sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Santa Edith de Wilton, Princesa e Abadessa - 16 de setembro

     Muito do que sabemos sobre a vida de Edith foi documentado por seu hagiógrafo, Goscelin, quase um século após sua morte. Goscelin de Saint-Bertin foi um monge beneditino de origem flamenga e, por volta de 1080, escreveu a hagiografia de Edith. Sua 'Legend of Edith' consistia em duas partes: a Vita Edithe (sobre a vida de Edith) e a Translatio, que tratava dos eventos após sua morte. Diz-se que grande parte da informação na hagiografia de Edith foi obtida por Goscelin de histórias orais transmitidas pelas freiras da Abadia de Wilton.
     Os conventos anglo-saxões eram importantes centros de educação feminina que davam a suas habitantes – tanto as freiras quanto as leigas que lá foram educadas antes de se casarem – acesso a oportunidades de aprendizado. Isto é particularmente verdadeiro na Abadia de Wilton; o fato de Goscelin ter sido seu capelão e ter escrito obras em latim para elas, provavelmente por iniciativa das próprias freiras, atesta seu interesse pela história e sua participação ativa na produção de textos literários.
     Segundo seu biógrafo, Edith tinha um grande interesse pela moda e era conhecida por suas roupas finas. Goscelin escreveu sobre como Edith respondeu quando foi castigada pelo bispo por usar roupas elaboradas na igreja. As roupas também sobreviveram a um incêndio no mosteiro.
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     Edith de Wilton (também conhecida como Eadgyth, seu nome em inglês antigo, ou como Editha ou Ediva, a forma latina de seu nome), uma das santas mais veneradas da Inglaterra, era filha ilegítima do Rei Edgar da Inglaterra, o Pacífico, com Wulfrida, uma dama de nobre nascimento que o rei forçara a sair da Abadia de Wilton. Ele levou-a para Kemsing, próximo de Sevenoaks, onde Edith nasceu c. 961. Sob a direção de São Dunstan, Edgar fez penitência por este crime não usando sua coroa por sete anos.
     Assim que Wulfrida pode escapar de Edgar retornou para a Abadia de Wilton, levando consigo a pequena Edith, que foi educada pelas monjas da abadia; sua mãe se tornou religiosa e posteriormente abadessa. Na época, como parte da abadia, funcionava, em dependências anexas, uma escola para jovens.
     A jovem princesa aproveitou tão bem os exemplos e instruções dados por sua mãe que também se tornou religiosa no mesmo mosteiro. Ela realizava as tarefas de Marta aos olhos de todas as religiosas e externas, e as funções de Maira aos olhos de Nosso Senhor; pois, sem levar em conta a sua origem, Edith se dedicava aos mais humildes serviços da casa, assistia aos doentes e se fazia a serva dos estrangeiros e dos pobres. Para eles Edith fundou um hospital, perto de seu mosteiro, que sempre poderia acolher treze pessoas. Socorrendo com seus recursos e seus cuidados aqueles que ela sabia serem indigentes, ela procurava os aflitos para consolá-los e preferia conversar com os leprosos, abandonados por todo mundo, a conversar com os grandes príncipes do reino. Mais as pessoas eram enxotadas pelos outros devido às suas enfermidades, mais elas eram bem-vindas junto a Edith; numa palavra, ela era incomparável no seu zelo em prestar serviço ao próximo. Reprimia imediatamente todas as tentações de luxo e de grandeza. Tal foi a vida desta jovem princesa até a idade de quinze anos.
     Edith se tornou monja aos quinze anos, com o consentimento de seu pai. Ele ofereceu a ela o tornar-se abadessa de três importantes comunidades, mas ela preferiu permanecer com sua mãe em Wilton. Seu pai faleceu em 975.
     Em 978, Edith sonhou que havia perdido seu olho direito e acreditou que era um aviso sobre a morte de seu meio irmão o Rei Eduardo, o Mártir, que de fato foi assassinado naquela ocasião, quando visitava sua madrasta, a Rainha Alfreda, no Castelo de Corfe, em Dorset (*).
