segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Santa Maria de Jesus Crucificado Baouardy, Carmelita Descalça - 26 de agosto

      
     A Santa nasceu em Abellin, pequeno povoado a meio caminho entre Haifa e Nazaré, a 5 de janeiro de 1846. Era filha do casal Jorge Baouardy e Mariam Chahyn, fervorosos católicos palestinos. Eles haviam obtido a graça de seu nascimento após uma peregrinação a pé, percorrendo uma distância de 170 km até Belém, ao local onde nasceu o Menino Jesus. A menina foi batizada e crismada no mesmo dia, segundo o rito católico melquita, recebendo o nome de Mariam. Um ano depois nasceu-lhes um menino, Baulos (Paulo).
     Em 1848, os pais de Mariam morrem um após o outro. Segundo o costume oriental, as crianças foram repartidas entre os parentes. Baulos foi adotado por uma tia materna de um povoado vizinho, e ela acolhida por um tio paterno abastado. Aos 8 anos faz sua primeira comunhão. Alguns anos depois ele se mudou para Alexandria, Egito, levando-a consigo.
     Conforme o uso oriental, seu casamento foi ajustado e quando completou 13 anos lhe disseram que chegara o momento do casamento. Porém, Mariam já sentia um chamado de Deus e não desejava se casar, e comunicou isto aos tios. Nem as humilhações, nem os maus tratos puderam fazê-la mudar sua decisão.
     Após três meses, ela visitou um velho criado da casa de seu tio para que este enviasse uma carta a seu irmão, que vivia na Galileia, para que viesse ajudá-la. Ouvindo a narração de seus sofrimentos, o criado, que era muçulmano, exortou-a a converter-se ao Islã. Mariam respondeu com ênfase: "Muçulmana eu? Jamais! Sou filha da Igreja Católica e espero permanecer assim por toda vida!" Enfurecido, o homem deu-lhe um violento pontapé que a derrubou ao chão, e, com uma cimitarra, deu-lhe um golpe na garganta. Crendo que ela estava morta, envolveu-a num lençol e abandonou-a em uma rua escura. Era o dia 8 de setembro.
     A própria Mariam contaria muitos anos mais tarde que, como num sonho, lhe parecia ter entrado no Paraíso onde viu a Virgem, os Santos e também os pais e a Gloriosa Trindade. Ouviu então uma voz que lhe disse: "O teu livro ainda não está todo escrito".
     Acordando, se encontrava numa gruta onde passou vários dias com febre, sendo assistida por uma jovem senhora que parecia ser uma religiosa e que vestia um véu azul. Esta a atendia, alimentava e fazia dormir. Depois de quatro semanas, aquela senhora conduziu-a a igreja dos Franciscanos, deixando-a lá.
     Curada, mas só, pois não poderia voltar para sua família adotiva, com o ajuda de um franciscano Mariam se colocou como doméstica a serviço de famílias não abastadas em Alexandria, Beirute, Jerusalém. Nesta cidade fez o voto de castidade perpétua no Santo Sepulcro. Em 1863, a família Nadjar, para a qual trabalhava, se transferiu para Marselha, França, levando-a consigo.
     Em 1865, Mariam entrou em contato com as Irmãs de São José de Marselha. Tinha 19 anos, mas só parecia ter 12 ou 13. Falava mal o francês e possuía uma saúde frágil, mas foi admitida no noviciado.
     Sempre disposta aos trabalhos mais pesados, ela passava a maior parte do tempo lavando ou na cozinha. Mas, dois dias por semanas revivia a Paixão de Jesus: Mariam recebia os estigmas (que na sua simplicidade acreditava ser uma enfermidade) e toda classe de graças extraordinárias começaram a manifestar-se. Algumas irmãs ficaram desconcertadas com o que se passava com ela, e, ao final de dois anos de noviciado, não é admitida na Congregação.
     Em 14 de junho de 1867, Mariam entrou no Carmelo de Pau (Baixo Pirineus), apresentada por sua antiga mestra de noviciado, Irmã Verônica da Paixão, que declarou: "esta pequena árabe é um milagre de obediência".
     Em 27 de julho de 1867 tomou o hábito carmelitano adotando o nome de Maria de Jesus Crucificado. A sua condição de analfabeta a colocava entre as conversas e para ela, que aspirava somente servir, assim estava bem. Mas foi decidido colocá-la entre as coristas, e a obrigaram a aprender a ler e a escrever, porém sem sucesso. Em 1870 voltou a ser conversa.
     Em 1870, com um pequeno grupo de Irmãs, Mariam parte para a Índia, para fundar o primeiro mosteiro de carmelitas daquele país, em Mangalore. A viagem de barco foi uma aventura e três religiosas morreram antes de chegarem. Reforços são enviados e no final de 1870 a vida claustral pode ser iniciada.
