segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Beata Eugênia Ravasco, Fundadora - 30 de dezembro

     Eugênia Ravasco nasceu em Milão no dia 4 de janeiro de 1845, terceira dos seis filhos do banqueiro genovês Francisco Mateus e da nobre senhora Carolina Mozzoni Frosconi. Foi batizada na Basílica de Santa Maria da Paixão e recebeu o nome de Eugênia Maria. A família rica e religiosa ofereceu-lhe um ambiente cheio de afetos, de fé e uma fina educação.
     Depois da morte prematura de dois filhinhos e também da perda da jovem esposa, o pai retornou a Gênova, levando consigo o primogênito Ambrósio e a última filha Elisa, com apenas um ano e meio. Eugênia ficou em Milão com a irmãzinha Constância, entregue aos cuidados da tia, Marieta Anselmi.
     No ano de 1852 se reuniu à sua família em Gênova. Após três anos, em março de 1855, morreu também seu pai. O tio, Luís Ravasco, banqueiro e cristão convicto, assumiu os seus sobrinhos órfãos. Providenciou a todos uma boa formação e confiou as duas irmãs a uma governanta qualificada. Eugênia, de caráter vivo e exuberante, sofreu muito com a maneira bastante severa usada pela Sra. Serra, mas também soube submeter-se docilmente.
     Em 21 de junho de 1855, com dez anos, recebeu a Primeira Comunhão e a Crisma na Igreja de Santo Ambrósio (hoje de Jesus) em Gênova, tendo sido preparada pelo Canônico Salvatore Magnasco. Daquele dia em diante se sentiu atraída pelo mistério da Presença Eucarística: quando passava diante de uma igreja entrava para adorar o Santíssimo Sacramento. O culto à Eucaristia, de fato, é o fundamento da sua espiritualidade, unido ao culto do Coração de Jesus e de Maria Imaculada.
     Movida pela grande compaixão que tinha em sua alma por aqueles que sofrem, desde sua adolescência se doou com amor generoso aos pobres e aos necessitados, contente de fazer algum sacrifício.
     Em dezembro de 1862, morreu o seu Tio Luís, que para ela era mais que um pai. Dele herdou não só a retidão moral, mas também a coerência cristã e a generosidade para com os pobres. Confiando em Deus e aconselhada pelo Canônico Salvatore Magnasco, futuro Arcebispo de Gênova, e de sábios advogados, ela assumiu a responsabilidade de administrar os bens da família, até então nas mãos de administradores nem sempre honestos.
     Fez de tudo, porém não pode salvar o seu irmão Ambrósio da estrada que o levava à ruína moral e física. Este foi dos seus sofrimentos o mais atroz e também uma grande prova para sua fé.
     Em 31 de maio de 1863, entrou na Igreja de Santa Sabina, em Gênova, para saudar Jesus Eucarístico. Através das palavras do sacerdote, que naquele momento falava aos fiéis, Eugênia recebeu o convite divino a “consagrar-se a fazer o bem por amor ao Coração de Jesus”. Este foi o evento que iluminou o seu futuro e lhe transformou a vida, consagrou sem reservas à glória de Deus todo o seu ser: a energia da mente e do coração e também o patrimônio herdado da sua família: “esta riqueza — repetia — não é minha, mas do Senhor, eu sou somente a administradora” (cfr.: Positio C.L, 70).
     Suportou com firmeza a reação dos parentes, as críticas e o desprezo dos senhores da sua condição social. Começou com coragem a fazer o bem ao redor de si. Ensinou o Catecismo na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, colaborou com as Filhas da Imaculada na Obra de Santa Dorotéia como assistente das crianças vizinhas. Abriu a sua casa para dar-lhes instrução religiosa e escola de costura e bordado. Com as damas de Santa Catarina de Portoria, assistiu aos doentes do Hospital de Pammatone. Visitou os pobres nas suas casas levando o conforto da sua caridade. Sentia grande dor especialmente ao ver tantas crianças e jovens abandonados a si mesmos, expostos a todos os perigos e sem conhecimento das coisas de Deus.
     Em 6 de dezembro de 1868, com 23 anos fundou a Congregação Religiosa das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria com a missão de fazer o bem à juventude. Assim, as escolas, o ensino do Catecismo, as associações e os Oratórios surgiram. O projeto educativo de Madre Ravasco era: educar os jovens e formá-los para uma vida cristã sólida, operosa, para que fossem “honestos cidadãos em meio à sociedade e santos no céu”.
     Em 1878, numa época de grande hostilidade à Igreja e de laicização social, Eugênia Ravasco, atenta às necessidades do seu tempo, abriu uma Escola Normal Feminina, com o objetivo de dar às jovens uma orientação cristã e de preparar professoras cristãs para a sociedade. Por esta obra, que tanto amava, enfrentou com fortaleza, confiando só em Deus, os ataques maldosos da imprensa contrária.
     Inflamada de ardente caridade, que lhe vinha do Coração de Jesus, e animada da vontade de ajudar o próximo na vida espiritual, de acordo com os párocos organizou exercícios espirituais, retiros, celebrações religiosas e missões populares. Sentia grande conforto ao ver tantos corações voltarem para Deus e fazerem experiência da sua misericórdia através da oração, do canto sacro e dos Sacramentos. Rezava: “Coração de Jesus, concede-me fazer este bem e nenhum outro em toda parte”.
     Estendeu o olhar à missão Ad Gentes, um projeto que se realizou após sua morte. Promoveu o culto ao Coração de Jesus, à Eucaristia e ao Coração Imaculado de Maria. Abriu Associações para as mães de família do povo e para as aristocratas; a estas últimas propôs que ajudassem as jovens necessitadas e as igrejas pobres. Com sua caridade aproximou os moribundos e os encarcerados afastados da Igreja. Viveu de fé, de oração, de sofrimento e de abandono à vontade de Deus.
     Em 1884, junto com outras Irmãs, Eugênia Ravasco fez a Profissão Perpétua. Continuou a interessar-se pelo desenvolvimento e consolidação do Instituto que foi aprovado pela Igreja Diocesana em 1882, e seria de Direito Pontifício em 1909.
     Abriu algumas casas que por ela foram visitadas, não obstante a sua pouca saúde. Guiou a sua comunidade com amor, prudência e visão de futuro. Considerando-se a última entre as Irmãs, empenhou-se para manter acesa em suas filhas a chama da caridade e do zelo pela salvação do mundo, propondo-lhes como modelo os Corações Santíssimos de Jesus e de Maria. O seu ideal apostólico foi: “Arder de desejo pelo bem dos outros, especialmente da juventude”, o seu empenho de vida: “Viver abandonada em Deus e nos braços de Maria Imaculada”.
     Purificada com a prova da doença, da incompreensão e do isolamento dentro da comunidade, Eugênia Ravasco não deixou jamais de trabalhar.
     Em 1898, fundou a Associação de Santa Zita para as jovens operárias. Ao mesmo tempo construiu o “teatrinho”, para os momentos de lazer dos jovens do Oratório e das numerosas Associações do Instituto.
     Madre Eugênia morreu em Gênova, com 55 anos, na Casa Mãe do Instituto, na manhã de 30 de dezembro de 1900. “Deixo-vos todas no Coração de Jesus”, foi sua saudação final às filhas e às caríssimas jovens.
     Em 1948, sua Eminência José Siri, Arcebispo de Gênova, introduziu o Processo Diocesano. Em 5 de julho de 2002, João Paulo II firmou o Decreto de Aprovação da cura da menina Eilen Jiménez Cardozo, de Cochabamba, na Bolívia, alcançada pela intercessão de Madre Eugênia Ravasco. E em 27 de abril de 2003, Madre Eugênia foi beatificada na Praça de São Pedro em Roma.

