sexta-feira, 28 de junho de 2024

Há 100 anos, consagração da China à Nossa Senhora, Imperatriz da China

"O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino" (Ap 12,13).
 
     Um fato miraculoso ocorreu em 1900 e foi aprovado pelas autoridades eclesiásticas em 1924. O bispo jesuíta Henri Lecroart propôs que fossem consagrados à Nossa Senhora a China, a Mongólia, a Manchúria e o Tibete, sob a invocação de Nossa Senhora Imperatriz da China.
     Ninguém ignora a férrea repressão na China vermelha a tudo que possa se referir a religião. Repressão, sobretudo, anticristã. Há dois santuários marianos nacionalmente famosos na China, Dong-Lu em Boading e Sheshan em Shangai.
     O Santuário de Nossa Senhora de Sheshan em Shangai está sob o controle da Associação Patriótica (a Igreja católica nacional infiel ao Papa, criada pelo Partido Comunista), o Santuário a Dong-Lu permanece firmemente com a Igreja Católica Romana, chamada "Igreja Subterrânea". Desde 1924, católicos chineses provenientes de todas as localidades da China viajavam todos os meses de maio para Dong-Lu com a finalidade de venerar a Mãe Santificada de Cristo.
     Mas tudo isso mudou durante a Revolução Cultural.
Em pleno ataque, perseguidores anticristãos debandam ao verem a Santíssima Virgem pairando sobre o povoado, rodeada de uma multidão de anjos
     Por motivos de preconceito de fundo nacionalista, a Igreja Católica sempre encontrou enorme resistência cultural na China. Em 1900 ocorreu a “perseguição dos boxers”, nacionalistas chineses que se organizavam em clubes desportivos, praticantes de artes marciais, boxe etc., que se tornou uma das mais terríveis. Essa perseguição deixou um saldo de milhares de mártires — 30.000, segundo algumas fontes —, entre eles cinco bispos, 130 sacerdotes e numerosos fiéis.
     Foi justamente durante essa represália anticristã que se deu uma grande intervenção da Santíssima Virgem, ocorrida em junho de 1900. Os boxers anticatólicos estavam prestes a eliminar Dong-Lu, à época com aproximadamente 700 habitantes. Naquela ocasião, cerca de 9.000 refugiados se encontravam na aldeia, onde os padres vicentinos tinham começado uma missão. Em sua maioria eram habitantes muito pobres.
     A situação era terrível. Milhares de perseguidores cercavam a cidade, e todos pressentiam a iminência de um massacre de seus habitantes. Quando tudo parecia perdido, os perseguidores viram Nossa Senhora pairando sobre o povoado, rodeada de uma multidão de anjos. Aterrorizados, inutilmente dispararam tiros contra Ela. Diante do fenômeno inexplicável, fugiram em grande debandada.
O Santuário de Dong-Lu passou a representar o Cristianismo na China 
    Em agradecimento por terem sido salvos do perigo, os habitantes construíram um santuário em honra à Santíssima Virgem. Por iniciativa do pároco local esculpiu-se uma imagem representando Nossa Senhora vestida com os trajes de imperatriz, que passou a ser venerada no santuário.
     A aprovação do fato miraculoso pelas autoridades eclesiásticas ocorreu em 1924, em Shangai, por ocasião do sínodo dos bispos chineses. O bispo jesuíta Henri Lecroart propôs que fossem consagrados à Nossa Senhora a China, a Mongólia, a Manchúria e o Tibete, sob a invocação de Nossa Senhora Imperatriz da China. A proposta foi aceita, e em junho 150 bispos, tendo à frente o Núncio Apostólico, Mons. Celso Constantini, foi feita a consagração. Mais tarde, em 1932, o Papa Pio XI elevou o santuário de Dong-Lu à categoria de local oficial de peregrinação. Em 1941, o Papa Pio XII concedeu à Igreja da China uma festa em honra de Maria Medianeira de todas as graças, sob o título de Santa Mãe, Imperatriz da China.
     Curiosamente, três fatos diferentes são estabelecidos: um é o santuário reconhecido como de peregrinação oficial; outro, uma festa litúrgica; e o terceiro, uma consagração do país. Mas na devoção popular todos se fundiram num só, e Dong-Lu passou a representar os três fatos conjuntamente.
Governo comunista mobiliza 5 mil soldados, carros blindados e helicópteros para dinamitar o santuário e confiscar a imagem da Virgem Maria
     A pequena aldeia tornou-se então o berço de 40 dos 120 santos mártires canonizados pelo Papa João Paulo II em 1º de outubro de 2000. Para grande incômodo do governo comunista, durante os últimos 100 anos, a peregrinação de milhares de católicos na China crescia em devoção e número de fiéis. Ciente dessa terrível "ameaça", em abril e maio de 1996 o governo chinês mobilizou 5 mil soldados, apoiados por dezenas de carros blindados e helicópteros, dinamitou o santuário mariano, confiscou a estátua da Virgem Maria e prendeu muitos sacerdotes.
     O governo chinês passaria a considerar essa parte da Igreja Católica Romana como ilegal. Assim, a Santa Missa, catequese, batismo e outros serviços religiosos, para muitos católicos que ainda estão no subsolo deve ser realizado em casas particulares e em segredo com os riscos de multas exorbitantes, prisão, prisão domiciliar, torturas físicas e internamento em campos de trabalho.
Sacerdotes, seminaristas, freiras e leigos enfrentam perseguições e assédios contínuos. Muitos deles desapareceram e outros estão na cadeia.
     Recentemente, quando os holofotes da mídia mundial controlada se voltavam para as olimpíadas de Pequim, em 2008, a igreja de Dong-Lu foi destruída por comunistas chineses. O fato, abafado por muito tempo, causou imensa tristeza no Vaticano e indignação aos cristãos ocidentais.
     No entanto, a pintura da Nossa Senhora da China manteve-se íntegra, uma vez que a imagem da igreja era apenas uma cópia. O original havia sido escondido na parede, atrás da cópia, e foi recuperado em impecável estado. Encontra-se agora em mãos dos fervorosos católicos chineses que, lamentavelmente, continuam seu trabalho missionário na igreja das catacumbas.
Católicos chineses rezam para que Bento XVI consiga restabelecer relações de compreensão e respeito com a China comunista para a liberdade da fé religiosa do seu povo.
Repressão continua em pleno século XXI
     Atualmente, Dong-Lu permanece a pequena e poeirenta vila de 12 mil pessoas. Entre o casario de tijolo aparente, os mercadinhos e as fábricas de roldanas industriais, destaca-se o curioso prédio da Igreja de Nossa Senhora de Dong-Lu.
     Apesar da indiferença da imprensa comunista estatal, a cidade de Dong-Lu é conhecida em pleno “paraíso” de Mao por ser o lugar onde, desde 1900, ocorrem visões da imagem da Santíssima Virgem. A última apareceu em 1995 e foi testemunhada por muitos habitantes da cidade. Muitos habitantes atestam que veem a Santíssima Virgem frequentemente por lá. Nós, católicos, sabemos que a Mãe de Jesus e da Igreja não abandona Seus filhos.
     Datas importantes do calendário cristão como Páscoa e Natal são celebradas exatamente como no Ocidente, mas tudo é feito escondido do governo, por meio de celebrações discretas e clandestinas, sem música, para evitar prisões.
     Dong-Lu é cercada de oficiais da polícia à paisana que estão ali para impedir a entrada não apenas de jornalistas, mas de peregrinos que vão à cidade por conta das aparições da Virgem Maria. Os moradores que são pegos falando com a imprensa correm grande risco — afirma Joseph Kung, presidente da Fundação Kung, que ajuda os católicos clandestinos na China, hoje estimados em cerca de seis milhões. 
    O governo comunista teme que a cidade se transforme num centro de peregrinação. No entanto, apesar da repressão, o número de católicos na região não para de crescer, especialmente os jovens.
Conclusão
     Como vemos nesse estudo, é a partir dessa "mente revolucionária" que provém o ódio anticristão, agora generalizado em muitos corações. E a partir desse ódio implementa-se a cultura de morte e habilmente promove-se a imbecialização da mentalidade contemporânea, moldando-a docilmente aos sinistros propósitos do governo oculto.
     Em Dong-Lu o combate entre o "Dragão" (ou antiga serpente) e a "Mulher" é literal. Em visitas clandestinas ao santuário, peregrinos perseguidos traduziram em duas frases a inevitável esperança cristã, transcritas nos dois lados da imagem da Santíssima Virgem. Em um lado lê-se: "A cabeça da serpente é esmagada. Debaixo de que pés foi derrotada?" No outro lado: "Meu filho, por que você está amedrontado? Sua mãe está a seu lado".
 
