quinta-feira, 24 de junho de 2021

Beata Doroteia de Montau, Viúva e reclusa – 25 de junho

     
     A célebre contemplativa Doroteia Swartz de Montau, nasceu em Gross Montau, Prússia (Matowy Wielkie) a oeste de Marienburgo (Malbork) no dia 6 de fevereiro de 1347, e morreu em Marienwerder (*), em 25 de junho de 1394.
   Marienburgo, Marienwerder e Dantzig pertenciam aos cavaleiros teutônicos, então no auge do seu poder. Ela viveu sob a sua jurisdição e foram eles que introduziram o processo de sua canonização em 1404.
   Era filha de um fazendeiro holandês, Willem Swartz. Antigas biografias relatam que desde muito jovem ela mortificava o próprio corpo e recebera os estigmas invisíveis, disfarçando a dor que lhe causavam.
    Com a idade de dezesseis anos se casou com Adalberto de Dantzig (Gdansk), homem maduro, artesão armeiro abastado, mas muito temperamental, de caráter violento. Quando tinha 31 anos, Dorotéia teve seus primeiros êxtases e o esposo não tinha paciência com suas experiências místicas e a maltratava. Levando a vida matrimonial com paciência, humildade e gentileza, conseguiu mudar pouco a pouco o caráter do esposo. O casal fez frequentes peregrinações a Colônia, Aachen e Eisiedeln.
     Em 1390, eles resolveram visitar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma. Mas Adalberto, impedido por uma enfermidade, permaneceu em casa, aonde veio a falecer. Entregue a Deus, Dorotéia viajou sozinha para Roma. Ia mendigando, quase sem observar as regiões que percorria. Chegando a Roma, caiu doente e foi tratada durante longas semanas no hospital de Maria Auxiliadora. Quando regressou, seu esposo já havia falecido há meses. Dos nove filhos que tiveram, quatro morreram ainda crianças e quatro durante a praga de 1383. Somente uma filha, Gertrudes, sobreviveu e tornou-se beneditina em Colônia. A Santa dedicou a ela um pequeno tratado de vida espiritual.
     No verão de 1391, sentindo-se sozinha, Dorotéia se mudou para Marienwerder (Kwidzyn). Ali encontrou o seu diretor espiritual, João de Marienwerder (1343-1417), da Ordem Teutônica, sábio teólogo e professor em Praga. Percebendo a grandeza espiritual da penitente, ele iniciou a transcrição de suas visões e de seu ensinamento em 1392. Este trabalho compreende sete livros em Latim, o Septililium. Escreveu também a vida da Santa em quatro livros, impressos por Jakob Karweyse.
    Em 2 de maio de 1393, depois de uma provação de dois anos, e com a permissão do Capítulo e da Ordem Teutônica, passou a viver em uma ermida construída junto à Catedral de Marienwerder. A cela tinha dois metros de largura e três de altura. Três janelas completavam a ermida: uma abria-se para o céu; outra dava para o altar, para que ela acompanhasse a Santa Missa e comungasse; a terceira dava para o cemitério e servia para lhe passarem os alimentos. Dorotéia vivia austeramente e comungava diariamente, algo excepcional para seu tempo. Com seu exemplo edificava a todos que a procuravam em busca de conselho e consolo. Foram-lhe atribuídas muitas conversões.
     Embora não tivesse frequentado escola, Doroteia tinha uma bagagem cultural graças às suas viagens e ao contato com eclesiásticos eminentes. Além da Ordem Teutônica, sofreu influência da espiritualidade dominicana e teve como modelo Santa Brígida da Suécia, cujas relíquias haviam passado por Dantzig em 1374.
     A Beata morreu em Marienwerder no dia 25 de junho de 1394, e foi logo venerada como santa e Patrona da Ordem Teutônica e da Prússia.
     As obras do seu confessor vieram à luz entre 1395 e 1404. Os Bolandistas editaram duas "vidas" e o Septililium, onde os carismas da mística são apresentados como efusão extraordinária do Espírito Santo.
     Os livros compilados pelo confessor de Dorotéia tinham por finalidade sua canonização como a primeira Santa da Prússia. A obra tem muitas informações interessantes sobre o dia a dia numa fazenda, numa aldeia, e em prósperas cidades. A tradução destes livros forneceu o texto do primeiro livro impresso na Prússia, no ano de 1492, e também facilitou estudos de textos medievais.
     De acordo com a biografia escrita por seu confessor, a beata era muito dedicada ao Santíssimo Sacramento e em várias ocasiões Deus lhe concedeu a graça de poder vê-lo na Hóstia para satisfazer seu grande desejo. O biógrafo de Doroteia menciona que em seu tempo o Santíssimo Sacramento costumava ser exibido o dia todo nas igrejas da Prússia e Pomerânia.
     A doutrina de Doroteia propõe renovar o homem através de três caminhos: remover o pecado que tirou do homem a semelhança de Deus, tornando-o semelhante aos animais; purificar-se pela humildade e penitências que fazem crescer as virtudes teológicas e morais, participação na Paixão de Cristo, dedicação aos pobres, desejo pela Eucaristia. Através de uma longa jornada de autonegação, a alma é subsequentemente, de forma gradual, transformada pelo Espírito Santo. 
     O estágio final é o estágio “unitivo”, que começa com a renovação do coração. Jesus fala a Doroteia, contrastando seus pecados com a beatitude celestial, trazendo-a ao matrimônio espiritual com Deus; a alma sente a presença e a vontade divina, vivendo em sua constante uniformidade, como em uma morada, recebendo virtudes, dons, bem-aventuranças, frutos. É a perfeição cristã, que só pode ser alcançada com a graça do Senhor.
     Doroteia foi venerada popularmente desde o momento de sua morte como a guardiã dos Cavaleiros Teutônicos e padroeira da Prússia / Pomerânia. Em 1405, 257 testemunhas descreveram suas virtudes e milagres. O processo formal de canonização, iniciado em 1404, foi interrompido e não foi retomado até 1955; ela foi finalmente beatificada pelo Papa Paulo VI (culto confirmado) em 1976.
     É celebrada em 25 de junho e 30 de outubro. Suas relíquias desapareceram durante a pseudo-reforma protestante. A igreja de Marienwerder, onde a Beata Dorotéia foi sepultada, atualmente é luterana.
     Ela é representada com o livro das revelações na mão, o rosário e cinco flechas que simbolizam os estigmas. A sua espiritualidade é comparada à de Santa Brígida da Suécia e de Santa Catarina de Siena.
 
