Um dia, escreve Santa Brígida nas suas Revelações, disse-me a Virgem Santíssima:
- “Eu sou a Rainha do céu, eu sou a Mãe de misericórdia, e o caminho por onde voltam os pecadores a Deus. Não há pena no purgatório que não se alivie e que por mim não se torne menor do que se o fora sem mim” (1)
Outra vez a Santa ouviu Jesus dizer à sua Mãe:
- “Tu és minha Mãe, és a Rainha do céu, és a Mãe de misericórdia, és o consolo dos que estão no purgatório e a esperança dos pecadores na terra” (2)
A providência maternal de Nossa Senhora se estende sobre seus filhos na terra e no purgatório. Ela nos socorre e ajuda até depois da morte nas chamas expiadoras. É uma verdade de fé que as almas do purgatório podem ser não só aliviadas em seus padecimentos, mas até libertadas das chamas expiadoras pelas orações, satisfações e boas obras, e pelo Santo Sacrifício da Missa, enfim, pelos sufrágios dos vivos. Todavia, a Igreja nada definiu sobre o socorro que possam os Santos do céu dar às almas padecentes. Não houve necessidade de uma definição, porque o que os hereges contestaram desde Lutero principalmente, foi o sufrágio dos vivos e até a existência do purgatório. Quem, entretanto, pode negar que a Igreja Triunfante possa auxiliar a Igreja Padecente?
Segundo Santo Tomás de Aquino, duas coisas concorrem para que o sufrágio dos vivos aproveite aos mortos: a caridade que une a todos, e a intenção que tem eles de socorrer os mortos. Quanto ao primeiro, nenhum meio existe maior de um vínculo de caridade que o Santo Sacrifício da Missa, o Sacramento que é o vínculo dos fiéis da Igreja. Quanto à outra, a oração, tem a vantagem de levar nossa intenção diretamente a Deus quando se invoca a Divina Misericórdia.
Ora, quem pode negar que os Santos do céu já purificados, possuam a caridade em estado de perfeição na glória e a intenção reta de ajudar às benditas almas sofredoras? Quem melhor do que eles conhece o sofrimento daquelas almas? Não há dúvida, os Santos na glória podem e socorrem as almas do purgatório. Quanto mais a Rainha dos Santos!
Contestaram alguns com subtilidades teológicas que Maria nada poderia fazer pelas almas entregues à Justiça Divina no purgatório.
“Alguns autores, diz o piedoso Pe. Faber, pretendem que a Santíssima Virgem não pode ajudar as almas do purgatório senão de uma maneira indireta, porque não está mais em estado de satisfazer por elas. Não gosto de ouvir isto. Não gosto que falem de uma coisa que nossa terna Mãe não possa fazer” (3)
Pois se Maria tem todo poder no céu e na terra, se é Mãe dos remidos, Mãe de Deus, não há de poder socorrer como e quando queira os seus filhos da Igreja Padecente?
Sim, não há teólogo seguro que o conteste, e a tradição de tantos séculos confirma esta consoladora verdade: Maria socorre seus fiéis servos depois da morte. Estende até o purgatório seu manto protetor de Mãe e Refúgio dos pecadores.
Como socorre Maria as almas sofredoras?
Há muitas maneiras do poder misericordioso de Maria socorrer as benditas almas padecentes. O primeiro meio e mais frequente, diz o Pe. Terrien, S. J. (4) é o pensamento e a vontade que inspira aos fiéis ainda vivos neste mundo, de orar, sofrer e trabalhar pela libertação das pobres almas. Quantos devotos de Nossa Senhora não sentem de repente uma inspiração, um desejo de sufragar os seus mortos queridos ou o desejo de trabalharem pelo sufrágio do purgatório! É a Mãe bendita quem inspira estes bons desejos e resoluções. Não tem Ela nas mãos os corações de seus filhos? Um dia um santo Irmão coadjutor da Companhia de Jesus orava fervorosamente diante de uma imagem da Virgem Imaculada. Enquanto rezava, veio-lhe um certo escrúpulo do pouco zelo que tinha em orar e sufragar as almas do purgatório. Uma voz misteriosa lhe disse, então:
- “Meu filho, meu filho, lembra-te dos defuntos!
