terça-feira, 26 de dezembro de 2017

A Imperatriz Sissi e o Natal dos pobres

     
     Em nenhum lugar o Natal era comemorado com tanto fervor quanto na corte austríaca. A véspera de Natal era uma festa dupla, como também era o aniversário de Elizabeth.
     Havia sempre duas árvores de Natal, uma no dia 23 de dezembro, que a pequena arquiduquesa decorava com as próprias mãos para uma centena de crianças pobres selecionadas dentre seus protegidos especiais, e uma no dia 24 para a família imperial. Os grandes abetos brilhando com nozes de prata e ouro, maçãs de bochechas rosadas, e miríades de pequenas luzes para iluminar os milhares de brinquedos bonitos, eram coisas para admirar.
     Às quatro horas da tarde do dia 23, a árvore das crianças pobres era iluminada no Rittersaal, a esplêndida galeria de teto alto e arqueado, onde havia vitrais, tapeçarias flamengas de valor incalculável, cortinas de veludo vermelho e grandes escudos de metal esmaltado, cobertos por finas esculturas. Cada quadro e espelho, cada uma das duas fileiras de sombrias armaduras que ficavam de cada lado do longo "Saal", eram enfeitados com visco e azevinho. Guirlandas de rosas de Natal e gotas de neve salpicavam as grinaldas de hera dispostas graciosamente em todos os cantos disponíveis. No piso da gigantesca lareira troncos aromáticos queimavam, acrescentando seu suave brilho às chamas deslumbrantes das velas na árvore de Natal.
      Quando os lacaios, em suas librés, abriam as portas e os pesados ​​pórticos, a tropa de crianças encasacadas, admitidas às delícias dignas do Paraíso, faziam uma reverência, mas sem timidez - pois sabiam que eram amadas lá e bem-vindas também - depois se aproximavam em fila: os meninos à direita e as meninas à esquerda.
     A Arquiduquesa Valéria era uma imagem encantadora de se ver enquanto avançava em direção a eles, um sorriso alegre em seus lábios e suas pequenas mãos cheias de pacotes enfeitados, como uma pequena fada pronta para distribuir seus pródigos presentes. Cada criança recebia roupas quentes, botas, bonés, lenços, lingerie de lã, luvas revestidas de peles e brinquedos, para não falar das guloseimas, como "Mutzerl", chamados de bombons de todos os tipos.
     As crianças felizes expressavam seu êxtase por meio de pulos e gritos de alegria, tão desinibidos como se estivessem em suas próprias casas e não dentro das paredes do palácio imperial. Quando o ruído diminuía um pouco, a Arquiduquesa invariavelmente pedia, como sua recompensa, para ouvi-los cantar o "Hino do Kaiser". Por um minuto todos ficavam quietos, então a grande melodia ondulava sob os tetos altos, as vozes infantis ressoavam como a canção de cem cotovias excitadas pela mera alegria de viver. Quando esses alegres sons mais uma vez se silenciavam, as portas do Rittersaal eram abertas, revelando um grande salão onde uma festa substanciosa fora preparada.  
   Ah! como todos esses olhos infantis se dilatavam de surpresa ao ver as longas mesas cobertas de enormes assados, carne de veado, ótimas ervas, perus trufados e enormes pilhas de sanduíches delicadamente cortados. Maravilhosos bolos cheios de frutas confeitadas, chuva de bombons em grandes conchas de prata, pirâmides de uvas e pêssegos, peras, laranjas e abacaxis, completavam este conjunto esplêndido, por cima do qual flutuavam os delicados aromas de chá, café, chocolate e caldo de legumes.
    Mais tarde, quando as crianças felizes se despediam, seus pequenos estômagos bem preenchidos e as pequenas mãos sobrecarregadas de presentes, Valéria tinha um outro dever, igualmente agradável para ela. O prefeito de Viena, quando o Natal era passado naquela metrópole austríaca em vez de Gödöllö, como sempre era o caso, era convocado para Hofburg e recebia um pequeno portfólio contendo a oferta de Natal do casal imperial para os hospitais da cidade, dez mil florins e uma pedido para frutas, charutos, papéis ilustrados e revistas, bem como uma quantidade de flores ...

Marguerite Cunliffe-Owen, The Martyrdom of an Empress (New York: Harper & Brothers, Publishers, 1902), pp. 86-88.
Short Stories on Honor, Chivalry, and the World of Nobility—no. 241


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