     Sua humildade apareceu muito mais quando Edith recusou a coroa da Inglaterra, pois após a morte de Santo Eduardo, que a Igreja honra como mártir, os senhores foram encontrá-la para apresentar-lhe o cetro, e deram-lhe todas as razões possíveis, tentando mesmo por meio de violência, obrigá-la a aceitá-lo. Ela resistiu-lhe o tempo todo generosamente, e teria sido mais fácil transformar os metais, diz seu historiador, a tirá-la de seu claustro, a fazê-la deixar a decisão que havia tomado de devotar toda a sua vida a Deus.
     Apesar de sua recusa a honras e poder, ela sempre se vestiu com magnificência. Quando censurada pelo bispo Etelwold de Winchester, ela respondeu que somente o julgamento de Deus era verdadeiro e infalível, Ele que vê através das aparências externas, acrescentando: “Porque o orgulho pode existir sob o manto da miséria, e uma mente pode ser tão pura sob estas vestimentas como sob suas peles esfarrapadas”.
     Ela construiu uma igreja em Wilton dedicada a São Dionísio. São Dunstan foi convidado para a sua dedicação e chorou muito durante a Missa. Quando lhe foi perguntado qual a razão, ele disse que era porque Edith iria morrer dentro de três semanas. Isto ficou provado quando ela faleceu em 15 de setembro de 984, e sugere que Edith sofria de uma doença fatal. Ela foi sepultada em Wilton, na nova igreja de São Dionísio.
     Edith era muito célebre por sua erudição, beleza e santidade, e alguns milagres foram constatados logo após a sua morte. Uma semana depois de sua morte, Edith apareceu gloriosa para sua mãe e disse-lhe que o demônio tentara acusá-la, mas que ela quebrara sua cabeça.
     Goscelin, monge beneditino que nos transmitiu a biografia de Santa Edith, relata que treze anos depois ela apareceu em visões a São Dunstan e outros, para contar-lhes que o seu corpo estava incorrupto no sepulcro. Ele conta que quando São Dunstan abriu o túmulo, na presença de sua mãe, seu corpo “exalava perfumes do Paraiso”. Entretanto, a data do evento é duvidosa, pois São Dunstan morreu somente quatro anos após Edith. Foi sugerido que Goscelin escolheu escrever a história de Edith associando São Dunstan à transladação de seus despojos.
     Após a exumação e o novo sepultamento, o túmulo de Edith tornou-se um importante relicário. Ela foi canonizada por iniciativa de seu irmão Etelred, e sua causa foi também apoiada por seu sobrinho Edmundo.
     Existem vários milagres associados a Edith após sua morte, incluindo a cura da condição ocular da abadessa Elgiva de Wilton (por volta de 1066) e a proteção milagrosa de Santa Edith do convento e suas posses contra intrusos. Também se diz que o rei Canuto duvidou que Edith fosse uma santa e exigiu que seu túmulo fosse aberto para que ele pudesse decidir por si mesmo. Para sua surpresa, o corpo de Edith se levantou e o atingiu. Ele ficou tão humilhado que generosamente dotou o convento com um santuário, que visitou ao passar por Wilton.
     Canuto, o Grande, era conhecido por sua devoção a ela. Goscelin relata que em uma ocasião, ao atravessar o Mar do Norte da Inglaterra para a Dinamarca com sua frota, Canuto foi surpreendido por uma terrível tempestade, e, temendo por sua vida, apelou para Edith. A tempestade acalmou e ao retornar para a Inglaterra Canuto visitou a Abadia de Wilton para agradecer seu salvamento “com presentes, e publicando este grande milagre com várias testemunhas”, encomendando um relicário de ouro para a Santa.
     Santa Edith tornou-se centro de culto em Wilton e também um importante santuário nacional. A comunidade de Wilton tomou-a como sua patrona, lembrando-se dela como uma nobre dama que se dedicou à sua proteção. Em seu livro Liber Confortatorius, Goscelin escreveu que frequentemente ele pensava em Edith e sentia sua presença.
     Tem-se a certeza da existência de três igrejas dedicadas a Santa Edith: uma em Baverstock, próximo de Wilton, outra em Bishop Wilton, Yorkshire, e a terceira em Limpley Stoke, Wiltshite.
     O selo de Edith sobrevive. Datado do período 975-984, ele contém um retrato dela de pé, com uma das mãos elevada e a outra segurando um livro. A inscrição a identifica como regalis adelpha, ou “irmã real”, uma referência ao seu status de monja e de irmã dos Reis Eduardo e Etelred. 
    
