Sem deixar de ser mera dona de casa, Ana Maria Taigi foi conselheira de nobres e eclesiásticos. Acompanhou e profetizou acontecimentos vistos na própria luz de Deus, que nunca a abandonou.
Infância no seio da honrada burguesia de Sena
Nascida a 29 de maio de 1769, já no dia seguinte recebeu o nome Ana Maria Antonia Gesualda Giannetti, na pia batismal da Igreja de São João Batista, de Sena. Seus pais, Luigi Giannetti e Maria Santa Masi, procediam da pequena, mas próspera burguesia da cidade. Luigi herdara de seu pai uma conceituada farmácia, considerada como um dos melhores boticários de toda a Toscana.
Durante seis anos, Ana brincará despreocupada entre os vinhedos, ciprestes e olivais daquelas arenosas planícies toscanas, coroadas pelas rubras muralhas dos roseirais, onde vivia a família Giannetti, em uma bela casa da Rua San Martin. Filha única do jovem casal, a encantadora pequena crescia recebendo os primeiros ensinamentos cristãos da boa mãe, que modelava seu caráter, inculcando-lhe o senso do dever e da responsabilidade, sem fazer-lhe perder a alegria e vivacidade que sempre a caracterizaram.
Entretanto, os anos de alegria duraram pouco, pois Luigi, de espírito imprevidente e extravagante, não tardou em ter de vender tudo a fim de pagar suas dívidas e abandonar a cidade. Na completa ruína, todavia com a honra salva, decidiu recomeçar a vida bem longe. E para tal escolheu a Cidade Eterna.
Os primeiros anos em Roma
A vida em Roma trouxe uma mudança radical nos hábitos da família, que passou a morar em uma pobre e pequena casa no bairro Monti. Os pais de Ana viram-se obrigados a trabalhar como empregados em casas de família, ganhando tão somente o necessário para garantir parca alimentação.
Nesse período, a pequena Ana foi matriculada na escola gratuita da Via Graziosa, sob os cuidados do Instituto Pias Mestras Filipinas. Por suas maneiras distintas, espírito afetuoso e verdadeira piedade, a menina tornou-se a alegria das irmãs encarregadas da escola. Ali aprendeu lições de religião, leitura, cálculo e trabalhos domésticos, mas da arte da escrita só soube grafar o próprio nome, pois foi obrigada a interromper seus estudos devido a uma epidemia de varíola.
Não mais frequentando os bancos escolares, viu-se na contingência de trabalhar a fim de ajudar nas despesas familiares. Empregou-se em um pequeno ateliê, onde cardava a seda e cosia. Regressando do trabalho, dedicava-se às prendas domésticas. Ao contrário dos pais, mesmo na adversidade, a jovem mantinha um constante sorriso.
Vida de vaidades mundanas
Com o passar dos anos, Ana tornou-se uma bela e vaidosa moça, sonhando em constituir um feliz e próspero lar. Interessava-se muito pela literatura romântica da época e era assídua na participação de festas e bailes. Em 1787, abandonou o trabalho no ateliê para empregar-se como doméstica no Palácio Maccarani, onde trabalhava o pai. A patroa, a senhora Maria Serra Marini, satisfeita com a nova empregada, ofereceu ofício também à mãe, bem como alguns cômodos no palácio, e para lá se trasladou a família Giannetti.
A senhora Serra Marini, encantada com a jovem, não cessava de elogiá-la, deixando-a cada vez mais vaidosa. Presenteava-a com os vestidos que não mais queria usar, e Ana os aceitava comprazida. A influência desta vida mundana, aliada a seu temperamento amável e extrovertido, ameaçavam sua honestidade, e só não caiu nos abismos do mal graças a seus bons princípios. Em 1790, se casou com Domenico Taïgi, um servidor do vizinho Palácio do Príncipe Chigi. Fixaram residência em um pequeno apartamento na ala de serviço do Palácio Chigi, oferta do generoso Príncipe aos novos cônjuges.
Domenico se orgulhava da bela esposa, que se adornava elegantemente, fazendo-a ser admirada por todos nos bailes, teatros de marionetes e passeios. Ela levava a fidelidade matrimonial muito a sério, cumprindo todas as suas obrigações de esposa e tomando o marido como seu senhor, tendo-lhe uma inteira submissão afetuosa, suavizando aos poucos seu difícil caráter. Aos vinte e um anos nasceu-lhe o primeiro filho.
