Co-fundadora
do Mosteiro da Luz
Helena nasceu em 2 de maio de 1736, filha de Francisco Calaça e Maria
Leme, na região de Paranapanema, sul do Estado de São Paulo. Santo Antônio
Galvão fez um breve relato de sua vida:
Nasceu Helena em Paranapanema. Freguesia pertencente naquele tempo ao
bispado de São Paulo; nela criou-se até a idade de 17 anos; em todo esse tempo
eram notáveis os seus procedimentos dando já indícios de sua futura santidade;
exercitava-se em obras de caridade, obediência e mansidão para com os
domésticos; mui frequente no exercício da Santa Oração, Via-Sacra e outros atos
religiosos, que deixo de os referir por evitar prolixidade; dizendo somente
que, entre noite e dia, tinha sete horas de oração. As suas penitências eram
contínuas, anos inteiros usou cilícios, dormindo com eles em terra fria, digo
sobre a terra; usava de disciplina de sangue procurando o silêncio e oportuno
tempo da noite. Algumas vezes encontrou-se com feras, entre as quais em certa
ocasião uma onça. Invocando o nome de Jesus, com estranha velocidade fugiu o
tigre. etc. (Maristela, p.49-50)
Com os pais, Helena veio a São Paulo e entrou como servente no
Recolhimento de Santa Teresa, recolhimento feito sob a inspiração da Ordem
Carmelita Descalça, de Santa Teresa de Ávila. Vestiu o hábito de religiosa em
25 de janeiro de 1769, pela doação do dote feita pelo Pe. Dr. Manoel José
Vaz, seu confessor, por quinze anos. Fez profissão dos votos simples em 25 de
janeiro de 1770. Prossegue o Santo Frei Galvão:
"A sua pobreza era extrema e voluntária porque rejeitava esmolas
oferecidas de alguns devotos e de seus próprios confessores; só possuía um
hábito e uma caixinha velha com algumas coisinhas sem valor. Era admirável na
compostura dos olhos, que por nunca os levantar não conhecia nem ainda o
confessor senão pela fala, que pela experiência que tive, observei era sem a
mínima exageração. Neste Recolhimento lhe apareceu o diabo tomando a forma de
alguns de seus Confessores, que a dirigiam; pelo discernimento grande de que
era dotada, e auxílio do Céu, nunca este a iludiu e sempre dele triunfou,
porque com seus atos de humildade que fazia dava ele demonstração de sua
soberba. Outras muitas coisas poderia referir, que por brevidade as deixo".
(Maristela, p. 50)
Como Santo Antônio Galvão era seu confessor, Madre Helena expôs-lhe que
Nosso Senhor lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento. Por prudência, a
princípio Frei Galvão negou sua aprovação. Com ela insistisse, ele examinou a
questão, consultou-se com vários eclesiásticos. Jesus apareceu a Madre Helena
novamente, mostrando-se como o Bom Pastor, rodeado de muitas ovelhas, umas nos
ombros, outras nos braços, outras procurando subir-lhe pelo corpo e disse-lhe: "Eis
aqui estas minhas ovelhas que procuram um aprisco para se recolherem e não o
encontram, pois, vós podendo, não quereis subministrar-lhes um, fundando um
convento em cumprimento de minha vontade". (Maristela, p. 52).
Convencido que era realmente vontade Deus, Santo Antônio Galvão procurou
com todos os meios as permissões necessárias, mesmo em meio às seríssimas
restrições a que todas as ordens religiosas estavam submetidas pelo governo real
português.
Desde 1764 o Marquês de Pombal, perseguindo a Igreja, proibia às ordens
de receber noviços e realizar novas fundações com o objetivo de extingui-las.
Proibidos os Conventos de Ordens religiosas, tolerava-se, em regime de exceção,
um ou outro Recolhimento, onde senhoras piedosas se reuniam para viver
retiradas, sem emitir oficialmente os votos religiosos. Embora praticassem a
vida religiosa em toda a perfeição, não eram consideradas religiosas
propriamente ditas nem o estabelecimento verdadeiro convento.