     Os fenômenos extraordinários, que ela procurava esconder, continuaram na terra de missão. Ao mesmo tempo ela era a alma da fundação, enfrentando todos os trabalhos pesados e dando atenção aos problemas inerentes a uma nova fundação. Durante seus êxtases, as irmãs às vezes podiam ver seu rosto resplandecente na cozinha ou em outro local. Mariam participava em espírito dos acontecimentos da Igreja, por exemplo, nas perseguições na China. Parecia estar possuída exteriormente pelo demônio, que a fazia viver terríveis tormentos e combates.
     A superiora e o bispo, porém, começam a duvidar da autenticidade das manifestações extraordinárias, acusando-a de visionária, de ter uma imaginação oriental muito ardente, etc. Apesar das tensões, ela emitiu os votos no término de seu noviciado, em 21 de novembro de 1871. Como as tensões continuassem, ela foi enviada de volta ao Carmelo de Pau em setembro de 1872. As Irmãs que a perseguiram reconheceram mais tarde o seu erro e expressaram o seu arrependimento.
     Em Pau ela retomou sua vida simples de Irmã conversa, feita de muito trabalho entremeado de episódios prodigiosos. Dom de profecia, ataques do demônio ou êxtases, entre todas essas graças divinas ela sabe, de maneira muito profunda, ser ‘nada’ diante de Deus, e quando fala dela mesma se chama "o pequeno nada", é realmente a expressão profunda de seu ser.
     Iletrada como era, encantada com a natureza, compunha belíssimas poesias e inventava melodias para cantá-la. É bom frisar que todos os fatos extraordinários são vividos por Irmã Maria com grande humildade e simplicidade. Muitas pessoas a procuravam para serem reconfortadas, aconselhadas, e pedir orações.
     Em 28 de junho de 1873, pela manhã, a Priora a encontrou sentada em um pequeno banco diante de uma janela aberta: "Madre - ela disse - todos dormem. E Deus, tão cheio de bondade, tão grande, tão digno de louvores, é esquecido!... Ninguém pensa nEle!... Vede, a natureza O louva; o céu, as estrelas, as árvores, as ervas, todas as criaturas O louvam; porém o homem, que conhece seus benefícios, que deveria louvá-Lo, dorme!... Vamos, vamos, despertemos o universo! Jesus não é conhecido, Jesus não é amado!"
A fundação do Carmelo de Belém     
Nossa Senhora havia predito que Irmã Maria seria a alma propulsora da fundação de Carmelos na Palestina. A fundação em Belém era algo muito complicado por motivos políticos. O Bispo de Biarritz escreveu uma carta ao Papa Pio IX expondo o projeto das religiosas do Carmelo de Pau e pedindo sua autorização para concretizar a fundação. O Papa apoiava o projeto e aprovou-o.
     Depois de uma peregrinação a Lourdes, no dia 20 de agosto de 1875 um pequeno grupo de carmelitas embarcou para esta aventura. Irmã Maria de Jesus Crucificado zarpou com elas para o Oriente Médio.
     Os locais sagrados já estavam nas mãos de muçulmanos e cismáticos. A alegria de estar na Terra Santa foi totalmente ofuscada por esse fato. A alegria de Irmã Maria esvaiu-se:
     "Como o Senhor permite semelhantes coisas? Ah, isto é demais! Se eu fosse Jesus jamais suportaria semelhante profanação!" Mas, ela faz uma reflexão e diz: "Isto é um castigo para a Cristandade, porque há uma coisa que é muito pior. Ah, Senhor, quantas almas são mais abomináveis ainda do que o Cenáculo estar nas mãos dos muçulmanos, e nessas almas Vós sois obrigado a descer! Eu compreendo a profanação deste lugar Santo pensando em todas as comunhões indignas e sacrílegas que acontecem na vossa Santa Igreja".
     O Senhor mesmo guiava Mariam na escolha do local e na forma de construção do novo Carmelo. Como ela era a única que falava árabe, encarregava-se particularmente de seguir os trabalhos “imersa na areia e na cal”. A comunidade instalou-se no dia 21 de novembro de 1876, enquanto certos trabalhos continuaram.
     Mariam preparou também a fundação de um Carmelo em Nazaré, viajando até lá para comprar o terreno, em agosto de 1878. Durante essa viagem Deus revelou a ela o lugar de Emaús, o qual foi adquirido.
     De volta a Belém, retomou a vigilância dos trabalhos sob um calor sufocante. Quando levava aos trabalhadores algo para beber, Mariam caiu de uma escada e partiu um braço. A gangrena avançou muito rapidamente e ela morreu poucos dias depois, em 26 de agosto de 1878, aos 32 anos.
     Ela foi beatificada pelo Papa João Paulo II a 13 de novembro de 1983 e canonizada em 17 de maio de 2015.
 
