sexta-feira, 29 de abril de 2016

Excertos do livro de Irmã Maria Antonia

    
Cecy aos 13 anos
     Os tópicos abaixo merecem aprofundamento e reflexão dos pais e mestres. Uma jovenzinha é protegida por seu Anjo da Guarda em duas circunstâncias: um “banho na cachoeira” e fitas ou dramas apresentados em cinemas ou teatros. O que Cecy faria diante dos trajes, músicas, programas de TV ou filmes nos dias atuais? Quem poderia supor que de “inocentes banhos na cachoeira” se chegaria ao nudismo de nossas praias?
     Na. Sra. apareceu diversas vezes no século XIX pedindo conversão e penitência. Em 1917, em Fátima, Portugal, Ela disse que se a humanidade não se emendasse viria uma guerra pior (e veio, a 2ª guerra mundial!) e acenou com outro castigo.
     As intervenções do Anjo de Cecy não serviram apenas para ela; se formos sérios e analisarmos todo o conteúdo de sua ação benfazeja, veremos que ele inspira e encoraja uma luta contra os defeitos e uma ação de inconformidade com os ambientes que a criança precisa frequentar.
     Que do céu Cecy vele por nossas crianças e adolescentes!
          
35. O traje de banho impedido
     Nas férias de 1911 a 1912, papai, a conselho médico de aproveitar as águas iodadas dos banhos de mar, no mês de fevereiro, resolveu mandar-me para Santa Vitória do Palmar. Parti logo após o encerramento das aulas, na 2a quinzena de dezembro. Deveria hospedar-me em casa da família N., amiga de meus pais, e cujas filhas estavam internadas em nosso colégio de Jaguarão. Custou-me demasiadamente separar-me da família. [...]
     A viagem correu bem e amanhecemos em Santa Vitória, onde já nos esperava, no porto, o casal N. Estranhei imensamente a falta de meus pais e irmãos e da boa Acácia, se bem que aquela família N. me cercasse de todo o carinho, cuidado e dedicação. Antes de duas semanas, adoeci com febre alta e, se não tivesse a presença contínua de meu Jesus e de meu Novo Amigo, creio que não teria resistido à dura separação. Por fim, restabeleci-me, e a família N. já estava em preparativos para partir para o mar, quando veio a notícia de que a casa fora incendiada. Foi então resolvido ir-se para a grande Fazenda N.
     A vida aprazível e movimentada da fazenda ia, pouco a pouco, como que diluindo a espécie de nostalgia que me ia na alma, e, por fim, sentia-me bem. Eram carreiras, passeios a cavalo ou de breack, e, numa tarde, grande entusiasmo na fazenda, para o banho na “cachoeira”. Estavam na casa as famílias da vizinhança.
     Fomos. Grupos a cavalo, de aranha e de breack. Dona N. levou-me consigo na aranha. Eu ia radiante. Chegamos a tal cachoeira, que para mim foi uma “maravilhosa novidade”. Era um salto d’água, espumante e cantante, que rolava por sobre pedras enormes, indo deitar-se, depois, num leito macio de areia. Armaram, às margens, três ou quatro barraquinhas e, de lá, em pouco tempo, saíam os grupos para o banho.
     Dona N. chamou-me para pôr o tal traje de banho. Corri radiante. Porém, antes de chegar a ela, sou impedida, por um braço, por meu Novo Amigo e pela presença mais viva de Nosso Senhor em meu pequeno ser, fazendo-me compreender que não devia acompanhar aquele grupo. Disse eu, então, parada em meio caminho: “Não, Dona N., não quero vestir-me assim, nem banhar-me. Fico esperando aqui”. Dona N. mostrou descontentamento. Receosa, tímida, mostrava-me indecisa em obedecer-lhe ou não. Porém sentia-me ainda presa pela S. Mão de meu Novo Amigo. Então, resolutamente, respondo aos seus insistentes chamados: “Dona N., não quero vestir-me assim, nem banhar-me”.
     Os grupos prontos preparavam-se para entrar na água. Meu Novo Amigo passou para minha frente e, durante todo o tempo que os banhistas permaneceram na água, e depois na margem, onde formaram baile, tinha eu, pela primeira vez, na minha frente, a Sombra Santa e Benfazeja que, supunha eu, eram as Asas distendidas de meu Novo Amigo. E sempre, dali em diante, as “Santas Asas Protetoras” distenderam-se na minha frente, impedindo-me de ver o que Nosso Senhor nem Ele queriam que eu visse.