Fonte: http://chamadeamordemaria.blogspot.com/2012/05/nossa-senhora-da-china.html 
https://pt.wikipedia.org.wiki/Nossa_Senhora_da_China
 

Stas. Maria Du Tianshi e Madalena Du Fengju, Mártires chinesas - 29 de junho

 

Martirológio Romano: No território de Dujiadun, próximo de Shenxian, as santas mártires Maria Du Tianshi e Madalena Du Fengju, sua filha, que na mesma perseguição foram tiradas do local em que se haviam escondido, morrendo por causa de sua fé em Cristo, a segunda lançada ainda viva no sepulcro. 
 
     Na solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, a Igreja também se recorda de alguns mártires de dezenove séculos depois, os quais fazem parte dos 120 chineses canonizados em outubro de 2000.
     Por muitos séculos, até nos dias atuais, os cristãos chineses têm sido vítimas de perseguições violentas que atingiram um ápice no ano de 1900, com a assim chamada “revolta dos Boxers”. Na metade do mês de junho esses revoltosos atingiram Shenxian, vicariato apostólico chinês confiado aos cuidados pastorais dos Jesuítas.
     Em 29 de junho, os soldados chegaram ao vilarejo de Dujiadun, perto de Shenxian, na província chinesa do Hebei, e ali mataram duas mulheres que não hesitaram em professar a sua fé católica: a leiga casada, Maria Du Tianshi (51 anos) e sua filha Madalena Du Fengju (19 anos). Elas eram nativas de Shenxian e foram martirizadas quando foram descobertas em um local onde se haviam refugiado. Uma delas foi enterrada ainda agonizante.
     Naquele período foram milhares as vítimas da perseguição e os Jesuítas consideraram oportuno não perder a lembrança destas intrépidas testemunhas da fé. Recolheram então o material que se pode encontrar e, em 28 de maio de 1948, a causa de canonização do grupo denominado “Leon-Ignace Mangin e 55 companheiros” foi introduzida.
     A cerimônia de beatificação foi presidida pelo Papa Pio XII em 17 de abril de 1955 e a canonização de todo o grupo que compreende 120 mártires chineses de várias épocas ocorreu durante o Grande Jubileu de 2000, no dia 1º  de outubro, por João Paulo II.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado, Carmelita - 26 de junho

 
   
Josefina Catanea nasceu no dia 18 de fevereiro de 1894, em Nápoles, no seio da nobre família dos marqueses Grimaldi. Desde pequena mostrou uma predileção particular pelos pobres e os mais necessitados, destinando-lhes o dinheiro que lhe davam para brinquedos ou merendas, e ajudando a duas velhinhas que viviam sozinhas.
     O exemplo de sua avó e de sua mãe foi a escola onde aprendeu a conhecer Jesus e a se enamorar dEle. Tinha uma devoção particular pela Eucaristia e pela Virgem Maria, o que demonstrava rezando o Rosário.
     Depois de terminados os estudos, em 10 de março de 1918, superando a oposição de sua mãe e de seus familiares, ingressou no Convento de Santa Maria, em "Ponti Rossi", lugar assim chamado porque ali se encontravam as ruínas de um aqueduto romano.
     No convento aprendeu a amar a Cristo em meio ao sofrimento, oferecendo-se como vítima pelos sacerdotes. Soube aceitar a vontade de Deus, embora isto significasse grande dor física: se viu afetada por uma forma grave de tuberculose na espinha dorsal, com dores nas vértebras, que a paralisou completamente. Em 26 de junho de 1922 foi curada milagrosamente, de forma instantânea, depois do contato com o braço de São Francisco Xavier, que lhe levaram até sua cela.
     Josefina, como Irmã Antonieta e as outras jovens que viviam sobre a colina de S. Maria ao Monte em “Ponti Rossi”, sempre se sentiram Carmelitas Descalças, mas eram também conscientes de que, depois de tantos anos de experiência teresiana, faltava ainda a aprovação oficial por parte da Ordem dos Carmelitas Descalços e por parte da Igreja.
     Josefina vai a Roma e encontra pessoalmente o Cardeal Rossi, carmelita Descalço, o P. Guglielmo, Geral da Ordem, e o Prefeito da Congregação dos Religiosos, o Cardeal Lépicier. A eles apresenta a situação da comunidade e o vivo desejo de ser confirmada entre as Carmelitas Descalças.
     Após três meses, no dia 7 de dezembro de 1932, o Papa Pio XI aprova a fundação do Carmelo em Ponti Rossi, Nápoles, como mosteiro de Carmelitas Descalças. No dia 30 de janeiro onze terciárias recebem o hábito e iniciam o noviciado. Josefina tinha então 39 anos.
     No dia 6 de agosto de 1933 Josefina Catanea torna-se, com a primeira profissão, Irmã Maria Josefina de Jesus Crucificado. A Jesus, naquele dia solene e íntimo, pede uma graça: “Que eu não seja jamais privada do dom preciosíssimo do sofrer”. Jesus a contentou e a configurou a si até o último instante da sua vida. Ir. Maria Josefina, consciente de ter sido escutada, escreve alguns anos mais tarde: “Quando penso que Jesus me colocou com Ele sobre a Cruz, sinto em mim uma maternidade espiritual, uma ternura pelas almas, uma alegria grande, profunda que não sei dizer”. Ir. Maria Josefina, a este ponto, tem um só medo: não amar o Amor.
     A "monja santa", como a chamava o povo, iniciou um grande apostolado principalmente no locutório do convento, acolhendo a todo tipo de pessoas doentes e necessitadas de ajuda, tanto material como espiritual, às quais proporcionava consolo e conselho para encontrar o amor de Deus. Inclusive realizou milagres.
     Sua abnegação prosseguiu também quando foi acometida de outras enfermidades que a obrigaram a usar cadeiras de rodas, crucificando-se com Jesus pela Igreja e pelas almas.
     Em 1934 o Cardeal Alessio Ascalesi, arcebispo de Nápoles, a nomeou subpriora; em 1945, vigária; e em 29 de setembro desse ano, no primeiro capítulo geral, foi eleita priora, cargo que desempenhou até sua morte.
     Sua espiritualidade, sua docilidade amorosa, sua humildade e simplicidade, lhe granjearam grande estima durante os anos da 2ª. Guerra Mundial. Rezava sem cessar, alimentando assim sua confiança em Deus, com a qual contagiava a todos os que se dirigiam em peregrinação a "Ponti Rossi" para escutar suas palavras de alento, consolo e estímulo para superar as provas e as dores das tristes situações resultantes da guerra.
     No dia de sua tomada de hábito dissera: “Eu me ofereci a Jesus Crucificado para ser crucificada com Ele”, e o Senhor aceitou sua oferta. Compartilhou os sofrimentos de Cristo de forma silenciosa, porém alegre. Suportou durante muitos anos duras provas e perseguições com espírito de abandono à vontade de Deus. Também gozou de carismas místicos extraordinários.
     Como queria passar as minhas horas na cela – dizia -, mas as almas me esperam e a tudo devo renunciar por amor a elas”. Nos seus propósitos escrevia: “Esta é a minha vida, ó Jesus: atividade de obediência, de fé, de zelo para levar-te às almas, para conduzi-las a ti.... Que me importa que isto me custe sacrifícios? Não me fez, tu, mamãe das almas? Darei a elas todas as minhas energias por teu amor, resistirei ao trabalho, mesmo sentindo-me faltar as forças, contente de sofrer até a morte, desde que as almas se salvem e te glorifiquem, ó Jesus”.
      Por obediência e por conselho de seu diretor espiritual, escreveu sua "Autobiografia" (1894-1932) e seu "Diário" (1925-1945), bem como numerosas cartas e exortações para as religiosas.
     A devoção de Ir. Maria Josefina à Virgem é grande. Ela explica assim àqueles que se admiram da sua familiaridade com Ela: “Sinto na alma a ternura que a SS.ma Virgem tem pelas almas”. Tendo clara a consciência de que Maria SS.ma operava na sua ida e na vida daqueles que encontra no Carmelo, escreve: “Quero a completa transformação do meu espírito n’Ela”. Escreve: “Maria, nenhum outro, deve unir a nossa alma a Deus bendito, com união íntima de adesão ao divino querer”.
     A partir de 1943 começou a sofrer várias enfermidades especialmente dolorosas, que incluíram a perda progressiva da visão. Convencida de que essas enfermidades eram vontade de Deus, as acolhia como "um dom magnífico" que a unia cada vez mais a Jesus Crucificado. Com um sorriso nos lábios, ofereceu seu corpo como altar de seu sacrifício pelas almas. Morreu no dia 14 de março de 1948 em sua cidade natal.
     Foi beatificada na Catedral de Nápoles pelo Cardeal Crescenzio Sepe em 1º de junho de 2008. A sua memória litúrgica é celebrada em 26 de junho.
 