Fontes:
www.carmelitas.pt
pt.m.wikipedia.org

Sta. Maria Micaela do Ssmo. Sacramento, Fundadora - 24 de agosto

   

     Micaela Desmaissières y López de Dicastillo era filha de um opulento aristocrata e valente militar espanhol que em 1809 combatia as tropas de Napoleão que tinham invadido a Espanha. Sua mãe, Bernarda, era camareira da rainha Maria Luiza de Parma e tinha um irmão — Diego, depois conde de la Veja del Pozo — que foi embaixador do governo espanhol em Bruxelas e Paris, tendo falecido prematuramente aos 49 anos de idade.
     Austera, Bernarda educou os filhos à maneira das grandes famílias de antanho. Por isso quis que a filha, apesar de aristocrata, aprendesse a cozinhar, passar, e ocupar-se de todos os afazeres domésticos. Dizia que isso era “para o que possa suceder”. Micaela aprendeu também a tocar vários instrumentos musicais. Bernarda legou também à filha o hábito de passar de duas a três horas na igreja, o que Micaela fazia “embevecida em ternos afetos”.
     Em sua juventude Micaela costumava visitar os doentes e costurar para vestir os pobres. Reunia também em casa meninas pobres para ensinar-lhes a doutrina católica.
     Absorta em suas devoções e obras de caridade, Micaela chegou aos trinta anos sem pensar em casamento. Falecendo então a mãe, à qual era muito unida, ela herdou o título de Viscondessa de Jorbalán.
     Como encontrasse nos hospitais de Madrid muitas mulheres que, depois de levar vida devassa, sofriam as consequências de seus desmandos, veio-lhe a ideia de fundar uma casa de refúgio para a redenção dessas pecadoras. Foi o que fez com seus próprios recursos. Mesmo quando estava no exterior, a viscondessa não deixava de favorecer essa fundação com conselhos e dinheiro.
     Diz um seu biógrafo: “Seu irmão, o embaixador, apreciava tanto suas requintadas qualidades de gentileza no trato, sua discrição no falar e seu senso de oportunidade em tudo, que não podia separar-se de sua companhia. Para comprazer-lhe, a viscondessa aceitava aquela vida de sociedade, procurando harmonizá-la com uma intensa vida interior”. (1) Desse modo viveu vários anos nas principais capitais europeias.
     Ela mesma nos conta como passava seus dias: “De manhã, em obras de caridade; o resto do dia em visitas, passeios a cavalo ou de carro; e, à noite, no teatro, em reuniões e baile. Acrescente-se a isto o excessivo luxo e o primor na mesa”. (2) Isso, que poderia ser uma vida de dissipação, para ela era ocasião de sacrifícios. Pois, sob os ricos vestidos de seda, levava rudes cilícios e no teatro assistia à cena usando óculos sem vidros.
     Ela revela também a luta que tinha que enfrentar para vencer seu orgulho e caráter impetuoso e demasiado ativo. (4)
     Em 1848 ela voltou à Espanha, disposta a seguir o caminho que a Providência Divina lhe indicasse. Continuou enquanto isso a se vestir com muito luxo. Um dia ela foi assim toda ataviada se confessar. O sacerdote, ouvindo o frufru das sedas, disse-lhe bem espanholamente: “A Senhora vem demasiado oca para pedir perdão a Deus”. Ela desculpou-se: “São as saias”. O sacerdote retrucou: “Pois arranje outras”.
     No dia seguinte a santa apresentou-se no extremo oposto; tão desajeitada que chamava a atenção de toda a igreja. O sacerdote increpou-a novamente: “Como vem tão ridícula? Tire as sedas, mas se vista como essas senhoras virtuosas que vê na igreja”. Santa Micaela mandou fazer então um vestido simples de lã.
     Entretanto, sua obra para a regeneração de mulheres de má vida ia progredindo. O local se ampliava e o número de moças recolhidas crescia. Em 1850, Santa Micaela decide mudar-se para junto delas. “Seu talento organizador, sua penetração psicológica, seus dotes de mando e sua arte para dominar os espíritos mais rebeldes se revelam subitamente, com estupefação de todos que seguem o desenvolvimento da obra”. (6) No princípio tem que fazer de tudo: cozinhar, varrer, costurar, ensinar.
     A família fica chocada ao vê-la entre gente tão desclassificada, os círculos da aristocracia fazem vazio em torno dela, e seu irmão cai desmaiado ao ver a pobreza de seu quarto. Ao palácio real chega a notícia de que ela “endoideceu”. A rainha Isabel II deseja vê-la. E aí nasce entre ambas uma amizade profunda, muito aprovada pelo confessor da rainha, Santo Antônio Maria Claret.
     Aos poucos, entrementes a obra da santa começou a se impor aos olhos do público como força moralizadora e de grande significado religioso e social. Algumas moças da sociedade se uniram a Santa Micaela, surgindo assim, em 1858, a congregação das Adoradoras, Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, para a adoração perpétua do Sacramento do Altar e regeneração das mulheres perdidas ou moças com risco de se perderem.
     Santa Micaela soube unir a bondade à energia no trato com as desgraçadas. Um dia pergunta a uma delas, que desejava ir embora, para onde iria. Esta lhe responde descaradamente que ia voltar para o bordel. Ao ouvir isso, a Santa indignada desfere-lhe sonora bofetada no rosto. A jovem lançou-se então a seus pés e disse: “Só minha mãe me castigou assim. Eu vou obedecer à senhora como a ela. Se ela não tivesse morrido, eu não me teria perdido”.
     O demônio aparecia-lhe sob diversas formas, atormentava-a com estrondos e empurrões e mais de uma vez a lançou escada abaixo.
     Aprovada pela Santa Sé em 1861, sua congregação religiosa continuava a crescer de maneira a possibilitar a fundação de outras casas em diversas cidades da Espanha.
     No verão de 1865, chegou à casa-mãe de Madrid a notícia de que várias monjas da casa de Valência haviam sido atacadas pela cólera. Santa Micaela comentou: “Saio para Valência, pois aquelas filhas que tenho lá não são valentes, e temo que se acovardem ao ver tanta mortandade”.
     Alguns dias depois de chegar a Valência, sentiu os primeiros sintomas da peste e compreendeu que sua vida chegava ao fim. No dia 24 de agosto comentou: “Vou padecer um pouco; mas às doze horas tudo terá passado”. Efetivamente, à meia-noite ela entregou sua valorosa alma a Deus.
     Os biógrafos descrevem Santa Micaela como sendo severa e maternal, não muito afetuosa, mas nem por demais esquiva, disposta a rir quando se contava algo engraçado; cheia de espírito e de agradáveis comentários de muito propósito, inimiga das lágrimas, mesmo no momento dos maiores transes, tranquila nas dificuldades, e contente em ver as demais contentes. Fisicamente não era muito bonita, mas impunha-se por sua graça e simpatia, bem como pelo seu atrativo sem igual. Tinha o aspecto majestoso e cheio de uma distinção aristocrática. Em suma, por muitos traços de seu corpo, bem como por sua psicologia, Santa Micaela lembrava muito Santa Joana de Chantal, a cofundadora das visitandinas.
     Santa Maria Micaela do Santíssimo Sacramento foi beatificada em 1925 e canonizada em 1934. Sua festa é celebrada no dia 24 de agosto.
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Notas:
1. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Santa Micaela, o la Madre Sacramento, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo III, p. 422. 2. Pe. José Leite, Santa Micaela, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo II, p. 584. 3. Urbel, p. 422. 4. Id. Ib. 5. Leite, p. 584. 6. Urbel, pp. 423-424. 7. Id., p. 427.
Fonte: Plinio Maria Solimeo, www.catolicismo.com.br (excertos)
 