Fonte: www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20030427_ravasco_po.html

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Isabel, a Libertadora

      Isabel I, apelidada de "Isabel, a Católica", foi a Rainha de Castela e Leão de 1474 até sua morte, além de Rainha Consorte de Aragão a partir de 1479 e Imperatriz titular do Império Bizantino de 1502 até sua morte. Era filha do rei João II e sua esposa Isabel de Portugal.
     Isabel nasceu em 22 de novembro de 1451, em Madrigal de Altas Torres e faleceu em 26 de novembro de 1504, em Medina del Campo.
     A Rainha Isabel de Castela e Leão - patrocinadora da descoberta das Américas por Cristóvão Colombo - é conhecida na História como "Isabel, a Católica", mas também pode ser vista como "Isabel, a Libertadora".
     Durante a guerra de dez anos para reconquistar o Reino de Granada e reintegrá-lo à Espanha católica, ela libertou milhares de cativos católicos reduzidos à mais dura escravidão por seus senhores muçulmanos. À medida que as tropas da virtuosa rainha invadiam as muralhas de cidade após cidade muçulmana, as masmorras internas despejavam uma verdadeira seção transversal da sociedade castelhana escravizada: nobres; senhoras; clero; cavaleiros; religiosos; comerciantes; camponeses; homens, mulheres e crianças.
     Todos os que foram capturados pelos muçulmanos em suas cruéis razias foram levados como gado de volta ao reino de Granada e vendidos como escravos no mercado aberto. Qualquer um que não fosse capaz de se resgatar estava condenado a uma vida que parecia pior do que a morte. Infelizmente, e para pôr fim às suas torturas e sofrimentos, muitos se desesperaram e apostataram da fé católica, submetendo-se ao Islã. A tentação de fazer isso era tão forte e a sorte dos cativos tão lamentável, que Deus inspirou São Pedro Nolasco a fundar os Mercedários em 1218 - uma ordem religiosa dedicada à redenção dos cativos que corriam o risco de perder a Fé. Embora essa ordem digna tenha crescido imensamente e feito muito bem nos séculos seguintes, milhares e milhares de católicos ainda definhavam na escravidão muçulmana quando a guerra pela reconquista de Granada começou em dezembro de 1481.
     Nos dez anos seguintes, até a queda da capital Granada em janeiro de 1492, os cativos cristãos foram libertados da escravidão a cada vitória espanhola. Milhares desses ex-escravos católicos seguiram o exemplo do leproso samaritano curado e seguiram para onde quer que a Rainha Isabel estivesse para agradecer a soberana de joelhos por sua liberdade recuperada. Ela ordenou que suas tropas derrubassem suas correntes, que ela então ordenou serem penduradas do lado de fora dos muros do Mosteiro de São João dos Reis, que ela construiu em Toledo em ação de graças a Deus por sua vitória nas guerras que ela foi forçada a lutar para garantir seus direitos à Coroa no início de seu ilustre reinado. Hoje, mais de 500 anos depois, muitas dessas correntes antigas ainda podem ser vistas onde foram penduradas pela primeira vez em gratidão silenciosa e homenagem ao heroísmo e caridade das Cruzadas de uma rainha verdadeiramente católica.



Foto de San Juan de los Reyes, Toledo, Espanha por MRMaeyaert. Penduradas nas paredes externas estão as algemas usadas pelos católicos presos pelos muçulmanos.

Contos sobre honra, cavalaria e o mundo da nobreza - nº 459
Isabella, a Libertadora - Nobreza e Elites Tradicionais Análogas

Soror Josefa Menéndez e as Mensagens do Coração de Jesus

 
   Nasceu em Madrid, em 4 de fevereiro de 1890. Ainda muito jovem entrou para a Sociedade do Sagrado Coração, na França, onde muito cedo foi objeto das revelações do Divino Mestre. Teve uma vida breve, faleceu em 1923, aos 33 anos de idade. E em 30 de novembro de 1948, foi iniciado seu processo de beatificação. 
      Dez anos antes de se instaurar o processo, o Cardeal Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII, deu a conhecer ao mundo um livro escrito pela Irmã Josefa, intitulado “Apelo ao Amor”, que relatava as experiências místicas da religiosa durante sua breve vida.
     Nas revelações, encontramos em palavras pungentes a manifestação do amor infinito e aparentemente incompreensível de Deus que se entregou por nós. 
Belíssimas Colocações de Nosso Senhor Jesus Cristo…
     “Ah! Se as almas soubessem como as espero cheio de misericórdia! Sou o Amor dos amores! E não posso descansar senão perdoando!”
     “Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer à misericórdia e implorar perdão. Vosso Deus não consentirá que vossa alma seja presa do inferno”.
     “Estou sempre esperando com amor que as almas venham a Mim! Não desanimem! Venham! Atirem-se nos meus braços! Não tenham medo! Sou seu Pai!”. 
     Além das mensagens do Sagrado Coração, Josefa Menéndez teve também revelações sobre o Inferno, que Deus permitiu para nosso conhecimento e reflexão. É tão terrível a experiência desta alma privilegiada, mas ela sofreu para a salvação das almas, segundo vontade do Divino Redentor. 
Soror Josefa Menéndez e o juízo particular da alma religiosa
     A meditação desse dia, dia 22 de setembro de 1922, era sobre o Juízo Particular da alma religiosa.
     Minha alma não podia afastar esse pensamento, apesar da opressão que sentia. 
     De repente senti-me atada e acabrunhada com tal peso, que num instante percebi com mais claridade do que nunca o que é a santidade de Deus e como lhe aborrece o pecado.
     Vi como num relâmpago toda a minha vida diante de mim, desde a minha primeira confissão até o dia de hoje.
     Tudo estava presente: os meus pecados, as graças que recebi no dia de minha entrada em religião, minha tomada de hábito, meus votos, as leituras, os exercícios, os conselhos, as palavras, todos os socorros da vida religiosa, da vida de uma freira, os conselhos que me foram dados, as palavras que eu ouvi, todos os socorros para amar verdadeiramente a Igreja, a Nossa Senhora e a Deus, tudo esteve presente diante de mim em um só momento.
     Não há expressão que possa dizer a confusão terrível que a alma sente nessa hora: “agora é inútil, estou perdida para sempre”.
     Instantaneamente achei-me no Inferno, mas sem ter sido arrastada como das outras vezes. A alma lá se precipita por si mesma, como se desejasse desaparecer da vista de Deus para poder odiá-lo e amaldiçoá-lo.
     A minha alma deixou-se cair num abismo cujo fundo não se pode ver, pois é imenso. Imediatamente ouvi outras almas se regozijarem vendo-me nos meus tormentos.
     Ouvir aqueles horríveis gritos já é um martírio, mas creio que nada é comparável em dor à sede de maldição que se apodera da alma; e quanto mais maldiz, mais aumenta a sede.
     Nunca tinha experimentado aquilo; outrora a minha alma ficava cheia de dor diante daquelas horríveis blasfêmias, embora não pudesse produzir nenhum ato de amor. Mas hoje dava-se o contrário. Vi o Inferno como sempre: longos corredores, cavidades, fogo; ouvi as mesmas almas a gritar e a blasfemar.
     Pois como já escrevi, embora não se vejam as formas corporais, mantêm-se os tormentos como se os corpos estivessem presentes e as almas se reconhecessem. Gritavam: Olá, aqui estás como nós; éramos livres de fazer ou não fazer aqueles votos. Agora, agora... E maldiziam os seus próprios votos.
     Fui empurrada para aquele lixo inflamado e esmagada como que entre duas tábuas ardentes, e era como se pontas de ferro em brasa se me enfiassem no corpo.
     Senti como se quisesse, sem conseguir, arrancar minha língua, tormento que me reduzia a extremos de dor.
     Os olhos pareciam sair-me das órbitas. Creio que por causa do fogo que tanto os queimava.
     Não havia uma só unha que não sofresse horrivelmente. Não se pode nem mover o dedo para buscar alívio.
     Não se pode nem mover um dedo para buscar alívio, nem mudar de posição, o corpo fica como que achatado e dobrado pelo meio.
     Os ouvidos ficam acabrunhados com os tais gritos de confusão que não cessam um instante. Um cheiro nauseabundo e repugnante asfixia e invade tudo. É como se carne em putrefação estivesse queimando com piche e enxofre, mistura que não se pode comparar a coisa alguma no mundo dos vivos.
     Tudo senti como das outras vezes. E embora fossem horríveis esses tormentos, nada seriam se a alma não sofresse.  Mas sofre de maneira que não se pode descrever. Não posso explicar o que foi esse sofrimento, muito diferente dos que experimentei das outras vezes, pois se o tormento de uma alma no mundo é terrível, nada é em comparação com o de uma alma religiosa.
     Essa necessidade de odiar é uma sede que consome. Nem uma recordação que lhe possa dar o mais pequeno alívio.
     Um dos maiores tormentos, acrescenta Josefa, é a vergonha que a envolve. Parece que todas as almas danadas que a cercam lhe gritam sem cessar: "Que nós nos tenhamos perdido, nós que não tínhamos os mesmos socorros que tu, que há de extraordinário? Mas tu, que te faltava? Tu comias à mesa dos eleitos.
     Tudo o que estou escrevendo, conclui ela, não é senão uma sombra ao lado do que a alma sofre, pois não há palavras que possam exprimir tormento semelhante.
 