Várias igrejas foram dedicadas a Edith, incluindo a Igreja de Sta. Editha em Baverstock e a Igreja de Sta. Edith, Bishop Wilton (Yorkshire). Até onde sabemos, existem cerca de dezoito outras igrejas que também podem ter sido dedicadas a Santa Edith de Wilton, embora o número exato seja difícil de verificar. Além disso, em setembro de 2021, uma nova rota de peregrinação, St Edith of Wilton Way, foi lançada em sua homenagem. Ela se estende por 40 milhas de Wilton a Bath, e há várias igrejas com o nome dela na rota. Esta é talvez a melhor ilustração de como a memória de Edith vive no tempo e no lugar.
     Sua festa é celebrada no dia 16 de setembro.
 
Fontes: Goscelin, Life of St Edith (of Wilton), ed. Stephanie Hollis, Writing the Wilton Women: Goscelin’s Legend of Edith and Liber Confortatorius (Medieval Women Texts and Contexts 9; Turnhout: Brepols, 2004) O. S. B., St Editha of Wilton (Catholic Truth Society, 1903, 6th edition, 24 pp.)

(*) Após a morte do pai, Eduardo tornou-se historicamente Rei. Então com apenas 15 anos de idade, o jovem monarca continuou as políticas de seu pai, confiando em São Dunstan como conselheiro e dando-lhe total apoio em seus esforços para restaurar os mosteiros ingleses e a vida religiosa do povo em geral.
     Todavia, sua madrasta, Alfreda, desejosa de ver seu filho Etelred assumir o trono inglês, forjou uma aliança com membros da nobreza contrários às reformas religiosas e monásticas de São Dunstan. Portanto, de um lado encontravam-se a ex-rainha e seus aliados e, do outro, Rei Eduardo e seus conselheiros, entre os quais não somente São Dunstan mas também Oswaldo, Arcebispo de York e Bryhnoth, um nobre de Essex.
     No dia 18 de março de 979, os partidários do Príncipe Etelred finalmente decidiram agir. Convidado para a residência oficial do castelo de Corfe, em Dorset, onde o Príncipe Etelred e sua madrasta já se encontravam hospedados, o Rei Eduardo aproximou-se dos serviçais de Alfreda, que vieram recebê-lo alguns serviçais sacaram suas armas e um deles enterrou uma adaga no peito de Eduardo. Caindo da sela de seu cavalo, mas com o pé ainda preso ao estribo, o animal assustado, galopando em direção à floresta do castelo, arrastando pelo chão um rei mortalmente ferido a sangrar pelo caminho. Quando os homens do Rei finalmente conseguiram parar o cavalo, Eduardo já estava morto.
     Embora ninguém tenha sido declarado culpado pelo crime, o regicídio foi levado a público de uma maneira bem diferente. Pois naquele mesmo instante, os milagres começaram.
     Já naquela noite, uma senhora cega em cuja cabana o corpo do Rei Eduardo fora temporariamente depositado até ser movido para Wareham, de repente passou a enxergar. Em seguida, uma fonte começou a jorrar no túmulo do Rei Eduardo em Wareham, e inúmeros relatos dão conta de pessoas que foram milagrosamente curadas quando ali rezaram e se banharam. Como a santidade de Eduardo estava se tornando cada vez mais evidente, seu corpo foi transladado para o convento de Shaftesbury em 981. As curas continuaram mesmo durante a procissão.
     Nos 20 anos que se seguiram, o túmulo do Rei Eduardo foi objeto de intensas venerações e peregrinações. No dia 20 de junho de 1001, o Rei Etelred, ordenou que o corpo de Eduardo fosse transferido para um santuário no Mosteiro de Shaftesbury. No ano 1008, Alfege, Arcebispo de Canterbury, canonizou oficialmente Santo Eduardo, Rei e Mártir. De toda a Inglaterra, e até mesmo de outros países da Europa, peregrinos vinham venerar as relíquias de Santo Eduardo.
 
Postado neste blog em 15 de setembro de 2012
 
Fontes:
https://es.wikipedia.org/wiki/Edith_de_Wilton
http://hagiosdatrindade.blogspot.com/2010/09/santa-edite-de-wilton-religiosa.html
http://avidaintelectual.blogspot.com/2007/11/santo-eduardo-rei-e-mrtir.html

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