terça-feira, 1 de abril de 2014

Santa Maria Egipcíaca, Penitente - 1 de abril

    
A principal fonte de informação sobre Santa Maria do Egito é a Vita escrita por Sofrônio, Patriarca de Jerusalém (634-638).

     Santa Maria nasceu algures no Egito, provavelmente por volta de 344, e aos doze anos foi para a cidade de Alexandria, onde viveu uma vida dissoluta. Muitos escritos se lhe referem como prostituta durante este período, mas Sofrônio na sua Vita afirma que ela se negou frequentemente a aceitar o dinheiro oferecido em troca dos seus favores sexuais. Na mesma linha, a Vita expõe que vivia principalmente da mendicidade, trabalhando na fiação de linho.
     Após 17 anos vivendo neste estilo de vida, Maria viajou para Jerusalém para a festa da Exaltação da Santa Cruz. Em Jerusalém continuou sua vida desregrada. Na Vita relata-se que, quando tentava entrar na Igreja do Santo Sepulcro para a celebração, uma força invisível a impediu de o fazer. Consciente de que este estranho fenômeno era por causa da sua impureza, sentiu um forte arrependimento e chorando batia no peito, lamentando-se dos seus pecados.
     Nesse momento pousou seus olhos em uma imagem da Santíssima Virgem e com profunda fé e humildade implorou encarecidamente a Nossa Senhora que a ajudasse, e que lhe permitisse entrar no templo para venerar o sagrado madeiro em que Jesus havia sofrido, prometendo que se Ela atendesse seu pedido renunciaria para sempre ao mundo e seus prazeres, e dai em diante iria para onde a Virgem a guiasse.
     Animada pela oração e contando com a misericórdia da Mãe de Deus, se aproximou novamente da porta da igreja, conseguindo entrar sem a menor dificuldade. Depois de adorar a Santa Cruz e beijar o pavimento da igreja, voltou até onde estava a imagem de Nossa Senhora e, enquanto rezava ali agradecendo, rogou que direção a seguir e escutou uma voz que lhe dizia "Se cruzares o Jordão, encontrarás um glorioso descanso". De imediato dirigiu-se para o mosteiro de São João Batista na margem do Rio Jordão, onde recebeu a comunhão.
     No dia seguinte cruzou o rio e caminhou em direção ao deserto que se prolonga até a Arábia. Retirou-se então no deserto para viver o resto da sua vida como uma eremita. Segundo a legenda, levou para si apenas três pães (símbolo da Eucaristia), e viveu do que podia encontrar na natureza.
     Ali viveu absolutamente só por 47 anos em retiro de solidão, subsistindo aparentemente de ervas, quando um sacerdote e monge chamado Zózimo, que seguindo o costume de seus irmãos havia saído de seu mosteiro para passar a Quaresma no deserto, encontrou-a e ouviu de seus próprios lábios a estranha história de sua vida. Tão logo se encontraram, chamou Zózimo pelo seu nome e o reconheceu como sacerdote. Depois de terem conversado e rezado juntos, ela rogou a Zózimo que viesse encontrá-la na noite da Quinta-feira Santa do ano seguinte e lhe trouxesse o Sacratíssimo Sacramento.
     Quando chegou o dia combinado, Zózimo, segundo contam, pôs em um pequeno cálice uma porção do intocado Corpo e do Precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (P. L. LXXIII, 686; "Mittens in modico calice intemerati corporis portionem et pretioso sanguinis D.N.J.C.") e foi para o local indicado. Pouco tempo depois Maria apareceu na margem oriental do rio e tendo feito o Sinal da Cruz, caminhou sobre a água em direção ao poente. Após ter recebido a Sagrada Comunhão, levantou suas mãos para o céu e disse com voz alta as palavras de Simeão: "Agora podes dispor de tu servo em paz, ó Senhor, segundo tua palavra, porque meus olhos viram sua salvação".
     Ela então disse para Zózimo vir no ano seguinte ao local onde a havia encontrado pela primeira vez, acrescentando que a encontraria na condição que Deus ordenara.
     No ano seguinte Zózimo dirigiu-se ao lugar onde se reunira pela primeira vez com ela e aí encontrou-a morta. De acordo com uma inscrição escrita na areia ao lado da cabeça, Maria tinha morrido na mesma noite em que tinha recebido a santa comunhão no ano anterior e o seu corpo ficou preservado incorrupto. Zózimo, ainda segundo a legenda, enterrou o seu corpo com a ajuda de um leão do deserto. No regresso ao mosteiro, relatou a história de Maria aos irmãos, e entre eles ficou a tradição oral até ter sido escrito o relato de São Sofrônio.
     Há divergências entre as diversas fontes sobre a data da vida de Maria do Egito. Os Bolandistas datam a sua morte no ano 421, mas outros dão como data 522 ou 530. O único indício dado na sua vida é que o dia do seu falecimento foi 1º de abril, Quinta-feira Santa. Segundo o Calendário Juliano, em uso na época, há 24 anos em que o dia 1º de abril foi quinta-feira. Destes, os anos nos quais a Páscoa seria em 4 de abril são 443, 454, 527, 538 e 549.
     É notável que o Synaxarion exponha que Zózimo viveu durante o reinado do imperador Teodósio II o Jovem, que reinou de 408 a 450 no Império Romano do Oriente. Segundo a tradição, Zózimo viveu quase cem anos, morrendo no século VI, e na Vita diz-se que tinha cinquenta e três anos de idade quando se reuniu com Santa Maria do Egito.
     Na iconografia clássica, Santa Maria do Egito é representada como uma anciã de cabelo branco e de pele escurecida pelos longos anos no deserto, nua ou coberta pelo manto que pediu a Zózimo. É representada muitas vezes com os três pães que comprou antes de empreender a sua viagem ao deserto.
     Há uma capela dedicada a Santa Maria do Egito na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, que comemora o momento da sua conversão.
     Em torno das ordens religiosas inspiradas por Maria do Egito começaram a construírem-se em Espanha desde o século XIV diversos «estabelecimentos ou casas» denominadas genericamente de Egipcíacas. Em 1372 foi fundada uma "casa de Egipcíacas" em Barcelona.
     Em Espanha denominavam-se indistintamente como Arrependidas, Recolhidas ou Egipcíacas as mulheres que abandonavam o exercício público da prostituição, ou seja, as que eram antes da conversão denominadas “mulheres públicas”.
     As relíquias da santa são veneradas em Roma, Nápoles, Cremona, Amberes, e em alguns outros lugares.
 
 

Um comentário:

  1. Na verdade, a festa dela é amanhã, segundo o Martyrologio Romano: http://farfalline.blogspot.com.br/2013/04/dia-2-de-abril-santa-maria-egipciaca.html

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