Fontes: Santos de cada dia, Pe José Leite S.J.; www.santiebeati.it; "Vidas dos Santos por A. Butler", Herbert Thurston, SI
 
     (*) Marienwerder - Kwidzyn em polonês - é uma cidade no norte da Polônia, próxima do Rio Liwa. Com cerca de 40 mil habitantes, ela faz parte da Pomerânia desde 1999. É a capital do Condado de Kwidzyn.
     Ordem Teutônica ou Ordem dos Cavaleiros Teutônicos foi uma ordem militar vinculada à Igreja Católica por votos religiosos pelo Papa Clemente III, formada em São João de Acre, na Palestina, na época das Cruzadas, no final do século XII. Usavam sobrevestes brancas com uma cruz negra. Esta Ordem fundou o Castelo de Marienwerder em 1232 e a cidade no ano seguinte. Marienwerder tornou-se a sede do Bispado da Pomerânia dentro da Prússia.
      Dorotéia de Montau viveu em Marienwerder de 1391 até sua morte em 1394. Os peregrinos vinham a Marienwerder para rezar diante de suas relíquias.
      A Confederação Prussiana foi fundada em Marienwerder em 1440. Em 1466, a cidade tornou-se feudo da Polônia junto com o que restou da propriedade dos Cavaleiros Teutônicos após sua derrota na Guerra dos Treze Anos.
     Marienwerder tornou-se parte do Ducado da Prússia, um feudo da Polônia, quando aquele ducado foi criado em 1525. O ducado foi herdado pela Casa dos Hohenzollern em 1618 e foi elevado a Reino da Prússia em 1701. A cidade era a capital do Distrito de Marienwerder. Após o primeiro desmembramento da Polônia, Marienwerder tornou-se sede da nova Província da Prússia.  E depois das guerras napoleônicas foi incluída na região de Marienwerder (Kwidzyn).
 
Postado neste blog em 24 de junho de 2019

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