36.  Cinema “ponto chic”
      Já no ano de 1912, começou, em Jaguarão, uma verdadeira enchente de cinemas. Abriam-se salões por todos os lados. Aos domingos havia “matinées” quase de hora em hora. Os proprietários de cinema começaram a fazer concorrência uns aos outros, e havia até rivalidades. Por fim, abriu-se um salão luxuoso, da firma Pinto e Irmão, denominado “Ponto Chic”. O proprietário, grande capitalista, mandara construir especialmente tal salão, com poltronas estofadas, ventiladores elétricos, salas de espera, etc., e pelo mesmo preço que os outros.
     Assim é que as famílias acorriam, em turbilhão, ao Ponto Chic. Aos domingos, as “matinées” eram exclusivamente para crianças, onde se distribuíam, grátis, lindos saquinhos de bombons, havendo ainda sorteio de um lindo prêmio: uma grande boneca ou um par de patins ou um diávolo de borracha, etc. Isto atraía, posso até dizer, a criançada em peso de Jaguarão.
     Não sei dizer se tal febre de cinemas prejudicava a moral do povo, sei que, em certo domingo, anunciou-se a estréia de um novo salão pelos Revds. Padres Premonstratenses. Ora, o preço foi menos da metade dos outros cinemas. Agora, o povo convergia para lá.
     De todas as fitas a que assisti no Salão dos Padres (denominação popular), nessa época de minha infância, e também mais tarde, na minha mocidade, sei a história, até hoje, integralmente, e até o seu título: A vida pública do Salvador, O Filho pródigo, O Milagre da Virgem, Tenho por teto o céu, etc.
     O mesmo já não se dá com as fitas a que assisti no teatro ou nos salões. A maior parte delas (com exceção das fitas naturais) ficava por entender, porque grande parte delas me eram vedadas pelas “Santas Asas” de meu Novo Amigo. Já narrei, anteriormente, como nas minhas férias em Santa Vitória, pela 1a vez, meu Novo Amigo assim procedera. A 2a vez foi no cinema “Ponto Chic” e depois continuou sempre, também na minha mocidade.
     Passo a narrar a 2a vez. Num domingo, anunciou o “Ponto Chic” uma extraordinária “soirée”. Fomos à tal soirée extraordinária. Enorme concorrência de famílias. Começou a fita cujo titulo era: A cela no. 13. Duas ou três cenas se haviam passado quando, num dado momento, sinto a S. Mão de meu Novo Amigo sobre meu ombro e, como no banho da cachoeira, suas Santas Asas distendem-se na minha frente, encobrindo totalmente aos meus olhos a cena que se focava na tela. Meu Novo Amigo assim permaneceu durante toda a passagem da fita, de modo que dela nada vi.
     Em outras ocasiões (quero dizer, em outras fitas), suas Santas Asas distendiam-se por certo espaço de tempo. Depois como que se fechavam e, então, eu podia olhar na tela, mas sua Santa Mão permanecia sobre meu ombro, de modo que mais me ocupava com Ele (pois que Ele constituía as minhas delicias, na lembrança de que Jesus estava satisfeito com sua amiguinha) do que com o que me cercava. Muitas e muitas vezes, durante a passagem de uma fita na tela as Santas Asas distendiam-se por tempo rápido e logo me deixavam a vista livre.
      Não somente nos cinemas meu Novo Amigo assim procedia, também em espetáculos (representação de dramas, etc.). Quantas vezes mamãe chamava-me de “pateta”, porque eu não sabia descrever a fita ou o drama a que assistira. E papai dizia-me: “Minha filha, você deve descrever o que vê e narrar o que ouve”. Jamais, porém, dissera-lhes que meu Novo Amigo mo impedia.
     Meu santo e fidelíssimo Novo Amigo, somente hoje reconheço os inúmeros perigos a que estive exposta naquele mundo mau, e dos quais saí ilesa, unicamente pela graça especial de meu Deus e de Vossa fidelíssima guarda. Sede, ó meu Deus, glorificado eternamente na fraqueza de Vossa criaturinha. E a Vós, meu Novo Amigo, o amor grato de Vossa pequenina irmã e amiga. Amém.


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