domingo, 29 de abril de 2018

Santa Catarina de Siena, Doutora da Igreja - 29 de abril

    
     Em 25 de março de 1347, Lapa Benincasa deu à luz duas gêmeas em seu vigésimo quarto parto. Uma delas não sobreviveu após o Batismo. A outra, Catarina, tornar-se-ia a glória de sua família, de sua pátria, da Igreja e do gênero humano.
     Giacomo di Benincasa, seu pai, era um tintureiro bem estabelecido, "homem simples, leal, temeroso de Deus, e cuja alma não estava contaminada por nenhum vício"; piedoso e trabalhador, criava sua enorme família de 25 filhos no amor e no temor de Deus. Catarina, a penúltima da família e caçula das filhas, teve a predileção de todos e cresceu num ambiente moral puro e religioso.
    Catarina consagrou a sua virgindade a Cristo aos 7 anos; aos 16, para evitar um casamento, cortou sua longa cabeleira; e aos 18, recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos.
     Catarina encarou a sua clausura com seriedade e vivia encerrada no seu próprio quarto, e afirmava que estava sempre com e em Cristo. Abandonou a sua cela somente em 1374, quando a peste se alastrou por toda a Europa e ela decidiu cuidar dos enfermos e abandonados, tendo praticado grandes atos de caridade.
    Nesse mesmo ano (1374), teve uma visão e ficou estigmatizada. Na visão Nosso Senhor Jesus Cristo lhe disse que ela trabalharia pela paz, e mostraria a todos que uma mulher fraca pode envergonhar o orgulho dos fortes. Analfabeta, aprendeu milagrosamente a ler e escrever, para poder cumprir a missão pública que Deus lhe destinava.
Sua Missão
     No fim da Idade Média — quando a gloriosa Civilização Cristã já decaía a olhos vistos — a Itália era um aglomerado de reinos e repúblicas que viviam em guerra entre si, ou, em uma mesma cidade, guerra entre facções contrárias. Catarina foi várias vezes chamada a ser o seu anjo pacificador. Assim, viajou ela de Siena para Florença, Luca, Pisa e Roma como pacificadora.
     Em 1375, toda a Itália estava envolvida em graves disputas políticas relativas à volta do papado; organizavam-se milícias nas cidades de Perusa, Florença, Pisa e em toda a Toscana, em revolta contra o poder político do Papa Gregório XI.
     Catarina, mediadora entre o Papa e os conjurados, inicia uma correspondência incessante com o Papa Gregório XI, cheia de piedade e amor filial, cada vez mais premente, em favor dos súditos dos Estados Pontifícios que se tinham rebelado contra ele: "Santíssimo e dulcíssimo Pai em Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ó governador nosso, eu vos digo que há muito tempo desejo ver-vos um homem viril e sem temor algum. [...] Não olheis para a nossa miséria, ingratidão e ignorância, nem para a perseguição de vossos filhos rebeldes. Ai! que a vossa benignidade e paciência vençam a malícia e a soberba deles. Tende misericórdia de tantas almas e corpos que morrem".
A Santa exorta o Papa
     Censurou o rei da França por guerrear contra cristãos e não se empenhar na Cruzada: "Eu peço-vos que sejais mais diligente para impedir tanto mal e para ativar tanto bem, como é a recuperação da Terra Santa e daquelas almas infelizes que não participam do Sangue do Filho de Deus. Desta coisa vos deveríeis envergonhar, vós e os outros senhores cristãos; porque é uma grande confusão diante dos homens, e abominação diante de Deus, fazer a guerra contra os irmãos e deixar os inimigos; e querer tirar o que é dos outros e não reconquistar o que é seu. Eu vos digo, da parte de Jesus Crucificado, que não demoreis mais a fazer esta paz. Fazei a paz e fazei toda a guerra contra os infiéis".