Santa Maria de Mattias, Fundadora - 20 de agosto

 

      Maria de Mattias nasceu em Vallecorsa, província de Frosinone, em 4 de fevereiro de 1805, filha mais velha de uma distinta família.

     Seu pai foi um educador excepcional que a ensinava a rezar e a amar a Sagrada Escritura. Ele formava seu coração  com narrativas bíblicas que a encantavam. Mais tarde, tornou-se seu confidente e guia. Foi ele quem a fez compreender, na sua adolescência, o significado profundo do Cordeiro Pascal, como simbologia de Jesus que foi conduzido à morte e verteu seu Sangue para a salvação da Humanidade. E a jovem conclui que ela também devia consumir-se completamente, se necessário até o derramamento de sangue, para levar Jesus a todos.

     Impetuosa, vivíssima e um pouco vaidosa, aos 16 anos foi favorecida com uma especial inspiração da Santíssima Virgem, compreendeu a vaidade e a transitoriedade dos prazeres do mundo e começou por renunciar a jóias e a adornos pelo ideal de uma vida dedicada a Deus e aos irmãos.

     Em 1822, quando São Gaspar del Bufalo, fundador da Sociedade dos Missionários do Preciosissímo Sangue, pregou numa missão em Vallecorsa, Maria descobriu sua vocação de missionária. Mas não na África, como havia sonhado em menina, mas na sua região.

     Maria respondeu ao chamado de Deus com a radicalidade dos santos. “Benditos somos - escrevia às primeiras discípulas - se podemos dar a vida e todo o nosso sangue pela fé, para salvar ainda que uma só alma”.

