sábado, 21 de abril de 2012

Santa Senhorinha de Vieira, Abadessa Beneditina - Festa 22 de abril


     Nasceu no ano de 924, mais provavelmente em Vieira do Minho. Era a filha mais nova de Avulfo, Conde e Senhor de Vieira e de Basto, e de Da. Teresa, irmã do Conde Gonçalo Soares. Chamou-se primeiro Domitila, mas o pai, regressando já viúvo de guerras, começou a chamar à filha queridíssima sua senhorinha e este passou a ser o seu nome.
       Ficando órfã muito cedo, o pai confiou-a a Da. Godinha, tia materna da Santa, abadessa no Mosteiro de S. João, de Vieira do Minho, da Ordem de S. Bento.
       Narram velhos códices que Senhorinha, tão bem acompanhada, se exercitou desde a mais tenra idade em jejuns, cilícios e disciplinas, consumindo o melhor do seu tempo na oração e em ouvir a palavra de Deus. Resistiu com energia a um nobre pretendente para matrimônio, pessoa que encontrava em Avulfo o melhor apoio. Mas o pai compreendeu esses desejos de perfeição.
       Ela professou aos 15 anos, segundo os costumes monásticos peninsulares. E Avulfo doou à filha, para que se sustentassem, ela e as companheiras que aparecessem, os direitos que possuía, como padroeiro, nas igrejas de São João de Vieira, São Jorge de Basto e de Atei. Assim parece ter-se originado o Mosteiro de Vieira.
     Dizem-nos que a Santa lia assiduamente a regra do Convento, os escritos de Santo Ambrósio, a Vida dos Santos e, muito naturalmente, a Escritura Sagrada. Teve grandíssimos desejos de martírio, que a tia lhe fez compreender estar na observância monástica. Mas Godinha não durou muito e a sobrinha mandou dar-lhe honrosa sepultura na sua Igreja de São Jorge de Basto.
     E, para ocupar o seu lugar no governo do mosteiro, foi eleita Senhorinha. Teria então uns 36 anos de idade e aproximadamente 20 de professa. A partir desta data, falam os velhos textos de numerosos milagres seus: fazer que aparecesse o pão necessário, transformar água em vinho (ver os azulejos da Igreja de São Vítor em Braga, do séc. XVII), e outros prodígios ainda.
     Vivia então em Celanova (junto a Orense, na Galiza), onde fundara um notabilíssimo mosteiro, o ex-bispo de Dume. São Rosendo, primo de Santa Senhorinha. Era visitador e reformador dos mosteiros de todo o Minho e Douro. Como tal vinha de vez em quando a Vieira.
     Não se sabe porquê, Santa Senhorinha transferiu-se, com as suas religiosas, para a terra que hoje tem o nome da Santa, no município de Cabeceiras de Basto. Essa freguesia chamava-se então São Jorge de Basto. Nela, ao lado da atual igreja paroquial seiscentista, ainda se encontra o chamado campo da feira, em cujo subsolo se descobrem sinais do que deve ter sido o mosteiro.
     Gervásio, irmão da santa, levava vida mundana e por orações da Santa converteu-se e santificou-se. Senhorinha, segundo um testemunho igualmente antigo, teve conhecimento, ao rezar no coro, da entrada de São Rosendo no céu. Estando também a orar, ela ouviu uma voz que lhe dizia: "Vem, minha escolhida, porque desejou o Rei a tua beleza". Percebeu logo de que se tratava, pediu os sacramentos e exortou as religiosas a perseverarem no amor de Deus e do próximo.
     Deu a sua alma a Deus com 58 anos de idade, a 22 de abril do ano 982. Ficou sepultada na igreja do mosteiro, entre os túmulos da tia e do irmão: Santa Godinha e São Gervásio.
     Havendo por ela muita devoção, o Arcebispo de Braga, D. Paio Mendes (1118-1138), veio visitar o sepulcro da Santa em ordem à canonização, pois se dizia que ela  estava na sepultura "inteirinha, incorrupta, como que dormindo".
     Deslocara-se pois até à igreja onde se encontrava o venerado túmulo, e - diz a crónica - tendo convocado o povo, que acorrera em massa, dispunha-se a exumar o corpo santo, sepultado em campa rasa, junto do altar-mor, quando, inesperadamente, um homem cego de nascença começou a bradar: "Vejo as mãos do Arcebispo e vejo o Arcebispo".
     Grande alvoroço da multidão, espanto enorme do Prelado; interroga-se o miraculado que responde: "Eu fui sempre cego, desde o nascimento, senti uma mão que tocou nos meus olhos e agora vejo o Arcebispo e a sepultura de Santa Senhorinha".
     Desistiu então o Arcebispo de abrir a sepultura, crendo piamente na santidade de Senhorinha e na verdade dos milagres. Mas depois, no ano de 1130, mandou-o levantar da terra e apor-lhe uma inscrição que fala da virgem consagrada, Senhorinha, e dos seus milagres inumeráveis em vida e numerosos depois da morte.
     Constituiu esta lápide uma verdadeira canonização, que estava nessa altura nas atribuições dos bispos locais. Mais tarde o Papa Alexandre III (1159-1181) reservou as canonizações aos Papas.
     Com a visita e o epitáfio de D. Paio Mendes começou uma época de mais intensa devoção à Santa, com peregrinos de Portugal inteiro, da Galiza, de Leão, etc.
     D. Sancho I (1185-1211), vendo o filho e herdeiro D. Afonso em perigo de morte, veio a Santa Senhorinha (nome do lugar que sucedeu a S. Jorge de Basto) pedir a saúde dele e prometer, se obtivesse a graça, constituir um refúgio à volta da igreja; obteve-a e andou a pé a indicar o sítio dos marcos que D. Gonçalo Mendes, senhor da terra, mandou pôr.
     O rei D. Pedro I firmou, a 15 de setembro de 1360, a doação do padroado de Santa Maria de Basto, com os seus frutos e rendas, à Igreja de Santa Senhorinha, sob a condição, entre outras, de que este templo tivesse três lâmpadas com azeite, uma diante do crucifixo, outra diante do corpo de Santa Senhorinha e a terceira na capela em que jaz o corpo de São Gervásio. E explica o rei que esta capela foi mandada construir por D. Inês de Castro - terá sido entre 1340 e 1357. Conclui-se que, por essa altura, o túmulo de Santa Senhorinha estava no corpo da igreja.
     Apesar de só no século XVIII ter entrado o oficio litúrgico de Santa Senhorinha no Breviário Bracarense, deve datar do século XIII a introdução da festa da mesma nos calendários da Igreja ou de Ordens monásticas.
     A festa de Santa Senhorinha foi introduzida no Breviário Bracarense de D. Rodrigo de Moura Teles (1724). Temos indícios de que desta Santa se rezava liturgicamente em todo o país a 22 de abril até ao fim do século passado; assim em almanaques de 1854 e 1898. De Santa Godinha, fora da Diocese de Braga, nada se encontra; de São Gervásio rezou a Sé Patriarcal de Lisboa de 1322 até 1761, pelo menos.
     Com solenidade, celebrou-se em Santa Senhorinha de Basto o milenário da morte da Santa em 1982.

