quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Júlia Greeley, o Anjo de Misericórdia de Denver, EUA

    
     Hoje, dia de Todos os Santos, apresentamos uma figura que embora não tenha sido ainda canonicamente elevada à honra dos altares, é tida pelos católicos da cidade de Denver, Colorado, EUA, como uma santa.
     Os habitantes de Denver creem firmemente que ela esteja no Céu, pois Nosso Senhor disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” (Mt 5, 7).
     No dia 2 de junho de 2017, uma missa em homenagem a Júlia Greeley foi rezada na Igreja Católica do Sagrado Coração em Denver, local frequentado por ela até sua morte em 7 de junho de 1918.
     Júlia Greeley viveu na obscuridade durante a maior parte de sua vida; hoje sua canonização está sendo cogitada pela Igreja Católica.
     Como um prelúdio dos próximos passos para sua canonização, naquele dia os seus restos mortais foram transferidos e colocados num túmulo de mármore na Catedral Basílica da Imaculada Conceição em Denver.
     Durante a missa em sua honra, numa igreja cheia de leigos, o bispo auxiliar Jorge Rodriguez falou sobre a vida de Júlia.
     Cento e trinta e sete anos atrás, Júlia Greeley converteu-se ao Catolicismo. Alguns estão sentados nos bancos em que ela sentou; após a missa, ela saía pelas portas que transporemos nesta noite. Peçamos a Deus, como Júlia fazia quando deixava a igreja: como podemos mostrar a Ele nosso amor e como podemos servi-Lo”.
     A vida de Júlia Greeley é surpreendente porque ela brilha no meio de uma triste realidade da história humana: ela conheceu a tragédia da escravidão, a dor e a humilhação, mas sua vida toda foi de serviço, plena de amor. Isto é em si um milagre, que uma mulher rodeada de rancor não odiasse”.
     A Igreja universal está reconhecendo que Júlia Greeley levou uma vida santa”. [...]
     A santidade pode acontecer em almas humildes, que realizem coisas simples, como Júlia Greeley ajudando pobres em silêncio nas ruas de Denver, e compartilhando seu amor pelo Sagrado Coração de Jesus”.
     Isto é o que os santos fazem: eles despertam em nós o desejo de também sermos santos! Peçamos a Júlia Greeley, que está no Céu, que nos inspire a responder a Nosso Senhor como ela, para que possamos também dizer como São Pedro: ‘Senhor, Vós sabeis que eu Vos amo!’”
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     Júlia Greeley [foto acima], nasceu escrava entre 1833 e 1848 em Hannibal, no Missouri (ela não se lembrava do ano em que nasceu). Como escrava, suportou tratamento horrível: certa vez, um chicote atingiu seu olho direito e destruiu-o, quando um chefe de escravos batia na mãe de Júlia.
     Em 1874, 11 anos após a libertação dos escravos, ela se mudou para Denver, no Colorado, indo morar com uma família católica, os Gilpin. Júlia Gilpin era casada com o primeiro governador territorial do Colorado, William Gilpin. Sob a influência da patroa, Júlia se converteu ao catolicismo em 1880, recebendo o batismo na igreja do Sagrado Coração de Jesus daquela cidade, que começou a frequentar assiduamente. Se tornou uma católica fervorosa, de missa e comunhão diárias.
     Em 1901, Júlia Greeley tornou-se membro da Ordem Secular Franciscana. Os padres jesuítas de sua paróquia reconheceram que ela era a mais fervorosa promotora da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
     Apesar de sua própria pobreza, Júlia dedicava grande parte de seu tempo coletando alimentos, vestiários e outros bens para os pobres. Geralmente ela fazia essa distribuição à noite, a fim de evitar embaraços às pessoas que ajudava e para permanecer no anonimato. Socorria igualmente famílias de negros e de brancos pobres, usando de muita delicadeza para não os melindrar.