Fontes:
Reproduzido de Vatican.va
Blog da Comunidade Rainha do Carmelo (OCDS): Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado, rogai por nós!
 

sábado, 22 de junho de 2024

Beata Maria d'Oignies, Beguina e Mística – 23 de junho

 
   
A Diocese de Liège foi o berço das Beguinas graças à vida e à ação de Maria d'Oignies, cujo modo de vida agradou o frei dominicano Tiago de Vitry, seu confessor e discípulo. Quando ele a conheceu um numeroso grupo de mulheres e homens estavam estabelecidos junto ao priorado de São Nicolau de Oignies, próximo à cidade natal de Maria, Nivelles.
     O movimento nascera no final do século XII, sendo que o primeiro convento destas religiosas foi fundado por Lambert Le Bègue na Bélgica. Após a sua fundação, espalharam-se pelos Países Baixos, Alemanha e França.
     As Beguinas eram mulheres piedosas que praticavam uma vida ascética em comum, parecida com a monacal, a maior parte das vezes nos chamados beguinários. Elas dedicavam-se ao cuidado dos doentes e dos pobres, assim como às tarefas caritativas e piedosas, sem estar, contudo, vinculadas a regras de clausura nem a votos públicos.
     Em 1311, o Concílio de Vienne condenou-as por causa do perigo de heresia que representavam. Posteriormente subsistiram sob a forma de asilos. Encontram-se ainda hoje alguns beguinários muito bem conservados em Bruxelas, Antuérpia, Kortrijk e Gante (Bélgica), bem como nos Países Baixos.
*
     Maria d’Oignies nasceu em Nivelles, no Brabante, provavelmente em 1177, numa família abastada. Muito cedo ela nutriu um desprezo pelos prazeres em que normalmente se envolvem as pessoas mais favorecidas; nada lhe agradava tanto como a solidão, onde ela se consagrava inteiramente à meditação sobre as coisas divinas.
     Quando ela completou catorze anos, seus pais fizeram-na desposar um jovem proveniente duma excelente família, que também possuía grande fortuna, cujo nome era João. Durante algum tempo eles viveram a vida conjugal, mas Maria conquistou seu jovem esposo ao seu ideal de vida religiosa. Juntos, na castidade, eles decidem se consagrar a Deus na pobreza e nas obras de piedade. Para o grande desgosto de seus pais e de seus amigos, eles se instalam no leprosário de Willambroux, onde eles viveram vários anos cuidando dos leprosos.
     A personalidade brilhante de Maria aliada a uma vida de austera mortificação atraia visitantes que a consultavam sobre questões de vida espiritual. São atribuídos a ela milagres, leprosos são curados.
     Como ela se tornou muito célebre em Willambroux, sua sede de solidão e de renúncia fez com que, de acordo com seu marido, ela deixasse Willambroux, em 1207, e se juntasse à uma pequena comunidade de religiosas beguinas instaladas junto a um mosteiro de cônegos agostinianos recentemente fundado em Oignies (vilarejo da comunidade de Aiseau-Presles, próximo de Charleroi). Sua reputação de santidade e de sabedoria espiritual cresceu: as pessoas vinham de longe para consultá-la.
     Entre estes visitantes, em 1208, chegou um brilhante teólogo de Paris (mais tarde cardeal), Tiago de Vitry (+ 1240). Ele ficou encantado com a personalidade de Maria. A afinidade foi recíproca. Tiago de Vitry renunciou a uma brilhante carreira em Paris e se instalou em Oignies, onde ele se tornou discípulo, confessor e ‘pregador’ de Maria de Oignies. Ele permaneceu ali até o falecimento da beata em 1213.
     Eram tempos complexos, a Cristandade era dilacerada pelas lutas contra as heresias dos cátaros e dos albigenses. Embora vivendo quase em clausura, Maria acompanhava os acontecimentos. Passava muitas horas noturnas em oração diante do Santíssimo Sacramento. Um dia teve a premonição de que a festa de Corpus Christi seria instituída. Com efeito, isto aconteceu em 1246, na vizinha cidade de Liège, graças a Santa Juliana de Cornillon.
     Em 1212, Maria conheceu São Folco, Bispo de Toulouse, quando os albigenses o expulsaram de sua diocese. O Santo se refugiou em Liège e ficou impressionado com a santidade de vida das Beguinas. Naquele ano Maria recebeu os estigmas. No ano seguinte, no dia 23 de junho de 1213, depois de numerosas e especiais graças, morreu na idade de 36 anos. No leito de morte predisse que surgiria uma ordem de pregadores que para o bem da Igreja venceria a heresia. Folco de Toulouse, junto com São Domingos, lutou contra os cátaros e assistiu à fundação dos primeiros conventos dominicanos.
     Os seus rigores e abstinências obtiveram de Jesus que ela se beneficiasse também de visões celestes, particularmente do seu Anjo da Guarda que lhe aparecia regularmente e a aconselhava. Teve igualmente várias vezes, a “visita” de São João Evangelista que lhe oferecia manjares celestes. Maria d’Oignies tinha pela Virgem Maria uma grande devoção e não hesitava, mesmo durante os rigores do inverno, em visitar um dos seus Santuários; ela peregrinava descalça, em espírito de penitência. 
Antiga Abadia de Oignies
    Em 1216, a pedido de Folco, Tiago de Vitry escreveu uma Vida de Maria d’ Oignies que é praticamente a única fonte de informação sobre a Beata. Para Tiago de Vitry Maria d’Oignies é um exemplo da vida espiritual na Diocese de Liège, que ele avaliava como uma terra de santos. Para obter a aprovação para as Beguinas, e a correspondente comunidade masculina, foi para Perugia sede temporária do Papado. Tiago era um pregador ilustre, teólogo e historiador; foi sagrado bispo de São João d’Acre, na Palestina.
     Em 1226 ou 1228, o corpo de Maria foi exumado e colocado num sarcófago de pedra dentro da igreja do priorado. Em 1609, ocorreu uma nova cerimônia de transladação por iniciativa do Bispo de Namur, Francisco Buisseret. Seus despojos foram repartidos e colocados em três relicários, executados entre 1609 e 1622 pelo ourives Henri Libert, e se conservam respectivamente em Nivelles, Igreja de São Nicolau, em Falisolle e em Aiseau.  
 
Fontes:
Jacques de Vitry, Vita B. Mariae Oigniacensis, dans Acta Sanctorum, juin, vol. IV, 1707. 
Maria d'Oignies – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Beata Margarida Ebner, Dominicana - 20 de junho

