Zita nasceu no ano de 1218 em Montsagrati,
aldeia próxima de Lucca, na Toscana, Itália. Sua família era pobre, mas muito
católica. Sua irmã mais velha tornou-se freira cisterciense e seu tio Graziano
era um eremita que a população local tinha como santo.
Filha de camponeses tementes a Deus, sua
mãe, apesar de ser uma mulher muito sofrida e totalmente analfabeta, fazia
questão que Zita estudasse e para isso a incentivava dizendo que Deus teria muito
orgulho dela se pusesse afinco em seu estudo.
Aos 12 anos Zita tornou-se criada na
residência de um rico negociante de lã de Lucca, a oito quilômetros de sua
casa. Ela permaneceria com essa família pelos restantes 48 anos de sua vida. O
conselho que sua mãe lhe deu ao despedir-se dela foi este: “Em tuas ações e
palavras deves pensar: Isto agradará a Deus?” Foi um conselho que ajudou
muito a jovem a comportar-se bem.
O chefe da família, Pagano di Fatinelli,
tinha um temperamento violento e mandava com gritos e palavras muito
humilhantes. Todos os empregados protestavam por este trato tão rude, menos
Zita que tudo aceitava de boa vontade para assemelhar-se a Nosso Senhor que foi
humilhado e ultrajado.
A residência dos Fatinelli ficava próxima
da Igreja de São Frediano, na qual ela assistia a Santa Missa todos os dias.
Zita rezava muitas orações e ao mesmo tempo cuidava de seus deveres de criada
tão perfeitamente, que as outras empregadas a invejavam por sua abnegação no
trabalho e por sua bondade. De fato, seu trabalho era parte de sua religião.
Ela costumava dizer: “Uma criada não é santa se não estiver ocupada; na
nossa posição pessoa preguiçosa é santidade falsa”.
Para Zita seu emprego era um presente
divino pelo qual ela agradecia a Deus todos os dias. As outras empregadas a
humilhavam continuamente, porém Zita jamais respondia às suas ofensas nem
guardava rancor ou ressentimento. Os empregados não gostavam dela porque ela
demonstrava aversão às palavras grosseiras e às conversas imorais. Chamavam-na
de “beata”, porém, com o correr dos anos, todos se deram conta de que ela era
uma verdadeira santa.
Um homem quis desrespeitá-la em sua
castidade e ela o arranhou no rosto, o que o fez afastar-se. Entretanto, ele
foi ter com o dono da casa e a caluniou. O patrão insultou-a. Zita não disse
uma só palavra para defender-se, deixou que Deus se encarregasse de fazê-lo.
Depois se soube toda a verdade e o patrão arrependeu-se dos maus tratos que lhe
havia imposto. O seu apreço por aquela humilde criada cresceu enormemente.
No princípio seus patrões ficavam muito
irritados com suas generosas doações de alimento para os pobres, mas com o
tempo eles foram vencidos por sua paciência e afabilidade, e se tornou uma
amiga muito íntima deles. Eles a encarregaram de todos os assuntos domésticos.
Na sua posição de comando, ela a todos os empregados tratava com bondade. Ela
só era severa quando havia necessidade de combater algum vício entre os
criados.
Zita tinha total liberdade de fazer o seu horário
de trabalho, o que lhe permitia ocupar-se com visitas aos doentes e aos
encarcerados. Ela gastava o dinheiro que recebia por seu trabalho ajudando os
pobres. Dormia no chão, numa esteira, porque havia dado sua cama e colchão a
uma família muito necessitada.
Um dia, em pleno inverno, com vários graus
abaixo de zero, a senhora da casa lhe emprestou seu manto de lã para que ela
fosse à igreja ouvir Missa. Eis que na porta da igreja Zita encontra um pobre
tiritando de frio. Ela deixou o manto com ele, advertindo-o que devia
devolvê-lo depois da Missa, para que ela pudesse por sua vez devolvê-lo à sua
patroa. Ao sair da igreja não o encontrou: o pobre havia desaparecido... O Sr.
Fatinelli ficou furioso e a estava repreendendo quando um ancião bateu na porta
e devolveu o manto. As pessoas da cidade interpretaram que aquele ancião era um
Anjo, e desde então a porta de São Frediano é chamada “O Portal do Anjo”.
Numa época de grande escassez e fome, Zita
repartiu entre os mais pobres os grãos que havia na dispensa. Quando o
furibundo capataz da casa chegou para contar a quantidade de grãos que ainda
havia na dispensa, a Santa se pôs a rezar pedindo a Deus que a ajudasse. O
homem encontrou ali todos os grãos, não faltava nada.
Rapidamente espalhou-se em Lucca a notícia
de suas boas ações e das visões celestes com as quais Deus Nosso Senhor a
obsequiava. A ela também foram atribuídos vários milagres. Ela era muito
procurada por pessoas importantes.
Por ocasião de sua morte, em 27 de abril
de 1278, o povo aclamou-a Santa. A família Fatinelli, a quem servira toda a
vida, de joelhos a venera. Durante 48 anos trabalhou como criada, demonstrando
que qualquer ofício pode levar a uma grande santidade.
Tão venerada era Santa Zita após sua
morte, que tanto o poeta Fazio degli Uberti (Dittamonde, III, 6), quanto Dante
(Inferno, XI, 38) designam a cidade de Lucca simplesmente como “Santa Zita”.
O ofício em sua honra foi aprovado por
Leão X. Em 1580 seu túmulo foi descoberto na Igreja de São Frediano e quando
seu corpo foi exumado, 300 anos depois de sua morte, se conservava incorrupto
(1652). Foi sugerido então que o seu culto fosse aprovado solenemente. O Papa
Inocêncio XII a declarou Santa em 5 de setembro de 1696. Em 1748 seu nome
entrou para o Calendário Romano.
A mais remota biografia da Santa é
preservada num manuscrito anônimo pertencente à família Fatinelli, e foi
publicada em Ferrara no ano de 1688 pelo Mons. Fatinelli (“Vita beata Zita
virginis Lucensis ex vetustissimo códice manuscripto fideliter transumpta”).
Para a publicação de uma “Vita e miracoli di S. Zita vergine lucchese”
(Lucca, 1752), Bartolomeo Fiorito usou aquele manuscrito e outras informações
tiradas do processo levado a efeito para provar o culto imemorial da Santa.
Ainda hoje seu corpo incorrupto pode ser
venerado na Capela de Santa Zita da Igreja de São Frediano (*), em Lucca. São milhares de
peregrinos que vão visitar o seu sepulcro, e Santa Zita continua dando-nos uma
lição: num trabalho humilde se pode ganhar uma grande glória para o Céu.
Ela foi proclamada padroeira das
empregadas domésticas do mundo inteiro pelo Papa Pio XII. Santa Zita é
apresentada com uma sacola e chaves, ou com filões de pão e um rosário.
(*)
São Frediano, viveu no século VI, era príncipe da Irlanda. Foi em peregrinação
a Roma e fixou-se numa ermida no Monte Pisano, perto de Lucca. O papa elegeu-o
Bispo de Lucca, mas a diocese foi atacada pelos Lombardos. Acredita-se que São
Frediano tenha fundado um grupo de eremitas o qual se uniu ao de São João
Latrão em 1507.
Etimologia:
Zita = do toscano antigo, “menina, moça” (hoje citta).
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