segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Coroação de Nossa Senhora Rainha - 22 de agosto

     A festividade moderna, paralela a de Cristo Rei, foi instituída por Pio XII em 1955. Era celebrada no dia 31 de maio, como encerramento do mês dedicado a Ela. O dia 22 de agosto era dedicado ao Imaculado Coração de Maria, substituído pela festa da realeza de Maria.
     Na encíclica “Ad Coeli Reginam” de 11 de outubro de 1954, Pio XII explica o porquê do título de Rainha dado a Maria Ssma. Sendo Maria Mãe da Cabeça e dos membros do Corpo místico, é a augusta soberana e rainha da Igreja, que a torna participante não apenas da dignidade real de Jesus, mas também por seu poder santificante dos membros do Corpo místico.
     A palavra latina “regina”, como “rex”, deriva de “regere”, isto é, reger, governar, dominar. Do ponto de vista humano é difícil atribuir a Maria o papel de dominadora, Ela que se proclamou a Serva do Senhor e passou a vida humildemente escondida.
     Maria foi coroada com a dupla coroa da virgindade e da maternidade divina.
 
A Realeza de Nossa Senhora e o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria
    Nós sabemos que Nossa Senhora, de direito, é a rainha do céu e da terra. Ela o é de direito por duas razões: em primeiro lugar porque Ela é a Rainha-Mãe de toda a criação, Ela é Mãe de Deus e Ela tem, portanto, na criação, uma situação parecida com a que tem as rainhas-mães nos países de estrutura monárquica. Mas de outro lado também, porque Deus Nosso Senhor entregou a Nossa Senhora a regência efetiva do céu e da terra. Nossa Senhora manda sobre ao anjos - porque Ele entregou esse poder -, Nossa Senhora manda sobre todas as almas que estão no purgatório, Nossa Senhora manda sobre todos os homens que estão no mundo. Ela manda até sobre o inferno.
     Tudo está completa e inteiramente sujeito a Ela pela vontade de Deus. Uma rainha-mãe não é propriamente uma rainha reinante. Ela tem as honras da realeza, mas ela não é a rainha reinante. A Rainha Mary, da Inglaterra, por exemplo, é rainha-mãe. Ela foi rainha, esposa, ela nunca foi rainha reinante, ela nunca exerceu a realeza, ela teve as honras da realeza, foi esposa do Rei Jorge VI, depois faleceu o rei, a realeza passou para a filha dela, a Rainha Elisabeth II e ela passou a ser a rainha-mãe. Ela passou a vida inteira, portanto, cercada das honras da realeza, não portanto do mando da realeza....
    Nossa Senhora não é só a rainha-mãe porque é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Ela é rainha reinante porque Deus Nosso Senhor confiou a Ela esse poder.
     Esse poder que Ela tem, de direito, como é que ela exerce? Como Ela transforma em fatos esse poder de direito que Ela tem?
     No céu Ela exerce de dois modos: em primeiro lugar, porque Ela tem o direito de mandar e sendo todas as almas que estão no céu confirmadas em graça, elas não fazem senão a vontade de Deus. De maneira que é certíssimo que Nossa Senhora mandando nelas em nome de Deus, Nossa Senhora tem o direito de se impor a elas e elas obedecem.
     Mas é também verdade que ainda que Deus não tivesse mandado, elas quereriam obedecer a Nossa Senhora. E quereriam pelo extremo amor que elas têm a Nossa Senhora, pelo conhecimento que elas têm de todas as virtudes de Nossa Senhora, da superioridade de Nossa Senhora. Porque toda superioridade confere um mando, ainda que não houvesse essa ordem de Deus, eu estou certo que todos os anjos e todos os santos do céu pela expressão de uma leve, tênue vontade de Nossa Senhora, eles se moveriam todos nessa direção.
     E aí é um império que é o império de um coração sobre corações. Em que sentido isso? O coração é o órgão físico que é símbolo da mentalidade. Quer dizer, do modo pelo qual a pessoa vê as coisas, e do modo pelo qual quer as coisas. O Sapiencial e Imaculado Coração de Maria é uma expressão da mentalidade sapiencial e imaculada de Nossa Senhora. E exprime, entre outras coisas também, a sua bondade inefável, sua doçura inefável, sua misericórdia inesgotável. ...
