O Lírio de Himlaya
Petra nasceu em Himlaya, vilarejo do Metn setentrional, no dia 29 de junho de 1832. Era filha única de Mourad Saber al-Choboq al-Rayès e de Rafqa (Rebeca) Gemayel; foi batizada em 7 de julho de 1832 e recebeu o nome de Boutroussyeh (Petra). Os seus pais a ensinaram a amar a Deus e a rezar todos os dias.
Em 1839, quando tinha sete anos, perdeu sua mãe, à qual era muito apegada. Seu pai caiu então na pobreza, e em 1843 a enviou a Damasco, a serviço na casa de Asaad al-Badawi, de origem libanesa, onde permaneceu por quatro anos.
Petra voltou para a casa paterna em 1847 e descobriu que na sua ausência seu pai havia se casado de novo com uma senhora chamada Kafa. Ela, então com quinze anos, era bonita, sociável e de bom caráter, dotada de uma voz melodiosa e de uma religiosidade profunda e humilde.
Desde sua juventude, Petra sentiu um profundo amor por Cristo e à Eucaristia, por isso queria ingressar como noviça nas Irmãs de Maria, porém a forte influência daqueles que mais tarde seriam os Santos libaneses, os maronitas Charbel Makhlouf e Nimatullah Al-Hardini, levaram-na a entrar no mosteiro maronita de São José de Batroun, o que ocorreu em 1897, tomando o nome de Irmã Rafqa (Rebeca) em homenagem a sua mãe.
Em 1860, Irmã Rafqa foi transferida para Deir al-Qamar, para ensinar Catecismo aos jovens. Naquele período tiveram lugar os dramáticos acontecimentos que ensangüentaram o Líbano. Irmã Rafqa viu com os próprios olhos o martírio de um grande número de pessoas. Também teve a coragem de esconder um menino sob sua capa, salvando-o da morte. Ela permaneceu em Deir al-Qamar cerca de um ano.
No primeiro domingo de outubro de 1885, na igreja do mosteiro, durante a oração, ela suplicou a Deus que a fizesse participar de sua Paixão redentora. Seus rogos foram atendidos nessa mesma tarde: ela começou a sentir fortes dores de cabeça e pouco depois a dor se estendeu aos olhos. Todos os tratamentos foram inúteis e se decidiu mandá-la a Beirute para tentar outras opções.
Durante a viagem se deteve em Biblos, onde foi confiada a um médico americano que, depois de analisar seu caso, decidiu operá-la. Porém, durante a operação extraiu-lhe por erro o olho direito. A doença logo afetou o olho esquerdo. Então os médicos julgaram que qualquer tratamento seria inútil e Irmã Rafqa voltou para o seu mosteiro, onde a dor ocular a acompanhou por 12 anos. Suportou sua dor com paciência, em silêncio, em oração e com alegria, repetindo continuamente: "Em união com a Paixão de Cristo”.
Em 1897, um grupo de monjas do convento de São Simeão de Aitou se transferiu para o novo convento de São José de Ad-Daher. A Madre Úrsula, que ia ser a superiora da nova fundação, pediu que a Irmã Rafqa fosse incluída no grupo, para que seu exemplo junto as irmãs diminuísse as dificuldades que sempre existem em uma nova fundação.
A Irmã Rafqa passou os últimos dezessete anos de sua vida neste convento, que ia ser o cenário de seus maiores sofrimentos, bem como de suas alegrias mais espirituais.
Irmã Rafqa não decepcionou a Madre Úrsula. Seu exemplo e ajuda foram muito valiosos no estabelecimento do novo mosteiro. As noviças ficavam especialmente impressionadas com o espírito de oração da monja cega, além de sua humildade e caridade. Muitos anos depois de sua morte, várias das irmãs que, ou haviam chegado com ela na nova fundação, ou haviam sido noviças durante os dezessete anos que ela viveu em São José de Ad-Daher, não haviam esquecido o tempo vivido junto a ela e deram testemunho de sua santidade.
Só Deus sabe o muito que a Irmã Rafqa teve que suportar. Sua dor era contínua noite e dia, entretanto as outras irmãs nunca a ouviram murmurar ou se queixar. Com frequência a ouviam dar graças a Deus por seus sofrimentos, "...porque sei que a enfermidade que tenho é para o bem de minha alma e para Sua glória" e que "a enfermidade aceita com paciência e ação de graças purifica a alma como o fogo purifica o ouro". Estava sempre tranquila, sorridente, confiando no Senhor, pois Ele prometeu aumentar o deleite de seus servos fieis no céu (cf. Lucas 21:19).
A Irmã Rafqa se caracterizou também pelo amor que sentia pelos doentes e pelas crianças abandonadas, e orava por eles. Ela também ofereceu suas dores físicas em reparação pelos pecados de toda a humanidade, sobretudo de seu país.
A Santa adormeceu no Senhor em odor de santidade no dia 23 de março de 1914, depois de uma vida passada na oração, no serviço e no sofrimento da Cruz, confiando na intercessão de Maria SSma. e de São José. Foi sepultada no cemitério do mosteiro.
No dia 10 de julho de 1927, seus despojos mortais foram transferidos para um túmulo novo em um ângulo da igreja do mosteiro. A causa de sua beatificação foi introduzida em 23 de dezembro de 1925. Foi declarada venerável no dia 11 de fevereiro de 1982; beatificada em 17 de novembro de 1985 e canonizada em 10 de junho de 2001.
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