segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Beata Lúcia Brocadelli, religiosa – 15 de novembro


Martirológio Romano: Em Ferrara, de Emilia, a Beata Lúcia Brocadelli, religiosa, que tanto no matrimônio como no mosteiro da Ordem Terceira Dominicana suportou com paciência muitas dores e humilhações.

     Nicolás Brocadelli, tesoureiro em Narni de Úmbria na segunda metade do século XV, se casou com Gentilina Cassio. Deus lhes concedeu onze filhos, dos quais a maior foi Lúcia, que nasceu em Narni, em 13 de novembro de 1476.
     Desde muito pequena Lúcia decidiu consagrar-se a Deus. Aos quatro anos, sua maior alegria era se entreter com uma graciosa imagem do Menino Jesus que ela chamava de “Seu Pequeno Cristo”. Com doze anos fez voto de perpétua virgindade.
     Mas seu pai faleceu e os tutores da jovem, que viam as coisas de outro modo, trataram de casá-la a força aos 14 anos. Lúcia lançou ao solo o anel de compromisso, esbofeteou o pretendente e saiu correndo da sala. No ano seguinte, foi apresentado outro pretendente, um tal Conde Pedro de Alessio. Lúcia a princípio resistiu, mas uma aparição da Ssma. Virgem e os conselhos de seu confessor a convenceram de que devia ceder.
     A Sagrada Congregação de Ritos determinou em 1729 que no dia da festa da beata se rezasse a missa e o ofício das virgens, o que prova que aceitou a tradição de que Pedro e Lúcia viveram como irmão e irmã. Após três anos de casamento, Pedro deixou sua esposa em liberdade para fazer o que quisesse.
     A beata voltou para a casa de sua mãe, tomou o hábito da ordem terceira de São Domingos e ingressou em uma comunidade de terceiras regulares em Roma. Em 1494 entrou na Ordem Terceira Dominicana de Narni. Foi a Roma e depois a Viterbo.
     Deus lhe concedeu ali, em 25 de fevereiro de 1496, a graça dos estigmas e uma participação sensível na Paixão de Cristo. Durante os três anos que esteve em Viterbo, suas feridas sangravam todas as quartas e sextas-feiras, e, portanto, não podia ocultar este fato. O inquisidor do lugar, o mestre do sacro palácio, um bispo franciscano e o médico do papa Alexandre IV, examinaram os estigmas e ficaram convencidos de que se tratava de um fenômeno sobrenatural. O Conde Pedro foi vê-los e ficou tão convencido que, segundo é relatado, ingressou na Ordem de São Francisco.
     A fama da Beata Lúcia chegou aos ouvidos do Duque de Ferrara, Hércules I, que recordava com veneração Santa Catariana de Siena e era muito amigo das Beatas Estefânia Quinzani, Colomba de Rieti e Osana de Mântua. Com a permissão do papa e o consentimento de Lúcia, o duque construiu um convento para esta em Ferrara.
     Como o povo se opunha a que a beata saísse de Viterbo, ela teve que ser tirada ocultamente em um cesto de roupa no lombo de uma mula. Lúcia, que tinha apenas 23 anos, não tinha aptidão para dirigir uma comunidade. De outro lado, Hercules d’Este, que era um homem que tinha planos amplos e havia gastado somas enormes na construção e decoração do convento, queria que nada menos de cem religiosas ocupassem o convento. Pediu a Lucrécia Borgia (que acabava de converter-se em sua nora) que o ajudasse a reunir as religiosas. Como vinham monjas de diferentes conventos e nem todas eram muito virtuosas, cada vez se tornou mais difícil para Lúcia exercer a função de governo, até que finalmente foi deposta do cargo.
     A Beata foi sucedida por Maria de Parma, que não era terceira, mas dominicana de uma ordem segunda a que toda a comunidade queria se filiar. Em 1505 o protetor de Lúcia faleceu e a beata deixou de ser a “mística da moda” protegida pelo duque de Ferrara e caiu numa obscuridade total que durou 39 anos.
     Além disso, a nova superiora a tratou com uma severidade que se assemelhava à perseguição: não a deixava ir ao parlatório, proibiu-a de falar com alguém a não ser o confessor que lhe havia designado e mandou que uma das religiosas a vigiasse constantemente. Foi nesses anos que a Beata Lúcia, desprezada pelas religiosas do convento que com tanto trabalho havia vindo fundar em Viterbo, se santificou verdadeiramente. Jamais se ouviu uma palavra sua de impaciência, nem sequer quando estava doente e abandonada.
     A beata havia caído em um tal esquecimento, que quando morreu, no dia 15 de novembro de 1544, o povo de Ferrara ficou atônito ao tomar conhecimento de que ela havia vivido até então, pois acreditavam que estivesse morta há muito tempo...
     O culto a Beata logo se tornou popular. Suas relíquias foram transladadas a um local mais público e lhe foram atribuídos muitos milagres. O culto foi confirmado em 1º de março de 1710 por Clemente XI.
     Existem muitos documentos sobre os primeiros anos da vida mística de Lúcia. Edmundo Gardner, em sua obra Dukes and Poets in Ferrara (1904), refere graficamente os principais incidentes relacionados com a beata (pp. 366-381; 401-404 y 465-467). Este relato se baseia na obra de L. A. Gandini, Sulla venuta in Ferrara della beata Lucia da Narni (1901), e a Vita della beata Lucia di Narni de Domenico Ponsi (1711).
     Em 1740 um curioso suplemento desta obra foi publicado, sob o título Aggiunta al libro della Vita della B. Lucia. Há nele uma biografia dos primeiros escritos sobre Lúcia, mas o livro se refere à pretensão dos franciscanos de Mayorca de suprimir uma imagem em que se representava a beata com os estigmas. Os franciscanos alegavam que Sixto IV (que também era franciscano) havia proibido sob pena de excomunhão que se representasse os santos com os estigmas, exceto São Francisco.
     A causa foi levada a Roma em 1740, prevalecendo a causa dos dominicanos. O duque Hercules de Ferrara havia investigado pessoalmente muito a fundo a questão dos estigmas de Lúcia; a carta que escreveu sobre isto pode ser vista no folheto “Spiritualium personarum facta admiratione digna” (1501). Se trata de um documento muito interessante. Ha outra carta do duque em Narratione della nascita, etc., della b. Lucia di Narni (1616) de G. Marcianese.

Fonte: «Vidas de los santos de A. Butler», Herbert Thurston, SI

http://www.eltestigofiel.orgindex.php?idu=sn_4180

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