     
     Margarida pertencia à família Ebner, da aristocracia alemã, muito rica e respeitada. Quando fez quinze anos de idade vestiu o hábito dominicano no Mosteiro de Maria Santíssima em Medingen, na diocese de Augusta.
     De 1314 até 1326, sofreu diversas e graves enfermidades, permanecendo a maior parte do tempo confinada em seu leito. Era consolada por Deus e chamada a cumprir em tudo a sua divina vontade. Devido às enfermidades não podia realizar as grandes penitências exteriores. Margarida então se mortificava no alimento, no porte, no sono, dedicando-se a uma vida de orações inspirada nos ciclos do ano litúrgico e caracterizada pela meditação dos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Destacou-se pelo silêncio e pela paciência com que suportou suas constantes enfermidades.
     A política influenciou muito a vida da Beata Margarida. Foi uma contemplativa comprometida com a trama da História. Durante oito anos a Alemanha esteve em guerra de disputa da coroa. Para as monjas de Medingen, e especialmente para Margarida, a pátria e o imperador tinham muito espaço em suas orações. Rogavam com fervor pela volta da paz.
     Durante o período do Grande Cisma na Igreja Católica, quando havia três diferentes aspirantes ao trono papal, as monjas do Mosteiro de Maria Santíssima de Medingen ficaram leais ao Papa de Roma. Como resultado, a comunidade foi forçada a se dispersar durante a campanha militar do imperador Luis IV contra as forças papais.
     Em 1324, as monjas saíram do mosteiro devido aquele conflito. Margarida passou dois anos com sua família acompanhada de uma conversa, dentro da segurança dos muros da cidade de Donauworth, antes de poder voltar para o Mosteiro de Maria Santíssima de Medingen. Quando tudo retornou ao normal ela voltou para a clausura daquele mosteiro.
     Margarida era devotíssima da Eucaristia, do Santo Nome e do Coração de Jesus. E ao constatar que os homens morriam aos milhares por causa da guerra, se dedicou particularmente a realizar sufrágios pelos defuntos.
     Em 28 de outubro de 1332, Henrique de Nördlingen visitou o Mosteiro de Maria Santíssima de Medingen. Ali conheceu Margarida e assumiu sua direção espiritual.
     Depois de duras provações, ela recebeu a graça do matrimônio espiritual com Jesus Cristo no dia 1 de novembro de 1347. Sobre isso, nos fala em seu diário espiritual: Toda a minha força e todo o meu poder repousam exclusivamente na dulcíssima Humanidade, que é Jesus Cristo".     
     Margarida Ebner foi, sem dúvida, a figura central do movimento espiritual alemão dos "amigos de Deus", e uma das grandes místicas da região do Reno no século XIV, nos mais de setenta mosteiros alemães da Ordem Dominicana. O seu diário espiritual, escrito de 1312 até 1348, que chegou até os nossos dias, revela a vida humilde, devotada, caritativa e confiante em Deus de uma religiosa provada por muitas penas e doenças. Ela viveu e morreu no amor de Deus, fiel na certeza de encontrar-se em plena comunhão com seu Filho Jesus, como sempre dizia: "Eu não posso separar-me de ti em coisa alguma".
     A santa humanidade de Jesus foi o divino objeto da sua constante e amorosa contemplação e nela reviveu os vários mistérios no exercício da virtude, no holocausto ininterrupto dela mesma, no sofrimento interno e externo, todo aceito e ofertado com Jesus, para Jesus e em Jesus.
Mosteiro de Medingen
     Na noite de Pentecostes de 1348, quando entrava no coro para o Ofício solene de Matinas, a Beata teve a impressão de receber uma graça que declarava incapaz de descrever, similar a recebida pelos Apóstolos quando sobre eles pousou o Espírito Santo. O Senhor prometeu assisti-la em seu trânsito com a Virgem Maria e o Apóstolo São João, e fez uma revelação particular a respeito de sua morte.
     Margarida Ebner morreu aos 60 anos no dia 20 de junho de 1351, no Mosteiro de Medingen, onde foi sepultada. Suas últimas palavras foram: “Demos graças a Deus. Virgem Maria, Mãe de Deus, tem misericórdia de mim”. Seu corpo se venera na igreja de seu convento, que hoje é habitado pelas franciscanas de Medingen. Seu culto imemorial foi confirmado e ratificado por João Paulo II em 24 de fevereiro de 1979.
     Entre os grandes místicos dominicanos do século XIV, brilha a suave figura desta religiosa de clausura que conquistou o apelido de "Imitadora Fiel da Humanidade de Jesus". 
     Sua memória litúrgica acontece em 20 de junho.
 
Fontes:
Margarida Ebner – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus: julho 2015 (santosebeatoscatolicos.com)
 

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Santa Isabel de Schönau, Religiosa e mística - 18 de junho

     
Isabel nasceu, com grande probabilidade, em Bonn, na Renânia, em 1129. Tinha apenas 12 anos quando os pais (dos quais se conhece apenas o nome do pai, Hartwig), a entregaram às monjas da abadia beneditina de Schönau, no Reno, próximo de Sankt Goarshausen, onde ela fez a profissão religiosa em 1147.
     Dez anos mais tarde foi eleita Superiora das monjas, que não tinham abadessa, pois dependiam do abade, que era então Egberto (+ 1184), irmão de Isabel. Este sempre exerceu grande influência sobre Isabel e foi seu conselheiro espiritual e seu primeiro biógrafo. Isabel tinha ainda outro irmão, Rogério, premostratense, que foi preboste em Pòhlde (Saxônia), e um sobrinho, Simão, que também se tornou abade de Schönau.
     Recuperada de uma grave doença em 1152, Isabel começou a ter visões e êxtases, durante os quais falava com Nosso Senhor, Nossa Senhora e com os santos do dia. Às vezes seus êxtases duravam semanas, e aos poucos debilitaram de tal forma o seu físico, que ela faleceu com apenas 35 anos em Schönau no dia 18 de junho de 1164 ou 1165.
     Em 1155, seu irmão Egberto, conhecido pelo seu engajamento contra os cátaros, transcreveu as suas visões em latim. Egberto incitou Isabel a pedir ao Anjo que lhe aparecia algumas explicações sobre certas questões litigiosas. Eis a razão de Isabel ter várias visões que atestam a realidade da transubstanciação, ponto sensível na luta contra os cátaros.
     Entre os livros que escreveu estão Visões (três volumes), Liber viarum Dei e Revelações do martírio de Santa Úrsula e suas companheiras.
     Os três livros das visões tiveram larga difusão durante a Idade Média. O Liber viarum Dei compilado à imitação da Scivias de Santa Hildegarda, se concentra quase inteiramente na necessidade da penitência e de uma reforma moral da Igreja. As visões De resurrectione beatae Mariae Virginis tratam da Assunção de Maria Santíssima, ou seja, a gloriosa trasladação da Mãe de Deus em corpo e alma da terra ao céu. O Liber revelationum de sacro exercitu virginum Coloniensium, escrito entre outubro de 1156 e outubro de 1157, trata em termos legendários de Santa Úrsula e suas companheiras. O primeiro livro é de uma linguagem simples que Isabel pode ter usado, mas os outros empregam uma linguagem mais sofisticada que provavelmente é de Egberto.
     Em certa ocasião de medos religiosos, Isabel escreveu sobre uma experiência que teve durante a missa dominical quando se comemorava a Virgem Maria. Viu no céu “uma imagem de uma mulher real, permanecendo no alto, vestida de branco e envolta em um manto púrpura”. A dama então se aproximou de Isabel e a abençoou com o sinal da cruz e assegurou que ela não seria amaldiçoada pelas coisas que temia. Depois de receber a comunhão na missa, ela teve um êxtase místico e outra visão, declarando que “vi a Nossa Senhora em pé junto ao altar, vestida com uma como que casula de padre e tinha uma coroa gloriosa”. Em seu terceiro texto, Isabel apresenta Maria atuando como intercessora para conter a ira de seu Filho para que não castigasse o mundo por seus pecados.
     Isabel contribuiu com a propagação da devoção a Maria Santíssima junto com outras místicas como Santa Hildegard de Bingen, Santa Matilde de Magdeburg e Santa Gertrudes de Helfta.
     As opiniões divergem quanto às visões e revelações de Isabel. A Igreja nunca se pronunciou a este respeito e nunca mesmo as examinou. A própria Isabel estava convencida do carácter sobrenatural destas, como ela o diz numa carta endereçada a Santa Hildegarda, da qual era muito amiga e que a vinha visitar. Quinze cartas suas autênticas, das quais uma a Santa Hildegarda, chegou até os nossos dias. Ela aí fala dos êxtases com que Deus a agracia.
     As suas obras eram, no seu tempo, mais conhecidas do que as de Santa Hildegarda de Bingen, da qual apenas alguns manuscritos chegaram até nós. Entretanto, numa leitura atenta das obras é possível distinguir nelas a influência do irmão, Egberto.
Relicário  
     As cartas de Isabel de Schönau, de conteúdos variados, são dirigidas a bispos, abades, monjas, escritas de 1154 até o ano de sua morte, nas quais ela usa uma linguagem dura para estigmatizar os vícios da época, linguagem que contrasta com a simplicidade de seu caráter infantil, mostrando-se menos original que sua grande amiga Santa Hildegarda de Bingen, a "profetisa da Alemanha".
     Objeto de veneração particular já em vida e mais ainda depois da morte, em 1584, no tempo de Gregório XIII, o nome de Isabel de Schönau foi inscrito no Martirológio Romano sob a data de 18 de junho «Schonaugiae, in Germania, sanctae Elisabeth virginis, ob monasticae vitae observantiam Celebris» (Comm. Martyr. Rom., p. 244, n. 8). Depois o seu ofício litúrgico foi inscrito na Diocese de Limburgo, que celebra a festa da santa no dia indicado. Das relíquias da santa, profanadas pelos suecos em 1632, foi possível salvar a cabeça, que é venerada atualmente na igreja paroquial de Schönau.
     Santa Isabel de Schönau é invocada contra as tentações. 
 
