quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Agnès de La Barre de Nanteuil - 13 de agosto

(continuação)

    Mas Agnès quer fazer mais pelo seu país. Com 20 anos ela é recrutada como agente de ligação: com sua velha bicicleta, sob as barbas dos alemães e dos colaboradores, ela percorre as estradas da Bretanha para encontrar os agentes e transmitir as instruções dos líderes da rede. As cartas que ela leva, com risco de sua vida, estão escondidas no guidão de sua bicicleta, no revestimento de suas roupas, em seus sapatos. Ao mesmo tempo, com ar de quem não quer nada, ela dá aulas de inglês, leva as crianças para jogar no campo de Vannes, sai com as amigas e, como a mais velha da casa, ajuda a mãe nos trabalhos domésticos: "Sempre a alegria, a paz, a irradiação onde quer que ela chegue", escreveu dela seu primo Raul de Vitton. Seus amigos não suspeitam de nada.
     Mas, em março de 1944, ela foi denunciada, presa, torturada pela Gestapo e encarcerada em Rennes. Embora torturada, ela nada revelou por muitos dias, para dar aos seus companheiros combatentes tempo para se esconder. Ela encontra na prisão sua irmã Catarina, também resistente.
     No início de agosto, quando os norte-americanos estão às portas de Rennes, a prisão é evacuada e todos os prisioneiros são deportados para a Alemanha. Nesse comboio de 2.000 pessoas, durante um ataque de caças aliados na região de Langeais, Agnès foi ferida por um soldado alemão. Gravemente ferida no estômago, ela foi colocada de volta no vagão do trem quase destruído e foi sacudindo de estação a estação no caminho para St-Pierre-des-Corps (Indre-et-Loire) e Paray-le-Monial (Saône-et-Loire), onde o ferimento foi finalmente cuidado, a despeito da oposição da SS.
     Ela foi então colocada numa maca e em um vagão de carga quente e sem água. Ela sobreviveu por mais três dias sem reclamar. Segundo o testemunho das 35 prisioneiras presentes nas suas três horas de agonia, no vagão que as levaria à deportação, Agnès sofreu atrozmente: no ferimento mal cuidado se havia instalado uma gangrena. Mas de seus lábios não se ouve nenhuma lamentação, apenas palavras de encorajamento.
Vagão das deportações
     Esta jovem “tão bela, tão loira, tão jovem e tão corajosa” lhes fala de sua família, de seu Deus e só pede a elas para rezarem o terço junto dela. Com frequência elas a ouvem murmurar: “Ave Maria, perdoai-os”. “E ela morreu sob nossos olhos, calmamente, heroicamente, seu rosto iluminado”. No início da guerra ela havia escrito ao seu pai espiritual: “Eu creio que morrer jovem é uma grande graça que o Bom Deus concede, eu desejaria tanto de ser digna logo. Ó não vos inquieteis, não é que eu esteja farta de viver, longe disto! Mas ver o Bom Deus face a face, que perspectiva!”
     Ela morreu com a idade de 22 anos, no dia 13 de agosto de 1944, na estação de trem de Paray-le-Monial, mas antes de expirar ela pode ditar uma última mensagem para sua família: "Eu dou a minha vida ao meu Deus e ao meu país... fui traída, mas eu perdoei...".
     Seus companheiros de infortúnio, alguns deles membros da Juventude Comunista, rezam e fazem uma vigília por ela, "uma santa com um rosto bonito", como eles diziam, antes de entregar o seu corpo para as autoridades civis de Paray-le-Monial. A Cruz Vermelha enterrou-a temporariamente naquela cidade, na presença de guias escoteiros e líderes, que foram informados de sua morte.
     De uma família profundamente católica, Agnès de Nanteuil é certamente uma digna "mulher forte do Evangelho". A religião é o motor de sua vida, uma vida que ela ofereceu por seu país e pelo próximo. Até o fim ela reza e perdoa os franceses que a denunciaram, o alemão que a ferira, aqueles que a torturaram. No último vagão, deitada em sua maca, as jovens comunistas acompanham-na em seus últimos momentos e rezam com ela o Rosário.
-.-
     Em 1947, Charles de Gaulle condecorou-a postumamente com a Medalha da Resistência. Em 1951, ela recebeu a Legião de Honra. Sua mãe e seus outros irmãos também foram condecorados pela França, Estados Unidos e Reino Unido. Na Bretanha várias ruas levam o seu nome e várias unidades de escoteiros também, mas nenhuma escola pública, porque ela não era comunista ou membro ateu da Resistência.
     Em 2002, Agnès foi nomeada patrona da 26ª turma da Escola Militar de Saint-Cyr-Coëtquidan. Com Santa Joana d'Arc, ela é a única mulher a ser honrada desta maneira pela prestigiada Academia Militar.
Escola Militar de Saint-Cyr-Coëtquidam
Fontes:
1. (*) Christophe Carichon, Agnès de Nanteuil (1922-1944), Artège 18 €. Sobre o Autor: Casado e com cinco filhos, é professor de história na escola de Anjou e pesquisador associado ao Centro de Pesquisa bretão e celta (Universidade de Brest). Historiador especializado na história dos movimentos de juventude e história religiosa, ele é autor de dezenas de artigos e livros sobre esses assuntos.
2. Reproduzido com a permissão de Paul Vegliò. Traduzido por Nobility.org a partir do original francês, que foi publicado em 23 de fevereiro de 2014, no Boulevard Voltaire.

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