     Para entendermos os tormentos do Inferno, basta esta afirmação de Santo Afonso de Ligório: “O fogo da terra – e ele entende não o fogo de uma vela, que é em si mesmo o elemento fogo como tal, mesmo no que ele tem de mais ígneo, de mais combustível – é como um fogo de pintura em comparação com o fogo do Inferno".  
Reflexão: Quando vemos as horríveis blasfêmias, os pecados que são cometidos impunimente nos dias de hoje – sacrilégios, aborto, eutanásia etc. – quem de nós ousaria aproximar-se de Nossa Senhora, dizendo: "Minha Mãe, eu aprovei, ou fiquei indiferente a que pessoas próximas fizesse isto". A reação de Nossa Senhora, a repulsa dEla seria tal, que nós não ousaríamos olhá-la. Ora, por mais que Ela seja santa, Deus é infinito, e se a repulsa dEla é incomensurável, a de Deus é infinita.
     O mundo hoje é tão indiferente diante das ações a que nos referimos no parágrafo anterior, para não dizer complacente... Mas, segundo a Doutrina Católica, Deus odeia essas ações, Ele não é indiferente a elas. O olhar do homem indiferente pousa no pecado e não censura, mas o olhar de Deus pousa naquilo e execra e destina às chamas eternas do Inferno aquele que pecou, caso ele não se arrependa. 
   Na economia comum da graça, salvo os casos excepcionais, à medida que os homens vão pecando, insistindo no caminho do pecado, a possibilidade da misericórdia vai minguando. E quando há uma torrente de pecados cometidos numa cidade, num país, no mundo, o normal é que haja uma torrente de almas que caem no Inferno. Não queremos dizer com isso que cada pecador vai para o Inferno, mas queremos dizer que o número de pecadores que vão para o Inferno aumenta enormemente por causa do número de pecados.
     Lembremo-nos que Nossa Senhora em Fátima insistia sempre com as três crianças – Jacinta, Francisco e Lúcia – para que rezassem pelos pecadores. E a pequena Jacinta fazia muitos sacrifícios, extraordinários para sua idade, pelos pecadores. Mas é preciso que eles se convertam... Senão as orações destas almas santas serão inúteis!
     É bom lembrar que, assim como Deus atormenta no Inferno os precitos, Ele acaricia no Céu e inebria de carícias os seus eleitos; Ele fala aos seus eleitos e lhes diz coisas, e mostra de Si coisas que os deixariam ébrios de alegria, se no Céu pudesse haver ebriedade. É o afago contínuo, é a palavra de bem-aventurança, de afeto, a carícia incessante, sempre igual e sempre diversa, e que nunca termina. Ele disse de Si mesmo: "Eu serei eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande".

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Santa Odília (ou Otília) de Hohenburg, Fundadora e Abadessa – 13 de dezembro

 
    A vida de Santa Odília é conhecida graças a um texto anônimo escrito pouco antes do ano 950.
     No século VII a Alsácia fazia parte da Alemanha. Na época de Childerico II, havia na Alsácia um duque franco chamado Adalrico, 1º. Duque da Alsácia, casado com Beresinda, sobrinha de São Leodegário, Bispo de Autun. Eles viviam em Obernheim, nas montanhas do Vosges, cerca de 40 km ao sul de Strasburg, no sopé do Monte Hohenburg.
     O duque havia sido batizado a pouco e não era um cristão muito fervoroso, mas aprovava as obras de caridade feitas por sua esposa, uma cristã fervorosa. Eles esperavam um filho que assegurasse a sua descendência, mas, por volta do ano 660 nasceu-lhes uma filha... e cega! O pai encolerizado considerou tal nascimento uma desgraça e desonra para a família. A mãe tentou apaziguá-lo dizendo que era a vontade de Deus, que Ele devia ter seus desígnios, tudo em vão: o pai chegou a desejar que matassem a menina.
     Beresinda conseguiu finalmente dissuadi-lo desse crime, mas ele a fez prometer que levaria a criança para longe sem dizer a que família pertencia. Beresinda cumpriu a primeira parte da promessa, mas não a segunda, pois confiou a menina aos cuidados de uma ama que estivera a seu serviço e lhe disse que era sua filha. Beresinda providenciou a ida de toda a família da ama para o local que hoje é conhecido como Baume-le-Dames, próximo de Besançon, onde havia um convento em que a menina poderia educar-se mais tarde.
     Ali viveu ela até os doze anos sem ter sido batizada. Foi então que um anjo revelou a Santo Heraldo, Bispo de Regensburg, abade do mosteiro recém-fundado de Eberheim-Münster, que ele devia ir ao convento de Baume, aonde encontraria uma jovem cega de nascença. Ele devia batizá-la e dar-lhe o nome de Odília.
     Santo Heraldo foi consultar São Hidulfo em Moyenmoutier e, juntos, se dirigiram a Baume, onde fizeram o que tinha sido indicado na revelação. Depois de ungir a cabeça de Odília, Santo Heraldo passou o óleo do Crisma em seus olhos e ela recobrou a visão. No momento do batismo, o bispo Heraldo disse: "Que os teus olhos do corpo se abram, como foram abertos os teus olhos da alma". Odília deste momento em diante passou a enxergar e recebeu o dom da profecia. Tornando-se uma das maiores místicas católicas, com previsões que impressionam ainda hoje.
     Odília permaneceu no convento servindo a Deus. Entrementes, Santo Heraldo havia comunicado a Adalrico a cura de sua filha. O pai não se abrandou diante de tal milagre e proibiu o filho, Hugo, de ajudar a irmã. O milagre que Odília recebera e os progressos que fazia em seus estudos provocaram a inveja de algumas das religiosas que tornaram sua vida difícil. Odília, sabendo da existência de seu irmão, resolveu então escrever para ele e pedir-lhe ajuda. Hugo desobedeceu ao pai e mandou vir a irmã.
     Um dia em que Hugo e Adalrico estavam em uma colina dos arredores, Odília se apresentou em uma charrete, seguida por uma multidão. Quando Adalrico soube de quem se tratava, descarregou sua pesada espada sobre a cabeça de Hugo e o matou de um golpe. Os remorsos finalmente mudaram seu coração e começou a amar sua filha tanto quanto a havia odiado antes.
     Odília se fixou em Obernheim com algumas companheiras que se dedicavam como ela aos atos de piedade e às obras de caridade entre os pobres.
     Adalrico, convertido graças às orações da filha, deu a ela o castelo que possuía no Monte Hohenburg. Odília transformou-o em mosteiro e foi sua primeira abadessa.
     O Monte Hohenburg tem mais de 2.000 m de altura e fica próximo do vale do Reno. Como a montanha era muito escarpada e dificultava o acesso dos peregrinos, Santa Odília fundou outro convento, Niedermünster, um pouco mais abaixo, a 703 m, e edificou um hospital junto a ele para acolher pobres e leprosos. São João Batista lhe apareceu e indicou o local e as dimensões da capela que devia construir ali em sua honra.
     A regra adotada por Santa Odília foi a beneditina, o que sugere a influência de seu tio-avô, São Leodegário, grande apóstolo do monasticismo beneditino na região. Em apenas dez anos o mosteiro já abrigava 130 religiosas, entre as quais três filhas de Adelardo, outro irmão de Santa Odília. Estas sobrinhas foram: Santa Eugênia, sucessora de Santa Odília, Santa Atala, abadessa do mosteiro de Santo Estevão de Strasburg, e Santa Gundelinda.
     Odília governou os dois conventos e tornou-se popularíssima na Alsácia, na Lorena e na região de Baden. Conta-se que após a morte do pai Santa Odília soube, durante uma visão, que ele fora livre do Purgatório graças às suas orações e penitências.
     Uma Fonte de Santa Odília existe ainda hoje. Ela fica fora do mosteiro, e, segundo a tradição, Santa Odília a fez surgir tocando a rocha com o cordão de seu hábito. Ela voltava da costumeira visita aos doentes, quando encontrou um homem cego que lhe pediu água. Como ela não tivesse água à mão, fez o milagre. E o homem ficou curado da cegueira. Muitas outras visões da Santa são narradas e numerosos milagres lhe são atribuídos.
     Depois de governar o mosteiro durante muitos anos, Santa Odília morreu no dia 13 de dezembro de 720, deitada sobre uma pele de urso. Como Santa Odília não pudera receber o Santo Viático, as prementes orações de suas irmãs de hábito alcançaram a graça dela recobrar a vida. Após descrever as belezas do Céu para elas e receber o Viático, a Santa morreu novamente e foi sepultada na Igreja do mosteiro.
     As suas fundações são mencionadas pela primeira vez em 783, numa doação feita para a abadessa da época. Carlos Magno garantiu imunidade às fundações de Santa Odília, o que foi confirmado em 9 de março de 837 por Luís, o Pio (Böhmer-Mühlbacher, "Regesta Imperii", I, 866, 933). 
   A Igreja de São João Batista e o túmulo da Santa foram mencionados pela primeira vez pelo Papa Leão IX em 17 de dezembro de 1050. O Imperador Frederico I mandou restaurar a igreja e o mosteiro. A Abadessa Relinde estabeleceu ali uma escola para as filhas da nobreza. Uma outra abadessa, Herrade de Landsberg (1167-1195) tornou-se a famosa autora de um importante trabalho teológico chamado Hortus Deliciarum (Paradiesgarten). Em 1546, Niedermünster foi destruído num incêndio, e as religiosas não mais retornaram
     Algumas relíquias da Santa foram transferidas para outros locais. O Imperador Carlos IV, por exemplo, recebeu o braço direito em 4 de maio de 1353, relíquia que hoje se encontra em Praga. Outras relíquias, que ficaram no mosteiro primitivo, foram salvas da Revolução Francesa - inclusive o sarcófago, que recebeu posteriormente um revestimento de mármore - e foram colocadas sob o altar em 1842. As relíquias que foram levadas para Einsiedeln no século XVII foram destruídas pela Revolução.
     Seu túmulo é venerado e ainda hoje milhares de peregrinos a procuram e lhe prestam culto. O Monte Santa Odília é o local da Alsácia mais frequentado pelos católicos. Todos os imperadores alemães, desde Carlos Magno, a homenagearam. Até o Papa Leão IX e o Rei Ricardo I da Inglaterra foram visitar seu túmulo.
     Santa Odília foi designada patrona da Alsácia em 1807 pelo Papa Pio VII. Ela é também patrona de Strasburg e é invocada e muito venerada como protetora dos doentes da visão, dos cegos e dos médicos oftalmologistas. É venerada também na diocese de Mônaco, Meissen e nas abadias beneditinas femininas da Áustria.
     Os mosteiros e os hospitais fundados por ela foram entregues aos monges beneditinos, que mantiveram a finalidade inicial dada por Santa Otília: a assistência aos pobres e doentes incuráveis. 
     Santa Odília é festejada no dia de sua morte, 13 de dezembro. No Monte Santa Odília ela é celebrada no dia do aniversário da transladação de suas relíquias, ocorrida em 7 de julho de 1842.
     Desde o século XV, a Baviera e a Alsácia adotaram a versão Otília de seu nome.

