A
festa da adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus recebeu o nome de Epifania do
Senhor. Epifania vem do grego: πιφάνεια que significa “aparição; fenômeno
miraculoso; manifestação”. Este fato é narrado pelo evangelista São Mateus, no
Capítulo 2, versículos 1-12. Trata-se de uma história impressionante, com
vários símbolos importantes para a nossa vida. A festa se comemora no dia 6 de
janeiro, ou seja, doze dias após o Natal, ou 2 domingos após o Natal,
dependendo do calendário litúrgico usado.
“Andaram as gentes na tua luz e os reis no
esplendor do teu nascimento”, profetizou Isaías (Is 60, 3). E São Tomás de
Aquino explica: “Os Magos foram as primícias dos gentios que acreditaram em
Cristo. E neles se manifestou, como um presságio, a fé e a devoção das gentes
que vieram a Cristo das mais remotas regiões”.
Santo Agostinho sublinha que eles
procuraram com fé mais ardente Àquele que punham de manifesto o clarão da
estrela e a autoridade das profecias.
São João Crisóstomo completa dizendo:
“Porque buscavam um Rei celeste, embora nada descobrissem nele denotador da
excelência real, contudo, contentes com o só testemunho da estrela,
adoraram-no”.
Eram
reis?
São Mateus chama-os apenas de “Magos”.
Porém, esta palavra tinha vários significados. Designava a origem geográfica de
pessoas da Pérsia. Por isso, deduzimos que os magos eram daquele país.
Designava também pessoas da realeza. Por isso, acredita-se que eles eram reis.
Por fim, “mago” significava também o que chamaríamos hoje de “cientistas”, pois
eles conheciam profundamente a matemática, a medicina, a astronomia – tanto que
detectaram o aparecimento de uma nova estrela – a química e outras ciências já
conhecidas na época. Tudo isso concorda com a tradição científica dos persas.
Seguindo uma estrela
O aparecimento de uma nova estrela no céu
mudou a vida daqueles homens. O conhecimento científico permitiu que eles
descobrissem o novo astro. Daí se deduz que eles eram conhecedores dos mapas
celestes e bons viajantes. Naquele tempo, os viajantes do deserto viajavam à
noite e guiavam-se pela posição das estrelas. Por isso, eles detectaram o
aparecimento da nova estrela. Porém, não apenas detectaram: eles conheciam as
profecias messiânicas e compreenderam que tal estrela anunciava o nascimento do
Rei dos reis, o soberano das nações, o Salvador. Por isso se uniram para
preparar e empreender viagem em busca do Rei Salvador.
São Beda, uma das máximas autoridades dos
primeiros tempos da Idade Média pelo fato de ter recolhido relatos transmitidos
oralmente pelos Apóstolos aos seus sucessores, e destes aos seguintes, no
tratado “Excerpta et Colletanea”,
assim recolhe as tradições que chegaram até ele:
“Melquior era velho de setenta anos, de
cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era
moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto
do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos,
partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.
É, pois, São Beda quem por primeira
vez escreveu o nome dos três. Nomes com significados precisos que nos
ajudam a compreender suas personalidades.
Gaspar significa “aquele que vai inspecionar”; Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”; e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”.
Gaspar significa “aquele que vai inspecionar”; Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”; e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”.
Para São Beda – como para os demais
Doutores da Igreja que falaram deles – os três representavam as três raças
humanas existentes, em idades diferentes.
Surpresa
em Israel
Seguindo a estrela, aqueles sábios
viajantes chegaram a Israel. Como procuravam por um rei, soberano das nações
recém-nascido, dirigiram-se à capital Jerusalém, pensando que o Menino Deus
seria descendente do então rei de Israel. A chegada desses homens na capital
foi motivo de alarde e espanto, segundo o relato de São Mateus, pois o povo não
sabia do nascimento do Messias, embora desejasse ardentemente este
acontecimento. São Mateus diz que Jerusalém entrou em polvorosa com a chegada
dos magos.
