quarta-feira, 6 de julho de 2016

Santa Maria Goretti, a Santa Inês do século XX - 6 de julho

    
Única foto de Santa Maria Goretti, encontrada em 2011
no álbum de recordações dos Condes Mazzoleni, que acolheram os Goretti
em sua propriedade, nas proximidades de Roma
     Seu nome de batismo era Maria Teresa Goretti, nasceu em 16 de outubro de 1890, em Corinaldo, Província de Ancona, Itália, filha de Luigi Goretti e Assunta Carlini. Era a terceira de seis filhos. Suas irmãs chamavam-se Teresa e Ersilia; seus irmãos eram Ângelo, Sandrino e Mariano.

     Quando tinha seis anos, sua família tornou-se tão pobre que foram forçados a deixar sua fazenda e trabalhar para outros fazendeiros. Em 1899, mudaram-se para Le Ferriere, próximo a atual Latina e Nettuno, em Lazio, onde viviam em um prédio conhecido como "La Cascina Antica", compartilhada com a família Serenelli, cujo filho Alessandro Serenelli viria a ser seu algoz, três anos depois.
     O pai de Maria contraiu malária e morreu quando esta tinha apenas nove anos, em 6 de maio de 1900. Enquanto seus irmãos, mãe e irmãs mais velhas trabalhavam nos campos, Maria cozinhava, limpava a casa e cuidava de sua irmã menor. Era uma vida difícil, mas a família estava sempre próxima, compartilhando um profundo amor por Deus e sua fé.
     Em 5 de julho de 1902, Alessandro, então com 20 anos, encontrou a menina de 11 anos costurando, sozinha em casa. Ele entrou e a ameaçou de morte se ela não fizesse o que ele mandava. A intenção do rapaz era estuprá-la, porém, ela não se submeteu, ajoelhou-se, protestando que seria um pecado mortal e avisando Alessandro que poderia ir para o Inferno. Ela desesperadamente lutou para evitar o estupro, gritava "Não! É um pecado! Deus não gosta disto!". Alessandro primeiro tentou controlá-la, mas como ela insistia que preferia morrer, ele a apunhalou 11 vezes. Ferida, Maria tentou alcançar a porta, mas ele a agarrou e deu mais três punhaladas, antes de fugir.
     A irmã menor de Maria acordou com o barulho e começou a chorar. Quando o pai de Alessandro e a sua mãe chegaram, encontraram Maria sangrando. Levaram-na para o hospital em Netuno. Ela foi operada, sem anestesia, mas os ferimentos estavam além da capacidade dos médicos. Durante a cirurgia, Maria recobrou os sentidos e insistiu que preferia ficar acordada. O farmacêutico do hospital respondeu: "Maria, quando estiveres no céu, pense em mim". Ela olhou para o homem e disse: "Mas quem sabe qual de nós chegará primeiro ao céu?" Ele respondeu "Você, Maria". "Então ficarei feliz em pensar em você".
     No dia seguinte, ela perdoou seu agressor e afirmou que gostaria de encontrá-lo no Céu. Morreu vinte horas após o ataque enquanto olhava uma bela pintura da Virgem Maria. Inspirada em suas mestras Santa Cecília e Santa Inês, aceitou o martírio piedosamente.
     Escrito pelo jornalista Noel Cruz em 2002, o livro "Maria Goretti-Saint under siege" ("Maria Goretti-Santa sob assédio"), baseado em entrevistas de Alessandro Serenelli e de Ersilia, uma irmã de Maria, feitas em 1952, adiciona novos detalhes: em 5 de julho de 1902, às 15:00 horas, Serenelli que insistentemente pedia favores sexuais à menina, aproximou-se. Ela estava cuidando de sua irmã menor, na casa da família. Ele a ameaçou com uma adaga de quase 30 centímetros. Quando Maria recusou, como sempre fazia, ele a feriu com 14 facadas. Os ferimentos atingiram a garganta, coração, pulmões e diafragma. Os cirurgiões no hospital ficaram surpresos que ela ainda estivesse viva.
     Na presença do chefe de polícia, Maria disse a sua mãe que Alessandro já havia tentado estuprá-la duas vezes. Como ele a ameaçava de morte, ela não contou para ninguém.
     Alessandro Serenelli foi capturado logo após a morte de Maria. Inicialmente, seria condenado à prisão perpétua, mas como era menor, a sentença foi comutada para 30 anos na prisão. Ele manteve-se isolado do mundo por três anos, sem demonstrar arrependimento. Até o bispo local, Monsenhor Giovanni Blandini visitá-lo na cadeia. Serenelli escreveu uma nota de agradecimento ao bispo, pedindo que o incluísse em suas orações e contando sobre um sonho que tivera, onde a santa lhe alcançava flores, que se queimavam imediatamente em suas mãos.
     Após sair da prisão, visitou a mãe de Maria, Assunta, e implorou seu perdão. Ela respondeu que se a filha lhe havia perdoado em seu leito de morte, ela não poderia fazer diferente. No seguinte, ambos foram juntos a Santa Missa, recebendo a Eucaristia lado a lado. Ele foi aceito na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, vivendo em um mosteiro e trabalhando como recepcionista e jardineiro até morrer tranquilamente em 1970. Referia-se a Maria como "sua pequena santa" e esteve presente na sua canonização.
     Em 27 de abril de 1947, o Papa Pio XII celebrou a cerimonia de beatificação na Basílica de São Pedro. Ao final da celebração, o Papa caminhou até Assunta, a mãe de Maria. "Quando eu vi o Papa vindo na minha direção, eu rezei, Nossa Senhora, por favor me ajude. Ele colocou sua mão na minha cabeça e disse, abençoada mãe, feliz mãe, mãe de uma abençoada por Deus”. Ambos tinham lágrimas nos olhos.
     Três anos após, em 24 de Junho de 1950, o Papa Pio XII canonizou Goretti como santa, a "Santa Inês do século XX". Assunta estava presente na cerimônia, junto com os quatro irmãos e irmãs ainda vivos. Segundo algumas fontes, ela foi a primeira mãe a estar presente na canonização de seu filho. Mas, talvez, seja a segunda, pois a mãe de São Luís Gonzaga talvez tenha estado presente na sua canonização.
     A celebração foi realizada na Praça São Pedro, em frente à Basílica. Uma multidão de 500.000 pessoas assistiu à celebração, na sua maioria jovens vindos de vários países. O Papa perguntou a eles: "Jovens, prazer ao olhos de Jesus, vocês estão determinados a resistir a todos os ataques à castidade com a ajuda da graça de Deus?" A resposta foi um grande "sim".
     Os três irmãos contaram que Santa Maria Goretti interveio miraculosamente nas suas vidas. Ângelo ouviu sua voz orientando-o a emigrar para a América. Sandrino recebeu uma quantia de dinheiro para pagar sua viagem aos EUA, de maneira inesperada. Faleceu em 1917, ao lado do irmão Ângelo. Este, por sua vez, faleceu em 1964, quando retornou para a Itália. O terceiro irmão, Mariano, enquanto lutava na 1ª. Guerra Mundial, recebeu ordens de abandonar a trincheira e atacar. Neste momento, teve uma visão de Santa Maria Goretti dizendo-lhe para desobedecer e permanecer na trincheira. De todo batalhão, ele foi o único a salvar-se.
     O corpo da Santa é mantido em uma cripta na Basílica de Santa Maria delle Grazie e Santa Maria Goretti, em Nettuno, ao sul de Roma.

