quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Beata Maria Toribia (Maria da Cabeça), Esposa de S Isidoro Lavrador - Festa 9 de setembro

     A vida desta mulher humilde, escondida com Cristo em Deus, trabalhadora, esposa, mãe de família, viúva e anacoreta, transcorreu na região de Madrid, recém conquistada pelo rei castelhano Afonso VI aos mouros do reino taifa de Toledo. A região tinha pertencido até então ao califado de Córdoba, onde se falava o árabe e onde os cristãos perseveravam na fé católica segundo os costumes da Espanha herdados dos visigodos. Terras que formaram parte da Castela de El Cid (1099), que se esforçava por aclimatar-se aos francos que entravam com os que faziam a Reconquista.
     Contexto de paz instável devido às continuas incursões dos mouros que não resistiam ao avanço cristão depois da conquista de Toledo (1085). Em um século XII onde o Norte ibérico é sulcado por enxames de peregrinos europeus que percorrem o Caminho em direção ao túmulo do Apóstolo Santiago, que em Toledo se começa a verter para o Latim a sabedoria transmitida pelos árabes e com uma Córdoba que respira o refinamento do Oriente.
      Este era o contexto em que viveu Maria Toríbia, esposa de Santo Isidoro e mãe de Santo Ilano. A dureza das condições da vida do campo era sentida, sobretudo pelas mulheres. Nesse quadro real se santificou a mulher que seria mais tarde o marco de referência da capital e da Corte de um império que estenderia o culto dessa camponesa das Filipinas até a Califórnia.
      No século XVIII, ao preparar o texto litúrgico das Matinas do Ofício Divino se escreve, com grande esmero histórico, uma primeira e breve biografia dela. O relato, destinado à oração, resume o mais substancial que se conservou dela na memória popular:
      Maria da Cabeça nasceu em Madrid, ou próximo desta localidade. Seus pais, piedosos e honestos, pertenciam ao grupo dos chamados moçárabes (do árabe musta'rab, "arabizado", com este nome eram conhecidos os cristãos que viviam sob a dominação muçulmana na Andaluzia). Foi esposa de Santo Isidoro o agricultor.
     Não é fácil dizer com que santidade viveu sua condição de mulher casada. Suas ocupações eram arrumar a casa, limpá-la, cozinhar, fazer o pão com suas próprias mãos, tudo tão simples, que a única coisa que brilhava em sua vida era: a humildade, a paciência, a devoção, a austeridade e outras virtudes com as quais se tornava rica aos olhos de Deus.
     Era muito serviçal e atenta com seu marido. Viviam tão unidos como se fossem uma só carne, um só coração e uma única alma. Ela o ajudava nos afazeres rústicos; cuidava das hortaliças e procurava exercer a caridade, sem abandonar nunca sua contínua oração.
     Como ambos não tinham outro desejo senão o de levar uma vida pura e fervorosamente dedicada a Deus, um dia entraram de acordo em separar-se, depois de criar seu único filho, permanecendo ele em Madrid e ela indo para uma ermida situada num local próximo do Rio Jarama, a ermida de Nossa Senhora da Piedade, em Torrelaguna, onde seria sepultada à sua morte.
     O novo gênero de vida solitário consistia em venerar a Virgem Maria, fazer longas e profundas meditações, tendo Deus como mestre, limpar a sujeira da capela, adornar os altares, pedir aos povoados vizinhos ajuda para cuidar da lâmpada e outros trabalhos.
     Ela realizou milagres similares aos de seu esposo, enquanto Isidoro permanecia em Madrid com seu filho Ilano dedicando-se a educação do menino, transmitindo a ele seus ensinamentos e poderes. Quando o pai morreu, Ilano mudou-se para Villalba de Bolobras e se tornou ermitão junto a um castelo templário, fazendo os mesmos milagres que seus pais, relacionados com a água, a agricultura e os animais.
     O texto mais antigo que menciona esta Beata é o manuscrito conhecido como o Códice de João Diácono, uma coleção de milagres realizados por seu esposo Santo Isidoro, escrito em Latim, com primorosa caligrafia, em meados do século XIII, quando ainda se conservava viva a memória dos santos esposos. O pergaminho se encontrava no arquivo da velha paróquia madrilena de Santo André. O autor poderia ter sido um diácono de Almudena, ou o franciscano Juan Gil de Zamora, secretário de Afonso X, o Sábio.
     Até fins do século XVI, quando teve início o seu processo de beatificação, não existe documento escrito que fale dela, falecida por volta de 1175, em Castela, e sepultada no Convento Ermida de Santa Maria. O seu corpo foi encontrado em 1596, mas o seu culto já havia se difundido muito havia vários séculos.
     Aquela ermida, por causa da presença da cabeça da Beata, foi denominada de Santa Maria da Cabeça e a ela mesma foi dado o nome de Maria, embora algumas tradições anteriores ao século XVI referiam que seu verdadeiro nome era Toríbia.
     Próximo ao Convento de Santa Maria existia há muito uma confraria intitulada Santa Maria da Cabeça, em que ela era festejada no dia 9 de setembro. Em 1615, quando o processo de beatificação se iniciou, suas relíquias foram transferidas para Torrelaguna. O Papa Inocêncio XII confirmou o culto da Beata em 11 de agosto de 1697.

Um comentário: