Matilde era descendente do famoso guerreiro Vidukind, que havia chefiado os saxões na sua longa batalha contra Carlos Magno. Era filha do Conde de Thierry, grande da Saxônia, e de Rainilde, da real casa dinamarquesa. Nasceu na Vestefália por volta do ano 895 e foi educada pela avó, também de nome Matilde, abadessa de um convento de beneditinas em Herford. Com a avó aprendeu a ler, a escrever e estudou teologia e filosofia, fato pouco comum para as nobres da época, inclusive gostava de assuntos políticos. Constatamos nos registros da época que associada à brilhante inteligência estava uma impressionante beleza física e de alma.
Casou-se muito jovem com Henrique o Passarinheiro, Duque da Saxônia (919-936). Seu matrimônio foi excepcionalmente feliz: viveram 23 anos juntos e amando-se mutuamente. Ele a compreendia e a ajudava na caridosa assistência aos pobres. Tanto se recordava ela de seu esposo que, vivendo os últimos cinco anos como religiosa no Mosteiro de Northhausen, quis morrer no local onde ele fora sepultado 32 anos antes.
Seus filhos foram: Otão I, Imperador da Alemanha; Henrique, Duque da Baviera; São Bruno, Arcebispo da Baviera; Gernerga, esposa de um governante; e Edviges, mãe do famoso rei francês Hugo Capeto.
Logo após o nascimento do primogênito, Henrique sucedeu o pai e, em 919, quando o Rei Conrado da Alemanha morreu sem herdeiro, o sucedeu no trono alemão. Foi um reinado justo e feliz também para o povo. Segundo os relatos, muito dessa justiça recheada de bondade se deveu à rainha que desde o início mostrou-se extremamente generosa com os súditos pobres e doentes.
Enquanto ela assistia à população e erguia conventos, escolas e hospitais, o rei tornava a Alemanha líder da Europa, salvando-a da invasão dos húngaros, regularizando a situação de seu país com a Itália e a França, exercendo ainda domínio sobre os eslavos e dinamarqueses. Ele atribuía grande parte das suas vitórias às orações de sua santa esposa. Havia paz na nação, graças à rainha, e por isso, o rei podia se dedicar aos problemas externos, fortalecendo cada vez mais o seu reinado.
Após Henrique ser nomeado rei, Matilde, ao tornar-se rainha, não deixou seu modo humilde e piedoso de viver. No palácio real Matilde mais parecia uma boa mãe do que uma rainha, e em sua piedade se assemelhava mais a uma religiosa do que uma dama de corte. Os que a ela recorriam em busca de ajuda saiam sempre atendidos. Era extraordinariamente generosa nas esmolas aos pobres.
Quando Henrique morreu, ela ofereceu todas as jóias e brilhantes pela sua alma. À morte do esposo Matilde disse aos filhos: "Meus queridos filhos, gravai bem no vosso coração o temor de Deus. Ele é o Rei e Senhor verdadeiro que dá poder e dignidades perecíveis. Feliz aquele que prepara sua eterna salvação".
O sofrimento de Matilde começou após o falecimento do esposo. Antes de morrer, o rei indicara para o trono seu primogênito Otão, mas seu irmão Henrique queria o trono para si. As forças aliadas de cada um dos príncipes entraram em guerra, para desgosto de sua mãe. O exército do príncipe Henrique foi derrotado e Otão foi coroado rei assumindo o trono, e com o tempo veio a ser Imperador da Alemanha e Rei da Itália, tornando-se o primeiro soberano (962-973) do Sacro Império Romano-germânico. Henrique teve de contentar-se com o ducado da Baviera.
Em seguida, os filhos se voltaram contra a mãe: alegando que ela esbanjava os bens da coroa com a Igreja e os pobres, mas na realidade o motivo era político, tiraram toda sua fortuna e ordenando que deixasse a corte, aprisionaram-na no Convento de Engerm, na Vestefália. Nesse retiro ela recebeu graças notáveis; com serenidade respondia a príncipes e bispos que diante dela a lastimavam: "Eles são para mim instrumentos da vontade divina. Deus seja bendito e os abençoe".
Redobrou as orações intercedendo pelos seus amados filhos, até obter o seu arrependimento e reconciliação: Otão e Henrique se arrependeram do gesto terrível de ingratidão e devolveram à mãe tudo o que lhe pertencia. De posse dos seus bens, Matilde distribuiu tudo o que tinha para os pobres.
Ela fez construir igrejas, mosteiros, em particular o de Polden e o de Northhausen, e hospitais, onde ela mesma tratava das feridas dos doentes. Esteve ainda algum tempo na corte, tendo se retirado definitivamente nos mosteiros por ela fundados, especialmente no de Northhausen.
No final de 967, uma febre que a acometia há tempo se agravou, e Matilde, pressagiando a sua morte, mandou chamar Richburga, sua ex-dama de companhia e então abadessa de Northhausen, para explicar que ela devia partir para Quedlinburgo, local escolhido com seu esposo para sepultura de ambos. Em janeiro de 968, ela se transfere e seu sobrinho, Guilherme de Mogúncia, a visita para dar-lhe a absolvição e a extrema unção. Querendo recompensá-lo, ela lhe dá seu sudário, predizendo que ele precisará dele antes dela. De fato, Guilherme morreu doze dias antes dela.
A esposa de um rei, mãe de um imperador e de um duque, avó de Hugo Capeto, primeiro rei da França, morreu deitada num tecido áspero e tendo a cabeça coberta de cinzas, símbolo de seu desprezo a todas as vaidades do mundo. Morreu santamente, rodeada de seus filhos e de seus netos, aos 70 anos de idade, no dia 14 de março de 968, e foi sepultada ao lado do marido no convento de Quedlinburgo.
Logo foi venerada como Santa pelo povo que propagou rapidamente a fama de sua santidade por todo mundo católico do Ocidente ao Oriente. Especialmente na Alemanha, Itália e Mônaco ainda hoje sua festa, autorizada pela Igreja, é largamente celebrada no dia 14 de março.
De Santa Matilde descendem os reis de Portugal e a Família Imperial Brasileira.
Santa Matilde e a Devoção a Nossa Senhora
Diz Santa Matilde da Virgem Santíssima: "Devemos servir fielmente a essa Rainha. Nas angústias da agonia e nas tentações de desespero que o demônio nos proporcionar, Maria nos fortificará e virá em pessoa assistir-nos nos últimos momentos. E a nossa confiança não nos poderia fazer esperar que Maria nos venha naquela hora consolar com a sua presença, se lhe servimos com amor todo o resto da vida?"
Em uma visão, a Virgem Maria prometeu a Santa Matilde que concederia este precioso favor aos que A servissem fielmente neste mundo.
Iluminura medieval: Santa Matilde com Santo Hugo de Cluny
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