     Ela estava convencida de que a reforma da sociedade nasce do coração da pessoa e que esta se transforma quando compreende quão preciosa é aos olhos de Deus e de quanto amor foi objeto, pois  Jesus deu todo o seu Sangue para resgatá-la.

     Como tinha aprendido a ler e escrever, foi chamada pelo Administrador de Anagni, Mons. José Maria Lais, para ensinar as crianças. Em Acuto, uma aldeia de montanha não longe de Roma, começou a pregar e a catequizar na praça e na igreja, entusiasmando a todos e preocupando alguns, tanto que o bispo mandou um jesuíta observá-la incógnito, mas este concluiu que ela “fala melhor do que um padre”.

     Não podendo falar aos homens, estes acorriam voluntariamente para ouvi-la, embora às escondidas. Até os pastores lhe pediram que os ensinasse depois do pôr-do-sol; todos acorriam para ouvir as suas lições.

     Maria atraía até os sacerdotes, porque, quando falava de Jesus e dos mistérios da fé, parecia tê-los vivido em pessoa. O seu desejo era de que nem uma gota do Sangue de Jesus se perdesse. A preocupação de sua vida era dar gosto a Jesus, que lhe tinha roubado o coração desde a juventude, e salvar "o querido próximo".

     Sob o dorso de uma mula vai de uma aldeia a outra, atendendo aos pedidos e as necessidades dos lugares. E aonde não pode chegar pessoalmente, envia cartas (cerca de 2.000) tanto para gente simples, como também para padres e bispos, síndicos e prefeitos, para aconselhar, educar, propor e estimular.

     Sob a orientação do Venerável Pe. João Merlini, que por quarenta anos foi seu diretor espiritual, fundou, com algumas companheiras, a Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, em Acuto, a 4 de março de 1834.

     A Congregação tinha como fim especial a propagação da devoção ao Sangue de Cristo e a educação da juventude, especialmente em centros pequenos e abandonados. Outras atividades promovidas pela zelosa Fundadora foram os cursos catequéticos, missões, retiros para leigos, senhores e jovens.

     Sua ação ardorosa atraia muitas jovens e Maria de Mattias fundou muitas casas, chegando à Alemanha e à Inglaterra; em Roma, o próprio Papa Beato Pio IX a chamou para o Hospício de São Luís e para a Escola de Civitavecchia.

     Maria de Mattias faleceu a 20 de agosto de 1866, em Roma, e Pio IX mandou que fosse sepultada no Cemitério de Verano.

     O processo da sua Beatificação foi iniciado trinta anos depois, mas foi Pio XII que a beatificou em 1º de outubro de 1950. No dia 18 de maio de 2003, foi canonizada por João Paulo II, na Praça de São Pedro.

     Seus despojos são venerados na Igreja do Preciosíssimo Sangue anexa à casa generalícia do seu Instituto, em Roma.

     Atualmente cerca de 2.000 Adoradoras trabalham em todos os continentes, em 26 nações: Albânia, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Bósnia, Brasil, Colômbia, Coréia, Croácia, Filipinas, Guatemala, Guine Bissau, Índia, Itália, Liechtenstein, Polônia, Servia, Sibéria, Espanha, Suíça, Tanzânia, Ucrânia, EUA.

 

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Santa Helena, mãe do Imperador Constantino - 18 de agosto