     Embora ganhasse pouco, limpando e cozinhando, “dedicava-se a ajudar outras pessoas [mais] pobres do que ela. Isto já diz tudo sobre o seu coração caritativo. Ademais, sentia grande devoção pelo Sagrado Coração de Jesus, ficando conhecida por caminhar até 20 diferentes estações de bombeiros a fim de repartir entre eles medalhas de feltro do Sagrado Coração [o ‘Detém-te’, ou ‘Escudo do Sagrado Coração de Jesus’] e folhetos. Ela é a encarnação das obras corporais e espirituais de misericórdia…”, escreve seu biógrafo, o Frei Capuchinho Pe. Blaine Burkey
     Segundo seu biógrafo, Júlia Greeley não lia nem escrevia. “Ela jejuava todas as manhãs. Mesmo depois de ter comungado, as pessoas diziam: ‘Por que você não vem e toma o desjejum?’ e ela dizia ‘A Comunhão é o meu desjejum!’
     Júlia faleceu no dia 7 de junho de 1918, na festa do Sagrado Coração de Jesus. Os jornais da cidade, como o Denver Catholic Register, escreveram longos obituários em sua honra. Como ela não sabia bem sua idade, calcula-se que teria por volta de 80 anos quando faleceu. Era tão querida, que seu corpo permaneceu na capela ardente durante cinco horas, para atender ao afluxo constante de pessoas de todos os âmbitos da sociedade que queriam venerá-la.
     Dois dias após o funeral de Júlia, o Denver Catholic Register apresentou um artigo de Matthew Smith (que mais tarde se tornou padre e um dos mais célebres editores do Register), no qual ele dizia: “Sua vida se assemelha a de uma santa canonizada”. Mons. Smith não sabia quão providenciais suas palavras eram.
      Duas comissões foram indicadas para promover a causa de canonização de Júlia; estão investigando sua vida e coletando todas as informações sobre ela que ainda não tenham sido descobertas. Examinam suas virtudes, sua reputação de santidade e qualquer evidência a favor ou contra isto.
A foto de Júlia Greeley
     Virginia Haddad tomou conhecimento de Júlia Greeley quando pequena. Ela teria por volta de 6 ou 7 anos quando sua mãe lhe mostrou um velho jornal que publicara a única foto conhecida de Júlia. “Ela me falou sobre Júlia”, recorda Virginia, “e me disse que aquela foto única dela e de uma criança, era a de Tia Marge, e que Júlia era uma pessoa santa que ajudara muitas pessoas em Denver”.
     A foto relaciona-se com um casal residente em Denver, Agnes e George Urquhart, que tinha perdido seu primeiro filho bem pequenino. Os médicos disseram que eles não poderiam ter mais filhos, mas quando Júlia encontrou o casal e ouviu esta novidade, disse que isto era uma tolice. “Vocês terão outra criança”, ela disse, “e ela será meu pequeno anjo branco”.
     Cerca de um ano depois, em 11 de setembro de 1915, nasceu Marjorie Ann Urquharts. A mãe de Virginia, Virginia Rose, nasceu em 1918.
     Virginia Haddad relatou ao Denver Catholic que não tinha muitos detalhes sobre Júlia. “[Minha mãe] disse-me que [Júlia] era uma escrava e que foi agredida pelo chicote do chefe dos escravos, e ficou cega de um olho”. Foi somente anos depois que Virginia Haddad buscou mais informações sobre Júlia Greeley na internet.                                                            

          Virginia Haddad junto ao túmulo de Júlia Greeley – na foto conhecida do Anjo de Caridade, ela carrega a tia de Virginia, Marjorie Urquhart
     Virginia Haddad, leiga franciscana, ficou ainda mais ligada a Júlia Greeley ao tomar conhecimento que ela também fora uma leiga franciscana. A partir de todas estas informações, ela se tornou uma difusora da vida de Júlia.




A cidade de Denver, EUA, em 1898

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