sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Madre Helena do Espírito Santo - 23 de fevereiro


Co-fundadora do Mosteiro da Luz
 
     Helena nasceu em 2 de maio de 1736, filha de Francisco Calaça e Maria Leme, na região de Paranapanema, sul do Estado de São Paulo. Santo Antônio Galvão fez um breve relato de sua vida:
     Nasceu Helena em Paranapanema. Freguesia pertencente naquele tempo ao bispado de São Paulo; nela criou-se até a idade de 17 anos; em todo esse tempo eram notáveis os seus procedimentos dando já indícios de sua futura santidade; exercitava-se em obras de caridade, obediência e mansidão para com os domésticos; mui frequente no exercício da Santa Oração, Via-Sacra e outros atos religiosos, que deixo de os referir por evitar prolixidade; dizendo somente que, entre noite e dia, tinha sete horas de oração. As suas penitências eram contínuas, anos inteiros usou cilícios, dormindo com eles em terra fria, digo sobre a terra; usava de disciplina de sangue procurando o silêncio e oportuno tempo da noite. Algumas vezes encontrou-se com feras, entre as quais em certa ocasião uma onça. Invocando o nome de Jesus, com estranha velocidade fugiu o tigre. etc. (Maristela, p.49-50)
     Com os pais, Helena veio a São Paulo e entrou como servente no Recolhimento de Santa Teresa, recolhimento feito sob a inspiração da Ordem Carmelita Descalça, de Santa Teresa de Ávila. Vestiu o hábito de religiosa em 25 de janeiro de 1769, pela doação do dote feita pelo Pe. Dr. Manoel José Vaz, seu confessor, por quinze anos. Fez profissão dos votos simples em 25 de janeiro de 1770. Prossegue o Santo Frei Galvão:
     "A sua pobreza era extrema e voluntária porque rejeitava esmolas oferecidas de alguns devotos e de seus próprios confessores; só possuía um hábito e uma caixinha velha com algumas coisinhas sem valor. Era admirável na compostura dos olhos, que por nunca os levantar não conhecia nem ainda o confessor senão pela fala, que pela experiência que tive, observei era sem a mínima exageração. Neste Recolhimento lhe apareceu o diabo tomando a forma de alguns de seus Confessores, que a dirigiam; pelo discernimento grande de que era dotada, e auxílio do Céu, nunca este a iludiu e sempre dele triunfou, porque com seus atos de humildade que fazia dava ele demonstração de sua soberba. Outras muitas coisas poderia referir, que por brevidade as deixo". (Maristela, p. 50)
     Como Santo Antônio Galvão era seu confessor, Madre Helena expôs-lhe que Nosso Senhor lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento. Por prudência, a princípio Frei Galvão negou sua aprovação. Com ela insistisse, ele examinou a questão, consultou-se com vários eclesiásticos. Jesus apareceu a Madre Helena novamente, mostrando-se como o Bom Pastor, rodeado de muitas ovelhas, umas nos ombros, outras nos braços, outras procurando subir-lhe pelo corpo e disse-lhe: "Eis aqui estas minhas ovelhas que procuram um aprisco para se recolherem e não o encontram, pois, vós podendo, não quereis subministrar-lhes um, fundando um convento em cumprimento de minha vontade". (Maristela, p. 52).
     Convencido que era realmente vontade Deus, Santo Antônio Galvão procurou com todos os meios as permissões necessárias, mesmo em meio às seríssimas restrições a que todas as ordens religiosas estavam submetidas pelo governo real português.
     Desde 1764 o Marquês de Pombal, perseguindo a Igreja, proibia às ordens de receber noviços e realizar novas fundações com o objetivo de extingui-las. Proibidos os Conventos de Ordens religiosas, tolerava-se, em regime de exceção, um ou outro Recolhimento, onde senhoras piedosas se reuniam para viver retiradas, sem emitir oficialmente os votos religiosos. Embora praticassem a vida religiosa em toda a perfeição, não eram consideradas religiosas propriamente ditas nem o estabelecimento verdadeiro convento.