- Sim, minha Mãe, o farei doravante, respondeu o piedoso Irmão. E desde aquele dia se entregou às boas obras e sacrifícios e orações pelas almas (5).
Quantas vezes Nossa Senhora em tantas revelações particulares pediu orações pelos mortos! Ainda em Fátima recomenda aos Pastorinhos a jaculatória: Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, aliviai as almas do purgatório, especialmente as mais abandonadas! Maria, pois, ajuda os fiéis do purgatório inspirando sufrágios aos seus filhos da terra e depois, oferecendo por estas almas cativas, não as satisfações atuais, pois no céu não há sofrimento nem expiação, mas o que Ela padeceu e mereceu neste mundo. Haverá maior tesouro depois dos méritos de Cristo que os méritos de Maria?
Maria Santíssima, pois, por estes dois meios pode e realmente socorre as almas. A Igreja, na sua liturgia, confirma esta piedosa crença e esta verdade consoladora quando assim ora na Missa dos Defuntos:
“Ó Deus, que perdoais aos pecadores e desejais a salvação dos homens, imploramos a vossa clemência por intercessão da Bem-aventurada Maria sempre Virgem, e de todos os Santos em favor de nossos irmãos, parentes e benfeitores que saíram deste mundo, a fim de que alcancem a bem-aventurança eterna”.
Por terem as almas maior precisão de socorro, escreve Santo Afonso de Ligório, empenha-se a Mãe de Misericórdia com zelo ainda mais intenso em auxiliá-las. Elas muito padecem e nada podem fazer por si mesmas. Diz São Bernardino que Maria desce ao cárcere do purgatório onde tem certo domínio e poder para aliviar e libertar estas esposas de Jesus Cristo. Traz alívio às almas. Aplica-lhes o Santo esta palavra do Eclesiástico: ‘Caminho por sobre as ondas do mar’ (6). Compara as ondas às penas do purgatório, porque são transitórias, e por isso diferentes das do inferno, que nunca passam. Chama-as ondas do mar porque são penas muito amargas. Os devotos da Virgem, aflitos com estas penas, são por Ela visitados e socorridos frequentemente. Eis, pois como socorre Maria as almas do purgatório.
Nossa Senhora do Carmo, Mãe do Purgatório As aparições da Virgem Misericordiosa a São Simão Stock e ao Papa João XXII são muito conhecidas e hoje a piedade de toda Igreja tem na devoção à Virgem do Carmo um motivo para chamar a Nossa Senhora Mãe e Rainha do purgatório. Diz a Mãe de Deus a São Simão: “Recebe, meu querido filho, este escapulário de tua Ordem como sinal distintivo da minha confraria e prova de privilégio que obtive para ti e para os filhos do Carmo. Aquele que morrer revestido do escapulário será preservado das penas do outro mundo. É um sinal de salvação, uma defesa nos perigos, o penhor de paz e proteção especial até o fim dos séculos”.
Promete a Virgem a proteção aos seus fiéis devotos do escapulário. Esta promessa foi confirmada setenta anos depois, após uma revelação feita por Maria ao Papa João XXII. Declarou este Pontífice numa Bula, que estando em oração, Maria lhe apareceu e disse: “João, Vigário de meu Filho, és devedor da alta dignidade a que chegaste a mim, que pedi por ti. Eu te livrei dos laços dos teus adversários; espero de ti uma confirmação da Ordem do Carmo, que me foi sempre especialmente dedicada. Se entre os religiosos ou confrades, quando morrerem, se acharem alguns cujos pecados tiverem merecido o purgatório, eu descerei como terna Mãe no meio deles, no purgatório, no sábado que seguir a sua morte. Livrarei aqueles que eu lá encontrar e os levarei à Montanha Santa, à feliz morada da vida eterna”.
É Maria revelando-se Mãe carinhosa das almas do purgatório.
