Antigo retrato da Santa (*) |
No ano de 1656, nasceu a pequena Tekakwitha, “a que põe as coisas em ordem”, e tempos depois seu irmãozinho. Tekakwitha tinha mais ou menos quatro anos quando uma epidemia de varíola exterminou muitos habitantes da aldeia, entre eles seus pais e irmão. A pequena sobreviveu, mas a doença deixou marcas em seu rosto, sua visão é afetada e sua saúde se ressentiria para sempre. Tendo ficado órfã, seu tio, o novo chefe da aldeia, a adotou.
Após a epidemia, a aldeia foi abandonada e os sobreviventes construíram um novo povoado chamado Caughnawaga, há umas cinco milhas de distância.
Embora sua mãe tivesse sido batizada, Tekakwitha não o fora, mas ela era católica no fundo da alma. Ela sentia muita solidão, em parte devido à sua pouca visão e à sua aparência, mas também porque percebia o que tinha de errado na vida dos Mohawks. Ela era uma criança doce e tímida. Ajudava suas tias a trabalhar no campo, onde cultivavam milho, feijão e abóbora; cuidava da tenda em que viviam. Apesar de sua visão deficiente, ela também se tornou muito hábil no trabalho com contas.
Talvez devido às marcas em seu rosto, ela não gostava de danças e celebrações. As torturas brutais de prisioneiros era algo em que toda a aldeia participava com entusiasmo, mas Tekakwitha não podia ver os sofrimentos impingidos às vítimas e permanecia sozinha em sua tenda.
Os Iroqueses foram vencidos pelos Franceses quando ela tinha em torno de dez anos. Um tratado de paz foi assinado, que permitia aos padres jesuítas a ida às aldeias Mohawks. Embora contra a oposição da sua tribo, da sua família e especialmente de seu tio, Tekakwitha com frequência encontrava-se com os padres que vinham à aldeia e aprendia tudo que podia sobre Deus.
No ano de 1670, a Missão de São Pedro foi estabelecida na aldeia Caughnawaga e uma capela foi construída em uma das tendas. Em 1674, o Padre James de Lamberville, jesuíta missionário, chegou a Caughnawaga para cuidar da Missão de São Pedro.
Tekakwitha compreendia apenas algumas coisas sobre a Fé pregada pelos missionários, mas havia nela um grande desejo de aprender tudo que pudesse sobre o Catolicismo. Ela desejava mais que tudo ser batizada e viver uma vida católica.
Seus tios têm outros planos para ela: frustrados por suas contínuas recusas ao casamento decidem enganá-la. Uma noite, eles pedem que ela vista suas melhores roupas, pois receberiam convidados. Eles chegaram: era um jovem e sua família. Os tios fazem-no sentar-se ao lado de Tekakwitha e ordenam que ela sirva sopa ao rapaz. Logo ela percebeu a trama: se ela oferecesse a ele a tigela, isto significaria que ela aceitava o casamento. Ela atirou a sopa no fogo e correu para fora da tenda em lágrimas, escondendo-se na plantação de milho até que os convidados tivessem partido.
Um dia, o Pe. de Lamberville, sabendo embora da hostilidade de seu tio, seguiu um forte impulso e foi visitá-la e ela revelou o seu grande desejo de ser batizada. Vendo a sinceridade da jovem, ele concordou em instrui-la. No dia 5 de abril de 1676, com a idade de vinte anos, Tekakwitha foi batizada na pequena capela da Missão, recebendo o nome de Catarina.
A família de Catarina não aceitou sua escolha e passou a tratá-la como uma escrava; ela se tornou objeto de crueldades por parte de seu povo. Quando ela ia para a capela ou para a fonte, as crianças atiravam lama e pedras nela. Certa vez, quando se encontrava sozinha na tenda, um homem entrou abruptamente, brandindo um grande porrete de guerra e, dirigindo-se a ela, ameaça-a com a morte caso não renuncie à religião dos Roupas Pretas (era assim que os índios designavam os missionários). Catarina responde que ela preferia morrer a desistir de sua fé. Vendo-a tão calma, com suas mãos cruzadas e sua cabeça curvada, o atacante subitamente perdeu a coragem, largou o porrete e fugiu da tenda.