     De Coração a coração, Nossa Senhora domina o céu e domina o purgatório, porque as almas que estão no purgatório também elas já não pecam mais. Também elas já estão garantidas de irem ao céu. Não há perigo de uma alma no purgatório, por exemplo, revoltar-se com os padecimentos extremos que no purgatório se sofrem. Por quê? Porque elas estão confirmadas em graça e elas vão para o céu. E por causa disso elas pensam como Nossa Senhora pensa, querem o que Nossa Senhora quer, vivem para Nossa Senhora.
     E por isso, quando Nossa Senhora de vez em quando aparece no purgatório, há para elas uma alegria sem nome. Elas todas cantam, satisfeitíssimas, de dentro de seus tormentos. E Ela leva sempre um número enorme de almas para o céu. E às que Ela não leva para o céu, Ela espalha em torno de Si como que um orvalho que diminui as penas, aumenta a esperança de chegar ao céu e alivia os padecimentos daquelas almas.
     Mas é também de Coração a coração que Nossa Senhora domina aquelas almas e reina. E não só pela vontade de Deus.
     Na terra, como é que são as coisas? Nós temos na terra a triste liberdade, que é de fato uma servidão, de não fazer a vontade de Deus. Em outros termos, nossas paixões nos arrastam. Elas são tiranas que nos levam muitas vezes a fazer o que nós não quereríamos, por pecado nosso. E elas nos dão, assim, a triste liberdade de dizer “não” para Deus.
     Uma triste liberdade que é uma escravidão, porque se nós fossemos livres em nossas paixões nós nunca diríamos “não” a Deus. Mas essas paixões existem. E nós temos que lutar contra elas. De maneira que, em última análise, há essa servidão nossa: as paixões. Só com a graça de Nossa Senhora nós conseguimos sacudi-las, conseguimos limitá-las e até extingui-las. Sem isso, nós seríamos escravos de nossos defeitos.
     E há na terra uma luta entre os que obedecem e os que não obedecem a Nossa Senhora. Nossa Senhora tem o direito de ser obedecida por todo o mundo. E nesse sentido, “de direito”, ela é rainha do mundo inteiro. Mas o mundo tem a possibilidade - se bem que não o direito - de desobedecer a Nossa Senhora. De onde um número enorme de pessoas que desobedecem a Nossa Senhora.
     Então, o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria como é que torna efetiva a sua autoridade jurídica e indiscutível sobre todo o mundo? Torna efetiva de uma forma muito simples: Nossa Senhora, pelo seu Coração, toca os corações, Ela toca as almas, e faz com que as almas recebendo graças muito abundantes, sigam a Ela. ...
     É claro que Nossa Senhora também manda nos maus. O demônio obedece, absolutamente. E por isso também muitas vezes na História acontecem coisas desconcertantes para os bons, ou para os que defendem o lado do bem, em última análise porque Nossa Senhora mandou. E neste sentido, Ela pode também mandar.
     Nossa Senhora tem um império de direito sobre todos, que às vezes Ela torna efetivo e ninguém pode resistir, mas que muitas vezes é efetivo não por um império dEla, mas pelo amor que Ela comunica às muitas almas. ...
     Eu tenho a certeza de que a festa de Nossa Senhora Rainha é a festa do Coração dEla. O que, aliás, está escrito em Fátima: Nossa Senhora disse “por fim o Meu Imaculado Coração triunfará”. Triunfar quer dizer reinar. O Coração de Nossa Senhora é um coração régio. Se eu pudesse representar o Imaculado Coração de Maria, eu gostaria de representá-lo encimado por uma coroa, para indicar bem o caráter régio do Coração Sapiencial e Imaculado de Maria. ...

Plínio Correa de Oliveira

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