A Beata Mercedes é pioneira
na educação da mulher equatoriana, pois no início do século XIX as escolas
destinadas à educação feminina eram quase desconhecidas. É a mulher genial que
abre caminho em um lugar geográfico e em um momento histórico em que ninguém
então pensava neles. É a criadora de sua própria pedagogia baseada no método
direto, prático e integral. Tem metas claras, concretas e precisas; sua
preocupação constante não foi elaborar metas teóricas, mas práticas,
caracterizadas por uma ação direta, persistente e maternal; sempre equânime e
serena, amável e acessível, firme e segura, respeitosa.
Por três anos a Beata exerceu “o ofício
de mãe terna, servindo–os nas enfermidades, cheia de caridade e bondade com
todos”, enquanto trabalhava no asilo de órfãos. E assim continuou levando
uma vida exemplar, de amor ao próximo e de sacrifício até o heroísmo. Devido
aos jejuns e às penitências, seu corpo foi se debilitando pouco a pouco, até
que a morte a surpreendeu, em odor de santidade, no dia 12 de junho de 1883, no
seu Instituto de Riobamba, aos 55 anos de idade.
Seus restos foram venerados por horas e
ao ser sepultado se constatou que a mão esquerda, que sustentava um crucifixo,
estava endurecida e por mais esforços que se fizesse, não a puderam dobrar,
impedindo fechar a tampa do ataúde; porém o resto do corpo estava flexível.
A Madre Superiora então se dirigiu a ela,
dizendo: "Mercedes, você que foi tão obediente em vida, obedeça
morta e abaixe o braço". Imediatamente o braço abaixou deixando
perplexos os presentes, a ponto de o Padre Redentorista que oficiava a Missa
pedir para abençoar a multidão com o mesmo braço da defunta, o que foi feito em
seguida.
Seus restos descansam na cidade de Riobamba, na
mesma casa onde fundou a Congregação das Marianitas.
Três anos depois de sua morte foi iniciado o
primeiro processo para a sua beatificação, que se interrompeu por um longo
tempo por causas políticas e por obra de pessoas contrárias ao seu Instituto.
O processo foi retomado em 1929; a causa foi
introduzida pelo Papa Pio XII em 8 de fevereiro de 1946. O decreto de suas
virtudes foi expedido em 27 de novembro de 1981; um milagre atribuído a sua
intercessão foi reconhecido em 9 de junho de 1984. No dia 1º de fevereiro de
1985, “a Rosa de Guayas” foi beatificada durante a visita pastoral de João
Paulo II ao Equador.
Em 1948, nas bodas de diamante da Congregação
fundada pela Beata, a Santa Sé aprovou os estatutos redigidos por ela em
Gualaquiza, embora com algumas reformas.
Essa educadora e missionária, católica
exemplar, a primeira fundadora de uma congregação equatoriana, merece toda
nossa veneração. Essa “Rosa” plantou um imenso roseiral, segundo seu sonho e
sua inspiração, que se estendeu às diversas nações, espalhando seu perfume
apostólico na Igreja da América Latina.
Sólo para padecer
pido a Dios que me dé vida
hasta que toda sumida
en penas me pueda ver.
No tengo, no, otro querer
y anhela mi razón
amar la tribulación,
la pena y el desconsuelo
con amor, con fe, con celo
y humildad de corazón
Así lo desea y quiere:
Mercedes de mi Jesús.
Guayaquil, Mayo 12 de 1866
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