Fontes:
https://alchetron.com/Elisabeth-of-Sch%C3%B6nau#elisabeth-of-schnau-906d7aeb-d809-4ec0-97d3-44275b30c28-resize-750.jpg
es.catholic.net/op/articulos/36138/isabel-de-schnau-santa.html
https://www.mujeresenlahistoria.com/2013/08/la-santa-visionaria-santa-isabel-de.html
Isabel de Schönau - Wikipedia, la enciclopedia libre
 

sábado, 15 de junho de 2024

O dom profético da Beata Nhá Chica e a Serva de Deus Zélia Pedreira

     
     Certa vez, a Beata Nhá Chica recebeu em sua pequenina casa o nobre conselheiro do Império, João Pedreira do Couto Ferraz. Era o ano de 1873. Ele, casado com Elisa Amália de Bulhões Pedreira, fazia-se acompanhar, entre outras pessoas, de sua filha primogênita que na ocasião contava 15 anos de idade e alimentava o desejo de consagrar-se ao Senhor. Era a jovem Zélia, nascida a 5 de abril de 1857.
     A família encontrava-se no vizinho povoado de Caxambu para desfrutar das suas ricas águas minerais. A boa fama de sábia conselheira da beata Nhá Chica, que naquele tempo já trespassara os limites da pequena vila Baependi, atraia muitos à sua procura. Aquela ditosa família acorreu ao encontro da piedosa serva de Deus para recomendar às suas orações a jovem menina desejosa de Deus.
     Nhá Chica recebeu-os em sua modesta casa e logo depois de “um dedo de prosa” já conhecia as aflições daquela família. Recolheu-se então ao seu quartinho e à intimidade da oração à sua “Sinhá”, modo carinhoso como se referia à pequenina imagem da Senhora da Conceição que herdara de sua mãe. Os hóspedes esperavam na sala. Pouco tempo depois, voltou a velha senhora e, sem transparecer sombra alguma de dúvida, pronunciou o oráculo profético:
     - Ela vai se casar! Terá muitos filhos e no fim da sua vida será toda de Nosso Senhor.
Regressaram a Caxambu, mas não se esqueceram das palavras proféticas de Nhá Chica.
     Zélia recebera primorosa educação literária, artística e científica e revelava especial pendor para o estudo dos idiomas. Falava e escrevia corretamente o francês, o inglês, o espanhol e o italiano. Conhecia ainda o alemão, o latim e o grego.
“Ela vai se casar!”
     
O ingresso na vida religiosa feminina não era algo fácil, visto que naquela altura não eram muitas as casas religiosas femininas no Brasil e o noviciado era normalmente feito na Europa. Por esses ou outros motivos, o certo é que Zélia não ingressou então na vida religiosa, mas pelo contrário, cerca de três anos depois, em 27 de julho de 1876 casou-se com o Dr. Jerônimo de Castro Abreu Magalhães, engenheiro civil e homem de particular espírito religioso.
     Após uma temporada em Petrópolis, o casal fixou-se na Fazenda Santa Fé, na Vila do Carmo de Cantagalo, Província do Rio de Janeiro. Lá se constituía em um autêntico lar cristão. Na fazenda havia uma capela, na qual inúmeras vezes ao dia Zélia era encontrada rezando. Os escravos da fazenda sempre iniciavam o trabalho do dia com uma oração guiada por ela e seu esposo no pátio da fazenda onde havia um coreto. Zélia muito se preocupava com a vida espiritual deles, por isso, sempre participavam da missa, se confessavam e recebiam sólida catequese, oferecida por Zélia e Jerônimo. Ela mesma os catequizava: adultos e crianças.
     Eles nunca tratavam seus escravos como propriedade. Na fazenda dos servos de Deus eles viviam em liberdade e recebiam salário. Quando foi assinada a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, que abolia a escravidão no Brasil, eles permaneceram na Fazenda Santa Fé, pois sempre viveram e foram tratados como pessoas livres. Na fazenda, o piedoso casal construiu uma enfermaria para tratar dos doentes e periodicamente vinha um médico, e Zélia mesma com seus filhos iam visitá-los e inclusive tratar deles.
“Terá muitos filhos”
Os filhos do casal
     
Desse feliz matrimônio nasceram treze filhos, dos quais quatro faleceram em tenra idade. Os demais, três homens e seis mulheres abraçaram a vida religiosa em diferentes Ordens e Congregações: um lazarista, um jesuíta e um franciscano; quatro doroteias e duas irmãs do Bom Pastor.
     Sabe-se que também o casal sempre desejou consagrar-se ao Senhor, mas Jerônimo não pode, morreu em 1909, deixando viúva sua amada esposa que, quatro anos mais tarde em 1913, depois de cuidar do seu pai até a morte, entrou com uma permissão especial, para o Convento das Servas do Santíssimo Sacramento, estabelecido em 1912 no Largo do Machado, no Rio de Janeiro.
     Contudo, uma de suas filhas gravemente enferma e seu jovem filho, Fernando, jesuíta, não tendo ainda os votos perpétuos, fizeram com que Zélia esperasse ainda mais um pouco para concretizar sua plena consagração a Cristo.
     Somente em 1918, após vender todos os seus bens e doá-los aos pobres e à Igreja, cumprindo assim a ordem do Evangelho (Mt 19,21) de vender tudo e dar aos pobres para depois seguir a Jesus Cristo mais de perto, Zélia pode concretizar a sua consagração há tantos anos predita profeticamente por Nhá Chica: “... no fim da sua vida, ela será toda de Nosso Senhor”.
     Zélia, não achando suficiente ter renovado nove vezes o sacrifício de entregar seus filhos a Deus, entregou a si mesma, como sua maior prova de amor. Passou então a chamar-se Irmã Maria do Santíssimo Sacramento, ao tomar o hábito religioso em 22 de janeiro 1918.
     Ela terminou sua edificante e modelar existência, a 8 de setembro de 1919, em justa fama de santidade. Foi sepultada em um simples jazigo no Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro.
     Em 1937 por causa do grande número de fiéis que frequentemente iam rezar no seu túmulo, resolveram transladar os seus restos mortais para a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana.
A família da Serva de Deus
     
A transladação seria muito discreta e constaria somente de uma Missa na Paróquia, celebrada pelos seus três filhos. Quando, porém, souberam da transladação, uma multidão acorreu ao Cemitério e o número de fiéis era tão grande que parecia uma procissão, o trânsito parou e no dia seguinte todos os jornais noticiaram o que havia ocorrido. A igreja não comportou todo o povo e por isso uma grande multidão se acomodou nas ruas laterais da Paróquia.
     Um dos seus filhos, o franciscano, Frei João José Pedreira de Castro, visitou em 7 de janeiro de 1953 a Igreja da Conceição, onde se encontram os restos mortais da Beata Francisca Paula de Jesus – Nhá Chica e registrou o seguinte depoimento:
     “Tive hoje mais uma vez a oportunidade de visitar o túmulo de Nhá Chica. É sempre com profunda emoção que me achego deste túmulo que encerram os despojos venerandos de quem em vida só teve uma preocupação: a piedade e a caridade. Alma simples do povo, Nhá Chica avantajou-se prodigiosamente. Acentuo esse advérbio, quer em vista dos muitos prodígios (profecias, graças, quiçá milagres), que dão atestados terem sidos recebidos por sua intercessão durante a sua vida e após a sua morte, quer relativamente à sua personalidade. (…) Permita a Providência Divina que a Autoridade Eclesiástica tenha por bem aprovar sempre mais e promover a devoção de Nhá Chica, esse maravilhoso exemplo de uma cristã que soube objetivar em si plenamente o evangelho”.
     Já no céu, Frei João vê elevada às honras dos altares a Beata Nhá Chica e com certeza, aguarda o mesmo para sua piedosa mãe.
     Inúmeras são as graças alcançadas pela intercessão da Serva de Deus Zélia, esta grande mãe de família, viúva, filha fiel e toda de Deus. Mas, não só! Também são incontáveis as graças alcançadas pela intercessão de seu piedoso esposo, Jerônimo.
Processo de Beatificação
     No dia 20 de janeiro de 2014, o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta inaugurou oficialmente o processo de beatificação do casal Jerônimo e Zélia que poderá ser o primeiro casal brasileiro a receber o título de beatos da Igreja.
     As relíquias de ambos foram transladadas para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Gávea, onde estão expostas para veneração pública.
 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Beata Albertina Berkenbrock, Virgem e mártir - 15 de junho