Em virtude das hostilidades crescentes e porque ela desejava devotar sua vida a Deus, ela quer deixar Caughnawaga. Havia uma outra aldeia com o nome de Missão de São Francisco Xavier, em Sault St. Louis, próxima da colônia francesa de Montreal, uma missão jesuítica no Canadá para índios convertidos que como Catarina não tinham tranquilidade nem segurança em suas aldeias. Uma antiga amiga de sua mãe, Anastásia Tegonhatsiio, já tinha ido para lá, mas seu tio não a deixaria ir.
Em julho de 1677, o Pe. de Lamberville conseguiu que ela escapasse enquanto seu tio estava ausente numa viagem de negócios. Com ela foram mais duas pessoas.
A viagem a pé, de mais de dois meses, não foi muito fácil: além das 300 milhas por densas florestas, vales profundos, rios e pântanos, seu tio, ao saber da fuga estava ao seu encalço. Catarina e seus companheiros, entretanto, conseguem escapar. Quando eles chegam ao Lago George, chamado na língua de Catarina, Andiarocte, eles encontram uma canoa e atravessam os Lagos George e Champlain em direção ao Canadá. Finalmente eles chegam sãos e salvos na aldeia da Missão; Catarina corre para a capela para render graças a Deus.
Catarina recebeu a 1a Comunhão no Natal do ano de 1677. Foi o dia mais feliz de sua vida. Ela tem então um lema: “Quem pode dizer-me o que mais agrada a Deus, para que eu o faça?” Embora não soubesse nem ler nem escrever, ela se dedica a ajudar os outros. Tem uma vida plena de oração, penitência, devotada a ensinar os mais jovens, a cuidar dos doentes e dos mais idosos.
Era grande sua devoção à Mãe de Deus. Aprendeu rapidamente a Ladainha Lauretana de cor. Seu Rosário estava sempre à mão e Nossa Senhora era o seu modelo. A vida religiosa a atraia, mas os missionários negam-lhe permissão, pois ela só tem três anos de conversão.
A 25 de março de 1679, Catarina tornou-se Esposa de Cristo: após a Sagrada Comunhão ela fez voto de perpétua virgindade. Na mesma ocasião ela se ofereceu a Maria Ssma. como filha.
Catarina e Maria Teresa (Tegaiaguenta) tornaram-se grandes amigas e nesse ano de 1679 obtêm permissão para começar um pequeno convento na Missão.
Como resultado de tribulações e austeridades, algum tempo depois de ter feito os votos ela caiu doente. Em breve está tão fraca, que não pode visitar a capela ou deixar o leito. Durante meses ela suportou grandes dores e febre contínua, mas nunca perdeu sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo e em Sua Mãe Ssma.
Vitral na Notre Dame de Montreal, Canadá |
O Pe. Pierre Cholenec, um dos presentes no instante de sua morte, conta que, “no momento de sua morte, a face de Catarina, tão desfigurada em vida, quinze minutos após seu falecimento subitamente mudou e em instantes tornou-se tão bela, que assim que eu vi isto (eu estava rezando ao seu lado) eu dei um grito, fiquei tão aturdido, e mandei chamar o padre que estava atendendo as cerimônias da Quinta-feira Santa. Ao tomar conhecimento deste prodígio, ele acorreu com algumas pessoas que estavam com ele. Nós pudemos contemplar aquela maravilha até o momento de seu funeral. Eu admito francamente que meu primeiro pensamento, na ocasião, fora que Catarina podia ter entrado no Céu naquele instante e que ela tinha recebido – como por antecipação – em seu corpo virginal uma pequena indicação da glória que sua alma já teria possuído no Paraíso”.
A devoção por Catarina começou imediatamente. Antes de sua morte ela prometera, tal qual Santa Teresa de Lisieux, que se lembraria dos seus amigos da Terra e que os ajudaria do Céu. Ela logo cumpriu sua promessa: curas aconteciam quando ela era invocada ou quando se usava sua relíquia.
Catarina foi declarada Venerável a 3 de janeiro de 1943 pelo Papa Pio XII; foi beatificada por João Paulo II em junho de 1980. Catarina Tekakwitha foi a primeira americana nativa declarada bem-aventurada. Em 21 de outubro de 2012 foi canonizada pelo Papa Bento XVI.
Santuários dedicados a Santa Catarina Tekakwitha foram erigidos em São Francisco Xavier, Caughnawaga, em Auriesville e em muitos outros lugares. Milhares de fiéis peregrinam a esses locais até nossos dias.
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