segunda-feira, 23 de julho de 2012

Santa Cunegundes ou Kinga, Rainha da Polônia - Festa 24 de julho

     O esplendor da sua santidade não só não se extinguiu, como brilha ainda mais: não foi esquecida esta filha do rei húngaro, a Princesa de Malopolska, Fundadora e Monja do convento de Stary Sacz (Sandeck).
     Cunegundes ou Kinga nasceu na família real húngara da dinastia dos Arpádios. Era filha de Bela IV, Rei da Hungria, e de Teodora Laskarysa. Era irmã da Beata Iolanda e de Santa Margarida da Hungria.
     Desta estirpe real fervorosa nasceram grandes santos. Dela provêm Santo Estevão, o Padroeiro principal da Hungria, e seu filho Santo Américo. A família dos Arpádios conta também com santas mulheres: Santa Ladislava, Santa Isabel da Turíngia, sua tia, Santa Edviges da Silésia, Santa Inês de Praga.
     Cunegundes foi educada cristãmente na corte. Aos 16 anos casou-se com Boleslau IV, Rei da Polônia (1221-1279). A semente de santidade lançada no coração de Kinga na casa paterna encontrou na Polônia um terreno fértil onde se desenvolver.
     Em 1239, ela chegou a Wojnicz, e foi depois para Sandomierz. Kinga teve um vínculo cordial com a mãe do seu futuro esposo, Grzymislawa, e com a sua filha Salomé. Ambas distinguiam-se por uma profunda religiosidade, por uma vida ascética e pelo amor à oração, pela leitura da Sagrada Escritura e das vidas dos santos. A companhia cordial destas damas, especialmente nos primeiros e difíceis anos da sua permanência na Polônia, teve uma grande influência sobre Kinga. O ideal da santidade amadureceu sempre mais no seu coração.
     Buscando modelos a imitar, escolheu como especial padroeira sua santa parente, a princesa Santa Edviges da Silésia. Desejando dar à Polônia um santo que pudesse tornar-se um exemplo de amor à Pátria e à Igreja, juntamente com o Bispo de Cracóvia, Prandota de Bialaczew, e com o marido, empenhou-se na canonização do mártir da Cracóvia, D. Estanislau de Szczepanów, bispo assassinado em 1079, alcançando seu objetivo em 1253.
     Exerceram grande influência na sua espiritualidade São Jacinto, seu contemporâneo, o Beato Sadok, a Beata Bronislawa, a Beata Salomé, e todos aqueles que formaram um particular ambiente de fé na Cracóvia de então.
     Ela desejava consagrar-se a Deus de todo o coração mediante o voto de virgindade. Por isso, ao se casar com o príncipe Boleslau convenceu-o à participar de sua escolha por uma vida virginal para a glória de Deus e, depois de uma prova de dois anos, os esposos confiaram ao Bispo Prandota o voto de castidade perpétua. Boleslau mereceu assim o epíteto de o Casto.
     Este modo de vida, hoje difícil de ser compreendido, era profundamente arraigado na tradição da Igreja primitiva. Santa Kinga é um exemplo de que tanto o matrimônio como a virgindade vivida em união com Cristo, podem tornar-se uma via de santidade. O matrimônio é a via da santidade, até mesmo quando se torna o caminho da cruz.
     A santa rainha levava uma vida penitente e mortificada: visitava as igrejas desde a madrugada, a pé, enfrentando as intempéries; atendia os enfermos nos hospitais; usava cilício sob as vestes principescas. Ela fez-se terceira franciscana e usou publicamente o hábito da instituição.
     O convento de Clarissas de Stary Sacz, ao qual Santa Kinga deu início e onde concluiu a sua vida após o falecimento de seu esposo em 1279, testemunham ainda hoje como ela apreciava a castidade e a virgindade.
     Há ainda outra característica que a identifica: como princesa, ela soube ocupar-se das coisas de Deus também neste mundo. Ao lado do esposo participou no governo, demonstrando firmeza e coragem, generosidade e solicitude pelo bem do país e dos súditos. Durante as insurreições, na luta pelo poder num reino dividido em regiões e as devastadoras invasões dos Tártaros, Santa Kinga soube enfrentar as necessidades do momento.
     Esforçou-se zelosamente pela unidade da herança dos Piast e para reconstruir o país das ruínas não hesitou em doar tudo o que recebera em dote de seu pai para atingir esse objetivo. A ela se deve também o prodigioso descobrimento de sal-gema em Bochnia e de Wieliczka nos arredores de Cracóvia, resultado de sua preocupação pelas necessidades dos seus súditos.
     As suas antigas biografias testemunham que o povo a chamava de consoladora, médica, santa mãe. Renunciando à maternidade natural, tornou-se verdadeira mãe de muitos. O desenvolvimento cultural da nação também lhe é devedor: à sua pessoa e ao convento local está ligado o nascimento de verdadeiros monumentos da literatura, como o primeiro livro escrito em língua polaca: Zoltarz Dawidów - Saltério de David.
     Quando seu esposo faleceu, em 1279, foi-lhe pedido que tomasse o poder. Ela recusou e recolheu-se em Stary Sacz, onde viveu ainda 13 anos. "Venho para servir. Esquecei quem fui: só há de novo contar a comunidade uma irmã a mais", dissera ela ao entrar para o convento.
     Ela costumava lavar a louça, tratar das enfermas e varrer. Foi escolhida abadessa, pois dera bom exemplo em tudo: tratara a louça com benignidade, as enfermas com caridade e o pó com severidade. Atribuiu-se às suas orações a descoberta de água no interior do mosteiro, que antes devia ser trazida de fora. A sua bondade transpôs os muros do convento: ela construiu edifícios piedosos, foi benfeitora dos franciscanos e resgatou prisioneiros na Turquia.
     Em 1287 a Polônia foi invadida pelos tártaros. Cunegundes e as setenta Irmãs precisaram abandonar o mosteiro e refugiar-se no castelo de Pyiemin. Mas, os tártaros chegaram ao seu refúgio e as irmãs, assustadas, se lançaram aos pés de sua madre. Tal qual o milagre de Santa Clara em Assis, aqui também os invasores foram detidos por uma força invisível. Passado o perigo, algum tempo depois as irmãs voltaram ao mosteiro.
     Depois de um ano de enfermidade, confortada com aparição de São Francisco, Cunegundes morreu aos 68 anos a 24 de julho de 1292.
     A primeira biografia de Cunegundes, de autor anônimo, foi compilada na Cracóvia em 1401 e novamente elaborada em 1474. O Papa Alexandre VIII aprovou o seu culto em 1690.
     Santa Cunegundes, que iniciou com dedicação a unidade espiritual da Hungria, da República Tcheca, da Eslováquia e da Ucrânia, por um decreto da Sagrada Congregação dos Ritos de 1715, confirmado por Clemente XI, foi nomeada Patrona da Polônia e do Grão-ducado da Lituânia.
     Em 3 de julho de 1998 um milagre obtido por sua intercessão foi reconhecido, o que possibilitou a sua canonização. Em 16 de junho de 1999 João Paulo II a canonizou em Stary Sacz.


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