Alix nasceu
em Remiremont, ducado de Lorena, em 1576. Sua família ocupava uma posição de destaque,
mas pouco se sabe da vida de Alix até os dezessete anos. Era então uma jovem
alta e bela, loura, de constituição delicada, atraente e inteligente. Outro
relato, escrito por ela mesma, nos informa que se distinguia na música e na dança,
que era muito popular e que tinha muitos admiradores. Alix deixa entender que
se envaidecia com isto, o que é provável. Entretanto, lembremo-nos que os
santos tendem a exagerar seus defeitos. Por outro lado, Alix demonstra que não deixava
de ter seriedade: “Em meio a tudo isto,
meu coração estava triste”. Pouco a pouco a frivolidade de sua vida se lhe
tornou insuportável.
Aos dezenove
anos um primeiro sonho veio mudar sua vida. Ele se viu em uma igreja, próximo
do altar, a seu lado se encontrava Nossa Senhora vestida com um hábito
religioso desconhecido, que lhe fala: "Vem,
minha filha, que eu mesma vou te dar as boas-vindas".
Pouco
tempo depois, a família Le Clercq foi morar em Hymont. Ali a jovem encontrou São
Pedro Fourier, que era vigário de uma paroquia de Mattaincourt, nas redondezas.
Um dia em que assistia à Missa nessa paroquia, Alix ouviu um ruído de tambor e
viu o demônio que fazia os jovens dançar “ébrios de alegria". Nesse
instante se deu a conversão de Alix, que nos disse: "Ali mesmo resolvi não me misturar com semelhante companhia".
Alix trocou
seus vestidos finos pelas roupas das camponesas, e pouco saía de sua casa. Sob
a prudente direção de São Pedro Fourier, procurou descobrir qual a vontade de
Deus a seu respeito, o que lhe causou grandes sofrimentos espirituais. Tanto seu
pai como São Pedro Fourier aconselharam que ela entrasse em um convento. Ao que
ela não concordou, pois em um sonho lhe fora revelado que não existia nenhuma
forma de vida religiosa adaptável à sua vocação.
Alix
confiou a São Pedro Fourier que estava obcecada pela ideia de fundar uma
congregação ativa. Este se mostrou cético, mas a aconselhou procurar outras
jovens que compartilhassem de suas ideias, coisa muito difícil em um povoado
afastado. Alix, porém conseguiu encontrar companheiras.
Na Missa
de Natal de 1597, Alix Le Clercq, Ganthe André, Isabel e Joana de Louvroir se
consagraram publicamente a Deus. Quatro semanas depois, São Pedro Fourier
convenceu-se de que elas eram chamadas a fundar uma comunidade sob sua direção.
Alix recebeu o nome de Irmã Maria Teresa de Jesus Le Clercq.
Uma
solução inesperada: a quatro quilômetros de Mattaincourt havia uma abadia de
canonisas seculares. Era uma comunidade de ricas e aristocráticas damas que
levavam uma vida conventual. Uma dessas senhoras, Judith d'Apremont, decidiu
proteger Alix e suas três companheiras dando-lhes para morar uma casinha em suas
propriedades. As jovens se instalaram ali na véspera de Corpus Christi de 1598.
Ao terminar um retiro, declararam unanimemente a São Pedro Fourier que se sentiam
chamadas a fundar uma nova congregação, já que esta era a vontade de Deus para
elas. A finalidade do novo instituto era "ensinar as meninas a ler, a escrever e a costurar, mas sobretudo a amar
e servir a Deus". A esta santa ocupação elas deviam se dedicar, sem
distinguir entre pobres e ricos, e sem cobrar nem um centavo, "porque isto agrada mais a Deus".
Em 1601,
São Pedro Fourier e a Beata Alix fundaram uma segunda casa em Mihiel, seguida
pelas de Nancy, Pont-à-Mousson, Saint-Nicolas du Port, Verdún e Chalons. Esta
última, estabelecida em 1613, foi a primeira fundação fora da Lorena.
Alix e
uma das companheiras foram enviadas por São Pedro a um convento das Ursulinas
de Paris para que se documentassem sobre a vida monástica e os métodos de
ensino.
Em 1616,
duas bulas da Santa Sé concederam afinal a desejada aprovação da congregação.
Com base nisto, o Bispo de Toul aprovou as Constituições. Pela primeira vez
treze religiosas vestiram o hábito que a Virgem revelara na visão a Alix, e
iniciaram o ano de noviciado.
Como as
bulas papais somente mencionassem o convento de Nancy, a Beata Alix teve que
renunciar ao cargo de superiora da Congregação a favor da Madre Ganthe André, “sem a qual, explica São Pedro Fourier, nossa
congregação não teria podido ser fundada”, apesar de Madre André e de Alix
não estarem de acordo sobre a organização.
Além
desta provação, a beata atravessava um período de crise espiritual conhecido
por “noite escura da alma”. Atualmente lhe é reconhecido o título de
cofundadora das Canonisas de Nossa Senhora, mas isto não acontecia durante sua
vida e São Pedro Fourier era o primeiro a negar a ela este título, “para mantê-la em seu lugar”.
Em 1621,
a Beata obteve permissão para renunciar ao cargo de superiora local de Nancy,
pois estava doente já há algum tempo. Os médicos a declaram incurável,
diagnóstico que desconsolou toda Nancy, desde o duque e a duquesa da Lorena até
as alunas e os mendigos.
São Pedro
Fourier foi para Nancy e a ouviu em confissão e a preparou para a morte. Alix
se despediu solenemente da comunidade no dia da Epifania, exortando suas
religiosas ao amor e a união. O desfecho chegou no dia 9 de janeiro de 1622,
depois de uma longa agonia. A Beata não havia feito 46 anos de idade.
Logo
todos a aclamaram como santa e imediatamente se começou a recolher testemunhos
para introdução de sua causa, mas a guerra impediu que o processo fosse adiante
e ela somente foi beatificada em 1947.
Em 1666,
o convento de Nancy publicou uma vida da Beata Alix Le Clercq, que é na
realidade uma coleção de documentos valiosos sobre a beata. O bispo de
Saint-Dié introduziu, em 1885, a causa de beatificação, baseando-se em um exemplar
dessa biografia que havia caído em mãos do Conde Gandélet. A primeira biografia
propriamente dita foi publicada em Nancy em 1773; existe o manuscrito de outra,
escrita em 1766; em 1858 veio à luz outra biografia, e a partir de então se multiplicaram
os livros sobre a Beata.
Há ainda
a mencionar as vidas de São Pedro Fourier, escritas por Bedel (1645), Dom
Vuillemin (1897), e o Pe. Rogie. O autor do prefácio da biografia inglesa da
Beata Alix, fala dos excelentes métodos de educação empregados pelas canonisas.
São Pedro Fourier ensinava pedagogia a suas religiosas.
Madre Maria
Teresa de Jesus Le Clercq foi beatificada em 1947 por Pio XII.
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