     Para definir o melhor lugar para a nova fundação foram então tomadas as primeiras medidas com o Governador do bispado, o Cônego Antônio de Toledo Lara e o Governador da Capitânia, o Capitão-General (o que equivale ao título de governador) D. Luiz Antônio de Souza Botelho e Mourão, o "Morgado de Mateus".
     Em 1774 existia nos "Campos do Guaré", atual bairro da Luz, uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Luz construída por Domingos Luís, o Carvoeiro, em 1603. O Morgado de Mateus já tinha conhecimento desta capela, pois quando chegou a São Paulo em 1765 a encontrou totalmente abandonada e ordenou seu restauro, bem como a construção de algumas casas ao seu redor para a celebração da festa de Nossa Senhora dos Prazeres. Para a fundação do Recolhimento, doou o terreno através de uma Carta de Sesmaria.
     As casas foram ocupadas em 2 de fevereiro de 1774 sob o nome de Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência, mas não segundo os moldes da Ordem Carmelita, como desejava Madre Helena. O novo bispo, Dom Manuel da Ressurreição, franciscano, decidiu que ele se conformaria à Ordem das Concepcionistas, fundada por Santa Beatriz Silva, para não se repetir a Ordem Carmelita já existente na cidade de São Paulo.
     O novo Recolhimento se distingue pela devoção à Imaculada Conceição, "Laus Perenis", isto é, a adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, além do espírito de contínua penitência e de extrema pobreza.
     Madre Helena foi constituída regente e mestra de suas primeiras oito filhas espirituais: a obra desejada por Cristo estava assim iniciada!
     O aprisco de Madre Helena do Espírito Santo passou aos poucos a crescer notadamente. O convento era paupérrimo, estreito e mal provido de qualquer recurso material. Nele abundava porém a consolação divina. Viviam felicíssimas as irmãs, em meio a muitas austeridades, embora muitas delas proviessem de famílias ricas da Capitania de São Paulo. Então, de improviso, uma provação se abate sobre elas: apenas um ano e vinte dias depois de fundado, morre Madre Helena! Sofrera por oito dias fortes cólicas, descrição que faz suspeitar ter sido vítima de apendicite aguda. Conta-nos Beato Frei Galvão:
     “... Faleceu  a 23 de fevereiro de 1775. ... o seu corpo ficou flexível de tal sorte, que falecendo ela no dia 23, em o seguinte dia 24 estalavam os dedos quando eram comprimidos. Eu mesmo com a minha diligência dei 25 estalos em os referidos dedos, e tão altos, que foram ouvidos por todos os que se achavam na Igreja. O sangue de uma pequena incisão que se fez oito horas depois do seu trânsito, sem ser em veia, saiu fluido, dele se serviu a piedosa devoção dos circunstantes, e de algumas relíquias que se puderam decorosamente extrair; está sepultada na Capela-mor da mesma Igreja; dizem que tem feito muitos prodígios, eu sou testemunho de vários, porém, de um com admiração notável". (Maristela, p. 76)
     Daí por diante caberá a Santo Antônio de Santana Galvão continuar a obra iniciada, mas agora com a ajuda de uma santa no Céu, Madre Helena do Espírito Santo. Frei Galvão tornou-se o único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência.
     Pouco tempo depois Frei Galvão decidiu providenciar uma nova construção, pois a capela ameaçava ruir e as casas estavam inabitáveis. Projetou um novo edifício. Durante sua construção, além dos taipeiros e dos escravos emprestados pelas famílias das freiras, pôs mãos à obra e convidou as irmãs para que fizessem o mesmo.
     Em 25 de março de 1788, as religiosas se transferiram para o novo prédio. No entanto foram precisos mais 14 anos para terminar a Igreja.
     Durante toda a construção, Frei Galvão viajava constantemente para o interior arrecadando fundos. De acordo com o Padre Alberto Ortmann "... o convento da Luz é obra exclusiva de Frei Galvão. Foi ele o único diretor da construção e continuamente lhe assistia aos serviços, auxiliando-a com suas próprias mãos".
 
Fonte: Mosteiro da Luz, São Paulo-SP
 
Mosteiro da Luz, 240 anos: 1774-2014

Mosteiro da Luz por Benedito Calixto, 1860
 

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