Um comentário:

  1. A casa que dizem ser aquela em que nasceu Santa Senhorinha é agora da minha família, junto à Igreja do Mosteiro, em Vieira do Minho. Sempre ouvi contar na família, porque era da tradição oral, que Santa Senhorinha foi para Basto , zangada com Vieira e que terá dito: «De Vieira, nem mulheres , nem vinho nem madeira». Conta-se que , estando ela em brincadeira com seu irmão Gervásio, uns pedreiros que trabalhavam na Igreja terão interpretado mal as intimidades dos dois e terão feito comentários maldosos, que eles ouviram, pois só dois campos separam a nossa casa da Igreja. Senhorinha não gostou do que ouviu e fez cair imediatamente, do alto da Igreja, o homem que a caluniara. Mas , antes de ele embater no chão, salvou-o. Terá feito, então, aqui, o seu primeiro milagre. Mas, desgostosa, resolveu sair de Vieira e amaldiçoá-la com a frase que citei atrás. Ao passar em Bucos parou para descansar junto de uma poça. Mas as rãs coaxavam tanto que não a deixavam dormir. Mandou-as calar e, parece, as rãs desse local ficaram mudas para sempre e nunca mais cantaram.Dizia-se que era verdade, que as rãs, em Bucos, não coaxam. Lendas, certamente.
    Quis só dar uma achega, porque no texto diz-se que não se sabe por que razão a Santa deixou Vieira e foi para Basto. Aqui está uma explicação que ouvi contar à minha avó, que nasceu por volta de 1890 e que sempre ouvira essa história.

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