Santa Teresa e São
José
Santa
Teresa:
“Quisera subir à mais alta montanha para
gritar a todos: ‘Ide a São José! Jamais recorri a ele em vão’”.
“Quem não achar mestre que lhe ensine a
orar, tome São José por mestre, e não errará o caminho”.
Quando foi da canonização de Santa Teresa
de Ávila, a grande apostola da devoção a São José e que ao seu nome consagrara
11 dos 18 mosteiros que fundara em vida, algumas das suas filhas, desejosas de
glorificar a sua fundadora, quiseram mudar em alguns mosteiros o nome de São
José pelo de Santa Teresa. Esta, aparecendo em Ávila à Madre Isabel de S.
Domingos, deu-lhe esta ordem: “Minha filha, dirá ao padre provincial que tire o
nome aos conventos e lhes restitua o de São José que já tinham”.
Nas adversidades da vida de Santa Teresa o
seu auxilio era São José. Santa Teresa conta no seu livro da vida:
“Tendo vinte
e dois anos de idade e encontrando-me tão jovem ainda atacada de paralisia,
vendo o meu triste estado resolvi dirigir-me ao céu. Tomei, então, por meu
advogado e protetor o glorioso São José, que me concedeu o seu
socorro da forma mais visível. Este bem-amado pai da minha alma
apresentou-se a livrar-me das angústias e enfermidades que vitimaram
o meu corpo e livrou-me mais tarde de perigos de um outro género e mais
graves, pois que me ameaçaram de me perder eternamente. Não me recordo que ele
jamais me tenha recusado alguma coisa e até me tem dado sempre aquilo que eu
sequer sabia desejar.
São José fez resplandecer em mim o seu
poder e bondade. Graças a ele recobrei as minhas forças, levantei-me, caminhei
e fiquei livre da minha paralisia. É algo maravilhoso enumerar a quantidade de
graças de toda ordem, com que o Senhor me tem cumulado, e os perigos, tanto do
corpo como da alma, de que me tem livrado pelos merecimentos do meu bem-amado
patrono”.
São
José, pai terrestre e adotivo de Jesus Cristo e esposo da Virgem
São muito poucos os dados sobre as
origens, a infância e a juventude de José, o humilde carpinteiro de Nazaré, pai
terrestre e adotivo de Jesus Cristo, e esposo da Virgem de todas as virgens,
Maria.
Sabemos apenas que era descendente da casa
de David. Mas, a parte de sua vida da qual temos todo o conhecimento basta para
que sua canonização seja justificada. José é, praticamente, o último elo
de ligação entre o Velho e o Novo Testamento, o derradeiro patriarca que
recebeu a comunicação de Deus vivo, através do caminho simples dos sonhos.
Sobretudo escutou a palavra de Deus vivo. Escutando no silêncio.
Nas Sagradas Escrituras não há uma
palavra sequer pronunciada por José. Mas, sua missão na História da
Salvação Humana é das mais importantes: dar um nome a Jesus e fazê-lo
descendente de David, necessário para que as profecias se cumprissem. Por
isso, na Igreja, José recebeu o título de "homem justo".
A palavra "justo" recorda a sua
retidão moral, a sua sincera adesão ao exercício da lei e a sua atitude de
abertura total à vontade do Pai celestial. Também nos momentos difíceis e
às vezes dramáticos, o humilde carpinteiro de Nazaré nunca arrogou para si
mesmo o direito de pôr em discussão o projeto de Deus. Esperou a chamada do
Senhor e em silêncio respeitou o mistério, deixando-se orientar pelo Altíssimo.
Quando recebeu a tarefa, cumpriu-a com
dócil responsabilidade: escutou solícito o anjo, quando se tratou de tomar como
esposa a Virgem de Nazaré, na fuga para o Egito e no regresso para Israel (Mt
1 e 2, 18-25 e13-23). Com poucos, mas significativos traços, os evangelistas o
descreveram como cuidadoso guardião de Jesus, esposo atento e fiel, que exerceu
a autoridade familiar numa constante atitude de serviço.
As Sagradas Escrituras nada mais nos dizem
sobre ele, mas neste silêncio está encerrado o próprio estilo da sua missão:
uma existência vivida no anonimato de todos os dias, mas com uma fé segura na
Providência.
Somente uma fé profunda poderia fazer com
que alguém se mostrasse tão disponível à vontade de Deus. José amou, acreditou,
confiou em Deus e no Messias, com toda sua esperança. Apesar da grande
importância de José na vida de Jesus Cristo não há referências da data de sua
morte. Os teólogos acreditam que José tenha morrido três anos antes da
crucificação de Jesus, ou seja quanto Jesus tinha trinta anos.