     Devorada de zelo e amor pela Igreja, ansiava pela pacificação da Cristandade para que, unidos, os cristãos se dispusessem a seguir em uma Cruzada para libertar os Santos Lugares.
     Ela decidiu seguir até Avinhão, cidade onde os papas viviam há mais de 70 anos, e apresentar-se diante de Gregório XI para convencê-lo a regressar a Roma, pois isto seria fundamental para a unidade da Igreja e a pacificação da Itália.
     Em Avinhão, diante dos cardeais, Catarina ousou proclamar os vícios da corte pontifícia e pedir, em nome de Cristo Jesus, a reforma dos abusos. Gregório XI a chamara para dar sua opinião em pleno Consistório dos Cardeais. Ela o convence a voltar a Roma: em 17 de janeiro de 1377, Gregório XI deixa Avinhão, apesar da oposição do Rei francês e de quase todo o Sacro Colégio. Ele ainda hesita no caminho e ela o conjura a ir até o fim.
     Mas a paz na Igreja não seria longa. Outra vez a república de Florença revoltou-se contra o Papa, que apelou para Catarina. Rejeitada por aquela cidade, a Santa quase foi martirizada. Gregório XI, gasto, envelhecido, sofrido, não resistiu e entregou sua alma a Deus.
    Urbano VI foi eleito. Conhecendo Catarina, e vendo nela o espírito de Deus, o novo Pontífice a chama a Roma para estar a seu lado. Não sem razão, pois cardeais franceses, desgostosos com o novo Papa, voltam para Avinhão, anulam sua eleição e elegem o antipapa Clemente VIII. A Cristandade mergulha em nova divisão: o Grande Cisma do Ocidente.
     Catarina tentou inutilmente trazer de volta ao verdadeiro redil os três cardeais, autores principais do cisma. Escreveu a reis e governantes da Europa para trazê-los ao verdadeiro Papa. Catarina escreveu 150 cartas a cardeais, bispos e prelados; a reis, príncipes e governantes, 39.
Doutora da Igreja
     Santa Catarina foi agraciada com o "casamento místico"; recebeu estigmas semelhantes aos de Nosso Senhor e teve uma "morte mística", durante a qual foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso; teve também uma "troca mística de coração" com Nosso Senhor.
     Entre seus inúmeros discípulos, os caterinati, havia membros do clero, da nobreza e do povo mais miúdo. Um deles, São Raimundo de Cápua, seu confessor, foi também seu primeiro biógrafo e quem nos forneceu pormenores de sua impressionante vida.
     Os escritos de Santa Catarina de Sena, que foram todos eles ditados, incluem umas 190 car­tas, 26 orações e os Quatro tratados da Divina Doutrina. Essa última obra é conhecida como o Diálogo de Santa Catarina ou simplesmente o Diálogo, composto entre 1376-1378.
     O Diálogo é ainda hoje considerado um dos maiores testemunhos do misticismo cristão e uma exposição clara de suas ideias teológicas e de sua mística. Este livro compila as revelações - umas sublimes e outras terríveis - feitas por Deus à Santa durante seus êxtases. Seus secretários anotavam suas palavras durante os êxtases a seu pedido.
     Santa Catarina faleceu no dia 29 de abril de 1380, aos 33 anos. Em 1970, Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja, sendo a única leiga a obter esta distinção. João Paulo II declarou-a co-padroeira da Europa, juntamente com Santa Brígida da Suécia e Santa Teresa Benedita da Cruz. É Padroeira da Itália.
Milagre narrado por São Raimundo de Cápua, biógrafo da Santa
     A caridade de Catarina também glorificou a Deus por meio de milagres. O seguinte acontecimento maravilhoso foi testemunhado por mais de vinte pessoas. Eu o ouvi contado por Lapa, sua mãe, por Lisa, sua cunhada, e por Frei Tomas, seu confessor.