Etimologia: O nome Odília significa “rica”, “proprietária”, “poderosa”. É o mesmo que Odália e Odélia, que vêm do germânico Odelia, derivado a partir da raiz od, ot, elementos que dão ideia de bens, posses, riquezas. Com outros nomes vindos da mesma raiz, Odília tem o mesmo significado de Otília e Odete.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Odília_da_Alsácia
https://santosesantasdedeus.blogspot.com/2012/12/13-de-dezembro-dia-de-santa-otilia-ou.html
http://saintsresource.com/odilia-of-alsace
http://www.paulinas.org.br/

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Beata Maria Clementina Anuarite Nengapeta, a Sta. Inês africana – 1º dezembro

 

A 1ª mulher bantu a ser elevada aos altares da Igreja Católica

     Anuarite Nengapeta nasceu no dia 29 de dezembro de 1939. Era a quarta das seis filhas de Amisi e Isude. A família de pagãos africanos da etnia Wadubu vivia na periferia de Wamba, no Congo. Ao ser batizada em 1943, acrescentaram-lhe o nome Afonsina. Na ocasião, também receberam esse sacramento sua mãe e quatro irmãs. A mais velha nunca abraçou a doutrina católica. Seu pai até começou a preparar-se para a conversão, mas depois desistiu, pois formou outra família enquanto trabalhava como soldado do exército congolês.
     Aqueles que a conheceram em sua aldeia dizem que ela era uma criança alegre, vivaz e dedicada. Eles lembram que em Wamba, onde frequentou a escola primária, ela tinha o hábito de visitar os pobres e os doentes. O nervosismo, porém, era o ponto fraco do seu caráter. Era muito sensível e instável. Gostava de frequentar a igreja, ia à missa aos domingos com a mãe e as irmãs. Em seguida, ficava estudando o catecismo para poder receber a primeira comunhão, que ocorreu em 1948.
     Como era comum entre as crianças africanas, ela começou ainda muito jovem ajudando seus pais em casa: tirando água do poço, juntando lenha e cozinhando algumas coisas no fogão. Como seus companheiros da mesma idade, ela temia as cobras que encontrava no caminho para o poço e gostava de brincar com cachorros e cabras na aldeia. Ela era uma típica criança africana.
      Desde criança Anuarite sabia bem o que queria: certo dia, na escola primária, durante a recreação, aproximou-se da professora e disse-lhe: “Quero o trabalho de Deus”. Dito e feito: não só levou a cabo este trabalho, mas levou-o em frente até o fim, dando a sua vida por Cristo.
     Mas Afonsina Anuarite era extraordinariamente inteligente. Por causa disso, depois de deixar o ensino fundamental, ela foi para o ensino médio em Bafwabaka. Iniciou os seus estudos e diplomou-se no colégio das Irmãs do Menino Jesus de Nivelles, missionárias na África.  
     Em 1957, ingressou na Congregação da Sagrada Família. Foi aceita e durante o noviciado teve como orientador espiritual o Bispo de Wamba. Em 1959, diplomou-se professora, vestiu o hábito e emitiu os votos definitivos, tomando o nome de Maria Clementina. Desde então se dedicava e empenhava muito nas funções que lhe eram destinadas: foi sacristã, auxiliar de cozinheira e professora de uma escola primária. Após um curso complementar em 1963, tornou-se diretora do internato para meninas, onde ela mesma havia estudado alguns anos antes.
     Devota extremada de Maria e de Jesus, vivia feliz por ter-se consagrado ao seu serviço.  Dentro da comunidade de irmãs, ela era conhecida como "a luz do sol à sua disposição". Ela estava sempre serena, alegre e pronta para o que fosse necessário. Depois da escola, ela ia com as irmãs encarregadas da manutenção para ajudá-las a pegar lenha, pescar no rio Nepoko e lavar e passar roupas. Em muitos domingos, as irmãs e os alunos puderam desfrutar de bolo e outras sobremesas. 
     No caderno de anotações da Irmã Anuarite – agora parte do material de seu processo de canonização em Roma – podem ser encontradas receitas de bolos e sobremesas, além de textos de meditação e suas anotações pessoais. Para alegrar os alunos internos, ela sempre conseguia encontrar novas receitas em algum lugar. Naquele dia 29 de novembro, a irmã Anuarite havia preparado algo para seu vigésimo quinto aniversário. Mas tudo acabaria diferente...   
     O Congo da época era governado pelos brancos. Em 1960, havia uma grande campanha contra esse domínio europeu. Fervilhava o ódio racial e não durou muito para traduzirem-se em barbárie os ideais políticos. A revolução dos Simbas explodiu no ano seguinte, iniciando um violento massacre para eliminar todos os europeus, seus amigos e colaboradores negros.
     No Convento de Bafwabaka, tudo era calmo até 1964. Em agosto daquele ano, os rebeldes já tinham ocupado grande parte do país. A cada dia avançavam mais, saqueando e matando milhares de civis congoleses indefesos. Mais de cento e cinquenta missionários, entre sacerdotes, religiosos e irmãos já haviam morrido também.
     Os rebeldes chegaram ao convento em 29 de novembro e levaram as trinta e seis integrantes da Sagrada Família, entre elas Irmã Maria Clementina Anuarite, de caminhão, para Isiro. Na noite do dia 1º de dezembro de 1964, o Coronel Olombe tentou seduzi-la. Mas ela se recusou a satisfazer seus desejos carnais: “Eu prefiro morrer antes de cometer o pecado”. Além disso, para defender a superiora, ameaçada de morte por causa da sua rejeição, Anuarite dirige-se aos soldados com as seguintes palavras: “Matai-me só a mim”. O Coronel Olombe a esbofeteou e golpeou com a coronhada do fuzil, depois disparou, matando-a. Antes de perder os sentidos e diante da aproximação da morte, encontrou forças para perdoar seu algoz: “Eu o perdoo... Tu não percebes o que estás fazendo... O Pai te perdoe”.
    Ela foi beatificada em 15 de agosto de 1985 pelo Papa João Paulo II durante sua visita à África. Ela foi a primeira mulher bantu elevada aos altares. Seu memorial é 1º de dezembro.
     Na solenidade de beatificação, o sumo pontífice definiu Anuarite como modelo de fidelidade para todos os católicos do mundo. Depois, enalteceu sua castidade, e a igualou a Santa Inês, mártir do início da cristandade, dizendo: "Anuarite é a Inês do continente africano".