Tal foi a importância da visita dos magos
a Jerusalém, que foram recebidos pelo rei Herodes. Este, provavelmente,
recebeu-os como chefes de Estado, com todas as honras. Ao saber, porém, o real
motivo da visita, Herodes sente-se ameaçado. O Rei Salvador recém-nascido
poderia roubar seu trono, pensou. Por isso, fingindo interesse, procurou saber
sobre as profecias ouvindo os escribas e enviou os magos a Belém. E disse a
eles que, depois de encontrarem o menino, voltassem para indicar o local onde
ele estava, para que também Herodes pudesse ir adora-lo. Herodes, na verdade,
sanguinário que era, queria matar o menino. Herodes, com efeito, já tinha
cometido vários assassinatos, inclusive de dois filhos seus, por causa de seu
medo de perder o poder. Embora tenha construído grandes obras em Jerusalém,
Herodes, que não era judeu, mas sim nabateu e odiado pelos judeus, era um homem
doente pelo poder, capaz de qualquer coisa para se manter na realeza.
O encontro com o Menino Jesus
São Mateus diz que, tão logo os magos saíram
de Jerusalém, avistaram novamente a estrela e encheram-se de alegria.
Seguiram-na e ela os levou ao local onde Jesus estava. Chegando, depararam-se
com a maior das surpresas: o Rei, soberano das nações, o Filho de Deus, nascera
numa família pobre, simples. Não nasceu em berço de ouro, mas numa manjedoura!
Sua mãe, uma jovem simples e seu pai, adotivo, um carpinteiro. Mesmo assim, os
reis reconheceram naquele menino o soberano das nações, o Príncipe da Paz. Os
magos, reconhecendo naquele Menino o Rei dos reis, ofereceram-lhe presentes. Também seus
presentes têm um significado simbólico.
Melquior deu ao Menino Jesus ouro, o que
na Antiguidade queria dizer reconhecimento da realeza, pois era presente
reservado aos reis.
Gaspar ofereceu-Lhe incenso (ou olíbano),
em reconhecimento da divindade. Este presente era reservado aos sacerdotes.
Por fim, Baltasar fez um tributo de mirra,
em reconhecimento da humanidade. Mas como a mirra é símbolo de sofrimento, veem-se
nela preanunciadas as dores da Paixão redentora. A mirra era presente para um
profeta. Era usada para embalsamar corpos e representava simbolicamente a
imortalidade.
Desta maneira, temos o Menino Jesus
reconhecido como Rei, Deus e Profeta pelas figuras que encarnavam toda a
humanidade.
A ciência
se ajoelha diante de Deus
A adoração dos Magos ao Menino Jesus tem
um significado profundo. Sendo cientistas, eles representam a ciência que
procura a Deus, encontra-o, reconhece-o e se ajoelha diante dele num gesto de
humildade e adoração. Os Magos nos ensinam que a ciência e o conhecimento nos
levam ao reconhecimento de Deus. Num mundo onde alguns cientistas procuram
negar a Deus, outros, em grande número, seguem o exemplo dos Magos, reconhecem
a Deus na criação e em tudo o que existe e o adoram como Deus, Pai e soberano
do universo.
Fugindo de Herodes
Depois da visita, os magos foram avisados
em sonhos para não voltarem a Herodes. Reconhecendo nisso uma mensagem divina,
eles obedeceram e voltaram por outro caminho. Ao descobrir que tinha sido
enganado, Herodes, furioso, manda matar todos os meninos com menos de dois
anos, nascidos em Belém. Ele queria ter certeza de que o Messias, visto por ele
como rival, fosse morto.
Fuga para o Egito
José foi avisado também em sonho e partiu
para o Egito, fugindo com a Sagrada Família da ira de Herodes. Assim, os
meninos de Belém com menos de dois anos deram suas vidas para que Jesus
sobrevivesse. Eles passaram a ser conhecidos como Santo Inocentes, o que, de
fato, são.
A Sagrada Família permaneceu no Egito até
a morte de Herodes. Então, voltaram para Israel e foram viver em Nazaré, longe
da capital Jerusalém.