 
Santa Helena com seu filho Constantino

   Helena nasceu em meados do século III, provavelmente em Bitínia, região da Ásia Menor. Os autores britânicos afirmam que ela nasceu na Inglaterra, naquele tempo uma província romana, e que Constâncio Cloro, tribuno e mais tarde governador da ilha, enamorou-se dela e a tomou por esposa. Por volta do ano 274 tiveram um filho a quem deram o nome de Constantino.
     Constâncio Cloro chegou a ser marechal de campo e o imperador Maximiano nomeou-o co-regente e, portanto, seu sucessor no Império, mas com a condição de que repudiasse sua mulher e esposasse sua enteada Teodora.
     Tanto Helena quanto Constâncio Cloro eram pagãos. Levado pela ambição, Constâncio se separou dela e levou para Roma seu pequeno filho, Constantino. Por catorze anos Helena chorou sua desgraça. Em 306, com a morte de Constâncio, Constantino foi nomeado imperador, iniciando para ela uma nova vida. Constantino mandou vir sua mãe para viver na corte, conferindo-lhe o nome de Augusta e o título de imperatriz.
     Helena recebeu o Batismo, provavelmente no ano 307, e foi uma cristã exemplar, testemunha da grande jornada em que Constantino colocou pela primeira vez a cruz nos estandartes de suas legiões para vencer em batalha o seu rival Maxêncio, no mês de outubro do ano 312.
     No início do ano 313 o imperador publicou o Édito Milão, pelo qual permitia o cristianismo no Império. Seguindo o exemplo de sua mãe, converteu-se, sendo batizado pelo Papa São Silvestre. Depois de trezentos anos de perseguição, a Igreja de Cristo assentava-se triunfante sobre a terra. A piedosa imperatriz dedicou-se inteiramente a socorrer os pobres e aliviar as misérias de seus semelhantes.
     Quando já anciã - tinha então setenta e sete anos - visitou os santos lugares. Subiu ao topo do Gólgota onde havia sido erguido um templo à Vênus. Este templo fora construído por ordem do imperador Adriano, que odiava os cristãos, e certamente quis com isso evitar que aquele local fosse venerado pelos discípulos de Nosso Senhor.
     Conhecendo o costume judaico de enterrar no lugar da execução de um malfeitor os instrumentos que serviram para sua morte, Santa Helena mandou derrubar o templo e procurar a cruz onde padecera o Redentor.
     Tendo sido encontradas três cruzes, era difícil saber qual delas era a de Nosso Senhor. Uma antiga tradição narra o modo milagroso como se conseguiu identificar a que correspondia a Jesus: a cura de uma agonizante. Tradicionalmente esta descoberta tem data de 3 de maio de 326, e a festa da Exaltação da Santa Cruz acontece todo dia 3 de maio.
     Santa Helena estava com oitenta anos quando regressou de sua viagem. Faleceu pouco depois, provavelmente em Tréveris, por volta do ano 328 ou 330. O Martirológio Romano comemora sua festa em 18 de agosto. Uma capela dedicada a ela, em Roma, conserva algumas de suas relíquias.
 
"In hoc signo vinces"
     O historiador Eusébio de Cesaréia relata que o filho de Santa Helena era pagão, mas respeitava os cristãos. No ano 311, tendo que enfrentar uma terrível batalha contra o perseguidor Maxêncio, chefe de Roma, na noite anterior à batalha teve um sonho no qual viu uma cruz luminosa no ar e ouviu uma voz que lhe dizia: "Com este signo vencerás", e ao iniciar a batalha mandou colocar a cruz em várias bandeiras dos batalhões e exclamou: "Confio em Cristo em quem crê minha mãe Helena". A vitória foi total e Constantino chegou a ser Imperador. Logo decretou a liberdade para os cristãos, que por três séculos vinham sendo muito perseguidos pelos governantes pagãos.
A descoberta
     Escritores muito antigos como Rufino, Zozemeno, São Crisóstomo e Santo Ambrósio, contam que Santa Helena pediu permissão a seu filho para ir buscar em Jerusalém a cruz na qual morreu Jesus. Depois de muitas e profundas escavações três cruzes foram encontradas. Como não se podia distinguir qual era a cruz de Jesus, levaram-nas a uma mulher agonizante. Ao tocá-la com a primeira cruz, a enferma piorou; ao tocá-la com a segunda, continuou tão doente quanto antes; porém, ao tocá-la com a terceira cruz, a enferma recuperou instantaneamente a saúde.
     Então Santa Helena e o Bispo de Jerusalém, São Macário, e milhares de devotos levaram a cruz em piedosa procissão pelas ruas de Jerusalém. E pelo caminho se encontraram com uma mulher viúva que levava seu filho morto para ser enterrado. Ao aproximarem a Santa Cruz do morto este ressuscitou.
     Santa Helena fez com que se dividisse a cruz em três partes. Um dos pedaços foi entregue ao Bispo São Macário, para que o entronizasse na Igreja de Jerusalém; o segundo foi enviado para a Igreja de Constantinopla e o terceiro para Roma. A basílica que abrigou a relíquia chamou-se Santa Cruz de Jerusalém. Mandou também construir três edifícios: um junto ao monte Calvário, outro na cova de Belém e um terceiro no monte das Oliveiras.
     A imperatriz permaneceu algum tempo na Palestina, servindo ao Senhor com a oração e as obras de caridade. Cuidava dos doentes, libertava os cativos e dava alimento aos pobres, levando sempre em seu espírito, como exemplo, a imagem da Virgem Maria.
     Por muitos séculos a festa da descoberta da Santa Cruz foi celebrada em Jerusalém, e em muitos locais do mundo inteiro, no dia 3 de maio.