Fontes:
Irmã Anuarita de Bafwabaka: Uma Mary Goretti da África Central - Nobreza e Elites Tradicionais Análogas
http://www.osservatoreromano.va/pt/news/mulher-de-palavra-desconcertante-e-misteriosa

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Aparição de Nossa Senhora e a revelação da Medalha Milagrosa – 27 de novembro

Palavras escritas por Santa Catarina Labouré sobre a aparição de Nossa Senhora e a revelação da Medalha Milagrosa
 
   Vi a Santíssima virgem à altura do quadro de São José. A Santíssima Virgem, de estatura média, estava de pé, vestida de branco, com um vestido de seda branco-aurora… com um véu branco que Lhe cobria a cabeça e descia de cada lado até em baixo.
     Sob o véu, vi os cabelos lisos repartidos ao meio e por cima uma renda a mais ou menos três centímetros de altura, sem franzido, isto é, apoiada ligeiramente sobre os cabelos.
     O rosto bastante descoberto, bem descoberto mesmo, os pés apoiados sobre uma esfera, quer dizer, uma metade da esfera… tendo uma esfera de ouro, nas mãos, que representava o globo. Ela tinha as mãos elevadas à altura do cinto de uma maneira muito natural, os olhos elevados para o Céu… seu rosto era magnificamente belo.
     Eu não saberia descrevê-lo… e depois, de repente, percebi anéis nos dedos, revestidos de pedras, mais belas umas que as outras, umas maiores e outras menores, que despediam raios mais belos uns que os outros.
     Partiam das pedras maiores os mais belos raios, sempre alargando para baixo, o que enchia toda a parte de baixo. Eu não via mais os seus pés… Nesse momento em que estava a contemplá-La, a Santíssima Virgem baixou os olhos, olhando-me. Uma voz se fez ouvir, e me disse estas palavras:
     A esfera, que vedes, representa o mundo inteiro, particularmente a França e cada pessoa em particular.
     Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi; a beleza e o fulgor; os raios tão belos…
     - É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem, fazendo-me compreender quanto era agradável rezar à Santíssima Virgem e quanto ela era generosa para com as pessoas que rezam a Ela, quantas graças concedia às pessoas que rezam a Ela, que alegria Ela sente concedendo-as…
     Formou-se um quadro em trono da Santíssima Virgem, um pouco oval, onde havia, no alto, estas palavras: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós, escrita em letras de ouro.
     A inscrição, em semicírculo, começava à altura da mão direita, passava por cima da cabeça e acabava na altura da mão esquerda. Então, uma voz se fez ouvir, e me disse:
     Fazei, fazei cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança.
     No mês seguinte, outra vez Santa Catarina viu Nossa Senhora. Ela estava, como em novembro, segurando o globo de ouro, encimado por uma pequena cruz também de ouro, e dos anéis jorravam os mesmos raios de luz desigual.
     “Dizer-vos o que entendi no momento em que a Santíssima Virgem oferecia o globo a Nosso Senhor, é impossível transmitir. Como eu estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma voz se fez ouvir no fundo do meu coração, e me disse: Estes raios são o símbolo das graças que a Santíssima Virgem obtém para as pessoas que as pedem”.
     Santa Catarina reparou que, de algumas pedras dos anéis não partiam raios. Uma voz lhe esclareceu o porquê disso: “Estas pedras das quais nada sai são graças que os homens se esquecem de Me pedir”.
     Durante mais de um ano, a religiosa incansavelmente insistiu com o Sacerdote para que fossem cunhadas as medalhas, conforme Nossa Senhora determinara. Mas ele, inflexível, sempre resistia.
     Afinal, depois de um longo período de aflição para a santa religiosa, o Pe. Aladel, acompanhando seu superior numa audiência com o Arcebispo de Paris, Mons. De Quélen, aproveitou a oportunidade para expor ao Prelado o que acontecera na Rue Du bac, ocultando, porém, o nome da vidente. Essa audiência se deu em janeiro de 1832.
     O Arcebispo, diferentemente do Pe. Aladel, desde logo viu com bons olhos a iniciativa e incentivou a confecção da medalha. Encorajado, o Pe. Aladel mudou de atitude e, quatro meses depois, em maio, encomendou à Casa Vachette um primeiro lote de 20 mil medalhas.
   No momento que iam ser cunhadas as primeiras medalhas, uma terrível epidemia de cólera, proveniente da Europa oriental, atingia Paris.
    O morbo se manifestou a 26 de março de 1832 e se estendeu até meados do ano. A 1° de abril, faleceram 79 pessoas; no dia 2 168; no dia seguinte, 216, e assim foram aumentando os óbitos, até atingirem 861 no dia 9.
     No total, faleceram 18.400 pessoas, oficialmente; na realidade, esse número foi maior, dado que as estatísticas oficiais e a imprensa diminuíram os números para evitar a intensificação do pânico popular.
     No dia 30 de junho, as primeiras 1500 medalhas foram entregues pela Casa Vachette, e as Filhas da Caridade começaram a distribuí-las entre os flagelados. Na mesma hora refluiu a peste e começaram, em série, os prodígios que em poucos anos tornariam a Medalha Milagrosa mundialmente célebre.
     O Arcebispo, que recebera logo algumas das primeiras medalhas, alcançou imediatamente uma graça extraordinária por meio delas, e passou a ser entusiasta propagandista e protetor da nova devoção.
     Também o Papa Gregório XVI recebeu um lote de medalhas, e passou a distribuí-las a pessoas que o visitavam.
     Até 1836, mais de 15 milhões de medalhas tinham sido cunhadas e distribuídas, no mundo inteiro. Em 1842, essa cifra atingia a casa dos 100 milhões. Dos mais remotos países chegavam relatos de graças extraordinárias alcançadas por meio da medalha: curas, conversões, proteção contra perigos iminentes etc.
Extraído do livro: “A verdadeira História da Medalha Milagrosa” – Armando Alexandre dos Santos


Santa Catarina Labouré, Virgem – 28 de novembro

     Por muitos anos ninguém soube como surgiu a Medalha Milagrosa, cuja festa comemoramos ontem. Apenas em 1876 tornou-se público que uma humilde religiosa vicentina, falecida nesse ano, e que vivera durante os 46 anos de sua vida religiosa na mais completa obscuridade, é que recebera da Mãe de Deus a revelação dessa Medalha. Essa santa é Catarina Labouré.
     Na pequena aldeia de Fain-les-Moutiers, na Borgonha, Catarina nasceu a 2 de maio de 1806, a nona dos onze filhos de Pedro e de Luísa Labouré, honestos e religiosos agricultores. Aos 9 anos perdeu a mãe e pediu a Nossa Senhora que a substituísse.
     Catarina queria ser religiosa, e quando estava por decidir em que Congregação entrar, sonhou com São Vicente de Paulo, a quem não conhecia, que lhe disse que seria sua filha em religião. E realmente, em janeiro de 1830, ela entrou para as Filhas da Caridade, fundadas por aquele Santo.
     Depois de passar pelo postulantado em Chatillon, Catarina foi mandada para o noviciado na Casa-mãe das vicentinas, na Rue du Bac, em Paris.
     Catarina foi agraciada com muitas visões de São Vicente de Paulo e de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, sendo algumas delas proféticas, a respeito do futuro da França.
     Na véspera da festa de São Vicente, ainda em 1830, a Mestra de Noviças tinha feito uma preleção sobre a devoção aos santos, e especialmente a Nossa Senhora. Isso inflamou na Irmã Catarina o desejo de ver a Mãe de Deus. Quando foi deitar-se, pegou um pedacinho de uma sobrepeliz de São Vicente, que a Mestra tinha dado como relíquia às noviças, e engoliu-o julgando que São Vicente poderia alcançar-lhe essa graça.
     Às onze e meia da noite, ela ouviu uma voz de criança, que lhe disse: “Venha à capela. A santíssima Virgem a espera”.
     Lá Catarina viu a Santíssima Virgem sentar-se numa cadeira no presbitério. Conta-nos Catarina: “Ela me disse como eu devia proceder para com meu diretor, como devia proceder nas horas de sofrimento e muitas outras coisas que não posso revelar”. Essas coisas que ela não podia revelar eram sobre próximos acontecimentos políticos que teriam lugar em Paris.   
     No dia 27 de novembro de 1830, Catarina estava na capela, quando ouviu o característico frufru de um vestido de seda. Olhou para o lado e viu Nossa Senhora vestida de branco, sobre uma meia-esfera. Tinha nas mãos uma bola que representava o globo terrestre, e olhava para o céu.
     “De repente – narra Catarina – percebi anéis nos seus dedos, engastados de pedras brilhantes, umas maiores e mais belas do que as outras, das quais saíam raios que eram, também, uns mais belos que os outros”. Nossa Senhora explicou-lhe que tais raios simbolizavam as graças que derramava sobre as pessoas que as pediam.
     Teve então a visão da Medalha Milagrosa, como dissemos ontem, na festa dessa medalha.
     Catarina perguntou a Nossa Senhora a quem recorrer para a confecção da medalha, e a Mãe de Deus lhe respondeu que deveria procurar seu confessor, o Pe. João Maria Aladel: “Ele é meu servidor”.
     O Pe. Aladel procurou o Arcebispo, que ordenou em 20 de junho de 1832, que fossem cunhadas duas mil medalhas.
     Ora, em março de 1832, quando iam ser confeccionadas essas primeiras medalhas, uma terrível epidemia de cólera, proveniente da Europa oriental, atingiu Paris. Mais de 18 mil pessoas morreram em poucas semanas. Num único dia, chegou a haver 861 mortes.
     No fim de junho, as primeiras medalhas ficaram prontas e começaram a ser distribuídas entre os flagelados. Na mesma hora refluiu a peste, e tiveram início, em série, os prodígios que em poucos anos tornariam a Medalha Milagrosa mundialmente célebre.
     A missão de Catarina Labouré estava cumprida. Os 46 anos que lhe restaram de vida, ela os passou como uma humilde irmã, da qual praticamente nada havia para falar. Só quando se aproximou sua morte, em 1876, sua Superiora soube que fora ela a privilegiada Irmã que recebera aquela sublime missão.
     Cinquenta e seis anos após sua morte, o corpo de Catarina foi encontrado inteiramente incorrupto, e é como se encontra ainda hoje na capela das Irmãs da Caridade, na Rue du Bac, em Paris.