 
   
A virtude da pureza, hoje tão vilipendiada e até ridicularizada, é uma das virtudes mais queridas e valorizadas por Nosso Senhor e Nossa Senhora. A Igreja não poderia agir diferentemente deles. Desde o início, nos primeiros séculos do Cristianismo, a virgindade consagrada ao Senhor teve sempre lugar de destaque. 
     Jesus mesmo, em uma das "bem-aventuranças" disse: "bem-aventurados os puros, pois, verão a Deus". Deus é a infinita pureza, a infinita santidade.
     A Igreja considera como verdadeiro martírio pela fé quem, na defesa de sua pureza, virgindade e/ou castidade, deu a própria vida, testemunhando, assim, a firmeza de seus propósitos e a esperança que tem de um dia possuir os bens eternos, que não terão fim jamais. 
     Lembramos hoje do martírio de Albertina Berkenbrock.
*
     Albertina Berkenbrock nasceu a 11 de abril de 1919, em São Luís, Imaruí (Brasil), numa família de origem alemã, simples e profundamente cristã. Era filha do casal de agricultores, Henrique e Josefina Berkenbrock, e teve mais oito irmãos e irmãs. A família Berkenbrock rastreia as suas origens ao dorf de Schoppingen, arrabalde de Münster.  Albertina foi batizada no dia 25 de maio de 1919, crismou-se a 9 de março de 1925 e fez a primeira comunhão no dia 16 de agosto de 1928.
     Há uma singular concordância entre os testemunhos dados nos vários processos canônicos por parte das testemunhas que a tinham conhecido e convivido com ela, ao descrevê-la como uma menina bondosa no mais amplo sentido do termo. A natural mansidão e bondade de Albertina conjugavam-se bem com uma vida cristã compreendida e vivida completamente. Da prática cristã derivava a sua inclinação à bondade, às práticas religiosas e às virtudes, na medida em que uma criança da sua idade podia entendê-las e vivê-las.
Familiares da Beata Albertina
     Ajudava os pais no trabalho dos campos e especialmente em casa. Sempre dócil, obediente, incansável, com espírito de sacrifício, paciente, até quando os irmãos a mortificavam ou lhe batiam ela sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus, que amava sinceramente.
     Confessava-se com frequência, ia regularmente à missa, preparou-se com muita diligência para a primeira comunhão e comungava com fervor. Falava muitas vezes da Eucaristia e dizia que o dia de sua primeira comunhão fora o mais belo de sua vida.
     A frequência aos sacramentos e a profunda compenetração que mostrava ter na participação da mesa eucarística é um índice de maturidade espiritual que a menina tinha alcançado; distinguia-se pela piedade e recolhimento.
     Albertina foi também muito devota de Nossa Senhora, venerava-a com carinho, tanto na capela da comunidade como em casa. Junto com os familiares recitava o terço e recomendava a Maria sua alma e sua salvação eterna. Tinha especial devoção a São Luis Gonzaga, titular da capela e modelo de pureza.
     O cenário no qual foi consumado o delito é terrivelmente simples, quanto atroz e violenta foi a morte de Albertina. No dia 15 de junho de 1931, estava ela apascentando os animais de propriedade da família quando o pai lhe disse para ir procurar um bovino que se tinha distanciado. Ela obedeceu. Num campo vizinho encontrou Indalício e perguntou-lhe se tinha visto o animal passar por ali.
     Indalício Cipriano Martins, conhecido com o nome de Manuel Martins da Silva, era chamado pelo apelido de Maneco. Tinha 33 anos, vivia com a mulher próximo da casa de Albertina e trabalhava para um tio dela. Embora já tivesse matado uma pessoa, era considerado por todos um homem reto e um trabalhador honesto. Albertina muitas vezes levava-lhe comida e brincava com os seus filhos; portanto, era uma pessoa do seu conhecimento.
     Quando Albertina lhe perguntou se tinha visto o boi, Maneco responde que sim, acrescentando que o tinha visto ir para o bosque próximo dali e ofereceu-se para acompanhá-la e ajudar na busca. Mas, ao chegarem perto do bosque, fez-lhe proposta libidinosa, e a seguira com intenção de lhe fazer mal. Albertina não consentiu e Maneco então a pegou pelos cabelos, jogou-a ao chão e, visto que não conseguia obter o que queria porque ela reagia, pegou um canivete e cortou o seu pescoço. A jovem morreu imediatamente. Dos testemunhos dos companheiros de prisão de Maneco foi revelado que a menina não aceitou o convite dizendo que aquele ato era pecado. A intenção de Maneco era clara, a posição de Albertina também: não queria pecar.
     O assassino despistou o crime, dizendo que encontrou o corpo de Albertina e colocando a culpa de tudo em João Candinho: "Foi esse homem que matou Albertina!" O rapaz foi preso, protestou, jurou inocência aos prantos, mas foi tudo inútil. Os colonos, que testemunharam tudo, começaram a duvidar: "Acaso não seria Maneco o assassino?"
     Durante o velório, Maneco controlava a situação fingindo velar a vítima e ficando por perto da casa. Porém, algumas pessoas notaram um fenômeno: todas as vezes que ele se aproximava do cadáver de Albertina a grande ferida do pescoço começava a sangrar.
     
Dois dias depois chegou o prefeito de Imaruí, que acalmou a população e mandou soltar João Candinho. Foi à capela, tomou um crucifixo e, acompanhado por Candinho e outras pessoas, foi à casa do pai de Albertina e o colocou sobre o peito da menina morta. Mandou também que João Candinho colocasse as mãos sobre o crucifixo e jurasse que era inocente, e ao fazer isto, segundo os presentes, a ferida parou de sangrar.
     Entretanto, Maneco acabava de fugir. Preso em Aratingaúba, confessou este e outros crimes e teria revelado que matou Albertina porque ela recusara ceder à sua intenção de manter relações sexuais com ela.
     Maneco Palhoça foi levado para Laguna. Correu o processo, e ele foi condenado. Levado para a penitenciária, se comportou bem enquanto esteve na prisão e depois de alguns anos faleceu.
     No funeral de Albertina participou um elevado número de pessoas e todos diziam já que era uma "pequena mártir", pois dado o seu temperamento, a sua piedade e delicadeza, estavam convencidos de que tinha preferido a morte ao pecado. Albertina sacrificou a vida somente pela virtude.
     Em 1952, na mesma capela onde Albertina recebeu a Primeira Comunhão, reuniu-se o Tribunal Eclesiástico da arquidiocese de Florianópolis para dar início ao processo de sua beatificação. Devido a várias circunstâncias, de 1959 em diante, o processo de Albertina foi interrompido, sendo retomado no ano de 2000.
     Com o decreto de beatificação assinado por Bento XVI, no dia 16 de dezembro de 2006, Albertina Berkenbrock foi beatificada em uma solene celebração, no dia 20 de outubro de 2007, na Catedral Diocesana de Tubarão; o Cardeal Saraiva presidiu a beatificação de Albertina Berkenbrock.
 
Capela no local do martírio


Fontes:
https:/www.vatican.va/

terça-feira, 11 de junho de 2024

Beata Mercedes Maria de Jesus, Fundadora - 12 de junho


Patrona dos missionários equatorianos “ad gentes”
 
