sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Santa Paula Isabel Cerioli, Viúva e Fundadora - 24 de dezembro

     
     Constança Cerioli nasceu em Soncino (Cremona, Itália), aos 28 de janeiro de 1816 e foi a última dos dezesseis filhos do nobre Francisco Cerioli e de sua esposa a Condessa Francisca Corniani, ricos fazendeiros, e ainda mais ricos pela vida cristã que testemunhavam na família e na sociedade. A recém-nascida foi logo batizada, em casa, pois corria risco de vida; superada a fase crítica, no dia 2 de fevereiro foi batizada na Igreja.
     Desde cedo teve que lidar com o sofrimento: o físico, pelo seu corpo frágil e não poucas vezes doente; o moral, vendo a miséria, na época muito presente entre as pessoas do campo, para as quais a mãe despertou cedo a atenção dela com verdadeira sabedoria cristã.
     Chegado o tempo da sua formação cultural e moral, como era costume então para as famílias nobres, foi enviada ao Mosteiro das Irmãs da Visitação em Alzano Maggiore (Bergamo), onde já tinha sido enviada a irmã e onde se encontrava a tia, Irmã Joana.
     Por quase cinco anos, a partir dos 11 até os 16 anos, Constança ficou naquele colégio recebendo a formação prevista para as filhas da nobreza. Depois da volta para a casa, a vontade dos pais, na qual ela sempre reconheceu a vontade do Deus, a levou, com 19 anos, ao casamento com Caetano Buzecchi-Tassis, de 58 anos, herdeiro dos Condes Tassis de Comonte de Seriate (Bergamo).
     No difícil casamento agiu como uma esposa dócil e cuidadosa. Teve a alegria de gerar quatro filhos, dos quais três morreram recém-nascidos e Carlos morreu com 16 anos. Poucos meses depois, em 1854, morria também o marido, deixando Constança sozinha e herdeira de um grande patrimônio.
     A perda do último filho e do marido foi para ela uma experiência dramática. Graças à ajuda de dois bispos de Bergamo, Mons. Luís Speranza e Mons. Alexandre Valsecchi, que a acompanharam espiritualmente, teve a força de se agarrar à fé. Deparou-se com o mistério da Mãe das Dores e se abriu, através de uma profunda vida de fé e de caridade ativa, ao valor da maternidade espiritual. Poucos meses depois de ter ficado viúva abriu o seu palácio para as meninas do campo abandonadas. Sua primeira ajudante, que ela considerava como sua mão direita, foi Luísa Corti. Por outro lado, havia os que a consideravam “louca”, ao que ela respondia: “É verdade que estou: tenho a loucura da cruz”.
     Em 1857, junto com seis companheiras fundou o Instituto das Irmãs da Sagrada Família e ao fazer os votos religiosos adotou o nome de Paula Isabel.
     Tendo enfrentado não poucas dificuldades, no dia 4 de novembro de 1863, realizava a sua mais profunda inspiração abrindo a primeira casa para a acolhida e a educação dos pobres filhos do campo, disponibilizando para isso a sua propriedade de Villacampagna (Cremona). O primeiro e fiel colaborador foi o Irmão João Capponi, natural de Leffe (Bergamo). Fundava assim os Institutos das Irmãs e dos Irmãos da Sagrada Família para o socorro material e a educação moral e religiosa da classe camponesa, na época a mais excluída e pobre.
     Foi uma feliz circunstância que aquela obra nascesse precisamente nas proximidades de Mântua, a cidade de Virgílio, da qual disse o poeta: O fortunatas nimium, sua si bona norint, agricola: "Se soubessem os venturosos camponeses a riqueza agrícola que têm aí!" Uma boa parte da vocação da Irmã Paula consistiu em dar a conhecer essa riqueza aos camponeses italianos os quais viviam em grande miséria.
     Escolheu a Sagrada Família como modelo, ajuda e conforto, querendo que as suas comunidades aprendessem dela como ser famílias cristãs acolhedoras, unidas no amor atuante, na fraternidade serena, na fé forte simples e confiante.
     Feliz por ter se tornado pobre com os pobres, Santa Paula Isabel faleceu em Comonte, na madrugada da véspera do Natal de 1865, enquanto dormia. Ela havia dado o nome de Sagrada Família à sua fundação por causa de sua profunda veneração por São José e não podia ter sido melhor data para sua morte que aquela vigília de Natal. Ao falecer, ela deixou aos cuidados da Providência o Instituto feminino já bem iniciado e a semente recém-jogada do Instituto masculino.
     A Bem-aventurada Paula Isabel viveu em tempos difíceis, nos meados do século XIX, quando as regiões da Lombardia e do Vêneto estavam sob o domínio do Império da Áustria, tempo de fortes contrastes pelas consequências do liberalismo e do nacionalismo como herança da Revolução Francesa.
     No centro de todo seu desejo e atividade a Santa teve sempre uma referência explícita a Deus Pai e ao seu Filho Jesus. Mas o desenvolvimento do seu testemunho espiritual foi marcado de maneira especial pela figura de Maria Mãe das Dores.
     Este mistério de Maria, que manifesta uma união total e profunda com o mistério de Jesus, que na sua vida terrena não excluiu a tentação e a cruz, para ela não foi só objeto de contemplação exterior: durante o ano de 1854 se tornou verdadeira iluminação que vivificou o destino de sua vida e de sua obra. “Ela confessou que uma vez, considerando as dores de Maria Santíssima e imaginando o momento em que Ela viu a morte do seu Divino Filho, sentiu um pressentimento tal e um tal aperto de coração, que angustiada se deixou cair sentada quase desmaiando. ‘Não sei’ — dizia depois — ‘como eu posso ter sobrevivido, frágil e provada como estava’".
     Foi assim que lentamente se sentiu levada a ter em si mesma as atitudes e as disposições que foram próprias de Maria e que o Filho agonizante, de maneira profética, a convidava a assimilar: «Mãe não chores, Deus te dará outros filhos».
     Destacou-se pela maternidade espiritual, a caridade concreta, a piedade, a absoluta confiança na Providência, o amor pela pobreza, a humildade e a simplicidade, e pela admirável submissão aos superiores (os bispos seus orientadores espirituais). Valorizou a dignidade e o papel da mulher na família e na sociedade.
     Criou colégios para órfãs e órfãos abandonados e sem futuro; instituiu escolas, cursos de doutrina cristã, exercícios espirituais, recreações festivas e assistência às enfermas. Vencendo dificuldades e incompreensões de todo tipo, quis dar início a uma instituição religiosa constituída por homens e mulheres que de alguma forma imitassem o modelo evangélico do mistério de Nazaré constituído por Maria e José que acolhem Jesus para doá-lo ao mundo.
     A Irmã Paula Isabel Cerioli foi beatificada em 1950, por Pio XII. Em 16 de maio de 2004 foi proclamada Santa por João Paulo II.

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