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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Beata Elisabete Achler de Reute, Virgem, 3a. Franciscana - 25 de novembro

     Elisabete nasceu em Waldsee, Württemberg, sul da Alemanha, em 25 de novembro de 1386, filha de João e Ana Achler, humildes e virtuosos pais. Ela cresceu no meio de numerosos irmãos e irmãs. Seu pai era muito respeitado na corporação dos tecelões.
     Desde jovem Elisabete se distinguiu por uma rara piedade, inocência virginal e um caráter tão doce e amável, que todos a chamavam “a Boa”, nome que a acompanhou sempre ("Gute Beth", como é conhecida na Alemanha).
      Seu confessor, o Padre Konrad Kügelin (1367-1428) (dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho), aconselhou-a a deixar o mundo para tomar o hábito de São Francisco na Ordem Terceira. Elisabete tinha então 14 anos. Observou a regra franciscana primeiramente em sua casa, porém, considerando os perigos que punham obstáculos à caminhada para a perfeição, abandonou seus pais e foi viver com uma piedosa terciária franciscana.
     O demônio, invejoso dos progressos de Elisabete na perfeição, a atormentava com frequência. Enquanto ela aprendia a arte de tecer, ele enredava o fio, estragava o seu trabalho, forçava-a a perder a metade do tempo reparando os danos. Elisabete lutou com paciência e perseverança.
     Em 1403, aos 17 anos, o confessor a encaminhou para uma comunidade religiosa de Reute, próximo de Waldsee, erigida com a ajuda de Jakob von Metsch, onde algumas religiosas seguiam com fervor a Regra Franciscana. Em 1406 a comunidade foi elevada a convento franciscano e as Irmãs seguiram a Regra da Ordem Terceira Franciscana.
     Elisabete, sempre doce, obediente, assídua na oração e na penitência, preferia os ofícios mais humildes da comunidade; amante da solidão, não saia do convento senão por motivos graves, tanto que a chamavam “a reclusa”. Ela se ocupava da cozinha e cuidava dos pobres que batiam na porta do convento. A sua vida de religiosa se passava sobretudo na contemplação e na participação da Paixão de Cristo.
     O demônio continuou a persegui-la sob forma terrível, porém, fortalecida com a penitência e a oração, conseguiu vencer seus artifícios. Foi atacada pela lepra, e outros sofrimentos corporais. Estas provas serviram para fazer brilhar mais sua paciência heróica, e, sem se queixar, bendizia a Deus por tudo.
     Deus, comprazido com as virtudes de sua humilde serva, favoreceu-a com êxtases e visões maravilhosas. Obteve que algumas almas do Purgatório aparecessem a seu confessor para solicitar os sufrágios e as aplicações de Santas Missas. Durante o Concilio de Constança, predisse o fim do grande Cisma do Ocidente e a eleição do Papa Martinho V.
     Jesus concedeu a ela a graça de sofrer em si mesma as dores da Paixão e de receber em seu corpo a impressão das Sagradas Chagas. Às vezes sua cabeça aparecia ferida pelos espinhos. Em meio à dor exclamava: “Graças, Senhor, porque me fazeis sentir as dores de vossa Paixão!”. As chagas apareciam somente em intervalos, porém os sofrimentos eram contínuos.
     A Beata morreu em Reute no dia 25 de novembro de 1420, aos 34 anos de idade. O seu culto se difundiu logo após a sua morte e foi confirmado pelo Papa Clemente XIII em 1766.
     O Padre Konrad Kügelin foi sempre seu diretor espiritual e logo após a sua morte escreveu uma biografia em língua latina que foi difundida em numerosas versões, inclusive na língua alemã. O relato apresentava os elementos essenciais, segundo o modelo da Vida de Santa Catarina de Siena, e serviu como base para o processo de canonização de Elisabete.
     Elisabete foi uma mística rica de dons excepcionais: teve visões, êxtases, passou três anos sem tocar em alimento e levava os estigmas. Mas sobretudo foi uma jovem do povo que seguiu as pegadas de Jesus Cristo. Ela é a única entre as místicas dos séculos XIV e XV que se tornou popular e ainda hoje é venerada.
     Sua festa é celebrada em 25 de novembro. É venerada sobretudo na Baviera, no Tirol e na Suíça; é invocada nos temporais, nos incêndios e na guerra.

O convento atual em Reute, Alemanha

Fontes: diversas Beata Elisabetta Achler di Reute

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Beata Margarida de Saboia, Marquesa, Viúva, Dominicana – 23 de novembro

 
   A Beata Margarida de Saboia (não confundir com a homônima Rainha da Itália, que viveu uns cinco séculos depois) era aparentada com as principais famílias reais da Europa. Seu pai era o Conde Amadeu de Saboia-Acaja, e sua mãe era uma das irmãs de Clemente VII, que durante o Grande Cisma se declarou papa em Avinhão. Margarida mereceu o apelido de Grande, que adquiriu por ter sido realmente um exemplo de grandeza evangélica nos diferentes estados em que Deus a colocou: filha, esposa, soberana e religiosa.
     Nasceu em Pinerolo, Turim, entre os anos de 1382 e 1390. Desde a infância foi a imagem da candura e de uma sabedoria precoce, o que a fazia aborrecer tudo que o mundo ama. Tendo ficado órfã bem cedo, junto com a irmãzinha Matilde foi entregue à tutela do tio Luís, que por falta de herdeiros homens, sucedeu o falecido príncipe Amadeu.
     O primeiro passo de Luís de Saboia foi pôr um fim às longas discórdias entre Piemonte e Monferrato, e ambas as partes viu em Margarida um penhor seguro de paz duradoura. Há décadas o Piemonte era agitado por guerras que visavam dominar esta região da Itália. Os Saboia, o Marquês de Saluzzo, os marqueses de Monferrato e os viscondes de Milão disputavam-na ferrenhamente.
     A jovem princesa já sonhava com o claustro, entusiasmada no seu propósito por São Vicente Ferrer, que era então pregador no Piemonte. Margarida, pelo bem comum e pela paz entre as duas zonas do Piemonte, sacrificou com generosidade os seus mais preciosos ideais: em 1403, ela se tornou esposa do Marquês de Monferrato, Teodoro II Paleólogo, muito mais velho do que ela.
     Nenhuma ilusão terrena, porém, seduzia a jovem marquesa, que iniciou a nova vida de soberana com os pés na terra, mas o coração fixo no céu. Após ter sido sábia conselheira do esposo e mãe terníssima dos súditos, enviuvou no ano de 1418. Governou então como regente até a maioridade de seu enteado João. Assim que este pode tomar as rédeas do governo, ela retirou-se para o palácio de Alba, de sua propriedade, junto com suas mais fiéis donzelas, para dedicar-se às obras de caridade, recusando a proposta de casamento de Filipe Maria Visconti.
     Tornou-se terciária dominicana e fundou uma congregação inicialmente de terciárias e depois, em 1441, com a aprovação do Papa Eugênio IV, de monjas. Nasceu assim o Mosteiro de Santa Maria Madalena, na cidade de Alba.
     A nova vida religiosa de Margarida não foi isenta de trabalhos e dificuldades. Teve um dia a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe trazia três setas, cada uma com uma palavra escrita: doença, calúnia e perseguição. Realmente, no período seguinte teve que suportar todos estes três sofrimentos.
     Afligida por uma saúde delicada, foi acusada de hipocrisia, depois de tirania nos confrontos com as Irmãs do mosteiro. Um pretendente rejeitado por ela espalhou a calúnia que o mosteiro era um centro de propulsão da heresia valdense. O frade que era seu diretor espiritual foi preso e quando Margarida dirigia-se ao castelo para pedir sua liberdade, o portão foi-lhe fechado violentamente, fraturando uma de suas mãos.
     Apesar de todas as dificuldades, por vinte e cinco anos ela viveu retirada em oração, estudos e caridade. A Biblioteca Real de Turim conserva um volume contendo as cartas de Santa Catarina de Siena copiadas e encadernadas "por ordem de nossa ilustre senhora, Margarida de Saboia, Marquesa de Monferrato".
     Imitando a Santa Doutora da Igreja, que durante o cativeiro de Avinhão se dedicou de corpo e alma ao retorno do pontífice para Roma, Margarida empenhou-se intensamente para que seu primo Amadeu VIII, primeiro duque de Saboia, eleito antipapa com o nome de Felix V, no Concílio de Basiléia, desistisse de sua posição.
     Felix V abdicou e reconheceu como único chefe da Igreja o Papa então legitimamente reinando em Roma. Voltando a ser Amadeu de Saboia, continuou a dirigir a Ordem Mauriciana fundada por ele no mosteiro às margens do lago de Genebra. O Papa o recompensou por ter recomposto a unidade da Igreja nomeando-o cardeal e legado pontifício. O Cardeal Amadeu morreu em fama de santidade e ainda hoje repousa na Capela do Sudário, adjacente à Catedral de Turim.
     Margarida de Saboia faleceu em Alba, no dia 23 de novembro de 1464, rodeada do afeto e da veneração de suas filhas espirituais.
     Em 1566, o Papa São Pio V, religioso dominicano e prior do convento de Alba, permitiu um culto a Margarida de Saboia reservado ao Mosteiro de Alba. O Papa Clemente IX a beatificou solenemente em 9 de outubro de 1669, fixando seu memorial no dia 27 de novembro, para toda a Ordem de São Domingos. Hoje ela é celebrada também em algumas dioceses do Piemonte. O Martirológio Romano a festeja no dia 23 de novembro, aniversário de seu nascimento para o céu. O seu corpo incorrupto é ainda objeto de veneração na Igreja de Santa Maria Madalena de Alba.
     A Beata Margarida de Saboia, grande e ativa figura feminina no Piemonte de seu tempo, fautora da paz e da concórdia entre as várias zonas da região, mereceria plenamente ser honrada como patrona celeste do Piemonte e também com a canonização, para que fosse universalmente venerada como um virtuoso exemplo de esposa, mãe, soberana e religiosa.

