Martirológio
Romano: Em Ferrara, de Emilia, a Beata Lúcia Brocadelli, religiosa, que
tanto no matrimônio como no mosteiro da Ordem Terceira Dominicana suportou com
paciência muitas dores e humilhações.
Nicolás Brocadelli, tesoureiro em Narni de
Úmbria na segunda metade do século XV, se casou com Gentilina Cassio. Deus lhes
concedeu onze filhos, dos quais a maior foi Lúcia, que nasceu em Narni, em 13
de novembro de 1476.
Desde muito pequena Lúcia decidiu consagrar-se
a Deus. Aos quatro anos, sua maior alegria era se entreter com uma graciosa
imagem do Menino Jesus que ela chamava de “Seu Pequeno Cristo”. Com doze anos
fez voto de perpétua virgindade.
Mas seu pai faleceu e os tutores da jovem,
que viam as coisas de outro modo, trataram de casá-la a força aos 14 anos. Lúcia
lançou ao solo o anel de compromisso, esbofeteou o pretendente e saiu correndo
da sala. No ano seguinte, foi apresentado outro pretendente, um tal Conde Pedro
de Alessio. Lúcia a princípio resistiu, mas uma aparição da Ssma. Virgem e os
conselhos de seu confessor a convenceram de que devia ceder.
A Sagrada Congregação de Ritos determinou
em 1729 que no dia da festa da beata se rezasse a missa e o ofício das virgens,
o que prova que aceitou a tradição de que Pedro e Lúcia viveram como irmão e
irmã. Após três anos de casamento, Pedro deixou sua esposa em liberdade para
fazer o que quisesse.
A beata voltou para a casa de sua mãe,
tomou o hábito da ordem terceira de São Domingos e ingressou em uma comunidade
de terceiras regulares em Roma. Em 1494 entrou na Ordem Terceira Dominicana de
Narni. Foi a Roma e depois a Viterbo.
Deus lhe concedeu ali, em 25 de fevereiro
de 1496, a graça dos estigmas e uma participação sensível na Paixão de Cristo.
Durante os três anos que esteve em Viterbo, suas feridas sangravam todas as
quartas e sextas-feiras, e, portanto, não podia ocultar este fato. O inquisidor
do lugar, o mestre do sacro palácio, um bispo franciscano e o médico do papa
Alexandre IV, examinaram os estigmas e ficaram convencidos de que se tratava de
um fenômeno sobrenatural. O Conde Pedro foi vê-los e ficou tão convencido que,
segundo é relatado, ingressou na Ordem de São Francisco.
A fama da Beata Lúcia chegou aos ouvidos
do Duque de Ferrara, Hércules I, que recordava com veneração Santa Catariana de
Siena e era muito amigo das Beatas Estefânia Quinzani, Colomba de Rieti e Osana
de Mântua. Com a permissão do papa e o consentimento de Lúcia, o duque
construiu um convento para esta em Ferrara.
Como o povo se opunha a que a beata saísse
de Viterbo, ela teve que ser tirada ocultamente em um cesto de roupa no lombo
de uma mula. Lúcia, que tinha apenas 23 anos, não tinha aptidão para dirigir
uma comunidade. De outro lado, Hercules d’Este, que era um homem que tinha
planos amplos e havia gastado somas enormes na construção e decoração do
convento, queria que nada menos de cem religiosas ocupassem o convento. Pediu a
Lucrécia Borgia (que acabava de converter-se em sua nora) que o ajudasse a
reunir as religiosas. Como vinham monjas de diferentes conventos e nem todas
eram muito virtuosas, cada vez se tornou mais difícil para Lúcia exercer a
função de governo, até que finalmente foi deposta do cargo.
A Beata foi sucedida por Maria de Parma,
que não era terceira, mas dominicana de uma ordem segunda a que toda a
comunidade queria se filiar. Em 1505 o protetor de Lúcia faleceu e a beata
deixou de ser a “mística da moda” protegida pelo duque de Ferrara e caiu numa
obscuridade total que durou 39 anos.
Além disso, a nova superiora a tratou com
uma severidade que se assemelhava à perseguição: não a deixava ir ao parlatório,
proibiu-a de falar com alguém a não ser o confessor que lhe havia designado e
mandou que uma das religiosas a vigiasse constantemente. Foi nesses anos que a
Beata Lúcia, desprezada pelas religiosas do convento que com tanto trabalho
havia vindo fundar em Viterbo, se santificou verdadeiramente. Jamais se ouviu
uma palavra sua de impaciência, nem sequer quando estava doente e abandonada.
A beata havia caído em um tal
esquecimento, que quando morreu, no dia 15 de novembro de 1544, o povo de
Ferrara ficou atônito ao tomar conhecimento de que ela havia vivido até então,
pois acreditavam que estivesse morta há muito tempo...
O culto a Beata logo se tornou popular. Suas
relíquias foram transladadas a um local mais público e lhe foram atribuídos muitos
milagres. O culto foi confirmado em 1º de março de 1710 por Clemente XI.
Existem muitos documentos sobre os
primeiros anos da vida mística de Lúcia. Edmundo Gardner, em sua obra Dukes and Poets in Ferrara (1904), refere
graficamente os principais incidentes relacionados com a beata (pp. 366-381;
401-404 y 465-467). Este relato se baseia na obra de L. A. Gandini, Sulla venuta in Ferrara della beata Lucia da
Narni (1901), e a Vita della beata
Lucia di Narni de Domenico Ponsi (1711).
Em 1740 um curioso suplemento desta obra
foi publicado, sob o título Aggiunta al
libro della Vita della B. Lucia. Há nele uma biografia dos primeiros
escritos sobre Lúcia, mas o livro se refere à pretensão dos franciscanos de
Mayorca de suprimir uma imagem em que se representava a beata com os estigmas.
Os franciscanos alegavam que Sixto IV (que também era franciscano) havia
proibido sob pena de excomunhão que se representasse os santos com os estigmas,
exceto São Francisco.
A causa foi levada a Roma em 1740, prevalecendo
a causa dos dominicanos. O duque Hercules de Ferrara havia investigado
pessoalmente muito a fundo a questão dos estigmas de Lúcia; a carta que
escreveu sobre isto pode ser vista no folheto “Spiritualium personarum facta admiratione digna” (1501). Se trata
de um documento muito interessante. Ha outra carta do duque em Narratione della nascita, etc., della b.
Lucia di Narni (1616) de G. Marcianese.
Fonte: «Vidas
de los santos de A. Butler», Herbert Thurston, SI
http://www.eltestigofiel.orgindex.php?idu=sn_4180
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