Veneração
A tradição cristã conservou a veneração
aos três os reis magos. Até 474 os cristãos guardavam seus restos mortais em
Constantinopla. Depois, foram levados para a grande catedral de Milão, Itália.
Mais tarde, em 1164, foram trasladados para a bela cidade de Colônia, Alemanha.
Lá, foi construída a esplendorosa Catedral dos Reis Magos, que guarda os restos
mortais dos três reis santos até os dias de hoje.
Oração aos reis magos
“Ó amabilíssimos Santos
Reis, Baltazar, Melquior e Gaspar! Fostes vós avisados pelos Anjos do
Senhor sobre a vinda ao mundo de Jesus, o Salvador, e guiados até o presépio de
Belém de Judá, pela Divina Estrela do Céu. Ó amáveis Santos Reis, fostes vós os
primeiros a terem a ventura de adorar, amar e beijar a Jesus Menino, e
oferecer-lhe a vossa devoção e fé, incenso, ouro e mirra. Queremos, em nossa
fraqueza, imitar-vos, seguindo a Estrela da Verdade. E descobrindo a Menino
Jesus, para adorá-lo. Não podemos oferecer-lhe ouro, incenso e mirra, como
fizestes. Mas queremos oferecer-lhe o nosso coração contrito e cheio de fé
católica. Queremos oferecer-lhe a nossa vida, buscando vivermos unidos à sua
Igreja. Esperamos alcançar de vós a intercessão para receber de Deus a graça
que tanto necessitamos.
(Em silêncio fazer o pedido)
Esperamos, igualmente, alcançarmos a graça
de sermos verdadeiros cristãos. Ó bondosos Santos Reis, ajudai-nos,
amparai-nos, protegei-nos e iluminai-nos! Derramai vossas bênçãos sobre nossas humildes
famílias colocando-nos debaixo de vossa proteção, da Virgem Maria, a
Senhora da Glória, e São José. Nosso Senhor Jesus Cristo, o Menino do Presépio,
seja sempre adorado e seguido por todos. Amém!”
Reis Magos e pastores: a santa
harmonia social aos pés do Menino Deus
Os medievais tinham uma devoção encantada
pelos Reis Magos. Essa devoção tem seu fundamento nos Evangelhos, mas eles a
desenvolveram com uma força que chega até nossos dias.
Quis a Providência que o Menino Jesus
recebesse a visita de três sábios — que segundo uma venerável tradição eram
também reis — e alguns pastores.
Precisamente os dois extremos da escala
humana dos valores. Pois o rei está de direito no ápice do prestígio social, da
autoridade política e do poder econômico, e o sábio é a mais alta expressão da
capacidade intelectual.
Na escala dos valores o pastor se
encontra, em matéria de prestígio, poder e ciência, no grau mínimo, no
rés-do-chão.
Ora, a graça divina, que chamou ao
presépio os Reis Magos do fundo de seus longínquos países, chamou também os
pastores do fundo de sua ignorância.
A graça nada faz de errado ou incompleto.
Se ela os chamou e lhes mostrou como ir, há de lhes ter ensinado também como
apresentar-se ante o Filho de Deus.
E como se apresentaram eles? Bem
caracteristicamente como eram.
Os pastores lá foram levando seu gado, sem
passar antes por Belém para uma “toilette” que disfarçasse sua condição
humilde.
Os Magos se apresentaram com seus tesouros
— ouro, incenso e mirra — sem procurar ocultar sua grandeza que destoava do
ambiente supremamente humilde em que se encontrava o Divino Infante.
A piedade cristã, expressa numa
iconografia abundantíssima, entendeu durante séculos, e ainda entende, que os
Reis Magos se dirigiram para a gruta com todas as suas insígnias.
Quer isto dizer que ao pé do presépio cada
qual se deve apresentar tal qual é, sem disfarces nem atenuações, pois há lugar
para todos, grandes e pequenos, fortes e fracos, sábios e ignorantes.
É questão apenas, para cada qual, de
conhecer-se, para saber onde se pôr junto de Jesus.
Excertos de artigo do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira, Catolicismo, dezembro/1955
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