Fonte: http://www.santiebeati.it/dettaglio/90491

Quase cinco séculos antes das aparições, prenúncio do triunfo de Fátima
     Um misterioso acontecimento no mosteiro de Margarida é digno de nota. A prova documental tornou-se pública somente no ano 2000.
     No dia 16 de outubro de 1454, Irmã Filipina estava em seu leito de morte no Mosteiro de Santa Maria Madalena.
     Em torno do leito dessa dominicana com odor de santidade, acompanhando-a com as orações pelos moribundos, estava toda a comunidade religiosa, a abadessa e fundadora do mosteiro, a Beata Margarida de Saboia, e o confessor das religiosas, Pe. Bellini. Eles lavraram um documento endereçado "àquelas pessoas que nos anos futuros lerão estas folhas" [1] Em 2000 as próprias dominicanas de Alba publicaram os documentos relativos ao caso [2].
     "Aconteceu que durante a agonia, ela [Irmã Filipina] recebeu do Céu uma magnifiquíssima visão ou revelação, durante a qual, diante do Padre Bellini, da Abadessa Fun¬dadora e de todas as monjas, manifestou em alta voz coisas ocultas. [...] Raptada por uma alegria celeste, voltando o seu olhar para o alto, saudou nomina¬¬lmente e em alta voz os celícolas (habitantes do Céu) que lhe vinham ao encontro, ou seja: a Santíssima Senhora do Rosá¬rio, Santa Catarina de Siena, o Beato Umberto, o abade Guilherme de Saboia; falava de acontecimentos futuros, prósperos e funestos para a Casa Sabauda, até um tempo, não precisado, de terríveis guerras, do exílio de Umberto de Saboia em Portugal, de um certo monstro do Oriente, tribulação da humanidade, mas que seria morto por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima, se todos os homens a tivessem invocado com grande penitência. Depois do que, expirou nos braços da prima, a nossa santa Madre Margarida de Saboia".
[1] Il Cervo della Beata Margherita di Savoia, nº 2, 2000, Ano XLVIII, Alba.
[2] Os documentos históricos do Convento de Alba são três. Eles fornecem o fundamento deste artigo. 
     O documento 1 é uma nota manuscrita, acrescentada a um livro de autoria do Pe. Jacinto Baresio, de 1640. Ocupa quatro páginas não numeradas. É datada de 7 de outubro de 1640. Nela se encontra o essencial da revelação. O documento 2 consiste num acréscimo ao caderno, que leva a inscrição: 1624 - Livro no qual se anotam as Missas, Milagres, ex-votos que acontecem diariamente à Beata Margarita de Saboia em Alba. É datado de 1655. Começa a partir da página 52, e é escrito com "uma caligrafia alta e clara" por uma religiosa que assina Soror C.R.M. (vide abaixo). Descreve a mesma revelação. O documento 3 consiste em apontamentos da Irmã Lúcia Mantello em 1855. Esta passou brevemente pelo convento e depois tornou-se religiosa salesiana. Ela não conheceu os dois documentos anteriores. Todos os três foram "reencontrados casualmente em 19 de agosto do ano passado [1999]" e publicados em 2000.
     Em 1655, uma religiosa que só anotou suas iniciais deixou mais um documento escrito, confirmando tudo quanto dizia o anterior, nos seguintes termos:
     "Dizem as memórias escritas que lá, na Lusitânia, há uma igreja numa cidadinha que se chama Fátima, edificada por uma antepassada de nossa Santa Fundadora Margarida de Saboia, Mafalda rainha de Portugal e filha de Amadeu terceiro de Saboia, e que uma estátua da Vir¬ge¬m Santíssima falará sobre acontecimentos futuros muito graves, porque Satanás fará uma guerra terrível; porém perderá, porque a Virgem Santíssima Mãe de Deus e do Santíssimo Ro¬sá¬rio de Fátima, 'mais forte que um exército em ordem de batalha', vencê-lo-á para sempre".
     A. D. 1655. São Domingos, te confio estas folhas.
     Soror C. R. M."(17)
     Os leitores poderão ver nessas linhas alusões aos trágicos acontecimentos do século XX e à mensagem transmitida por Nossa Senhora nas aparições aos três pastorinhos de Fátima, Portugal.
Fonte: Revista Catolicismo, maio de 2004

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Beata Salomé da Cracóvia, Rainha e Clarissa - 18 de novembro


     Salomé, filha de Leszek, Príncipe da Cracóvia, nasceu em 1211. Leszek I era Duque de Cracóvia, e, portanto, grão-duque da Polônia, e sua esposa era Grzynistawa de Luck. Salomé era a irmã mais velha de Boleslau V, o Casto. 
     Aos 3 anos de idade foi confiada ao Bispo da Cracóvia, o Beato Vicêncio Kadlubek, para que ele a conduzisse à corte do soberano húngaro, André II, pois um acordo com aquele rei tornara-a prometida como esposa de seu filho, Kálmán (nome latinizado para Colomano), de seis anos. Acordos matrimoniais deste gênero eram comuns naquela época e a menina desde pequena passou a viver na corte do futuro sogro. Como sua mãe tinha conexões ancestrais com as terras da Galícia, e tanto seu pai quanto o rei André queriam dominar aquela área, esse plano parecia atender às necessidades de ambas as partes.
     No outono de 1215 teve lugar a coroação que, com a autorização do Papa Inocêncio III, foi celebrada pelo Bispo de Strigonia. Eles reinaram em Halicz por cerca de três anos, quando a cidade foi invadida pelo príncipe da Rutênia, Mistislaw, que os aprisionou.
     Naqueles tempos (Salomé tinha somente 9 anos e Colomano 12) eles fizeram, de comum acordo, voto de castidade. Quando André, filho do Rei da Hungria, veio a ser Rei de Halicz, eles retornaram à corte húngara.
     O piedoso casal competia entre si em suas práticas de piedade e penitência. Com o consentimento de seu marido, Salomé recebeu o hábito da Ordem Terceira de São Francisco das mãos de seu confessor, um frade franciscano. Seguindo seu exemplo, muitas das damas da corte renunciaram à pompa e vaidade mundanas, e o palácio assumiu a aparência de um convento.
     Em 1226, Colomano foi nomeado Duque da Eslováquia por seu pai e assumiu a responsabilidade pelo governo da Estônia, Croácia e Dalmácia.
     Em 1227, aos 16 anos, Salomé chegou à maioridade, sempre se mantendo ligada ao voto de castidade e, apesar de sua beleza, evitava a companhia de homens, vestia-se modestamente, não tomava parte nas festas e diversões da corte e dedicava o tempo livre à oração.
     Em 1241, Colomano morreu em uma batalha contra os Tártaros. Durante aquele período Salomé protegia os conventos dos franciscanos e dos dominicanos.
     Um ano após a morte de seu marido, voltou para a Polônia onde, em 1245, junto com seu irmão Boleslau, fundou a igreja e o convento dos franciscanos em Zawichost, o hospital e o mosteiro das Clarissas pobres em Sandomierz, onde ela mesma vestiu o hábito religioso.
     Diante da ameaça dos Tártaros, em março de 1259 uma parte das Clarissas se transladou para Skala, onde Salomé fundou um novo mosteiro e o dotou com os utensílios e ornamentos litúrgicos.
     Vinte e oito anos viveu a Beata Salomé no silêncio do mosteiro, e foi modelo de penitência, de abnegação, de humildade, de inocência e de caridade. Por muitos anos foi abadessa boa, afável, serviçal, amante do ideal da seráfica pobreza. Era muito respeitada por suas irmãs por causa de sua virtude.
Clarissas c. sec. XI
     Quando tinha 57 anos, a Beata Salomé de Cracóvia foi acometida por uma doença um dia durante a Santa Missa, e ela previu que sua morte ocorreria em breve. No dia 17 de novembro de 1268 foi agraciada com uma aparição da Santíssima Virgem e de seu Filho; reuniu suas Irmãs e as exortou à mútua caridade, à paz, à pureza de coração, à obediência sem limites e ao desprendimento das coisas do mundo. Pouco depois as Irmãs viram uma pequena estrela que, saindo da bem-aventurada mãe, se dirigia ao Céu. Salomé da Cracóvia havia entregado sua bela alma a Deus na idade de 57 anos.
     Quando seu corpo foi exumado sete meses após o enterro, foi encontrado incorrupto e exalando um odor doce. Ela foi então sepultada na Igreja Franciscana de Cracóvia ao lado de seu marido, o rei Colomano. Muitos milagres ocorreram em testemunho de sua santidade. Seus despojos foram transladados mais tarde para a igreja dos Franciscanos de Cracóvia, onde se encontram até hoje. Ela também é retratada em um vitral à esquerda do altar-mor.
     Seu culto foi aprovado por Clemente X em 17 de maio de 1672.
Túmulo da Beata Salomé

