segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Beata Maria Clementina Anuarite Nengapeta, a Sta. Inês africana – 1º dezembro

 

A 1ª mulher bantu a ser elevada aos altares da Igreja Católica

     Anuarite Nengapeta nasceu no dia 29 de dezembro de 1939. Era a quarta das seis filhas de Amisi e Isude. A família de pagãos africanos da etnia Wadubu vivia na periferia de Wamba, no Congo. Ao ser batizada em 1943, acrescentaram-lhe o nome Afonsina. Na ocasião, também receberam esse sacramento sua mãe e quatro irmãs. A mais velha nunca abraçou a doutrina católica. Seu pai até começou a preparar-se para a conversão, mas depois desistiu, pois formou outra família enquanto trabalhava como soldado do exército congolês.
     Aqueles que a conheceram em sua aldeia dizem que ela era uma criança alegre, vivaz e dedicada. Eles lembram que em Wamba, onde frequentou a escola primária, ela tinha o hábito de visitar os pobres e os doentes. O nervosismo, porém, era o ponto fraco do seu caráter. Era muito sensível e instável. Gostava de frequentar a igreja, ia à missa aos domingos com a mãe e as irmãs. Em seguida, ficava estudando o catecismo para poder receber a primeira comunhão, que ocorreu em 1948.
     Como era comum entre as crianças africanas, ela começou ainda muito jovem ajudando seus pais em casa: tirando água do poço, juntando lenha e cozinhando algumas coisas no fogão. Como seus companheiros da mesma idade, ela temia as cobras que encontrava no caminho para o poço e gostava de brincar com cachorros e cabras na aldeia. Ela era uma típica criança africana.
      Desde criança Anuarite sabia bem o que queria: certo dia, na escola primária, durante a recreação, aproximou-se da professora e disse-lhe: “Quero o trabalho de Deus”. Dito e feito: não só levou a cabo este trabalho, mas levou-o em frente até o fim, dando a sua vida por Cristo.
     Mas Afonsina Anuarite era extraordinariamente inteligente. Por causa disso, depois de deixar o ensino fundamental, ela foi para o ensino médio em Bafwabaka. Iniciou os seus estudos e diplomou-se no colégio das Irmãs do Menino Jesus de Nivelles, missionárias na África.  
     Em 1957, ingressou na Congregação da Sagrada Família. Foi aceita e durante o noviciado teve como orientador espiritual o Bispo de Wamba. Em 1959, diplomou-se professora, vestiu o hábito e emitiu os votos definitivos, tomando o nome de Maria Clementina. Desde então se dedicava e empenhava muito nas funções que lhe eram destinadas: foi sacristã, auxiliar de cozinheira e professora de uma escola primária. Após um curso complementar em 1963, tornou-se diretora do internato para meninas, onde ela mesma havia estudado alguns anos antes.
     Devota extremada de Maria e de Jesus, vivia feliz por ter-se consagrado ao seu serviço.  Dentro da comunidade de irmãs, ela era conhecida como "a luz do sol à sua disposição". Ela estava sempre serena, alegre e pronta para o que fosse necessário. Depois da escola, ela ia com as irmãs encarregadas da manutenção para ajudá-las a pegar lenha, pescar no rio Nepoko e lavar e passar roupas. Em muitos domingos, as irmãs e os alunos puderam desfrutar de bolo e outras sobremesas. 
     No caderno de anotações da Irmã Anuarite – agora parte do material de seu processo de canonização em Roma – podem ser encontradas receitas de bolos e sobremesas, além de textos de meditação e suas anotações pessoais. Para alegrar os alunos internos, ela sempre conseguia encontrar novas receitas em algum lugar. Naquele dia 29 de novembro, a irmã Anuarite havia preparado algo para seu vigésimo quinto aniversário. Mas tudo acabaria diferente...   
     O Congo da época era governado pelos brancos. Em 1960, havia uma grande campanha contra esse domínio europeu. Fervilhava o ódio racial e não durou muito para traduzirem-se em barbárie os ideais políticos. A revolução dos Simbas explodiu no ano seguinte, iniciando um violento massacre para eliminar todos os europeus, seus amigos e colaboradores negros.
     No Convento de Bafwabaka, tudo era calmo até 1964. Em agosto daquele ano, os rebeldes já tinham ocupado grande parte do país. A cada dia avançavam mais, saqueando e matando milhares de civis congoleses indefesos. Mais de cento e cinquenta missionários, entre sacerdotes, religiosos e irmãos já haviam morrido também.
     Os rebeldes chegaram ao convento em 29 de novembro e levaram as trinta e seis integrantes da Sagrada Família, entre elas Irmã Maria Clementina Anuarite, de caminhão, para Isiro. Na noite do dia 1º de dezembro de 1964, o Coronel Olombe tentou seduzi-la. Mas ela se recusou a satisfazer seus desejos carnais: “Eu prefiro morrer antes de cometer o pecado”. Além disso, para defender a superiora, ameaçada de morte por causa da sua rejeição, Anuarite dirige-se aos soldados com as seguintes palavras: “Matai-me só a mim”. O Coronel Olombe a esbofeteou e golpeou com a coronhada do fuzil, depois disparou, matando-a. Antes de perder os sentidos e diante da aproximação da morte, encontrou forças para perdoar seu algoz: “Eu o perdoo... Tu não percebes o que estás fazendo... O Pai te perdoe”.
    Ela foi beatificada em 15 de agosto de 1985 pelo Papa João Paulo II durante sua visita à África. Ela foi a primeira mulher bantu elevada aos altares. Seu memorial é 1º de dezembro.
     Na solenidade de beatificação, o sumo pontífice definiu Anuarite como modelo de fidelidade para todos os católicos do mundo. Depois, enalteceu sua castidade, e a igualou a Santa Inês, mártir do início da cristandade, dizendo: "Anuarite é a Inês do continente africano".

Fontes:
Irmã Anuarita de Bafwabaka: Uma Mary Goretti da África Central - Nobreza e Elites Tradicionais Análogas
http://www.osservatoreromano.va/pt/news/mulher-de-palavra-desconcertante-e-misteriosa

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