sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Santa Liberata, Virgem e mártir - 11 de janeiro

    
     A antiga Balchagian, hoje Bayona (Baiona), bela região da costa galega, era sede de Lucio Catelo, régulo da Galícia e Portugal. Sua esposa se chamava Calcia e ambos eram idó­latras e inimigos dos cristãos.
     Calcia teve em um só parto nove filhas, e pensando que este fato extraordinário poderia despertar suspeitas de seu esposo, e já que ele estava ausente, em segredo mandou que as nove meninas fossem lançadas no Rio de Ramallosa, distante dois quilômetros de Bayona.
     A parteira tomou as recém-nascidas e dirigiu-se para o local onde deveria cumprir a ordem de sua ama; entretanto, na metade do caminho, movida de compaixão por aquelas infelizes criaturas, pensou em salvá-las e, mudando de rumo, se dirigiu a um povoado próximo. Ali deixou as meninas aos cuidados de umas mulheres cristãs que se encarregaram de cria-las. Elas foram batizadas, educadas na fé cristã e no temor de Deus, e as nove irmãs ofereceram sua virgindade ao Senhor.
     No século II uma funesta perseguição ameaçava os cristãos estendendo-se até Balchagiarn. Os idólatras denunciaram as santas virgens que foram detidas e levadas à presença de Catelo. Este as ameaçou com o suplício se continuassem no cristianismo, mas elas não vacilaram diante de suas ameaças e responderam com firmeza que preferiam mil vezes a morte a abandonar a fé de Cristo.
     Impressionado com a fortaleza das meninas e notando serem elas parecidas com sua esposa, Catelo perguntou sua origem, e chamando Calcia, esta as reconheceu como suas filhas. Catelo então se viu diante de uma luta interna entre o amor de pai e a autoridade de juiz; tinha o maior empenho em convencê-las e suplicou com todo carinho que sacrificassem aos deuses. Calcia também tentou, entre lágrimas, persuadi-las, mas nada conseguiram. O pai enfurecido renovou as ameaças, concedendo-lhes um dia de prazo para decidirem-se a adorar os ídolos ou a morrer.
     As nove irmãs decidiram evitar o crime de seu próprio pai e fugiram da cidade cada uma por um caminho diferente. Catelo mandou persegui-las e oito delas foram martirizadas em diferentes locais. Liberata se retirou em um ermo e ali se entregou à oração e à penitência, alimentando-se de raízes e ervas, macerando seu corpo com todo tipo de rigor. Entretanto, como suas irmãs, foi descoberta pelos gentios que, atraídos por sua beleza, a instigaram ao pecado carnal, sendo sempre rechaçados por ela.
     Após ser capturada, a obrigaram a adorar aos deuses, saindo triunfante também desta prova. Para intimidá-la, mencionaram o martírio de suas oito irmãs, o que a levou a amar ainda mais a Deus e com alegria se entregou a seus verdugos. Foi submetida a vários tormentos e por último crucificada em Castraleuca, Lusitânia, no ano 139.
     Seu corpo existia na Catedral de Siguenza e alguns dos ossos de sua cabeça constavam em um sumário da Câmara Santa de Oviedo.
Culto e relíquias
     Ocorreram muitas confusões com o culto de Santa Liberata. Em 1568, com a reforma de Trento e a revisão dos cultos e breviários locais, o ofício próprio de Santa Liberata foi suprimido junto com todo o breviário de Siguenza, por conter muitos dados apócrifos de vários santos, não apenas de Liberata. Embora o culto à santa não tivesse sido suprimido, começou-se a rezar o ofício comum de virgens mártires.
     Em 1585 foram iniciadas gestões para que se tornasse a aprovar o antigo ofício e lições. Em 1599, nova insistência, porém havia uma polêmica nada pequena sobre o corpo que se venera em Siguenza. Se dizia que em 1300 o bispo Dom Simão havia trazido o corpo verdadeiro de Como, Itália. O corpo havia chegado ali após passar por um mosteiro de monges e outro de monjas, e repousar na Itália mais de oito séculos. Não esqueçamos de um detalhe: em Como, efetivamente, se venera uma Santa Liberata (16 de fevereiro), uma monja muito posterior à nossa Liberata.
     No século XIX isto foi refutado, demonstrando que o que o Bispo Simão fizera fora uma invenção das relíquias dentro da mesma igreja catedral de Siguenza, colocando umas relíquias dentro de uma urna de prata. Por uma bula de Inocêncio IV se pode afirmar que o mencionado corpo já era venerado em 1251. Esta Bula concede indulgências aos devotos da santa, o que leva a concluir que o santo corpo já era suficientemente venerado naquele local antes de 1300.
     Barônio acrescentou o nome de Santa Liberata no Martirológio Romano, com a anotação: “In verbo Liberatae, de hac tabula Ecclesiae Comensis, ubi acta ejus asservari dicuntur”. Uma parte destas relíquias foram dadas a Las Tablas, Panamá, onde há muita devoção à Santa Liberata.
     A capela de Santa Liberata consagrada em honra da mártir filha de Baiona e primeira mulher crucificada no mundo é de estilo italiano e a sua construção foi iniciada em 1695 por subscrição popular. A fachada do templo possui duas elegantes torres; no centro, sobre o lintel e escoltada por um antigo escudo de Baiona e outro do reino da Galiza, um nicho com a imagem da santa crucificada.


Fontes:
http://www.santiebeati.it/dettaglio/37200

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