     Durante o tempo em que ela gozou de ampla permissão para dar aos pobres, aconteceu que o vinho de um tonel que a família estava usando para o consumo da casa estava estragado. Catarina, que sempre que se tratava de dar aos pobres, queria dar o melhor, fosse vinho, pão ou comida de qualquer espécie, tirava bom vinho de outra vasilha que ninguém tinha tocado e começou a distribuí-lo diariamente. O conteúdo deste tonel poderia ser suficiente para o consumo da família durante quinze ou vinte dias, e isto se o seu conteúdo fosse administrado economicamente. Pois bem, antes que a família começasse a tirar vinho dele, Catarina o fazia há muito tempo e em grande quantidade, porque ninguém da casa tinha autorização para impedir sua caridade.
     O responsável pela adega começou a tirar vinho desta vasilha enquanto Catarina fazia o mesmo, agora mais liberal do que antes, uma vez que não era só ela que fazia aquilo e, portanto, haveria menos queixas na família pelo desperdício. Não apenas quinze ou vinte dias, mas um mês e mais transcorreram sem uma diminuição notável do conteúdo do vaso. Os irmãos de Catarina e os servos da casa contaram ao pai o fato maravilhoso e ficaram pasmos ao ver que a mesma quantidade de vinho satisfazia tão amplamente as necessidades da casa e as esmolas de Catarina. E não só durava o vinho, mas era de uma qualidade tão excelente que nenhum deles se lembrava de ter degustado antes tão bom vinho. Tanto a qualidade quanto a quantidade eram realmente maravilhosas e todos aproveitaram daquele vinho prodigioso sem poder explicar o fenômeno tanto em termos de categoria quanto da quantidade inesgotável dele. Catarina, que era a única pessoa conhecedora do segredo, retirava continuamente vinho do depósito inesgotável e distribuía-o sem restrições para quantas pessoas pobres ela podia encontrar; no entanto, o vinho continuou a fluir e nem seu aroma nem seu paladar se alteraram. Assim passou outro mês e depois um terceiro e tudo continuava na mesma.
     Finalmente a temporada da colheita chegou e foi necessário preparar os toneis para a nova safra. As pessoas encarregadas desta tarefa estavam ansiosas para esvaziar o maravilhoso tonel para preenchê-lo com o mosto que já fluía da prensa, mas a divina munificência ainda não estava cansada; outras vasilhas foram preparadas para receber seu conteúdo, mas todas eram insuficientes. O homem responsável pela tarefa da vindima finalmente ordenou que esvaziassem o recipiente inesgotável e o levassem para o lugar onde estava a prensa para enche-lo e os criados da casa constataram que eles tinham acabado de encher uma vasilha grande com o vinho que ele continha, o qual estava em perfeitas condições, forte e que ainda tinha uma boa quantidade. Irritado porque sua ordem não fora cumprida ao pé da letra, o homem ordenou que jogassem fora o vinho, abrissem o barril e o preparassem para a recepção do novo vinho, já que não podia esperar mais um minuto. Obedecendo a esta ordem, eles abriram o barril de onde até o dia anterior tinha manado um delicioso e inesgotável vinho, e viram que o seu interior estava tão seco que se via claramente a impossibilidade que tivesse contido qualquer líquido por um longo tempo. Todos ficaram mudos diante do assombroso fato, recordando-se da abundância e da qualidade do vinho que até o dia anterior vinha sendo tirando dele. Este milagre foi espalhado por toda a cidade de Siena e foi comprovado pelo testemunho das pessoas que na época viviam na casa de Catarina.
Sarcófago da Santa
Fontes:
Beato Raimundo de Cápua, Vida de Santa Catalina de Siena, Espasa-Calpe Argentina, S.A., Buenos Aires, 1947, p. 9.
Grandes Santos que Iluminaram o Mundo, Plinio Ma. Solimeo

Este blog postou um resumo da vida de Santa Catarina de Siena em 29 de abril de 2011

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