Folha de S. Paulo, 15 de junho de 1970.

     “O assassino de Santa Maria Goretti, Alessandro Serenelli, morreu aos 87 anos, 68 anos depois de ter assassinado em Nettuno, na Itália, com 14 punhaladas, a menina de 12 anos, que em 1950 foi canonizada pelo Papa Pio XII”.
     “Alessandro Serenelli, que era vizinho da menina, tentou inutilmente conquistá-la. Um dia assediou-a e assassinou-a com 14 punhaladas. Quando a menina estava num hospital, um padre que a confessou perguntou-lhe se perdoava o assassino. Maria Goretti respondeu: ‘Sim, claro que perdoo Alessandro; quero-o comigo no Céu’”.
     “Em 1902 Serenelli foi condenado a 30 anos de prisão, com os três primeiros anos passados em prisão solitária. A mãe da vítima, entretanto, interveio junto ao tribunal, dizendo que sua filha já perdoara o assassino”.
     “Seis anos depois, numa prisão da Sicília, Serenelli teve uma visão e descreveu assim: - ‘Marieta, como a chamava, apareceu-me num lindo jardim. As grades desapareceram para dar lugar a um jardim. E ela ofereceu-me 14 lírios, cada um correspondendo a uma das punhaladas que lhe dei’”.
     “A partir de então Maria Goretti passou a ser venerada em toda a Itália e pouco a pouco na Europa e na América. Os fiéis intercediam junto a ela principalmente para que conseguisse de Deus o perdão para os pecados carnais. Em 1950 Pio XII canonizou-a”.
     “Em 1929, Serenelli se havia convertido num prisioneiro exemplar depois da visão, tendo sido antes um detento rebelde e problemático. E foi libertado depois de ter cumprido 27 anos de pena”.
     “Quando Maria Goretti foi canonizada, falava-se por toda parte da Itália de milagres concedidos pela santa. Pio XII ateve-se à evidência desses milagres, principalmente o da cura de um surdo que recorrera à intercessão da santa. Agora, ao morrer, Serenelli, já calvo e corcunda, reiterou a visão que tivera. Disse ele que Maria Goretti lhe apareceu outra vez, prometendo-lhe o Céu em troca do crime praticado contra ela - primeiro os lírios e depois o próprio céu.  Serenelli morreu tranquilamente, recebendo os sacramentos da Igreja e o conforto dos que o cercaram nos seus últimos dias”.

     Vídeo da canonização de Santa Maria Goretti pelo Papa Pio XII (29 de junho de 1950) http://youtu.be/_55qVRuWhGY
     Uma religiosa avança entre a multidão: é a irmã de Maria Goretti; o Papa, da sedia gestatória, abençoa os circunstantes; o Presidente da República Italiana assiste a cerimônia; dois irmãos da santa se acham presentes na tribuna da postulação; de uma janela do Vaticano, a mãe da jovem mártir da pureza contempla a canonização.

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