sábado, 16 de abril de 2011

Santa Bernadette Soubirous - Festejada 16 de abril

A tragédia da família Soubirous

     No meio das famílias pobres de Lourdes havia uma sobre a qual a inclemência dos flagelos se abateu com especial empenho: a de Francisco Soubirous, sua esposa Louise e seu quatro filhos: Bernadette, a mais velha, Marie, Jean-Marie e Justin.
     A desgraça atingira-os sem piedade. Francisco e Louise pertenciam a famílias de proprietários de moinhos de trigo. Esta condição não era apenas uma fonte de renda, mas um título de honra e preeminência no ambiente camponês de Lourdes. Mas, para eles tudo dera errado. A crise arruinou seus moinhos. As dívidas e maus negócios consumiram o resto. Caíram numa miséria tão funda que perderam até a casa onde moravam.
     Em desespero de causa, tiveram que se instalar numa antiga cela da prisão da cidade que fora desativada por falta de condições higiênicas. Ali vivia Santa Bernadette no tempo das aparições. É o famoso “cachot” (cela) onde hoje os peregrinos se recolhem em admirada contemplação como num local sagrado. Um modesto quartinho com uma lareira e uma minúscula pia. A única janela, ainda hoje fechada por grades carcerárias, dava para um curral pestilencial.


Santa Bernadette Soubirous

     Bernadette Soubirous, como vimos acima, pertencia a uma família pobre; durante vários anos lhe foi confiada a guarda de rebanhos; aprendia com dificuldade o catecismo: - Vai, nunca serás mais do que uma louca e uma ignorante, dizia seu catequista desesperado. E Bernadete, confusa e meiga, lhe testemunhava ainda mais ternura.
     Um pouco depois, a Santíssima Virgem lhe apareceu várias vezes, nas margens do Gave. Este privilégio não excita seu amor próprio.
     - Eu não sei, dizia ela, se a Santíssima Virgem me escolheu por ser a mais ignorante!
     E numa outra ocasião, acrescentava:
     - Que mérito posso ter? A Santíssima Virgem se serviu de mim como duma pedra… fez como os bois de Betarram, que descobriram uma estátua.
     Às três horas da tarde do dia 16 de abril de 1879, os olhos que tinham visto Maria Santíssima se fecharam para sempre. Ainda na agonia ouviram Bernadette dizer “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por mim, pobre pecadora”. Alguns momentos depois, soltou o último suspiro. Tinha pedido orações por si, ainda mesmo depois que falecesse.
     Uma imensa multidão assistiu ao seu funeral no dia 19 de abril de 1879, que foi necessário ser adiado por causa da grande afluência de gente totalmente inesperada.
     O documento mais significativo acerca das aparições e da própria Bernadette, é uma carta datada de 1862, onde Bernadette relata com clareza todo o ocorrido durante as dezoito visões. Somente parte da carta está disponível ao acesso público:


     Eu tinha ido com duas outras meninas na margem do rio Gave quando eu ouvi um som de sussurro. Olhei para as árvores e elas estavam paradas e o ruído não eram delas. Então eu olhei e vi uma caverna e uma senhora vestindo um lindo vestido branco com um cinto brilhante. No topo de cada pé havia uma rosa pálida da mesma cor das contas do rosário que ela segurava. Eu queria fazer o sinal da cruz, mas eu não conseguia e minha mão ficava para baixo. Aí a senhora fez o sinal da cruz ela mesma e na segunda tentativa eu consegui fazer o sinal da cruz embora minhas mãos tremessem. Então eu comecei a dizer o rosário enquanto ela movia as contas com os dedos sem mover os lábios. Quando eu terminei a Ave Maria, ela desapareceu.
     Eu perguntei às minhas duas companheiras se elas haviam notado algo e elas responderam que não haviam visto nada. Naturalmente elas queriam saber o que eu estava fazendo e eu disse a elas que tinha visto uma senhora com um lindo vestido branco, embora eu não soubesse quem era. Disse a elas para não dizer nada sobre o assunto porque iriam dizer que era coisa de criança.
     Voltei no domingo ao mesmo lugar sentindo que era chamada ali. Na terceira vez que fui a senhora reapareceu e falou comigo e me pediu para retornar todos os próximos 15 dias. Eu disse que viria e então ela disse para dizer aos padres para fazerem uma capela ali. Ela me disse também para tomar a água da fonte. Eu fui ao rio que era a única água que podia ver. Ela me fez realizar que não falava do rio Gave e sim de um pequeno fio d’água perto da caverna. Eu coloquei minhas mãos em concha e tentei pegar um pouco do liquido sem sucesso. Aí comecei a cavar com as mãos o chão para encontrar mais água e na quarta tentativa encontrei água suficiente para beber. A senhora desapareceu e fui para casa.
     Voltei todos os dias durante 15 dias e cada vez, exceto em uma Segunda e uma Sexta a Senhora apareceu e disse-me para olhar para a fonte e lavar-me nela e ver se os padres poderiam fazer uma capela ali. Disse ainda que eu deveria orar pela conversão dos pecadores. Perguntei a ela, várias vezes, o que queria dizer com isto, mas ela somente sorria. Uma vez finalmente, com os braços para frente, ela olhou para o céu e disse-me que era a Imaculada Conceição. Durante 15 dias ela me disse três segredos que não era para revelar a ninguém e até hoje não os revelei.

     Bernadette foi submetida a métodos de interrogatórios, constrangimentos e intimidações pelas autoridades civis que seriam inadmissíveis nos dias de hoje. Não obstante, nunca vacilou em afirmar com toda a convicção a autenticidade das aparições, o que fez até a sua morte.
     Para fugir à curiosidade geral, Bernadete refugiou-se como "pensionista indigente" no hospítal das Irmãs da Caridade de Nevers em Lourdes, em 1860. Ali recebe instrução e, em 1862, fez de próprio punho o primeiro relato escrito das aparições (acima).
     No dia 18 de janeiro de 1862, Mons. Bertrand Sévère Laurence, Bispo de Tarbes, reconheceu pública e oficialmente a realidade do fato das aparições.
     Em julho de 1866, Bernadette iniciou o seu noviciado no convento de Saint-Gildard e, em 30 de outubro de 1867, fez a profissão de religiosa da Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers. Dedicou-se à enfermagem até ficar imobilizada, em 1878, pela doença que lhe causou a morte.
     Desde 1858 até hoje, contínuas multidões se têm reunido em Lourdes, às vezes presididas por Papas ou seus Legados, e muito mais frequentemente por Bispos e Cardeais. Os milagres de curas são estudados com todo o rigor e só reconhecidos quando de todo certos. Mais numerosas são as curas de almas, embora mais dificeis de contar.
     Reduzida à sua expressão mais simples, poderiamos sintetizar desta forma a mensagem de Lourdes: A Virgem sem pecado, que vem socorrer os pecadores. E para isso propõe três meios: a fonte de águas vivas, a oração, a penitência.


Santa Bernadette, rogai por nós!


Fonte: Lourdes e suas aparições – ‘Santos de cada dia’, Pe. José Leite, S.J. 3ª. Edição.

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