Acima de tudo, Santa Sílvia foi uma mãe afetuosa, cuidadosa e carinhosa. Nascida por volta do ano 520, aos 18 anos foi dada em casamento a Gordiano, um personagem relativamente abastado e que desempenhava uma função pública.
Santa Sílvia, celebrada no dia 3 de novembro, teve sua memória acrescentada ao calendário da Igreja no século XVII, quase 1.200 anos após sua morte. Sabemos muito pouco sobre ela, mas o pouco que sabemos é suficiente para justificar o fato de ela ter ganhado a glória do altar.
Descendente de uma antiga família cristã
Quando Sílvia se casou com seu primo distante, o senador Gordiano, em Roma, por volta do ano 538, ela devia ter 18 ou 20 anos. Ambos pertenciam a uma família patrícia muito antiga, os Acilii Glabriones, os últimos descendentes da aristocracia republicana. Seu avô, o cônsul Marcus Acilius Glabrio, havia se convertido ao cristianismo já no ano 70. Morreu por Cristo em 83, por negar os deuses pagãos.
A família permaneceu firme defensora da Igreja. É por isso que não emigraram para Constantinopla, como fizeram quase todos os patrícios no século IV. Preferiram o humilde serviço de Deus e o papado sob perseguição às grandes carreiras políticas e militares da corte imperial.
Servindo à família e a Deus
Quando se casou com Gordiano, Sílvia sabia que o casamento deles - como era prática em famílias muito piedosas - duraria pouco tempo. Depois que ela tivesse assegurado o futuro da família dando filhos ao marido, o casal se separaria para “viver no santo propósito”, ou seja, ambos entrariam no serviço de Deus.
Esta escolha, que nos parece surpreendente, era comum na época. Existiam verdadeiras famílias sacerdotais, com homens casados e com filhos separando-se das esposas e adotando o celibato e tornando-se padres, bispos e até papas. Seus filhos, muitas vezes, seguiram seus passos. Na verdade, Gordiano era tataraneto de Félix III.
Sílvia também sabia que estava apostando no futuro, pois os tempos eram ruins no século VI. Foi tão difícil que algumas pessoas, pensando que o fim do mundo era iminente, recusaram-se a casar e a ter filhos. Este não foi o caso do jovem casal, que se instalou na vasta casa de família no Monte Célio, em Roma. Eles levaram a vida típica de seu meio, entre as obrigações mundanas, a oração e a caridade.
Entre os dois há um amor verdadeiro e de profunda inspiração cristã. Toda a família respira cristianismo: as irmãs de Gordiano (Santas Tarsila e Emiliana) vivem em casa uma vida quase monástica, temperada pela oração e pela penitência. As histórias que chegaram até nós dizem que da união do casal houve alguns filhos, provavelmente dois; o primeiro deles passaria para a história com o nome de Gregório Magno, um dos papas mais importantes da Igreja antiga.
Ela deu à luz Gregório em 540, depois de um primeiro cujo nome não sabemos. Depois disso, Gordiano e Sílvia desistiram da vida de casados, embora continuassem a viver na mesma propriedade, grande o suficiente para evitar a tentação. Mais tarde ela retirou-se para o que ficaria conhecido como “oratório de Santa Sílvia” e depois para a igreja de Santa Sílvia.
Amor materno, espelho do amor divino
Os dois filhos seguem a carreira paterna, trabalhando em cargos públicos: Gregório, por exemplo, trabalhará na corte do império bizantino e, posteriormente, desempenhará o papel de Prefeito de Roma. Apesar da carreira meteórica, Gregório se sente atraído pela vida monástica e, após a morte do pai, transforma a propriedade da família em Célio num mosteiro em que ele e outros jovens vão viver a vida ascética.
Perante a escolha do filho, Santa Sílvia decide viver igualmente uma vida retirada para se dedicar à oração e à penitência; sempre preocupada com a saúde frágil do filho, todos os dias prepara um prato de legumes ou verduras que ela mesma cultivava em sua horta e manda para que seu filho coma no mosteiro onde vive. Mais tarde, a pedido do Papa, Gregório se tornará diácono e o futuro Papa Gregório. A memória de Santa Sílvia e de seu gesto carinhoso em relação ao filho, foram conservados na Igreja, mostrando como a santidade se manifesta mesmo nas pequenas ações e no seio da família cristã.
Como exemplo de amor maternal, São Gregório um dia contaria esta anedota. Quando menino, enquanto brincava na beira de uma janela de um andar alto, sua mãe o pegou quando ele estava prestes a cair. Primeiro, ela instintivamente deu-lhe um tapa de terror por ele ter colocado sua vida em perigo descuidadamente, depois, chorando de alívio, ela desesperadamente o segurou perto dela e o cobriu de beijos. Esta memória serviu para ilustrar o amor divino que, como o de uma mãe, não se altera pela correção necessária.
Padroeira de todas as mães de sacerdotes
Confidente de seu filho sobrevivente, Gregório, ela sabia que, depois de um desgosto juvenil, ele não queria se casar e estava considerando o sacerdócio. Seu pai, Gordiano, não aprovou e empurrou Gregório para uma carreira política. Ele se destacaria na política, tornando-se o último grande prefeito da cidade e um destacado administrador. Esse treinamento lhe seria de grande utilidade quando se tornasse papa e enfrentasse as piores dificuldades.
Sem dúvida foi Sílvia quem implorou ao marido que deixasse o filho seguir o seu próprio caminho. Somente em 575, após a morte de seu pai, Gregório conseguiu renunciar ao cargo e fundar um mosteiro na propriedade da família. Sílvia morreu ali, talvez em 592.
Se isso for verdade ela pode ter tido a alegria de assistir à coroação pontifícia de seu filho, que se tornou papa em 3 de setembro de 590. Porém, isso não é conhecido com certeza. O certo é o amor filial do Sumo Pontífice, que mandou pintar os retratos dos seus pais (ambos canonizados pela Igreja) na igreja do seu mosteiro Sant'Andrea al Celio.
O Papa São Gregório Magno legou-nos assim a imagem da sua mãe forte, piedosa, abandonada à Providência, que soube ajudá-lo na sua vocação sacerdotal. Como tal, Santa Sílvia é a padroeira de todas as mães de sacerdotes, bem como daqueles que se dedicam a ajudar os sacerdotes e a rezar pelas vocações.
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