A vida de Santa Ivete chegou até nós
através de seu confessor e biógrafo, um cônego chamado Hugo de Floreffe
(Floreffe era uma abadia norbertina, na Diocese de Namur), que escreveu a vida
de Santa Ivete por volta de 1230 em latim medieval. Ele também escreveu a vida
de Santa Ida de Nivelles e de Santa Ida de Leuwe, religiosa da Ordem de Cister no
Brabante.
Ivete nasceu em 1158, em Huy, Bélgica, em
uma família de classe média alta, seu pai era administrador dos bens do bispo
de Liège, na região de Huy.
A partir da idade de 12 anos Ivete
manifestou o desejo de consagrar-se a Deus. Apesar disso e, de acordo com um
costume muito difundido na época, com a idade de 13, incapaz de opor-se, foi
dada em casamento a Henry Stenay, filho de um grande cidadão de Huy. Nada
preparada para o casamento, Ivete abominava a vida conjugal e odiava o marido.
Levou tempo para superar essa crise e voltar a sentimentos mais equilibrados.
Ela aceitou a legitimidade das demandas de seu marido, e ainda conseguiu
amá-lo. Ivete teve três filhos, dos quais um morreu pouco tempo depois de
batizado.
Após
cinco anos, seu marido morreu deixando-a, aos 18 anos, viúva com dois filhos. Era
ainda jovem e bonita e seu pai tenta casá-la novamente. Mas desta vez Ivete,
adulta, estava bem determinada a seguir o caminho da consagração a Deus. Ela
não cedeu. Seu pai, um parente do bispo de Liège, Raoul Zähringen, leva-lhe a
viúva teimosa. Ivete, intimidada perante o tribunal do bispo, fica silenciosa.
Raoul, em seguida, ouviu-a em uma audiência particular. Ivete pede-lhe apoio a
sua causa e seu desejo de ser totalmente entregue a Deus; o bispo lhe dá razão.
Seu pai teve que ceder.
Em seguida, dedicou-se à educação de seu filho e da prática da caridade. Sua
generosidade é bem conhecida: pobres, peregrinos e viajantes eram abrigados por
ela. Ela anunciou que em breve deixaria o mundo. Ela faz arranjos para garantir
o futuro de seus filhos e se retirou para um leprosário malconservado. Na
idade de 24, continuando seu caminho espiritual, Ivete se coloca ao serviço dos
leprosos em uma colônia de leprosos em Statte, nas colinas da cidade de Huy.
Durante dez anos ela se dedicou de corpo e
alma ao cuidado destes excluídos sem descurar qualquer esforço. Aspirando a ser
unida a Cristo, negligencia todas as precauções; ela estava mesmo disposta a
ser atingida pela lepra, para uma melhor identificação com Cristo.
Uma
vida tão prodigiosa causa admiração. As pessoas vêm pedir-lhe conselhos,
pedindo sua intercessão. Um grupo de fieis e discípulos se reúne em torno dela.
Por volta de 1191, ela ainda aumentaria
mais a penitência: aos 34 anos, Ivete foi fechada em uma cela, em Statte, da
qual ela não sairia jamais. Do alto da colina, ela era como um anjo da guarda
de Huy. Na véspera da sua entrada no isolamento, ela recebeu uma grande graça:
a conversão de seu pai, que até então fizera de tudo para desviá-la de sua
extraordinária vocação. Ele foi tocado pela graça e se converteu. Como ele era
viúvo, ingressou na abadia cisterciense de Villers-en-Brabant. Ele é recordado
como Beato Otto de Villers.
Os discípulos aumentam e as esmolas
também. Ivete não se esqueceu de seus filhos. O primeiro entrou na Abadia de
Orval, da qual seria abade. O segundo levava uma vida desregrada. Muitas vezes
Ivete o chama para ralhar e fazê-lo voltar aos trilhos. Ele promete se emendar,
promessa não cumprida. Ivete finalmente ordenou-lhe deixar a região, porque era
motivo de grande escândalo. Ele se converteu mais tarde e também se tornou
monge cisterciense na Abadia Trois-Fontaines.
De acordo com seu biógrafo, Ivete recebeu
dons místicos, especialmente o de ler as consciências. O número de seus
seguidores foi aumentando, mas também fez com que a suas previsões causassem
descontentamentos, porque ela dizia em voz alta o que queriam esconder.
Com a esmola recebida, a reclusa de Huy
construiu um hospital para leprosos com uma grande igreja. Ela dirigia a
construção a partir de sua cela. Várias jovens se agruparam em torno dela e se
tornaram suas discípulas.
Ivete morreu em sua cela no dia 13 de
janeiro de 1228 aos 70 anos de idade. Imediatamente grande veneração e um culto
a ela se desenvolveu. Devido à grande veneração por ela, muitos fiéis exigiram
o reconhecimento da santidade do “anjo da guarda de Huy”. Embora uma aprovação
formal nunca tenha existido, ela é venerada ainda hoje como santa.
Ela é emblemática de um movimento místico
feminino que floresceu na Idade Média, que já contava com Maria de Oignies,
Hildegarda de Bingen, ou Ida de Nivelles.
Fonte:
https://fr.wikipedia.org/wiki/Ivette_de_Huy
* * *
Somente
indivíduos com forte inspiração religiosa encontravam nela recursos para tratar
daquelas pessoas consideradas afetadas por castigo divino. Assim São Martinho
não hesitou em tocá-los, bem como reis como Roberto, o Piedoso e São Luís IX.
A
doença afetou todos os estratos sociais; o leproso era considerado o infeliz
por excelência. Por vezes, outras doenças da pele eram assimiladas à lepra.
São
Julião o Hospitaleiro criando leprosários era o exemplo do santo que vinha em
auxílio de seu próximo do qual todo mundo se afasta. Cavaleiros afetados pela
doença, não hesitam em entrar nas Ordens Hospitaleiras para cuidar dos outros
leprosos. Muitas vezes os leprosários (ou lazaretos) eram administrados pelos
próprios leprosos. Chamados Irmãos Donatos, porque dados a Deus, eles deviam em
princípio viver sujeitos à regra da Ordem. Se ele era casado, o Irmão tinha que
deixar o leprosário, e perdia os lucros decorrentes da gestão da propriedade
comum.
A
endemia foi particularmente forte no Ocidente nos séculos XI e XII (regresso
das Cruzadas), por vezes atingindo dois por mil habitantes. Foi neste momento
que a exclusão dos leprosos foi a mais viva e que a hostilidade popular foi
mais violenta. A grande peste no século XIII diminuiu a lembrança, no século
XIV a lepra diminuiu. Os últimos leprosários desapareceram no final do século
XV e na virada do século XVI.
Santa Alpais, contemporânea de Santa
Ivete, cuja vida também foi ligada à lepra pode ser vista em: http://ut-pupillam-oculi.over-blog.com/article-13537351.html
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