     O povo católico do Equador e a Igreja universal podem venerar com alegria duas “flores” nascidas naquele país: a «Açucena de Quito», Santa Mariana de Jesus, e a “Rosa de Guayas”, como carinhosamente é conhecida a Beata Mercedes de Jesus. O perfume de santidade dessas duas flores, de poderosa intercessão celestial, é exemplo e estímulo para uma autêntica vida católica.
     Mercedes se destaca não só por seus dotes espirituais e religiosos, mas também por suas qualidades de grande dama, transmitidos por meio de uma vida ativa e profundamente contemplativa, institucionalizados pelo cumprimento de sua missão de fundadora de uma família religiosa na Igreja do Equador, as Irmãs Marianitas, e por seu legado: “ser amor misericordioso aonde há dor humana”.
      Mercedes Molina de Ayala nasceu no dia 20 de fevereiro de 1828, em Baba, então Departamento de Guayaquil. Era a quarta filha do casal Dom Miguel Molina y Arbeláez e da Sra. Rosa de Ayala y Olvera, família abastada, proprietária de grandes extensões de terra, com plantações de cacau e frutos tropicais. Recebeu as águas batismais na cidade de Pueblo Viejo, em 5 de março do mesmo ano, e sua Primeira Comunhão, bem como sua Confirmação, recebeu das mãos de Mons. Francisco Javier de Garaicoa, em 19 de maio de 1839.
     Sua respeitável mãe ficou viúva quando Mercedes tinha somente dois anos de vida. Ela se consagrou totalmente ao cuidado de seus filhos, lhes ensinando firmeza nos bons propósitos, a justiça, a solidariedade, e que em seus lábios sempre habitasse a verdade.
     “Mercedita, menina de beleza nada comum, nascida em um lar respaldado por uma fortuna apreciável, era modelo de virtudes singulares”.
     No ano de 1841, era uma bela jovenzinha que atraía pretendentes, quando também morre Dona Rosa. A perda de sua mãe foi uma dor indizível. Mercedes ficava órfã de pai e mãe, em companhia de seus irmãos, Maria e Miguel Molina de Ayala.
     Após uma grave queda de cavalo, Mercedes passou por uma conversão, resolvendo levar uma vida de piedade e penitência. Em 1849, quando acabava de cumprir vinte e um anos, renunciou a um brilhante matrimônio, e resolveu se dedicar à ação social e apostólica em um asilo de órfãos. Repartiu todos os bens que havia herdado de seus pais, que tinham provido seus filhos não apenas de dinheiro, mas de uma esmerada educação intelectual e artística.
     Ela se dedicou então aos órfãos em Guayaquil, depois em Cuenca. Foi justamente por essa época que ela conheceu Santa Narcisa de Jesús Martillo Morán, com quem compartilhou sua casa por muito tempo para se ajudarem mutuamente no caminho da cruz, e praticarem juntas a virtude, a oração e a penitência.
     Mercedes viveu inicialmente consagrada a Deus no mundo, sob a direção de sacerdotes insignes. Desta maneira buscava identificar–se com Cristo crucificado, a quem havia elegido acima de qualquer outro amor humano, pela oração e pela penitência.
     Em 1862, começou a levitar quando rezava, perdia os sentidos e tinha êxtases depois de comungar. No ano seguinte, sua fama de beata se estendeu por toda cidade ocasionando os mais variados comentários.
     Grande devota de Santa Mariana de Jesus, se propôs seguir seu exemplo de santidade e à chegada do Padre Garcia, designado Superior da Comunidade Jesuíta de Guayaquil em 1863, fez votos de pobreza, obediência e castidade.
     Naqueles dias, duas damas tinham reunido numerosas crianças pobres do bairro às quais ensinavam, vestiam e davam de comer em uma casa chamada orfanato "A Beneficência".
     Na noite do dia 1º de fevereiro de 1867, aos 39 anos de idade, Mercedes de Jesus tomou a resolução mais importante de sua vida. Furtivamente escapou da casa de sua única irmã, onde vivia, e passou a madrugada no interior da Igreja de São José, absorta em oração. Ao amanhecer, ouviu Missa, comungou, e com algumas poucas peças de roupa no braço, foi para o orfanato, aonde a receberam com imenso júbilo. Sua irmã Maria se encolerizou tanto, que levou muitos anos para perdoá–la e voltar a falar com ela.
     No orfanato passou alguns meses se adestrando no serviço de seus semelhantes, até que o Padre Garcia, que estava em Gualaquiza fundando uma missão, a mandou chamar para que ela o ajudasse em sua obra. Grande foi a surpresa de Mercedes de Jesus ao receber a carta, porém cumpriu a ordem imediatamente e viajou para aquela região dos índios jibaris em 1870, perdendo peso em dez meses de trabalhos rudes e cansativos.
     Em maio de 1871, voltou para Cuenca, fundou o Beatério de Santa Mariana e deu aulas a numerosas meninas. Anos depois, quando seu processo de beatificação foi instaurado, várias velhinhas se apresentaram declarando que haviam sido suas alunas, e que conservavam gratas recordações dela por ser carinhosa com todas.
     Em janeiro de 1873 Mercedes transferiu–se para Riobamba, fundou outro Colégio e caiu gravemente doente. O médico que a assistiu pensou que ela morreria e assim o disse, mas a Beata, com toda calma lhe disse: "Não é verdade, porque tive uma visão. Vi um roseiral muito frondoso e florido que representa a Congregação e esta ainda não cresce, por isso eu viverei o suficiente e muitos anos mais". E sarou em seguida. É por este motivo que ela ficou conhecida como “a Rosa de Guayas”.
     Todos esses trabalhos providencialmente iam acrisolando sua vocação de fundadora.
     Finalmente, na segunda-feira de Páscoa, dia 14 de abril de 1873, recebeu a aprovação do Bispo de Riobamba. Nasceu então, oficialmente, a Congregação das Religiosas de Santa Mariana de Jesus, as Marianitas, nome de sua escolha por ter assumido desde sua juventude a espiritualidade da Santa equatoriana.
     A Beata Mercedes Maria de Jesus Molina é a Fundadora do primeiro Instituto Religioso na Igreja do Equador. O Instituto tinha como meta o atendimento aos órfãos, dar asilo às convertidas e às jovens em perigo, a assistência às prisões. O Instituto tinha e tem uma espiritualidade missionária.
     A Beata Mercedes é pioneira na educação da mulher equatoriana, pois no início do século XIX as escolas destinadas à educação feminina eram quase desconhecidas. É a mulher genial que abre caminho em um lugar geográfico e em um momento histórico em que ninguém então pensava neles. É a criadora de sua própria pedagogia baseada no método direto, prático e integral. Tem metas claras, concretas e precisas; sua preocupação constante não foi elaborar metas teóricas, mas práticas, caracterizadas por uma ação direta, persistente e maternal; sempre equânime e serena, amável e acessível, firme e segura, respeitosa.
     Por três anos a Beata exerceu “o ofício de mãe terna, servindo–os nas enfermidades, cheia de caridade e bondade com todos”, enquanto trabalhava no asilo de órfãos. E assim continuou levando uma vida exemplar, de amor ao próximo e de sacrifício até o heroísmo. Devido aos jejuns e às penitências, seu corpo foi se debilitando pouco a pouco, até que a morte a surpreendeu, em odor de santidade, no dia 12 de junho de 1883, no seu Instituto de Riobamba, aos 55 anos de idade.
      Seus restos foram venerados por horas e ao ser sepultado se constatou que a mão esquerda, que sustentava um crucifixo, estava endurecida e por mais esforços que se fizesse, não a puderam dobrar, impedindo fechar a tampa do ataúde; porém o resto do corpo estava flexível.
     A Madre Superiora então se dirigiu a ela, dizendo: "Mercedes, você que foi tão obediente em vida, obedeça morta e abaixe o braço". Imediatamente o braço abaixou deixando perplexos os presentes, a ponto de o Padre Redentorista que oficiava a Missa pedir para abençoar a multidão com o mesmo braço da defunta, o que foi feito em seguida.
     Seus restos descansam na cidade de Riobamba, na mesma casa onde fundou a Congregação das Marianitas.
     Três anos depois de sua morte foi iniciado o primeiro processo para a sua beatificação, que se interrompeu por um longo tempo por causas políticas e por obra de pessoas contrárias ao seu Instituto.
     O processo foi retomado em 1929; a causa foi introduzida pelo Papa Pio XII em 8 de fevereiro de 1946. O decreto de suas virtudes foi expedido em 27 de novembro de 1981; um milagre atribuído a sua intercessão foi reconhecido em 9 de junho de 1984. No dia 1º de fevereiro de 1985, “a Rosa de Guayas” foi beatificada durante a visita pastoral de João Paulo II ao Equador.
     Em 1948, nas bodas de diamante da Congregação fundada pela Beata, a Santa Sé aprovou os estatutos redigidos por ela em Gualaquiza, embora com algumas reformas.
     Essa educadora e missionária, católica exemplar, a primeira fundadora de uma congregação equatoriana, merece toda nossa veneração. Essa “Rosa” plantou um imenso roseiral, segundo seu sonho e sua inspiração, que se estendeu às diversas nações, espalhando seu perfume apostólico na Igreja da América Latina.
 
