sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Santa Adelaide, Imperatriz - Festejada 16 de dezembro

     Santa Adelaide foi uma maravilha de graça e de beleza, segundo escreveu Santo Odilon de Cluny, que foi seu diretor espiritual e seu biógrafo. Deus, que a reservava para grandes obras, tinha-a dotado de muitas qualidades; era instruída e cultíssima para o seu tempo.
     Filha de Rodolfo II, rei da Borgonha, nasceu em 931, casando-se aos 16 anos com Lotário II, rei da Itália. Este a fez muito infeliz. A filha desse casamento, Ema, seria mais tarde rainha da França.
     Seu marido morreu envenenado três anos mais tarde, segundo se crê, por seu rival Berengário II. Este se proclamou rei da Itália e ofereceu a mão de seu filho à viúva de sua vítima. Recusando-se Adelaide a fazer-lhe a vontade, Berengário apoderou-se de seus Estados e conservou-a presa no castelo de Garda. Ali sofreu os maiores ultrajes, mas ninguém conseguiu demovê-la.
     Conseguindo fugir de seu cárcere, dirigiu-se ao Castelo de Canossa, propriedade da Igreja. Dessa fortaleza inexpugnável, feudo da Igreja que não podia ser invadido por um soberano temporal, em agosto de 951 chamou em seu auxílio Otão I, rei da Germânia. Este atendeu ao seu apelo com um poderoso exército, derrotou Berengário e proclamou-se rei da Itália em Pavia. Como era viúvo, casou-se com Adelaide (Natal de 951). Tiveram cinco filhos, entre os quais Otão II, sucessor de seu pai.
     Dez anos mais tarde, chamado desta vez pelo Papa João XII (955-963), a quem tinham invadido os Estados, Otão retornou a Itália e expulsou o invasor. Em retribuição, recebeu a coroa imperial que tinha sido usada por Carlos Magno. Desta forma nasceu o Sacro Império Romano-germânico que durou mais de oito séculos (962-1805).
Sta. Adelaide e seu esposo Otão I
     Após a morte de seu esposo, Adelaide foi regente do Império durante a menoridade de seu filho Otão II, e, mais tarde, de 991 a 996, durante a menoridade de seu neto Otão III.
     Otão II (973-978) sucedeu seu pai e a princípio, influenciado pela esposa, revoltou-se contra sua mãe. Temendo pela vida, ela refugiou-se na Borgonha, junto a seu irmão Conrado. Foi então que conheceu os Santos Odilon e Maiolo da Abadia de Cluny. Ela espalhou benefícios pelos mosteiros franceses, e deve-se ao seu zelo a reconstrução do mosteiro de São Martinho de Tours destruído por um incêndio. Colaborou ativamente com o Santo Abade na expansão da reforma cluniacense(*) pelo mundo germânico.
     O Abade de Cluny interveio no conflito familiar: mãe e filho se encontram em Pavia; Otão II ajoelhou-se implorando o perdão materno.
     Voltando para a Alemanha, em agradecimento pela reconciliação obtida, Adelaide enviou presentes àquela Abadia por meio de um emissário, e, ao túmulo de São Martinho de Tours, o mais rico dos mantos usado por seu filho.
     Escreveu ela ao encarregado da missão: “Quando chegardes ao túmulo do glorioso São Martinho, dizei: Bispo de Deus, recebei estes humildes presentes de Adelaide, serva dos servos de Deus, pecadora por natureza e imperatriz pela graça de Deus. Recebei também este manto de Otão, seu filho único. E vós, que tivestes a glória de cobrir com vosso próprio manto Nosso Senhor, na pessoa de um pobre, orai por ele”.
     Há uma tal grandeza na simplicidade desse contraste de títulos, que mereceria ser o epitáfio dela; ficaria bem num vitral, debaixo da figura nobre, serena, forte dela a inscrição “Santa Adelaide, Imperatriz, pecadora por natureza, imperatriz pela graça de Deus”.
     Em 983, Otão II morreu, deixando como herdeiro o infante Otão III e regente a esposa, Teófana. A imperatriz, de origem bizantina, ainda era hostil à sogra, e Adelaide teve que deixar a corte novamente.
     Com a morte súbita de Teófana em 991, ela retornou e governou durante a menoridade do neto Otão III. Governou o Império com rara sabedoria, num período que foi para ela cheio de provas e sofrimentos. Na idade de sessenta anos, conta com os sábios conselhos de alguns Santos como Adalberto de Magdeburgo, Maiolo e Odilon de Cluny.
     Adelaide nutrira sempre uma grande capacidade de perdoar os inimigos. Os três últimos anos da vida ela os dedicou mais ativamente a promover o bem da Igreja e a ajudar os pobres. Fundou e restaurou mosteiros masculinos e femininos, sendo especialmente protetora de Peterlingen, São Salvador de Pavia e Seltz. Tentou converter os eslavos, cujos movimentos na fronteira perturbaram os últimos anos de sua vida.
     Pressentindo ter chegado o seu fim, Adelaide se fez transportar para o Mosteiro de Seltz, perto de Estrasburgo, para morrer e repousar junto ao túmulo de Otão I, o Grande, seu segundo marido. Morreu santamente a 16 de dezembro de 999. Foi canonizada pelo Papa Urbano II em 1097.
     Peçamos a Santa Adelaide esse espírito de fortaleza e, ao mesmo tempo, a prudência, a sagacidade, a capacidade de discernir, de dispor dos meios adequados para chegarmos aos fins que nós temos em vista.
   
(*) Cluniacense: relativo a célebre Abadia de Cluny, localizada na Borgonha, França, fundada no século X. Entre 926 e 1156, Cluny foi governada quase ininterruptamente por santos abades: Santos Odon (926-942), Maiolo (965-994) e outros. A Abadia exerceu profunda influência na Cristandade, inclusive além de suas fronteiras. O prestígio da ilustre Abadia perdurou até o século XII.

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