  

Beata Gertrudes de Altenberg, Abadessa premostratense - 13 de agosto

    
   Gertrudes veio ao mundo no dia 29 de setembro de 1227, algumas semanas após a morte de seu pai, Luís IV, Landgrave da Turíngia, na cruzada. Recebeu o nome de sua avó materna, Gertrudes da Merania, esposa do Rei André II da Hungria. Sua mãe, Santa Isabel de Hungria, ensinou-a a rezar e a ler desde pequena, recebendo assim uma profunda educação religiosa.
     Devido a conflitos familiares e sucessórios, após a morte de Luís IV os dois irmãos do falecido monarca afastaram a  Santa Isabel e tomaram à força a custódia de seu filho. Santa Isabel abandonou o palácio abraçando uma vida de pobreza e humildade, enviando Gertrudes, ainda menina, para o convento das monjas premostratenses junto a Wetzlar, em Altenberg.
     Isabel morreu poucos anos após o nascimento de Gertrudes; a comunidade de Altenberg lembrava-se sempre das suas visitas, ao longo das quais ela tinha costume de tricotar em companhia das irmãs.
     Com a idade de 8 anos Gertrudes foi conduzida a Marburg para assistir à canonização de sua própria mãe, em maio de 1235.
     Gertrudes nunca mais deixou o claustro e a partir de 1248 tornou-se abadessa com a idade de 21 anos, tendo ficado na direção da comunidade por 49 anos no total.
     Ela foi sempre uma religiosa obediente e comprometida com sua comunidade. Usando a herança deixada pelos pais, ela construiu a igreja abacial do mosteiro no mesmo estilo gótico de Marburg, dedicada a Virgem Maria e a São Miguel.
     Gertrudes edificou também um hospital e um asilo para os pobres junto ao mosteiro, seguindo o exemplo de sua mãe, que havia provado seu amor por Cristo colocando-se à disposição total dos pobres e doentes. Nos relatos da vida de Gertrudes conta-se que um dia cuidando dos doentes, ela teria declarado: "Como é bom poder servir ao Senhor!"
     Depois que o Papa Urbano IV renovou o chamado à cruzada, Gertrudes foi uma fervorosa advogada dessa causa. Com a ajuda de suas irmãs e de nobres damas, ela arrecadou uma soma necessária para pagar o equipamento das cruzadas.
     Outro fato importante da sua vida: a festa do Corpo e Sangue de Cristo foi expandida para toda a Igreja por uma bula do Papa Urbano IV, em 1264. Essa nova festa encontrou uma viva resistência por parte de alguns, não sendo comemorada durante 50 anos em muitos lugares, mesmo nos arredores de Roma. Entretanto, Gertrudes já havia introduzido a festividade em Altenberg por volta de 1270, sendo comemorada com grande solenidade. Gertrudes aparece como uma das primeiras superioras a introduzir essa festa eucarística.
     Ela dedicou-se durante toda a sua vida ao serviço dos pobres, e em particular dentro do hospital que havia construído no mosteiro. Ela tinha o dom de reconciliar as pessoas, para as quais ela suplicava a graça divina numa vida de penitência e mortificação.
     Após um longo período de enfermidade, no dia 13 de agosto de 1297 Gertrudes nasceu para o Céu. Foi sepultada na igreja conventual de Altenberg.
     A Beata se distinguiu pelo espírito de penitência e pelo dom de prever eventos futuros. Não muito depois de sua morte Clemente VI autorizou o seu culto público no cenóbio de Altenberg (1311). O seu culto foi definitivamente aprovado por Bento XIII em 1728, e enriquecido de indulgências. É celebrada no dia 13 de agosto.
Mosteiro de Altenberg

 

Martirológio Romano: No Mosteiro de Altenberg próximo de Wetzlar, na Alemanha, Beata Gertrudes, Abadessa da Ordem Premostratense, que ainda menina foi oferecida a Deus naquele local pela mãe, Santa Isabel, Rainha da Hungria.