Para definir o melhor lugar para a nova
fundação foram então tomadas as primeiras medidas com o Governador do bispado,
o Cônego Antônio de Toledo Lara e o Governador da Capitânia, o Capitão-General (o
que equivale ao título de governador) D. Luiz Antônio de Souza Botelho e
Mourão, o "Morgado de Mateus".
Em 1774 existia nos "Campos do
Guaré", atual bairro da Luz, uma capela em homenagem a Nossa Senhora da
Luz construída por Domingos Luís, o Carvoeiro, em 1603. O Morgado de Mateus já
tinha conhecimento desta capela, pois quando chegou a São Paulo em 1765 a
encontrou totalmente abandonada e ordenou seu restauro, bem como a construção
de algumas casas ao seu redor para a celebração da festa de Nossa Senhora dos
Prazeres. Para a fundação do Recolhimento, doou o terreno através de uma Carta
de Sesmaria.
As casas foram ocupadas em 2 de fevereiro
de 1774 sob o nome de Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina
Providência, mas não segundo os moldes da Ordem Carmelita, como desejava Madre
Helena. O novo bispo, Dom Manuel da Ressurreição, franciscano, decidiu que ele
se conformaria à Ordem das Concepcionistas, fundada por Santa Beatriz Silva, para
não se repetir a Ordem Carmelita já existente na cidade de São Paulo.
O novo Recolhimento se distingue pela
devoção à Imaculada Conceição, "Laus Perenis", isto é, a adoração
perpétua ao Santíssimo Sacramento, além do espírito de contínua penitência e de
extrema pobreza.
Madre Helena foi constituída regente e mestra de suas primeiras oito
filhas espirituais: a obra desejada por Cristo estava assim iniciada!
O aprisco de Madre Helena do Espírito Santo passou aos poucos a crescer
notadamente. O convento era paupérrimo, estreito e mal provido de qualquer
recurso material. Nele abundava porém a consolação divina. Viviam felicíssimas
as irmãs, em meio a muitas austeridades, embora muitas delas proviessem de
famílias ricas da Capitania de São Paulo. Então, de improviso, uma provação se
abate sobre elas: apenas um ano e vinte dias depois de fundado, morre Madre
Helena! Sofrera por oito dias fortes cólicas, descrição que faz suspeitar ter
sido vítima de apendicite aguda. Conta-nos Beato Frei Galvão:
“... Faleceu a 23 de fevereiro de 1775. ... o seu corpo ficou
flexível de tal sorte, que falecendo ela no dia 23, em o seguinte dia 24
estalavam os dedos quando eram comprimidos. Eu mesmo com a minha diligência dei
25 estalos em os referidos dedos, e tão altos, que foram ouvidos por todos os
que se achavam na Igreja. O sangue de uma pequena incisão que se fez oito horas
depois do seu trânsito, sem ser em veia, saiu fluido, dele se serviu a piedosa
devoção dos circunstantes, e de algumas relíquias que se puderam decorosamente
extrair; está sepultada na Capela-mor da mesma Igreja; dizem que tem feito
muitos prodígios, eu sou testemunho de vários, porém, de um com admiração
notável". (Maristela, p. 76)
Daí por diante caberá a Santo Antônio de Santana Galvão continuar a obra
iniciada, mas agora com a ajuda de uma santa no Céu, Madre Helena do Espírito
Santo. Frei Galvão tornou-se o único sustentáculo das
Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência.
Pouco tempo depois Frei Galvão decidiu
providenciar uma nova construção, pois a capela ameaçava ruir e as casas
estavam inabitáveis. Projetou um novo edifício. Durante sua construção, além
dos taipeiros e dos escravos emprestados pelas famílias das freiras, pôs mãos à
obra e convidou as irmãs para que fizessem o mesmo.
Em 25 de março de 1788, as religiosas se
transferiram para o novo prédio. No entanto foram precisos mais 14 anos para
terminar a Igreja.
Durante toda a construção, Frei Galvão viajava
constantemente para o interior arrecadando fundos. De acordo com o Padre
Alberto Ortmann "... o convento da
Luz é obra exclusiva de Frei Galvão. Foi ele o único diretor da construção e
continuamente lhe assistia aos serviços, auxiliando-a com suas próprias mãos".
Fonte: Mosteiro da Luz, São Paulo-SP
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