A arte cristã sempre representa a Virgem do Carmo estendendo o seu escapulário sobre o purgatório onde as almas em meio das chamas expiadoras levantam os braços e olhos suplicantes implorando a misericórdia da boa Mãe e procurando no escapulário um meio de saírem das chamas.
Como isto é significativo e simbólico! Não é esta a Missão da Virgem Santíssima, Consolo e alívio e libertação do purgatório e o que encontram com segurança os devotos verdadeiros de Maria Santíssima? Podemos crer no grande privilégio dos Carmelitas. A Sagrada Congregação das Indulgências em 1° de dezembro de 1886 decidiu: “Seja permitido aos Padres Carmelitas pregarem ao povo que se pode crer piedosamente na assistência que esperam os Irmãos e confrades da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, a saber: que esta Senhora ajudará com suas orações contínuas e sufrágios e méritos e com uma proteção especial depois da sua morte (principalmente ao sábado, dia que lhe está consagrado pela Igreja), aos Irmãos e confrades falecidos na caridade, com a condição de que tenham levado durante a vida o escapulário, guardado a castidade de seu estado, rezado o Ofício Parvo, ou se não puderam rezá-lo, que hajam observado os jejuns da Igreja e abstido de carne nas quartas e sábados”. Este decreto foi publicado em Roma em 15 de fevereiro de 1615 pelo Santo Ofício. Ora, não é a Igreja confirmando a consoladora doutrina da assistência e proteção de Maria sobre o purgatório? Invoquemos sempre a Mãe querida das pobres almas do purgatório. Sejamos devotos da Virgem do Carmo e do Santo Escapulário.
Exemplo: Maria liberta as santas almas nas suas festas
Diz o Venerável Dionizio Cartuziano que cada ano, nas grandes festas, a Mãe de Deus desce ao purgatório e liberta muitas almas do sofrimento, levando-as para a glória, sobretudo nas festas da Páscoa, do Natal e da Assunção. São Pedro Damião conta a propósito um caso que diz ter ouvido de um sacerdote fidedigno. Vou traduzi-lo do latim tal como o deixou escrito São Pedro Damião:
“Uma mulher em Roma entrou no dia da Assunção na basílica erigida em honra da Santíssima Virgem no Capitólio. Grande foi a sua surpresa ao ver ali uma das suas vizinhas, que um ano antes havia morrido. Não podendo chegar-se a ela pela multidão que enchia o templo, foi esperá-la ao sair da igreja numa das ruas estreitas da cidade, por onde havia de passar.
- Não és Marozia, minha vizinha, lhe perguntou, que morreu há cerca de um ano?
- Sim, sou eu mesma.
- E como estás aqui?
E Marozia confessou que havia sofrido muito no purgatório por umas faltas da meninice e acrescentou: ‘Hoje, porém a Rainha do mundo rogou por mim e tirou a mim e a muitas outras almas do lugar da expiação e é tão grande o número das almas libertadas, que sobrepuja aos habitantes de Roma. Eis porque visitamos, em ação de graças, os lugares consagrados à nossa gloriosa Rainha’.
E como prova da verdade da aparição, anunciou que a sua amiga dentro de um ano morreria também. O que de fato aconteceu”.
Santa Francisca Romana, favorecida com tantas visões, contemplou também, num dia da Assunção, o triunfo de Maria e uma multidão de almas libertadas do purgatório pela intercessão da Mãe de Misericórdia. — (S. Petr. Damian. Opusc. XXXIV — Disput. de variis apparition, et miraculis. C. 3. P L. CXLV — 586-587.).
(1) Revel. Sanct. Birgitae — I, VI.
(2) Idem — Cap. X, I — Cap. XVI.
(3) Faber: “Tudo por Jesus” — C. IX — Purgatório, 5.
(4) Terrien, S. J. — La Mere de Dieu et La Mere de homes — Tom. II — Lib. X, cap. II.
(5) La Puente — Vida del P. Baltazar Alvares — C. 44.
(6) Eccl. XXXIV, 8 — “Glórias de Maria” — Santo Afonso — I. par. Cap. VIII.
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