Uma conversão plena e completa
Até então, nada fazia entrever o especial chamado a que fora predestinada pela Providência. Pouco a pouco, contudo, a graça foi se fazendo sentir em sua alma. Sem explicação aparente, uma angústia e uma inquietação começaram a tomar conta do coração da jovem mãe, mostrando-lhe o vazio daquela vida.
Em um domingo, passeando com o esposo pela colunata de Bernini, na Praça de São Pedro, cruzou ela com um religioso Servita de Maria, o padre Angelo Verardi, a quem nunca tinha visto. Os dois se entreolharam e o sacerdote ouviu uma voz sobrenatural advertindo-o: "Preste atenção nesta mulher, ela lhe será confiada um dia e tu trabalharás por sua conversão. Ela se santificará, porque Eu a escolhi para ser uma santa".
Ana percebeu aquele olhar fitando-a com profundidade, porém não o entendeu. Mas, desde então, começou a perder o gosto pelas coisas do mundo. Tentou aquietar a ansiedade falando com seu confessor, mas este se limitou aos conselhos habituais para as senhoras casadas: seja fiel e obediente a seu marido...
Buscou, então, outros confessores. No entanto, nenhum conseguiu devolver-lhe a paz de alma. Por fim, decidiu visitar a Igreja de São Marcelo, onde se casara, e encontrou um sacerdote no confessionário. Era o padre Angelo Verardi! Ao ajoelhar Ana para confessar-se, o sacerdote ouviu de novo a mesma voz: "Olhe-a... Eu a chamo à santidade". Cheio de alegria e satisfação, disse-lhe ele: "Afinal viestes, minha filha. O Senhor vos chama à perfeição e vós não podeis recusar o seu chamado". Contou-lhe, então, a mensagem recebida na Praça São Pedro. Finalmente Deus concedera àquela alma escolhida a graça da conversão. A partir daí, renunciou a todas as vaidades do mundo e não participou mais de diversões fúteis, encontrando o maior consolo e alegria na oração.
Início de uma nova vida
Começava para esta bem-aventurada, de condição simples e desconhecida, uma vida de oração, penitência e austeridade. Visões, revelações, sofrimentos, curas e milagres serão agora o seu cotidiano, sem nunca deixar de cumprir seus deveres de esposa e mãe.
Sete crianças abençoaram aquele lar, sendo três meninos e quatro meninas. Entretanto, quis a Providência levar três deles ainda pequenos. Como mãe extremosa, velava pela educação dos pequenos, transformando a casa em um verdadeiro santuário. A ordem reinava em cada canto. Nas paredes, símbolos religiosos dispostos com gosto e piedade. Uma lamparina se mantinha acesa continuamente em honra de Maria Santíssima e nunca se secava a pia de água-benta, reabastecida todos os dias para afugentar os demônios.
A rotina seguia uma disciplina quase monacal, com horários de orações, de refeições, de conversa e lazer, sempre na harmonia e paz características de uma família católica. Nunca discutiu com o marido, conseguindo mediar as dificuldades entre ambos, e jamais deixou de corrigir as crianças, velando por sua inocência e pela salvação de suas almas.
Com o consentimento de Domenico, depois da conversão, decidira ela entrar para a Ordem Terceira Trinitária, considerando uma glória portar como insígnia seu escapulário branco com a cruz azul e vermelha. Porém, teve de esperar ainda vários anos para receber o santo hábito trinitário, o que se deu somente em 1808.
Neste dia tão esperado, ouviu a voz do Salvador a lhe dizer: "Eu te destino para converter as almas pecadoras, para consolar as pessoas de todas as condições: padres, prelados e até mesmo meu Vigário. A todos que escutarem tuas palavras, Eu os cumularei com graças especiais... Contudo, tu encontrarás também inúmeras almas falsas e pérfidas, e te tornarás motivo de escárnio, desprezo e calúnias. Mas tudo suportarás por meu amor". Ana respondeu um tanto atemorizada: "Meu Deus, quem escolhestes para esta obra? Sou uma indigna criatura". A mesma voz lhe replicou: "Assim o quero. Sou Eu que te guiarei pela mão, como um cordeiro levado por seu pastor ao altar do sacrifício".
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