sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Santa Batilde (ou Bertila), Rainha, religiosa – 30 de janeiro

    
Sta. Batilde, ilustração de livro de horas 1405-1410
A tradição considera que Batilde era de sangue real, embora haja dúvidas quanto à sua ascendência. Ela nasceu por volta do ano 626. Era de origem anglo-saxã. Em 641, durante uma viagem marítima foi capturada por piratas. Levada para a França, foi vendida para ser escrava da esposa de Erquinoaldo, mordomo do palácio de Clóvis II, rei da Nêustria e Borgonha, antigas regiões da Gália.
     Suas qualidades pessoais e sua virtude fizeram com que seu dono lhe confiasse muitos dos trabalhos de sua casa. Com a morte da esposa, Erquinoaldo quis casar-se com ela, mas Batilde não aceitou, se afastou do dono e só retornou quando ele já havia casado novamente.
     Foi então que o rei Clóvis II a viu na casa de Erquinoaldo. O rei ficou impressionado por sua beleza, sua graça e por suas virtudes. Em 649, libertou-a da escravidão, casou-se com ela e tiveram três filhos: Clotário, Childerico e Teodorico.
     A repentina elevação da situação de Batilde não reduziu suas virtudes, mas, ao contrário, tornou suas qualidades mais visíveis. Ela se destacou por sua humildade, sua religiosidade e sua grande generosidade para com os pobres.
     Em 657, Clóvis II faleceu e Batilde foi proclamada por uma assembleia de senhoras da nobreza como a regente de seu filho de cinco anos, com o nome rei Clotário III. Assumindo o trono e como regente do reino, estabeleceu sua autoridade e governou com sabedoria e com justiça. Ela contou com a ajuda da autoridade e dos conselhos de Erquinoaldo e dos bispos Santo Elói, São Audoeno de Rouen, São Leodegário de Autun, Crodeberto de Paris e Genésio depois bispo de Lyon. Estes personagens influenciaram-na em sua tarefa de proteção de mosteiros. Jumièges, Saint-Wandrille de Fontenelle, Luxeuil, Jouarre, Saint-Denis ou Saint-Germain-des-Prés (Paris) entre outros foram beneficiados pelas ações de Santa Batilde. Além disso, ela fundou diretamente a Abadia de Saint-Pierre de Corbie (Somme).
     Orientada por aquelas pessoas equilibradas e generosas, ela tomou medidas enérgicas e corajosas. Acabou com o tráfico de escravos, uma realidade muito corrente na época, aboliu os impostos injustos que pesavam sobre os ombros das famílias, especialmente das mais pobres e posicionou-se contra a prática da simonia, isto é, contra a comercialização dos objetos, relíquias e coisas sagradas.
     Sua piedosa caridade não tinha limites; lembrando-se de sua escravidão, ela reservava grandes somas de dinheiro para pagar pela libertação dos cativos. Todas as grandes abadias de seu tempo recebiam os benefícios de sua ajuda. Batilde conseguiu fundar muitas instituições de caridade, tais como hospitais e monastérios.
     Sofreu muitas perseguições, principalmente por parte daqueles que a consideravam muito misericordiosa e não concordavam com suas atitudes, julgadas incômodas, porque os atingiam em suas mordomias.
     Como outras rainhas daquele distante período histórico, aos 31 anos de idade passou o governo para seu filho Clotário III, que atingira a maioridade.
Estátua da Santa na igreja
Saint-Germain d'Auxerrois
     Livre da responsabilidade da regência do reino, Batilde voltou ao seu desejo de uma vida em retiro religioso. Então se recolheu ao grande convento de Chelles, perto de Paris, um convento que ela tinha restaurado em 662, e que se tornou depois uma abadia real até a Revolução Francesa.
     Nunca mais saiu do mosteiro, onde viveu até o dia de sua morte na mais completa austeridade, jejuando, orando, obedecendo às ordens da abadessa, dedicando-se aos trabalhos mais humildes e principalmente cuidando com desvelo e carinho dos doentes e dos mais pobres.
     Viveu sob as regras monásticas cerca de 7-8 anos vindo a falecer no dia 30 de janeiro de 680. Foi sepultada em Chelles, ao lado de seu filho Clotário III, que morrera antes dela, em 670.
     Sua beatificação deu-se por volta de 680, concedida pelo Papa Nicolau I. Seu túmulo foi objeto de peregrinações de fiéis atraídos por sua fama de milagres.
     Em 833, foi feita uma transladação de seus restos mortais para a igreja da Virgem de Chelles.
     A glória de Santa Batilde está em que ela não esqueceu jamais, ao subir ao trono, sua condição de escrava, ao mesmo tempo em que, no convento, fora do governo, não se lembrava jamais que ela tinha sido rainha. Ela fez todos os seus esforços como soberana para acabar com a escravidão e para aliviar a sorte dos servos.
     Batilde era de uma beleza singular, e seu espírito e seu caráter estavam em harmonia com toda a sua pessoa. Ela mostra a associação da mulher à função educadora dos sacerdotes. Sua vida transcorreu na época em que a escravidão pessoal passou a se extinguir rapidamente na Europa do Ocidente. Isto ocorreu pela influência do ensino da Igreja Católica, da valorização crescente das mulheres e pela elevação dos costumes.
     Santa Batilde, que reunia as mais elevadas influências medievais em sua personalidade, é um dos mais nobres tipos do poder espiritual que finalmente aboliu a escravatura na Idade Média.

Etimologia: Batilde, do Inglês Antigo Bealdhild = "batalha corajosa", c. * 626 - + 30 de janeiro de 680


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