Stas. Licínia, Leôncia, Ampélia e Flávia, Virgens - 3 de agosto



     As santas irmãs Licínia, Leôncia, Ampélia e Flávia constituíram um digno círculo em torno da figura e da obra do grande Santo de Vercelli, Santo Eusébio († 1° agosto 371), que com o seu célebre cenóbio formou e produziu tantas figuras santas, sobretudo de bispos, que honraram quase todas as dioceses da Itália setentrional com seus luminosos episcopados a partir da antiga diocese de Vercelli.
     Santo Eusébio fundou também um mosteiro feminino em Vercelli, colocando-o sob a direção de sua irmã, Santa Eusébia (comemorada em 15 de outubro), que foi a primeira superiora. Desde o início neste mosteiro floresceram santas figuras de monjas, entre as quais as quatro virgens de que falamos. A existência das virgens consagradas no tempo de Eusébio está documentada por alguns escritos do próprio Eusébio em sua segunda carta escrita em Scitópoli, às “Santas Irmãs” de Vercelli e às “Santas Virgens”.
     O mosteiro ficava próximo da catedral em que era bispo Santo Eusébio, notável pela sua austeridade e doutrina espiritual, e que com a irmã deu a este cenóbio as normas de vida ascética.
     As monjas deviam praticar jejuns, viver em austera pobreza, recolherem-se várias vezes ao dia e também à noite, cantar em coro os louvores ao Senhor, observar escrupulosamente a clausura, ocupar as horas livres no trabalho para atendimento das necessidades do mosteiro e cuidar também dos paramentos da catedral. No interior da catedral havia, nas naves laterais e no vestíbulo, um local onde as monjas podiam assistir aos ritos sagrados, associando-se às orações do povo.
     Além do nome da primeira superiora, Santa Eusébia, são conhecidos oito ou nove nomes de monjas conservados nas antigas inscrições que ornavam seus túmulos. É o caso das monjas Zenobia, Constança e das quatro irmãs que celebramos hoje. Elas foram objeto de culto na antiga liturgia eusebiana e eram invocadas com os santos daquela Igreja nas ladainhas.
     Uma inscrição métrica e acróstica ornava o sepulcro das quatro virgens e exaltava as suas virtudes com expressões cheias de admiração. Recentemente o mármore foi perdido, mas felizmente os trinta versos tinham sido transcritos e são atualmente a única fonte que temos sobre as santas.
     Daquela inscrição, no último verso tomamos conhecimento de que a sobrinha das santas virgens, Taurina, monja ela também e superiora, desejou colocar sobre o túmulo que guardava as tias todas juntas, o poema que foi composto provavelmente pelo bispo São Flaviano, já então aluno do cenóbio eusebiano e poeta que celebrava os méritos dos personagens mais dignos florescidos na Igreja de Vercelli.
     Característica singular deste poema é que as quatro irmãs não são nomeadas, mas no final do elogio o poeta adverte os leitores para o fato de que seus versos são acrósticos, isto é, as iniciais de cada verso lidas na ordem formam os nomes das pessoas a quem o poema é dedicado; assim, os nomes das santas irmãs são revelados lendo-se em seguida as primeiras letras dos 30 versos.
     No que se refere à época em que elas viveram, calculando a idade de sua sobrinha Taurina, que viveu uma geração depois e foi contemporânea de São Flaviano († 542), se pode calcular que elas viveram na segunda metade do século anterior, isto é, no século V, portanto cem anos depois da fundação do mosteiro. Por outro lado, seus nomes singularmente romanos indicam que elas viveram no período anterior às invasões bárbaras.
     Os versos do poema elogiam a piedade e a fé dos seus pais, que dedicaram ao Rei celeste tantas filhas no mosteiro eusebiano. O autor dedica especialmente sua inspiração poética à mãe das quatro irmãs, Maria, que as dera à luz e repousa na paz eterna iluminada pela luz dos quatro astros esplêndidos consagrados a Deus. O poema continua elogiando as virtudes das irmãs, que no mosteiro se assemelhavam às virgens da parábola, rezando e esperando a vinda do Esposo Divino.
     Sob o véu imposto sobre suas cabeças pelo bispo celebrante, as suas vidas transcorreram inocentes e ricas de boas obras. E os seus corpos, livres de todo sofrimento, jazem num único túmulo: tal foi o amor que as manteve unidas em vida que um só sepulcro as guarda e as conserva para veneração dos fieis.
     São Jerônimo, escrevendo a Inocêncio no ano de 370, conta de uma mulher condenada à morte pelo governador de Vercelli. Dada como morta, durante a sepultura reviveu e foi confiada aos cuidados de algumas virgens que a acolheram e cuidaram dela em sua casa até sua completa recuperação. Este é um testemunho precioso que documenta a obra de caridade das virgens eusebianas.
     Desde a metade do século VI desaparecem as notícias desta instituição e este silêncio deve-se às invasões dos Longobardos na Itália.
     O historiador M. A. Cusano, no Calendário Eusebiano por ele publicado, coloca as quatro santas no dia 3 de agosto. Suas relíquias estão na catedral de Vercelli e uma parte também na igreja da Casa Mãe da Congregação das Irmãs Filhas de Santo Eusébio, fundada em Vercelli no dia 29 de março de 1899 por Mons. Dario Bognetti e pela Irmã Eusébia Arrigoni, sob a inspiração da espiritualidade do milenar mosteiro eusebiano.
Etimologia: Licínia, do latim Licinius, do grego Likínnios. Talvez o mesmo que Licinus: “o que tem o cabelo levantado na testa”...
Leôncia: do grego Leóntios, do latim Leontius: “leonino(a)”.
Ampélia: do latim Ampelius, do grego Ámpelos: “vinhedo”.
Flávia: do latim Flavius: “louro(a), áureo(a), o(a) de cabelos louros”.
Fonte: www.santiebeati/it