Sólo para padecer
pido a Dios que me dé vida
hasta que toda sumida
en penas me pueda ver.
No tengo, no, otro querer
y anhela mi razón
amar la tribulación,
la pena y el desconsuelo
con amor, con fe, con celo
y humildad de corazón
Así lo desea y quiere:
Mercedes de mi Jesús.
Guayaquil, Mayo 12 de 1866
 

domingo, 9 de junho de 2024

Beata Ana Maria Taïgi, Esposa, Mãe e Mística - Padroeira das mães de família - 9 de junho

     
     Ana Maria Antônia Gesualda nasceu na bela cidade toscana de Siena, na Itália, em 29 de maio 1769. Era filha única de um conceituado farmacêutico de Siena. Quando os negócios pioraram, a família foi obrigada a emigrar para Roma em busca de melhores condições de vida. Os pais de Ana trabalharam no serviço doméstico em casas particulares, enquanto a menina era internada em uma instituição que se encarregava da educação de crianças sem recursos.
     Durante dois anos ela permaneceu nas Mestras Pias Filipinas, mas apenas conseguiu rudimentos de leitura e escritura. Na idade de treze anos, Ana começou a ganhar o pão com seu trabalho. Durante algum tempo esteve empregada em uma fábrica de tecidos de seda e depois trabalhou no palácio dos Chigi, onde já estavam empregados seus pais.
     Mas a vida mundana de luxo fácil que a cidade eterna proporcionava chegou a tentar esta jovem. Conseguiu passar ilesa porque se casou, aos vinte e um anos, no dia 7 de janeiro de 1790, com Domingos Taïgi, servidor do palácio Chigi. Ele era um homem piedoso, mas de caráter difícil e grosseiro, que nunca compreendeu os dons especiais da esposa.
     Vivendo no ambiente da corte, o casal acabou buscando a felicidade fútil das festas, vaidades, diversões e fortuna. Depois de três anos ela viu o vazio de sua vida familiar e o quanto estava necessitada de Jesus. Foi a uma igreja e fez uma confissão profunda com um sacerdote que se tornou seu diretor espiritual. Foi então que ocorreu sua conversão.
     "Cerca de um ano depois de nosso casamento", diz Domenico em seu depoimento oficial, "a Serva de Deus, ainda na flor de sua juventude, desistiu pelo amor de Deus, de todas as joias que costumava usar - anéis, brincos, colares e assim por diante, e passou a usar a roupa mais simples possível. Ela pediu minha permissão para isso, e eu dei a ela de todo o coração, pois vi que ela estava inteiramente entregue ao amor de Deus".
     Ana Maria iniciou uma nova vida dedicada aos deveres cristãos e a procura da santificação. Ela quis se entregar a duras penitências, mas o padre a fez compreender que seu sacrifício consistia no amor e fidelidade ao sacramento do casamento e no papel de mãe.
     Por 49 anos ela, finíssima no trato, teve a oportunidade de exercitar continuamente a paciência e a caridade. Conhecendo todo o valor do casamento e considerando-o como uma altíssima missão recebida do céu, a Beata transformou a sua casa em um verdadeiro santuário onde Deus tinha o primeiro lugar. Dócil ao marido, fazia com que nada faltasse à família e o pouco que tinha era sempre dividido com os pobres e doentes que nunca deixou de ajudar.
     A sua família foi crescendo com a chegada de sete filhos, três dos quais morreram ainda pequenos, e dos seus velhos pais. Mas ela encontrava tempo para ajudar nas despesas da casa costurando sob encomenda. Mais tarde, quando a filha Sofia ficou viúva com seis filhos, foi Ana Maria que os acolheu e criou dando-lhes uma formação reta.
     Ana Maria era devotíssima da Ssma. Trindade, de Jesus Sacramentado e da Paixão de Nosso Senhor; tinha uma terníssima devoção por Nossa Senhora. Em 26 de dezembro de 1808, ingressou na Ordem Secular Trinitária e tornou-se fervorosa serva e adoradora da SSma. Trindade.
     Favorecida com dons especiais da profecia, tornou-se conhecida por seus conselhos no meio do clero. Ana Maria se tornou muito respeitada durante todos os quarenta e sete anos em que "um sol luminoso aparecia diante dos olhos, onde via os acontecimentos do mundo, os pensamentos e as almas das pessoas", como ela mesma descrevia.
     Foi conselheira espiritual de vários sacerdotes, hoje todos Santos, como Vicente Pallotti, Gaspar Del Búfalo, Vicente Maria Strambi, de nobres e outras personalidades eclesiásticas ilustres.
     Na sua declaração juramentada, e que pode ser consultada no processo de beatificação de Ana Maria, o Cardeal Pedicini se refere aos portentos que ele presenciou nessa mulher extraordinária. Diz o citado Cardeal que Ana Maria Taïgi via os pensamentos mais secretos das pessoas presentes ou ausentes; os acontecimentos dos séculos passados, e a vida que levavam as mais importantes personagens. Este dom era o conhecimento de todas as coisas em Deus, na medida em que a inteligência humana é capaz de conhecê-lo nesta vida. E acrescenta o Cardeal: "Me sinto impotente para descobrir as maravilhas de quem fui confidente durante 30 anos".
     A Beata Ana Maria faleceu em 9 de junho de 1837. O Papa Bento XV a beatificou em 1920, designou sua celebração para o dia de sua morte e a declarou padroeira das mães de família. O decreto de beatificação a aponta como: "prodígio único nos fastos da santidade". O corpo da Beata Ana Maria Taïgi, que prodigiosamente se conservou incorrupto, está guardado na Igreja de São Crisógono, em Roma, numa Capela a ela dedicada.

Revelações de Deus à Beata Ana Maria Taïgi
     Deus enviará ao mundo duas espécies de castigos. Primeiro virão vários castigos terrenos: vão ser muito maus, mas serão mitigados e encurtados pelas orações e penitências das almas santas.  Haverá grandes guerras nas quais morrerão pelo ferro milhões de pessoas (as duas Grandes Guerras do séc. XX?). Mas depois destes castigos terrenos virá o celeste que será dirigido aos impenitentes. Este castigo será muito mais horroroso e terrível, não será mitigado por coisa alguma, atuará em todo seu rigor e será universal. Contudo, em que este castigo consistirá Deus não o revelou a ninguém, nem mesmo aos Seus mais íntimos amigos.
     Trevas excessivamente espessas se espalharão pelo mundo inteiro e envolverão a terra durante três dias e três noites. Durante essas trevas será absolutamente impossível distinguir-se qualquer coisa. O ar ficará empestado pelos demônios que aparecerão sob todas as formas, as mais odiosas. Essa pestilência atingirá não exclusivamente, mas bem principalmente, os inimigos da religião, ocultos ou conhecidos, com exceção de alguns poucos que Deus converterá logo depois.
     Enquanto durarem as trevas será impossível a luz natural. Aquele que por curiosidade abrir as janelas, olhar para fora, ou sair pela porta, cairá morto instantaneamente. Durante esses dias devemos ficar em casa rezando o Rosário e invocando a misericórdia de Deus. As velas bentas preservarão da morte, assim como a invocação a Maria e aos Anjos.
     A religião será perseguida e os padres massacrados. As igrejas estarão fechadas, mas apenas por um curto período de tempo. O Santo Padre será forçado a deixar Roma.
     A França cairá numa terrível anarquia. Os franceses terão uma guerra civil durante a qual até os mais velhos pegarão em armas. Os partidos políticos, tendo esgotado o seu sangue e a sua raiva sem terem conseguido chegar a qualquer solução satisfatória, concordarão, como último recurso, em apelar à Santa Sé. Então o Papa enviará um legado especial à França... Seguindo as informações recebidas, o próprio Papa nomeará um Rei muito cristão para governar a França.
     Depois dos três dias de trevas, São Pedro e São Paulo... designarão um novo papa... Então o Cristianismo se espalhará pelo mundo.
     Ele é o Santo Pontífice escolhido por Deus para resistir à tempestade. Em última análise, ele terá o dom dos milagres e o seu nome será louvado em toda a terra.
     Nações inteiras retornarão à Igreja e a face da terra será renovada. Rússia, Inglaterra e China entrarão na Igreja.
                                                           (das Atas de Beatificação de Ana Maria Taïgi)
 
     Em outra ocasião Nosso Senhor comunicou a Beata o grande e próximo triunfo de Sua Igreja. Nosso Senhor disse-lhe: “Primeiro cinco grandes árvores têm de ser cortadas, a fim de que o triunfo possa vir. Essas cinco grandes árvores são cinco grandes heresias”. A Serva de Deus disse então: “Duzentos anos apenas serão suficientes para que tudo isto aconteça?” Nosso Senhor respondeu: “Não levará tanto tempo quanto tu julgas”.
 
 
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Místicos da Igreja: Beata Anna Maria Taigi -Esposa Mãe & Mística (mysticsofthechurch.com)