Por isso, hoje é dia de festa para a Fé. O
culto a São José começou no Egito, passando mais tarde para o Ocidente, onde
hoje alcança grande popularidade.
Em 1870, o Papa Pio IX o proclamou São
José, padroeiro universal da Igreja e, a partir de então, passou a ser venerado
no dia 19 de março.
Porém, em 1955, o Papa Pio XII fixou
também, o dia primeiro de maio para celebrar São José, o trabalhador.
Enquanto, o Papa João XXIII, inseriu o
nome de São José no Cânone romano, durante o seu pontificado.
Qual
a missão especial de José com relação a Maria?
Consistiu ela sobretudo em preservar a
virgindade e a honra de Maria, contraindo com a futura Mãe de Deus um
verdadeiro matrimônio, mas absolutamente santo. Conforme relata o Evangelho de
São Mateus (1, 20): “O anjo do Senhor, que apareceu em sonho a José lhe
diz: “José, filho de Daví, não temas receber Maria como tua esposa, pois o que
nela se gerou é obra do Espírito Santo”. Maria é perfeitamente sua esposa.
Trata-se de um matrimônio verdadeiro (cf. Santo Tomás, III, q. 29, a. 2), mas
inteiramente celeste e que devia ter fecundidade inteiramente divina.
A plenitude inicial de graça dada à Virgem
em vista da maternidade divina fazia apelo em certo sentido ao mistério da
Encarnação. Conforme diz Bossuet: “A virgindade de Maria atraiu Jesus do
céu… Se sua pureza a tornou fecunda, não hesitarei, no entanto, em afirmar que
José teve sua parte nesse grande milagre. Pois tal pureza angélica, apanágio da
divina Maria, foi também o desvelo do justo José”.
Era a união sem mácula e inteiramente
respeitosa com a criatura mais perfeita que jamais existira, em ambiente
extremamente simples, qual o de um pobre artesão de aldeia. Assim, José se
aproximou mais intimamente do que qualquer outro santo daquela que é a Mãe de
Deus, daquela que é também a Mãe espiritual de todos os homens e dele próprio
José, daquela que é Co-Redentora, Mediadora universal, dispensadora de
todas as graças. Por todos esses títulos José amou Maria com o mais puro e
devotado amor; era de certo um amor teologal, porquanto ele amava a Virgem em
Deus e por Deus, por toda a glória que ela dava a Deus. A beleza de todo o
universo nada era em face da sublime união dessas duas almas, união criada pelo
Altíssimo, que encantava os anjos e ao próprio Senhor enchia de júbilo.
Qual
foi a missão excepcional de José perante o Senhor?
Em verdade, o Verbo de Deus feito carne
foi confiado a ele, José, de preferência a qualquer outro justo dentre os
homens de todas as gerações. O santo velho Simeão teve o menino Jesus em
seus braços por alguns instantes e viu nele a salvação dos povos ― “lumen
ad revelationem gentium” ― mas José velou todas as horas, noite e
dia, sobre a infância de Nosso Senhor.
Muitas vezes teve em suas mãos aquele em
quem via seu Criador e Salvador. Recebeu dele graças sobre graças durante os
vários anos em que viveu com ele na maior intimidade do dia-a-dia. Viu-o
crescer. Contribuiu para sua educação humana. Jesus lhe foi submisso. É
comumente chamado de “pai nutrício do Salvador”; porém em certo sentido
foi mais que isso, pois como nota Santo Tomás é acidentalmente que após o
casamento um homem se vem a tornar “pai nutrício” ou “pai adotivo”, enquanto
que não foi absolutamente de forma acidental que José ficou encarregado de
zelar por Jesus.
Ele foi criado e posto no mundo
precisamente para tal fim. Esta foi a sua predestinação. Foi em vista
de tal missão divina que a Providência lhe concedeu todas as graças recebidas desde
a infância: graça de piedade profunda, de virgindade, de prudência, de
fidelidade perfeita. Sobretudo, nos desígnios eternos de Deus, toda a
razão de ser da união de José com Maria era a proteção e a educação do
Salvador; Deus lhe deu um coração de pai para velar pelo menino Jesus. Esta é a
missão principal de José, em vista da qual ele recebeu uma santidade
proporcionada a seu papel no mistério da Encarnação, mistério que domina a
ordem da graça e cujas perspectivas são infinitas.
(Padre
Reginald Garrigou-Lagrange)
Nenhum comentário:
Postar um comentário