Fontes: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Saloméia da Polônia – Wikipédia, a enciclopédia livre
O Livro Franciscano dos Santos, ed. por Marion Habig, OFM
Beata Salomé de Cracóvia

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Beata Maria Merkert, Cofundadora - 14 de novembro

 
   Nasceu em 21 de setembro de 1817, no seio de uma família católica da burguesia, em Nysa, na Silésia de Opole (então diocese de Breslávia), cidadezinha chamada de ‘Roma silesiana’ por causa de seus numerosos monumentos, que hoje pertence à Polônia, mas naquele tempo era alemã.
     Era a segunda filha de Carlos Antonio Merkert e Maria Bárbara Pfitzner. No batismo lhe puseram o nome de Maria Luísa. Seus pais e sua irmã pertenciam à Confraria do Santo Sepulcro. Seu pai morreu quando ela tinha um ano. Sua mãe influenciou muito na inclinação de suas duas filhas, Maria Luísa e Matilde, para o serviço caritativo aos necessitados e à vida religiosa.
      Por ocasião da morte da mãe, em 1842, Maria Luísa decidiu se dedicar totalmente aos pobres, aos doentes e aos abandonados. Aconselhada pelo confessor, junto com sua irmã Matilde e com Francisca Werner, uniu-se a Clara Wolff, jovem virtuosa terciária franciscana que havia decidido servir os doentes e aos pobres em domicílio.
     As quatro formaram uma espécie de associação. Clara, a mais velha, de índole vivaz, sensível, já havia assistido doentes durante uma epidemia de cólera. Francisca tinha uma personalidade forte embora fosse humilde e modesta; sobreviveu a beata, sucedendo-a como Superiora Geral da Congregação. Matilde Merkert era de índole dócil e muito religiosa.
     Elas iniciaram suas atividades em Nysa no dia 27 de setembro de 1842; prepararam-se para este passo com a confissão, a comunhão e um ato de consagração ao Sacratíssimo Coração de Jesus. O presbítero Francisco Xavier Fischer lhes deu a bênção. Mas não fizeram votos e não tinham aprovação oficial, mas conquistaram em poucos meses a atenção e a estima das autoridades eclesiásticas. Dois anos depois, o pároco apresentou uma primeira Regra.
     A partir de então Maria cumpria diariamente os compromissos assumidos, assistindo os doentes e os pobres em suas casas, e recolhendo esmolas para os mais necessitados.
     Em 8 de maio de 1846, Matilde faleceu em Prudnik, contagiada enquanto cuidava de enfermos de tifo. Foi um golpe duro, mas elas continuaram os trabalhos.
     Por vontade do confessor, Maria Merkert e Clara Wolff entraram no noviciado das Irmãs de São Carlos Borromeu de Praga, um Instituto de origem francesa, onde elas deviam formar-se para dar vida à obra de assistência que sentiam o dever de realizar. Elas trabalharam como enfermeiras nos hospitais de Podole, Litomierzyce
 e Nysa.
     Notando que estas religiosas consideravam secundária a assistência dos doentes em domicílio, Maria deixou seu noviciado em 30 de junho de 1850, se bem que a formação recebida nesse período lhe serviu muito. Não faltaram incompreensões, porém Maria pode dedicar-se totalmente ao projeto original de assistência em domicílio dos enfermos, dos pobres e dos mais necessitados.
     Foi naquele momento que Maria e Clara seguiram caminhos diversos: a última, em 1852, indo cuidar de um enfermo se envolveu em um acidente e morreu devido às feridas, no dia 4 de janeiro de 1853.
     Em 19 de novembro de 1850, festa de Santa Isabel da Hungria, Maria Merkert e Francisca Werner, cheias de confiança em Deus recomeçaram em Nysa a atividade caritativa apostólica, escolhendo Santa Isabel por patrona da comunidade nascente e, inspirando-se no exemplo desta Santa, dedicaram-se totalmente aos pobres e aos necessitados, contemplando em seu rosto o do Redentor.
     Em Nysa, devido à revolução liberal na Silésia e ao seu envolvimento nas guerras prussianas e austríacas, a pobreza estava muito difusa com feridos e consequentes epidemias.  
Gravura antiga de Nysa
     Muitos recorriam às Irmãs, certos de serem acolhidos e ajudados. Maria, incansável, estava sempre pronta para todos atender. Uma companheira testemunhou: “Madre Maria comprava carne, café e pão para as pobres viúvas e ela mesma levava estas coisas aos pobres e lhes dava com tanta afabilidade de coração que aqueles velhinhos choravam de alegria e todos a chamavam ‘a querida mãe de todos’”.
     Nove anos mais tarde, em 4 de setembro de 1859, a Congregação das Irmãs de Santa Isabel recebeu a aprovação por parte do bispo de Breslavia; a associação já contava com sessenta religiosas em onze casas, também em regiões prevalentemente protestante. Em 15 de dezembro foi celebrado o primeiro capítulo geral, que elegeu Maria Merkert como Superiora Geral.
     Em 5 de maio de 1860, Maria, junto com outras vinte cinco religiosas, fez os votos de castidade, pobreza e obediência, aos quais foi acrescentado um quarto voto: servir aos enfermos e aos necessitados.
     Nos anos 1863-1865, a Beata construiu em Nysa a casa mãe da Congregação; ela se preocupou logo em dotá-la de uma igreja bela e funcional.
     O Instituto obteve o reconhecimento jurídico estatal em 1864. Dois anos depois, as primeiras Irmãs missionárias foram enviadas à Suécia. Em 7 de junho de 1871, o Papa Pio IX lhe concedeu o "Decretum laudis".
     A Beata, além de doar todas as suas energias em favor do próximo enfermo e abandonado em seus domicílios, se preocupava muito com suas religiosas, que instruía intelectual e espiritualmente num espírito de humildade profunda. Nos seus vinte e dois anos de governo formou quase quinhentas Irmãs e fundou noventa casas, distribuídas em nove dioceses e em dois vicariatos apostólicos. No fim de cada ano, recolhia as notícias das várias casas. Madre Maria foi mulher de grande oração, tomando como modelo Nossa Senhora, a quem recorria em todas as necessidades. Chamavam-na “a samaritana dos pobres”.
     A missão de Madre Maria estava cumprida, tinha oferecido toda sua vida pelos outros. Em fins de 1872 pressentiu que sua caminhada nesta terra chegava ao término. No dia 14 de novembro o seu coração generoso parou de bater, tranquilamente, sem nenhuma agonia: tinha 55 anos. Morreu com fama de santidade, que foi aumentando depois de sua morte.
     Quinze anos depois Leão XIII outorgou a aprovação definitiva ao seu Instituto. Em 1964, seus despojos foram levados para a cripta da sua igreja paroquial; desde 1998 estão numa capela lateral.
     Na sua cidade de Nysa, hoje na Diocese de Opole, foi beatificada em 30 de setembro de 2007. Sua Congregação hoje está presente em diversos lugares do mundo.